Capítulo 4
Assim que terminamos de saborear nossa refeição, o salão começa a se silenciar gradualmente. Todos os olhos se voltam para o Rei, que se levanta com um sorriso caloroso, a autoridade em sua postura suavizada por um olhar genuinamente gentil. Ele ergue uma taça, chamando a atenção de todas nós.
— Espero que tenham aproveitado a refeição — começa ele, a voz firme, mas acolhedora, ecoando pelo salão. — Como sabem, esta seleção é composta por uma série de desafios. E hoje, daremos início ao primeiro deles.
O anúncio paira no ar como uma faísca prestes a incendiar. As candidatas ao meu redor começam a trocar olhares nervosos e sussurrar freneticamente. A tensão cresce, como se cada uma estivesse tentando adivinhar qual será o teste que nos aguarda.
O Rei faz uma pausa, deixando o suspense se estender apenas o suficiente para prender nossa atenção antes de prosseguir:
— As três primeiras candidatas eliminadas retornarão às suas casas ainda hoje.
O impacto dessas palavras é imediato. Um burburinho atravessa o salão, abafando por um momento a voz calma do monarca. O peso da competição finalmente se instala de forma tangível, trazendo com ele um misto de ansiedade e determinação.
Antes que os murmúrios possam crescer, a Rainha toma a palavra. Ela se levanta graciosamente ao lado do Rei, sua presença irradia serenidade. O silêncio retorna como uma maré recuando.
— Imagino que todas estejam ansiosas para saber qual será o desafio de hoje, não é mesmo? — pergunta ela, sua voz tão melodiosa quanto firme. Seus lábios desenham um sorriso elegante, mas há algo nos olhos dela que sugere que o desafio não será tão simples quanto esperamos.
O salão fica tenso novamente, todas prendemos a respiração.
— Peço que todas se dirijam ao pátio — continua ela, com um gesto convidativo. — Lá, explicaremos tudo.
As palavras da Rainha parecem encerrar o momento como uma batida final de um tambor, e o salão ganha vida outra vez. Candidatas se levantam, algumas ajustando seus vestidos com pressa, outras sussurrando palavras encorajadoras a si mesmas.
Eu me levanto com menos pressa, tentando manter a calma enquanto meu coração pulsa de forma frenética.
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Assim que chegamos ao pátio da realeza, meus olhos são imediatamente capturados pela grandiosidade do lugar. Colunas de mármore branco erguem-se como guardiãs imponentes, sustentando um teto com detalhes dourados tão delicados que parecem bordados à mão. O chão, com mosaicos de pedras polidas, exibe brasões e padrões que refletem a história e o poder da família real.
Mais adiante, avisto o jardim: arbustos meticulosamente podados, flores em uma profusão de cores vibrantes e uma fonte esculpida com água cristalina fluindo suavemente. É um lugar lindo demais, quase irreal, mas minha atenção logo volta ao momento presente quando me sento ao lado de Emma e Julie.
A Rainha está à nossa frente, irradiando autoridade e elegância em cada gesto. Quando começa a falar, sua voz é clara, controlada, impossível de ignorar.
— Senhoritas, obrigada por aguardarem. Hoje, daremos início ao primeiro desafio. Vocês formarão trios e enfrentarão uma série de tarefas físicas que testarão não apenas suas habilidades individuais, mas também o trabalho em equipe. Serão avaliadas pela agilidade, força e cooperação.
Ela faz uma pausa, seus olhos percorrendo o grupo antes de finalizar:
— O trio com o pior desempenho será eliminado.
Minha mente começa a girar. "Provas físicas? Trabalho em equipe? Eliminação?" Tento processar tudo enquanto o burburinho ao nosso redor aumenta.
— Ah, ótimo! — murmuro, cruzando os braços e afundando na cadeira. — Provas físicas? Vestida assim? Vou passar vergonha. Não acredito que me meti nisso.
