Capítulo 12
Um dia se passou desde aquele sonho estranho, mas ele ainda paira na minha cabeça como uma nuvem teimosa que se recusa a dissipar. Eu passei praticamente o dia todo no meu quarto, tentando estudar para a prova. Tentar é a palavra certa, porque minha concentração parecia um pássaro inquieto, voando de um lado para o outro, pousando em qualquer coisa, menos no que eu precisava fazer.
Coloco o vestido com cuidado, ajeitando cada detalhe, mas minhas mãos tremem. Tento respirar fundo, mas o ar parece pesado. A prova é hoje. Não consigo acreditar. Apesar de todos os lembretes e do tempo para me preparar, a ideia de ser testada em frente à rainha, ao rei, e aos príncipes me faz sentir como se estivesse prestes a subir ao palco sem saber a minha fala.
Depois do café da manhã, nos reunimos no salão principal. O ambiente está silencioso, quase reverente. Todas nós estamos nervosas, mas algumas meninas conseguem disfarçar melhor do que outras. Emma está ao meu lado, mordendo o lábio, enquanto Julie parece mais irritada do que preocupada.
- Isso é ridículo. - Julie sussurra, cruzando os braços. - Quem precisa de uma prova para decidir se somos boas o bastante?
- Concordo com você, mas... - Emma murmura, lançando-me um olhar hesitante. - Não temos escolha, né?
Eu apenas dou um sorriso fraco. Minha mente está em outro lugar, presa na expectativa do que está por vir.
A rainha entra no salão, e o som de seus passos ecoa pelo espaço. Todos os olhares se voltam para ela, e o silêncio se torna ainda mais denso.
- Bom dia, senhoras. Hoje é um marco importante nesta jornada. - Sua voz é firme, mas não severa. - A prova foi cuidadosamente preparada para avaliar não apenas seus conhecimentos, mas também sua capacidade de pensar e agir em situações que exigem equilíbrio e discernimento.
- A prova será dividida em três partes - continua a rainha. - Primeiro, uma avaliação escrita sobre história, cultura e protocolos reais. Em seguida, uma demonstração prática de etiqueta e comportamento em situações formais. Por fim, um cenário simulado onde terão que lidar com um problema diplomático.
Meus olhos se arregalam um pouco. Três partes? Me sinto afundar um pouco mais no nervosismo, mas tento manter a compostura. Ao meu lado, Emma parece estar recitando mentalmente alguma coisa, enquanto Julie solta um suspiro exagerado.
Sua explicação continua, mas minha atenção é desviada por um movimento no fundo do salão. Alex e Nicholas estão ali, observando. Alex mantém a expressão impassível de sempre, mas Nicholas parece... atento. Tão atento que meu estômago dá um nó. Tento desviar o olhar, mas é tarde demais. Alex parece notar meu desconforto, e algo em seus olhos - talvez um leve estreitar - me faz perder o foco por um segundo.
- Vocês terão tempo suficiente para cada etapa. Boa sorte.
A rainha termina de falar, e somos conduzidas à primeira etapa.
Entramos em um salão menor, onde mesas individuais estão dispostas com folhas de papel impecavelmente arrumadas. Um teste escrito. Meu coração acelera. Sempre odiei provas, testes escritos, então, para mim, isso será um enorme desafio.
Enquanto leio a primeira pergunta, sinto meu coração acelerar.
Explique a importância do Tratado de Eldoria na formação do reino.
Certo, eu li sobre isso ontem à noite. Era sobre alianças comerciais... ou era diplomáticas?!Tento organizar meus pensamentos e começo a escrever, mas minhas mãos estão suadas, e cada palavra parece demorar uma eternidade para sair.
- Não olhe para o lado, Kate - murmuro para mim mesma, tentando ignorar a sensação de que cada movimento meu está sendo observado.
As perguntas continuam, uma atrás da outra. Algumas são diretas, outras parecem escritas para confundir. Quando o tempo acaba, sinto como se tivesse corrido uma maratona. Emma me lança um olhar, e eu tento sorrir, mas só consigo balançar a cabeça.
- Foi horrível? - ela pergunta em um sussurro.
- Não sei. Talvez. - Respondo, enquanto Julie revira os olhos.
- Se a próxima etapa for tão inútil quanto essa, vou gritar.
Somos levadas a outro salão, onde mesas estão postas como em um jantar real. Talheres, taças, pratos... tudo parece um campo minado de etiqueta. A instrutora aparece, acompanhada dos príncipes, que tomam seus lugares ao fundo, observando tudo.
