Insone
No terraço, a vizinha olha para o céu sempre cinzento da capital (toda noite acaba chateada porque esse céu não consegue ficar preto e esconde as estrelas), enquanto pensa naquela voz.
O feitiço chegou em forma de som, uma voz viril, grave, sábia, capaz de atordoá-la. Uma voz mágica.
A pele reage à lembrança e o cérebro continua a evocar o tom, o sotaque, as palavras, os nomes íntimos que se deram um para o outro quando o mundo não importava e as noites eram quase eternas.
Agora, a distância. E acostumar-se com a nova situação.
Do aparelho de som surgem as notas de "Way to Alhambra" e ela não pode evitar imaginar o encontro, os corpos nus sobre os lençóis escuros, os sussurros, o suor, as respirações entrecortadas, o calor, a humidade. O amor. Tantas vezes sonhou com sua voz ao som dessa música. Tantas vezes imaginou que eram as mãos dele a percorrer seu corpo, com delicadeza, os dedos dele a contar suas marcas de nascença.
E agora, só a distância. Acostumar-se com a nova situação e sonhar.
Neste momento ele acenderia um cigarro. Mas ela não fuma.
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