Emma ri suavemente ao meu lado.
— Calma, Kate. Nem sabemos o que vamos enfrentar ainda. Pode ser algo simples.
— Simples? — replico, virando para ela com uma sobrancelha arqueada. — Emma, você ouviu a parte de agilidade e força? Eu mal consigo subir escadas sem me sentir cansada!
Julie, sempre prática, se inclina em minha direção.
— Ei, relaxa. Estamos juntas nisso. Você não precisa ser incrível sozinha. É por isso que somos um trio.
— Você provavelmente já planejou como vai escalar um muro ou atravessar um rio a nado — resmungo, soltando um suspiro exagerado.
Julie ri, mas não perde a seriedade ao responder:
— Talvez, mas sabe o que eu também planejei? Como vou garantir que todas nós passemos. Confia em mim, ok?
Emma coloca a mão no meu braço, seu sorriso gentil.
— Nós conseguimos, Kate. Juntas. Você tem mais força do que pensa.
Olho para elas por um momento, sentindo o peso de sua confiança. Respiro fundo, tentando absorver a calma que parecem ter de sobra.
— Tá, vocês venceram. Mas se eu cair de cara no chão, vocês vão me ajudar a levantar, certo?
— Sempre — responde Julie, piscando.
— E talvez eu filme também, só pra rir depois — acrescenta Emma, rindo, mas me cutucando de leve, como quem diz "brincadeira".
Solto uma risada fraca, um pouco mais relaxada agora.
— Tudo bem, então. Vamos lá. Espero que estejam certas sobre isso.
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Antes de começarmos a prova, somos guiadas até um vestiário improvisado. Lá, um guarda-roupa simples, mas bem organizado, nos espera com roupas específicas para o desafio. Escolho um shorts de tecido resistente que alcança os joelhos, uma camiseta leve que parece quase feita sob medida e um par de tênis esportivos que se ajustam perfeitamente aos pés. Luvas e joelheiras completam o conjunto, práticas e funcionais.
— Viu, Kate? Não precisava se preocupar com a roupa. Eles pensam em tudo. — Emma comenta.
Eu sorrio de volta, mas não digo nada.
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O campo de prova é mais desafiador do que qualquer um de nós imagina. O terreno irregular é uma armadilha para os pés, e os obstáculos parecem escolhidos para testar nossos limites físicos e mentais. Troncos caídos, paredes de escalada íngremes, cordas suspensas e um labirinto traiçoeiro exigem trabalho em equipe a cada passo.
Julie lidera nosso trio com a determinação de sempre, gritando instruções enquanto avançamos. Emma e eu seguimos atrás, fazendo o possível para acompanhar. O suor escorre pelo meu rosto, mas a adrenalina me impulsiona — até chegarmos à travessia de cordas suspensas.
O obstáculo parece simples: uma rede de cordas que conecta duas plataformas. Mas, na prática, é traiçoeiro. Cada passo faz as cordas balançarem, e cada movimento parece ameaçar o equilíbrio.
"Vai dar tudo certo," murmuro para mim mesma, tentando manter a calma enquanto avanço.
Estou quase na metade quando meu pé escorrega. Meu corpo perde o equilíbrio, e eu caio antes de ter tempo de me segurar. O impacto não é tão ruim, mas uma dor aguda explode no meu tornozelo assim que tento me mexer.
— Ah, não... Isso não. — resmungo, sentindo a dor latejar.
O som de passos apressados vem do lado oposto, e meu coração dá um salto. Por um momento, uma onda de esperança me atravessa. Talvez seja Nicholas. Eu quase posso vê-lo estendendo a mão, com aquele meio sorriso no rosto.
Mas quando levanto o olhar, vejo Alex. Meu coração afunda e acelera ao mesmo tempo. Ele para a poucos passos de mim, os braços cruzados, o olhar sério.
— Você está bem? — a voz dele é neutra, quase desinteressada, mas há algo nos olhos dele que me faz hesitar.