- Senhoras, demonstrem o que aprenderam sobre postura e comportamento em um jantar formal. - A instrutora anuncia, e meu estômago revira.
Sou chamada, e cada passo até a mesa parece um desafio. Sento-me, ajusto o guardanapo no colo e começo a escolher os talheres para o prato falso à minha frente, agradecendo mentalmente por ter prestado atenção nas aulas.
Tudo está indo bem até que o "garçom" derruba "vinho" no meu prato.
- Senhora, sinto muito. - Sua atuação é impecável, mas minha mente grita.
- Ah, tudo bem, acidentes acontecem. - Respondo com um sorriso que espero parecer natural. - Poderia trazer outro prato, por favor?
Minha voz soa calma, mas sinto o suor nas costas. Quando termino, dou um leve sorriso para a rainha, que assente com a cabeça.
A última etapa nos leva de volta ao salão principal, agora arrumado para simular uma reunião diplomática. Sou chamada, e quando me levanto, sinto os olhares de todos sobre mim. Especialmente os de Alex e Nicholas.
- Respire, Kate. Só respire. - Tento me acalmar.
O problema diplomático é explicado. Dois países estão em conflito por um tratado comercial, e minha tarefa é propor uma solução.
- Acredito que a melhor abordagem seria... - Minha voz soa fraca no início, mas encontro firmeza à medida que explico minha ideia. Tento ignorar os olhares, mas é impossível não sentir o peso deles.
Quando termino, há um silêncio tenso. Nicholas parece satisfeito, mas Alex mantém a expressão indecifrável. O rei dá um leve aceno, e sinto o alívio me invadir.
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A prova chega ao fim, e estou suando. Meu coração bate rápido, e minhas mãos ainda estão úmidas. A voz calma e firme da rainha ecoa pelo salão enquanto ela se levanta do trono e nos observa com um leve sorriso.
— Parabéns pelo desempenho de todas. — Ela começa, e o salão se silencia completamente. — Sei que foi desafiador, e isso era esperado. Uma futura princesa deve estar preparada para lidar com situações complexas, com inteligência e calma.
Ela faz uma pausa, deixando que suas palavras pesem sobre nós.
— Os resultados estarão prontos após o almoço. Até lá, descansem e aproveitem para refletir sobre o que aprenderam.
Um murmúrio discreto percorre o salão enquanto nos levantamos e começamos a sair em pequenos grupos. Emma se aproxima de mim primeiro, seu rosto uma mistura de alívio e cansaço.
— Achei que ia desmaiar naquela parte sobre política. — Ela suspira, mexendo no cabelo. — Por favor, me diga que você também ficou perdida.
— Perdida é pouco. — Respondo, tentando sorrir, embora ainda esteja tensa.
Julie logo aparece ao nosso lado, bufando.
— Política? Eu estava mais preocupada com os talheres! Como é que se segura tanta coisa ao mesmo tempo?
Emma ri, e isso me ajuda a relaxar um pouco.
— Pelo menos acabou. — Digo, tentando ser positiva.
— Por enquanto. — Julie resmunga, cruzando os braços. — Aposto que eles vão inventar algo ainda pior depois.
— Não pensa assim. Vai dar tudo certo. — Tento soar confiante, mas nem eu acredito totalmente nisso.
Nos despedimos rapidamente no corredor.
— Vou para o quarto. Preciso de paz. — Julie declara, gesticulando exageradamente.
Emma ri.
— Boa sorte tentando relaxar.
Aceno para elas e sigo sozinha pelos corredores, meu coração ainda pesado com a expectativa. Meus pés quase por instinto me levam até o corredor onde sempre ouço o som do piano.
Quando chego lá, porém, o salão está vazio. Não há música hoje, apenas o silêncio. Encosto-me na parede, fecho os olhos e tento me concentrar na minha respiração. A paz que esperava encontrar ali não chega completamente, mas já é algo.
— Está tudo bem? — Uma voz masculina rompe o silêncio, e meus olhos se abrem imediatamente.
Abro os olhos e vejo Nicholas parado ali, elegante e calmo, como sempre. Ele inclina a cabeça levemente, estudando minha expressão, e percebo que devo estar com uma aparência péssima.
— Ah… sim. — Respondo, ajeitando meu vestido rapidamente, como se isso pudesse disfarçar meu desconforto. — Estou tentando me acalmar.
— A prova foi difícil? — Ele pergunta, se aproximando um pouco.
— Difícil não é a palavra. Foi… exaustiva.
Ele sorri de leve, um sorriso que não consigo decifrar completamente.
— Você foi bem.
