Capítulo 10
O silêncio no meu quarto é sufocante, mas minha mente está barulhenta demais para me deixar dormir. Nicholas. A seleção. As aulas. Cada pensamento parece me puxar para um abismo sem fim, e eu reviro na cama, frustrada. Depois de incontáveis tentativas falhas de me desligar, desisto.
Levanto devagar, tentando não fazer barulho, e coloco um casaco por cima da camisola. Talvez uma caminhada pelos corredores ajude.
O castelo à noite tem uma atmosfera diferente. É silencioso, mas não vazio. As sombras dançam com o movimento das cortinas, criadas pela luz suave da lua que entra pelas janelas. O eco dos meus passos é quase reconfortante, preenchendo o vazio.
De repente, uma sombra se move à frente, e paro imediatamente, o coração disparando.
— Você sempre anda assim, como se estivesse fugindo de alguma coisa?
A voz baixa e calma me pega de surpresa.
— Alex? — Minha voz sai em um sussurro trêmulo.
Ele está ali, encostado casualmente contra a parede, os braços cruzados. As sombras das velas destacam os contornos do rosto dele, acentuando sua expressão enigmática.
— Esperava outra pessoa? — Ele pergunta, o tom provocador, mas o olhar indecifrável.
— Não esperava ninguém. — Tento soar firme, mas minha voz me trai.
— E por que está vagando pelos corredores no meio da noite?
— Não conseguia dormir. Resolvi dar uma volta. — Respondo, tentando me recompor. — E você?
— O mesmo.
O mesmo. Claro. Porque Alex não é do tipo que dá explicações elaboradas.
Há uma pausa, e o silêncio entre nós é desconfortável e carregado. Tento pensar em algo para dizer, mas o peso daquela pergunta dele no encontro ainda paira no ar.
— Sobre o que a senhora na vila disse... — Ele começa, mas para, os olhos fixos nos meus. — Você não respondeu minha pergunta ontem.
Engulo em seco. Lá vem.
— A ideia de eu ser seu namorado é tão ruim assim?
A pergunta me pega de surpresa pela segunda vez. Meu rosto esquenta, e eu balanço a cabeça.
— Não foi isso que quis dizer.
— Não? — Ele inclina a cabeça ligeiramente, como se estivesse avaliando minha reação.
— Não. Eu só... — Procuro algo para dizer, mas as palavras me escapam. Então, dou um passo para o lado, tentando parecer tranquila, mas acabo tropeçando no próprio pé.
— Ops. — Tento disfarçar, ajeitando um castiçal no aparador ao meu lado.
Quando me viro, vejo Alex me olhando, e por um instante, o canto da boca dele se move em algo que parece um sorriso. É tão rápido que penso ter imaginado.
— Está tudo bem? — Ele pergunta, mas há um leve tom de diversão na voz.
— Claro. Só... conferindo se o castiçal está no lugar certo.
— À meia-noite?
— É um bom horário para decoração. — Tento manter a dignidade, mas sei que estou corando.
Ele inclina levemente a cabeça, ainda me observando.
— Você é... intrigante.
— É o que dizem. — Dou de ombros, tentando soar casual, embora minha voz esteja um pouco trêmula.
Ele não responde de imediato, mas o olhar dele é intenso, como se estivesse tentando me decifrar.
Preciso sair dali antes que faça outra coisa idiota.
— Boa noite, Alex. — Faço uma leve reverência, sentindo meu rosto queimar.
— Boa noite, Kate.
Caminho rapidamente pelo corredor, tentando parecer calma. Quando chego ao meu quarto, fecho a porta e encosto-me contra ela, soltando o ar que nem percebi estar segurando.
"Intrigante", ele disse. Não sei se isso foi um elogio ou uma crítica, mas, por algum motivo, aquele vislumbre de quase sorriso não sai da minha cabeça.
----
Acordo com a luz invadindo o quarto pelas frestas das cortinas. Meu corpo está pesado, como se a noite anterior tivesse durado uma eternidade. Não dormi bem, e isso é evidente nos meus olhos inchados refletidos no espelho. Respiro fundo. As coisas estão ficando intensas demais por aqui, e minha cabeça não consegue desacelerar.
Depois de me arrumar, desço para o café da manhã. O salão está cheio de conversas animadas, mas há uma tensão no ar que ninguém parece querer comentar. As meninas conversam sobre os encontros do dia anterior, enquanto eu me distraio com a textura do chá na minha xícara.