— Sim... Não... Não sei. — respondo, tentando me levantar, mas o tornozelo não colabora. — Ah!
— Claramente, não. — ele diz, seco, abaixando-se ao meu lado.
— Eu consigo... Só preciso de um minuto...
— Pare de teimar. — ele diz, o tom impassível, mas sem soar rude. — Deixe-me ver."
Antes que eu possa protestar, ele segura meu tornozelo com cuidado, seus dedos firmes, mas surpreendentemente gentis.
— Não está quebrado. — ele afirma depois de alguns segundos — Mas você não vai conseguir andar sozinha.
Tento argumentar, mas ele já está se levantando, estendendo a mão para mim.
— Vamos
— Você não precisa fazer isso... — murmuro.
— Não precisa, mas vou fazer. — ele evita meu olhar. — E pare de se debater. Vai só piorar as coisas.
Sem muita escolha, pego a mão dele, deixando que me ajude a ficar de pé. Passo o braço pelo ombro dele, sentindo a rigidez em sua postura. Ele parece desconfortável, mas não hesita em me apoiar.
Enquanto atravessamos, ouço as vozes de Julie e Emma chamando do outro lado.
— Kate? Você tá bem?
— Eu... Não. — respondo, minha voz mais trêmula do que gostaria. — Tá doendo.
As duas nos esperam ansiosas do outro lado. Emma olha para Alex com as sobrancelhas erguidas.
Julie se ajoelha ao meu lado, examinando meu rosto com preocupação.
— Kate, você precisa de ajuda. Quer que a gente te leve para fora da prova?
— Não! Não vou deixar vocês desistirem por minha causa. — protesto, minha voz firme apesar da dor — Continuem. Vocês conseguem.
— Tem certeza? — Emma pergunta, hesitante.
— Sim. — insisto. — Agora vão. Vocês têm que terminar isso por nós.
As duas trocam olhares incertos, mas acabam concordando.
— Ok, mas se precisar de alguma coisa, grite — Julie diz antes de se levantar.
— Boa sorte. — acrescento, enquanto ando para fora da prova.
Alex, que fica em silêncio até então, me olha com expressão neutra.
— Altruísta da sua parte — comenta, mas o tom não parece nem elogioso nem sarcástico.
— É o certo a fazer. — respondo, tentando ignorar a dor crescente no meu tornozelo.
Ele suspira quase imperceptivelmente e então vira-se para o lado, levantando uma mão no ar.
— Enfermeiro! — chama, sua voz alta e autoritária.
— Alex, não precisa... — começo, mas ele me corta com um olhar.
— Você não vai a lugar nenhum com esse tornozelo. Deixe que cuidem disso.
Eu fico em silêncio, sem saber como responder. É difícil decifrá-lo — frio, distante, mas ao mesmo tempo... Ele está aqui, me ajudando, mesmo sem nenhuma obrigação.
Quando o enfermeiro chega, Alex explica a situação com brevidade antes de dar um passo para trás, cruzando os braços enquanto me observa ser examinada.
— Não tente ser heroína. — diz ele, antes de virar-se para ir embora. — Recupere-se. Essa prova não é o fim do mundo.
E com isso, ele desaparece entre os pilares, deixando-me com mais perguntas do que respostas.
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Enquanto as outras candidatas seguem na competição, fico sentada no banco designado para quem precisa de atendimento, minha perna repousando imóvel. Observo de longe os obstáculos, tentando ignorar a pontada de frustração que acompanha cada movimento bem-sucedido das outras participantes.
De repente, ouço passos leves se aproximando. Levanto o olhar e meu coração dá um pequeno salto quando vejo Nicholas vindo em minha direção, segurando uma garrafa de água. Ele parece preocupado, o que imediatamente faz meu peito se aquecer de uma forma que eu não sinto há algum tempo.