— E como você sabe disso? — Pergunto, arqueando uma sobrancelha.
— Tenho meus métodos. — Ele diz com um tom enigmático, que só me deixa mais curiosa.
Antes que eu possa pressioná-lo por mais detalhes, ele olha ao redor, como se tivesse uma ideia repentina.
— Venha comigo. Sei de um lugar que pode te ajudar a relaxar.
— Um lugar? — Repito, hesitante.
Ele me lança um olhar encorajador.
— Confie em mim.
Depois de um momento de dúvida, acabo o seguindo pelos corredores. Conforme ele me guia, não posso evitar sentir meu coração acelerar. Afinal, é Nicholas.
Ele me leva até o jardim e, mais precisamente, a um canto mais afastado, onde há uma pequena portinha de madeira. Ele a abre e faz um gesto para que eu entre.
— O que é aqui? — Pergunto, curiosa, enquanto dou o primeiro passo.
Antes que eu possa perceber, algo grande e peludo pula em cima de mim, me derrubando no chão.
— Ah! — Grito, mais de susto do que de dor.
Quando abro os olhos, vejo um focinho molhado e dois olhos brilhantes me encarando. Uma língua quente lambe meu rosto, e ouço um rabo batendo no chão com entusiasmo.
— Max! — Nicholas exclama, rindo.
— Max? — Repito, enquanto tento me sentar, ainda com o golden retriever praticamente em cima de mim.
— Esse é Max. Ele parece ter gostado de você. — Nicholas oferece a mão para me ajudar a levantar, e eu aceito, tentando me equilibrar enquanto Max ainda insiste em me cheirar e lamber.
— Ele é… grande. — Digo, rindo um pouco, enquanto passo a mão no pelo dourado de Max.
— E carente. — Nicholas comenta, observando o cachorro com um sorriso. — Achei que ele poderia te animar.
— Animar é pouco. Ele quase me matou de susto. Mas é um fofo. — Digo, mas há um sorriso no meu rosto.
Max late como se entendesse, e Nicholas ri novamente.
Max continua pulando ao meu redor, abanando o rabo freneticamente. Tento me esquivar das lambidas, mas é inútil. Ele parece determinado a cobrir meu rosto com saliva canina.
— Ele é mesmo animado. — Comento, rindo enquanto tento afastar o focinho dele. — É seu?
Nicholas balança a cabeça, com um sorriso que parece genuíno.
— Na verdade, não. Ele é do Alex.
Minha risada morre na garganta.
— Do Alex? — Pergunto, surpresa.
Nicholas assente, parecendo achar graça da minha reação.
— Sim. Max geralmente fica solto pelo castelo, mas como agora está ocorrendo a seleção, preferimos colocá-lo aqui, já que alguma candidata pode não gostar.
Eu olho para o cachorro, que agora está sentado calmamente, olhando para mim com a língua de fora. É difícil imaginar Alex, com toda a sua seriedade, sendo dono de algo tão... caloroso e desajeitado quanto Max.
— Alex tem um cachorro? — Repito, ainda tentando processar a informação.
Nicholas cruza os braços, sorrindo levemente.
— Surpreendente, não é? Acho que Max é o único que consegue arrancar um sorriso genuíno dele.
Eu rio um pouco, acariciando o pelo macio de Max.
— Isso é... inesperado.
— É. — Nicholas concorda, observando o cão com um olhar quase pensativo. — Mas, de certa forma, faz sentido. Max é brincalhão, sorridente e muito agitado — ele pausa e então completa, com um toque de sarcasmo: — Bem diferente do Alex.
Eu rio mais alto desta vez, mas a ideia de Alex sorrindo para Max fica presa na minha mente. É uma imagem que não consigo conjurar facilmente, mas algo nela me parece... intrigante.
— Então, você só... toma conta dele quando ele está aqui? — Pergunto, tentando tirar Alex dos meus pensamentos.
Nicholas dá de ombros.
— Algo assim. Max gosta de atenção, e às vezes parece que Alex não tem tempo para isso.
— Isso é... triste.
— Talvez. — Nicholas responde, mas seu tom é indecifrável.
Max late novamente, como se estivesse exigindo atenção, e Nicholas se agacha para coçar atrás das orelhas do cachorro.
— Ele gosta de você. — Nicholas comenta, olhando para mim.
— É, acho que sim. — Respondo, sorrindo. — Mas ele também gosta de você, claramente.
Nicholas dá um sorriso pequeno, mas não responde. Por um momento, apenas ficamos ali, no pequeno canto do jardim, com Max entre nós. É estranho como algo tão simples pode trazer paz.
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