— Você tá muito quieta, Kate. — Emma cutuca meu braço, me despertando.
— Hm? Ah, só estou pensando. — Tento sorrir, mas não convenço ninguém.
Antes que alguém possa perguntar mais alguma coisa, o rei se levanta. Conversas cessam, talheres são colocados na mesa, e todos endireitam a postura instintivamente.
— Bom dia, senhoritas. — Ele faz uma pausa, como se quisesse avaliar nossa reação. — Hoje, chegou o momento de nos despedirmos de algumas de vocês.
Meu coração para por um segundo.
— Os príncipes decidiram quem irá partir.
Ele desenrola um pedaço de papel, e o som da movimentação ao redor se dissolve. Quando ele começa a ler os nomes, o impacto é imediato. Três garotas começam a chorar, tentando manter a compostura, mas é impossível não sentir o peso da situação.
— Desejo a vocês uma boa jornada e sucesso em suas vidas. — O rei faz uma reverência formal. — Vocês partirão após o almoço.
As eliminadas saem em silêncio, enxugando lágrimas, enquanto o restante de nós permanece estático, ainda processando tudo. Julie, é claro, quebra o gelo da forma mais Julie possível.
— Sinceramente, quem deveria ser eliminado é o príncipe Alex.
— Julie! — Emma sussurra, os olhos arregalados.
— O quê? É verdade! — Julie dá de ombros. — Aquele homem fala menos que uma estátua.
Eu não consigo evitar um sorriso, mas tento disfarçar.
— Ele não é tão ruim assim. — Minha voz sai hesitante.
Julie me lança um olhar incrédulo. — Não é ruim? Kate, se o castelo pegasse fogo, ele provavelmente não daria um gritinho.
Emma segura uma risada, e eu abaixo o rosto, mordendo o lábio para não rir também.
O rei retorna à frente da sala, interrompendo nosso momento de leveza.
— Senhoritas, gostaria de lembrá-las de que esta seleção avalia mais do que aparência e comportamento. É uma avaliação completa de suas capacidades. Por isso, em dois dias, faremos uma prova.
Prova? Meu coração dá um salto desconfortável.
— A prova terá três etapas. — O rei continua, com a voz firme. — A primeira será de etiqueta e postura, a segunda testará seus conhecimentos gerais sobre o reino, e a terceira será prática, avaliando sua capacidade de resolver problemas.
— Problemas? — Emma sussurra para mim, parecendo preocupada.
— Isso não soa nada bom — murmuro de volta, enquanto minha mente já começa a listar todas as formas possíveis de falhar.
Julie solta uma risada curta.
— Aposto que a etapa prática vai ser servir chá sem derramar. Ou, sei lá, não tropeçar ao dançar com um príncipe.
— Ou talvez vamos ter que decorar o nome das duquesas em trinta segundos. — Emma acrescenta, com um sorriso incerto.
Sorrio junto.
----
O dia passou voando, e agora estou no meu quarto, a cabeça cheia de pensamentos sobre a prova e tudo o que está acontecendo. Depois de um banho quente, visto algo confortável e decido me distrair. O rei nos deu dois dias livres, mas estudar parece mais cansativo do que encarar a prova em si.
Abro a gaveta ao lado da cama e pego uma balinha de caramelo e um dos chocolates que trouxe no primeiro dia. Surpreendente ele ainda estar aqui. Com tanta comida deliciosa à disposição, mal tenho tempo de beliscar essas coisas. Mordo um pedaço enquanto andava pelos corredores, sem rumo.
É então que ouço novamente o som do piano. Paro no meio do corredor, o chocolate ainda na mão. Desta vez, a melodia é Nocturne Op. 9 No. 2 de Chopin. Não sei quem está tocando, mas é tão bonito que sinto meu coração desacelerar. Sigo o som até o mesmo lugar da última vez e, sem pensar duas vezes, sento no chão, encostando-me à parede.
Enquanto mastigo o último pedaço de chocolate, fecho os olhos e deixo a música me envolver. Há algo tão pacífico nisso, como se o mundo lá fora não importasse. Quando a melodia chega ao fim, quase suspiro de tristeza. Quem quer que esteja tocando, parece capturar emoções que eu nem sabia que tinha.
Levanto-me devagar, sacudindo o pó imaginário da roupa, e volto a andar. Não chego muito longe antes de ouvir uma voz familiar me chamando.
— Kate!