— Kate, está tudo bem? — Ele pergunta, abaixando-se ligeiramente para ficar na minha altura. Sua voz é gentil, carregada de uma preocupação sincera que me pega de surpresa. — Trouxe uma água para você. — Ele estende a garrafa com um pequeno sorriso.
Por um momento, fico olhando para ele como uma idiota, tentando processar o que está acontecendo. Nicholas, com seus olhos calorosos e aquele jeito tão... humano. Tão diferente de Alex, que me ajudou há pouco com um tom frio e distante, como se fosse mais um item na sua lista de afazeres.
— Kate? — Nicholas chama de novo, e eu percebo que fiquei encarando por tempo demais. Meu rosto esquenta imediatamente.
— Ah, sim... Obrigada. — digo, pegando a garrafa. Meus dedos tocam os dele por um breve segundo, e meu coração dá outro salto.
— Você está com dor? — Ele pergunta, inclinando a cabeça ligeiramente, os olhos fixos nos meus.
— Um pouco, mas nada demais. Já estou melhor.
Nicholas parece ponderar por um momento, e então sorri. É aquele sorriso que ilumina tudo ao redor, como se ele tivesse o poder de fazer o mundo parecer menos complicado.
— Se precisar de algo, qualquer coisa, me avise, ok? — Ele diz, a voz calma e reconfortante.
— Ok, obrigada. — murmuro, tentando não parecer muito afetada, mas por dentro estou explodindo de felicidade.
Ele hesita por um segundo, como se quisesse dizer mais alguma coisa, mas acaba se afastando.
— Cuide-se, Kate — diz ele, lançando mais um sorriso antes de desaparecer entre os obstáculos.
Fico olhando para o espaço vazio onde ele estava, ainda segurando a garrafa com força. Não consigo evitar comparar. Alex pode ter me ajudado antes, mas foi de um jeito distante, quase como se estivesse cumprindo uma obrigação. Já Nicholas... Nicholas faz tudo parecer pessoal, como se realmente se importasse.
E talvez ele se importe.
Sorrio para mim mesma, sentindo meu coração mais leve, e tomo um gole da água que ele trouxe.
Observo as outras candidatas avançando pelos obstáculos enquanto tento ignorar a frustração que a imobilidade me causa. De repente, uma discussão acalorada chama minha atenção.
Três candidatas estão paradas perto de uma parede de escalada, gesticulando intensamente.
— Você só está atrapalhando! É uma incompetente! — uma delas dispara, o rosto vermelho de raiva.
— Incompetente? Pelo menos eu não tropecei e caí feito um desastre ambulante! — a outra retruca, as palavras afiadas como uma faca.
A terceira candidata, visivelmente desconfortável, tenta intervir:
— Meninas, por favor, parem! Estamos perdendo tempo. Vamos nos concentrar na prova!
Mas as duas continuam, cada uma levantando o tom de voz e apontando dedos. A tensão cresce como uma tempestade prestes a estourar.
Da minha posição, murmuro para mim mesma, incapaz de desviar o olhar: "Isso não vai acabar bem..."
Antes que a situação piore, outra candidata se aproxima com passos firmes, a expressão séria. Sem hesitar, ela ergue a voz para as outras:
— Vocês podem parar já com isso? Se querem perder ainda mais tempo, ótimo, continuem discutindo como duas crianças. Mas, se pretendem chegar ao fim dessa prova, calem a boca e trabalhem juntas!
As duas ficam em silêncio por um momento, surpresas com a repreensão. Bufam, lançam olhares furiosos uma para a outra, mas acabam voltando à prova com visível contrariedade.
A terceira candidata suspira aliviada, murmurando algo para si mesma antes de seguir em frente.
De onde estou, balanço a cabeça, um misto de diversão e exasperação. "Se conseguir sobreviver à prova já é difícil, lidar com os egos parece ser ainda pior," penso, enquanto retorno minha atenção para o restante da competição.
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