Viro-me e vejo Lili vindo em minha direção, um sorriso enorme no rosto.
— Você está ocupada? — ela pergunta, já segurando meu braço antes mesmo de eu responder.
— Não exatamente...
— Ótimo! Vem comigo! — Ela me puxa sem cerimônia.
— Lili, espera! Para onde estamos indo?
— Surpresa! — é tudo o que ela diz, e não importa quantas vezes eu pergunte no caminho, ela se recusa a responder.
Finalmente, chegamos a uma sala ampla, com janelas que deixam entrar o sol da tarde. Meu coração dá um salto quando vejo Alex e Nicholas ali, conversando em um canto.
— Lili... — começo, hesitante, mas ela apenas sorri.
— Achei que seria divertido brincar um pouco! — Ela olha para os dois príncipes. — Dylan não conseguiu vir, então espero que vocês dois sejam bons o suficiente para compensar.
— Brincar? — pergunto, sentindo meu estômago revirar.
— Claro! — Lili responde, inocentemente. — Vamos fazer algo leve.
Nicholas se aproxima, o sorriso fácil no rosto, e me cumprimenta com um aceno.
— Kate, você parece surpresa.
— É porque estou — admito, tentando parecer calma.
— Não se preocupe, não é nada complicado — ele diz, os olhos brilhando com humor.
Antes que eu possa responder, percebo Alex no canto da sala, os braços cruzados. Ele observa a interação, mas não diz nada. Por algum motivo, sua presença me deixa ainda mais nervosa.
— Alex, você não vai se juntar a nós? — Lili pergunta, andando até ele.
O que acontece em seguida me pega completamente de surpresa. Alex, sempre tão sério e reservado, sorri levemente para Lili. Não um sorriso completo, mas o suficiente para suavizar sua expressão.
— Não sei se sou bom nisso — ele responde, a voz baixa, mas com uma pitada de humor.
Lili ri.
— Você vai se sair bem. Prometo.
Vejo um lampejo de algo diferente nele. Com Lili, ele parece... humano. Menos frio.
— Vamos começar? — Lili pergunta.
Ela nos leva para um pequeno salão próximo à biblioteca, onde uma mesinha redonda está pronta, com uma toalha de renda branca, um bule de chá, xícaras delicadas e um prato de biscoitos amanteigados.
— Vamos brincar de chá de princesa! — Lili anuncia, com os olhos brilhando. — Kate, você precisa aprender. Logo, logo vai ser uma princesa de verdade, então é melhor já ir treinando.
Quase engasgo com o ar.
— O quê?
— Lili — Nicholas começa, tentando conter a risada. — Não acho que seja exatamente assim que as coisas funcionam.
— Mas por que não? — Ela o encara, cruzando os braços. — Kate vai casar com um de vocês, não vai?
Alex, que até então estava em silêncio, levanta uma sobrancelha, mas não diz nada. Meu rosto fica quente, e tento responder, mas as palavras não saem. Nicholas, por outro lado, decide fazer o clima mais leve.
— Bem, isso é uma responsabilidade, Lili. O que acha de ensinar a Kate como se serve o chá? Ela pode ser melhor que nós nisso.
— Boa ideia! — Lili bate palmas e me entrega o bule.
Tento focar na tarefa, mas minhas mãos estão um pouco trêmulas. Enquanto despejo o chá nas xícaras, Lili observa com atenção, como se fosse uma crítica de etiqueta profissional.
— Está bom, mas precisa inclinar mais o bule, Kate. Quando for uma princesa, todo mundo vai reparar se você fizer errado.
— Acho que vou precisar de muita prática então. — Tento sorrir, mas minha voz sai um pouco hesitante.
Alex finalmente se pronuncia, sua voz baixa, mas não menos afiada.
— Não se preocupe. Tenho certeza de que a realeza pode sobreviver a um chá servido de forma inadequada.
Lili o ignora completamente.
— E você, Alex, pare de ser tão sério! Não é à toa que ninguém te escolhe para brincar.
Dessa vez, Nicholas não consegue segurar o riso, e até Alex solta um som abafado que pode ser uma risada disfarçada.
Lili continua a brincadeira, me fazendo repetir o processo até que ela julgue estar "perfeito". Apesar do embaraço inicial, começo a relaxar.
Quando o chá termina, Lili aponta para mim com um sorriso travesso.
— Viu só? Você está quase pronta para ser uma princesa de verdade!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro