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3: Depois da festa

Era simplesmente fantástico, perfeito, preto e personalizado. Um piano de cauda com o seu nome entalhado na lateral em letras itálicas douradas.

— Muito obrigada, papai, é o melhor presente do ano — Bruna abraçou novamente o seu pai enquanto um sorriso enorme enfeitava o seu rosto.

— E eu não ganho nada? — perguntou Félix olhando para a irmã com uma expressão convencida — fui eu quem tive a ideia — se gabou.

Bruna foi até o seu irmão mais velho e o abraçou também, agradecendo pelo presente.

— Isso significa que você não gostou do meu presente? — perguntou Marta com um falso tom ofendido atrás da filha.

— Claro que gostei, mamãe, e corrigindo, esses foram os melhores presentes que eu já ganhei na vida.

Bruna agradeceu mais uma vez aos pais pelos presentes, e pela festa, se despediu deles e subiu para seu quarto junto de Elizabeth.

Assim que abriu a porta se deparou com a montanha de presentes clamando por serem abertos. Já prevendo o que a amiga diria, ela adiantou-se.

— Elizabeth, deixa para amanhã, eu estou a morrer de cansaço, por favor — falou se virando para que a amiga a ajudasse a tirar o vestido.

— Nem o do Francisco? — perguntou Elizabeth, com a certeza de que isso atiçaria a curiosidade da amiga.

Assim que ouviu o nome Bruna entrou em alerta e começou a procurar pela caixa com forro azul e laço preto.

— Eu não coloquei ela com os outros presentes, nunca faria isso — falou Elizabeth caminhando até ao guarda-roupa da amiga — seria desrespeitar o lugar especial que ele ocupa no seu coração — terminou com uma gargalhada enquanto olhava para a cara manhosa da amiga.

— Eu já falei para você parar com isso, Lili, ele tem, provavelmente, namorada, e nós somos só amigos — Falou Bruna pegando a caixa das mãos da amiga e sentando-se na cama para abri-la.

— Mas você queria que fossem mais que isso, admite Nana, eu conheço-te, e é óbvio que você gosta dele.

Bruna apenas ignorou o comentário da amiga e continuou a abrir a caixa, o que fez Elizabeth rir ainda mais.

Assim que abriu a caixa, Bruna se surpreendeu ao ver o que ela guardava. Um ursinho de pelúcia preto, com um pequeno coração vermelho nas mãos com a frase "AMO-TE BRUNA". Ela pressionou o coração e a música Best Part, de Daniel Caesar e H.E.R. começou a tocar, ela abraçou o ursinho e disse para si mesma que não tinha como o presente ser mais perfeito.

Mas não acabava por aí, ela notou um brilho dourado no que seria o pulso do ursinho e ficou surpresa ao encontrar uma pulseira de ouro com pequenas flores esculpidas por todo o seu cumprimento, deixando ela ainda mais delicada. No fundo da caixa ela notou um pequeno papel, e assim que o pegou percebeu se tratar de uma carta. Ela então a abriu e começou a ler.

Boa noite, é como início a minha poesia,

não porque você a lerá nesse momento do dia,

mas porque foi o que mais romântico me parecia.

Não que algo que possa ser mais romântico do que o seu sorriso ao pôr do sol ...

Tente entender-me, RAINHA.

Sou apenas um dos pobres coitados que se perderam na luz do seu farol,

e agora o seu riso é minha perfeita melodia,

que me tira da monotonia

e liberta-me da melancolia dos dias sem você,

trazendo alegria logo ao amanhecer, e todos os dias imagino a minha vida com você.

Agora, RAINHA, me concederia a honra dessa dança?

Bruna mal terminou de ler o bilhete e sentiu ele sendo arrancado da sua mão por Elizabeth, que estava curiosa para saber o que o papel continha, já que Bruna esteva lendo apenas para ela mesma.

— Pelo seu sorriso, isso deve ser uma declaração de amor.

— Não é nada, Lili, é só um poema, agora devolve — Bruna se levantou tentando tirar o papel das mãos da amiga, mas desistiu com medo de rasgar.

— Então quero ler o poema também — ela falou e coçou a garganta como se estivesse se preparando para fazer um discurso histórico.

Após ter lido o poema, ela lançou um sorrisinho travesso para Bruna e continuou.

... Faço das palavras da poetisa as minhas, e convido você não só para uma dança, mas para um encontro de verdade. Estarei a esperar ansiosamente por sua resposta. Boa noite, RAINHA.

Francis.

Num pulo, Bruna se aproximou de Elizabeth e arrancou, literalmente, o papel das mãos dela para ler com os seus próprios olhos, temendo que aquilo não passasse de uma brincadeira da amiga.

Após verificar a veracidade dos factos, ela simplesmente não conseguia mais parar de sorrir, tanto que as suas bochechas já estavam doloridas e ficando vermelhas.

— Alguém está a namorar — cantarolou Elizabeth enquanto batia palmas e pulava em volta da amiga igual uma criancinha feliz.

— Para de inventar coisas, nós não estamos a namorar, ele só me convidou para sair. E para de gritar, os meus pais vão acabar ouvindo.

— A minha voz é literalmente um sussurro Nana — falou Elizabeth, sussurrando — e, além disso, eu tenho certeza que é só uma questão de tempo até vocês começarem a namorar.

— Você realmente acha que ele gosta de mim? — perguntou Bruna se sentando na cama ao lado da amiga.

— É claro que sim — respondeu convicta, Elizabeth — vocês dois juntos são literalmente um casal de capa de revista — falou e logo mostrou a foto que havia tirado mais cedo no jardim enquanto eles estavam abraçados.

Bruna olhou para a foto e suspirou apaixonada, Elizabeth tinha razão, ambos faziam um casal muito lindo.

Na manhã seguinte, o sol invadiu o quarto de uma forma abrupta, irritando só olhos da jovem, que apenas virou a cabeça para o outro lado e continuou a dormir, ou pelo menos tentou, pois o seu ato se mostrou em vão quando sentiu e macio e quente cobertor ser arrancado do seu corpo sem-cerimónia alguma.

— Por que você me acordou Félix? Hoje é domingo! — Bruna se virou e olhou para o irmão mais velho com uma cara zangada.

Ao olhar para o lado percebeu que a amiga já não estava mais com ela na cama e havia ido embora, pois nem a suas coisas estavam mais no quarto.

— Exato, DO-MIN-GO — Félix falou pausadamente esperando que a sua irmã entendesse o recado, coisa que não aconteceu, pois ela fez uma cara ainda mais confusa.

Percebendo que a sua irmã não entenderia o que ele queria, ele bufou frustrado e prosseguiu:

— O que significa que a mamãe foi a igreja, e quem vai ter de cuidar das coisas aqui em casa, é você, e vai começar pelo almoço porque eu já estou a morrer de fome — ele terminou e saiu do quarto, deixando para trás uma irmã com ar irritado e cheia de sono.

Bruna jogou o seu corpo para trás sendo recebida pelo conjunto de almofadas suaves, pensou em descansar mais um pouco, mas desistiu da ideia e levantou-se para atender o irmão, antes que ele se tornasse um ogro mal disposto.

Ela achava incrível como o facto de morar sozinho não contribuiu em nada para o amadurecimento do irmão, mesmo com 22 anos ele mal sabia cozinhar, e vivia fazendo drama devido à fome. Ela podia até mesmo jurar que ele só voltava todo o fim de semana atrás de uma comida decente.

Bruna levantou da cama e logo foi para o casa de banho fazer a sua higiene pessoal. De volta ao quarto, ela aproximou-se da cama e cogitou arrumá-la, mas abandonou a ideia assim que percebeu que não havia aberto metade dos presentes e o quarto estava uma desordem.

A jovem desceu rapidamente às escadas e foi até a cozinha, enquanto cantava uma música aleatória que tocava no seu celular. Ao observar o ambiente, ela agradeceu internamente à sua mãe por sempre manter a cozinha tão limpa.

Tal como ela havia imaginado, tinha comida no frigorífico, coisa que a fazia duvidar ainda mais dos hábitos alimentares do irmão durante a semana, porque, literalmente, ele só precisaria pegar as empadas e aquecer, mas preferiu acordar ela e esperar sentado no sofá, como se fosse um príncipe.

Ela organizou tudo e colocou a mesa, chamando Félix logo em seguida para que almoçassem juntos.

Antes de comer, ela fez uma oração, agradecendo pelo alimento, e o almoço seguiu com conversas aleatórias entre os irmãos.

Félix rejeitou a sobremesa e disse que iria sair, deu um beijo na testa da irmã e a deixou, afirmando que não ia demorar muito.

Sozinha em casa, Bruna conectou o aparelho de som ao seu telefone e começou a sua "festa" privada enquanto arrumava o resto da casa.

Ela começou ouvindo 'soft pop', enquanto varria a sala, e depois disso foi arrumar cada cómodo separadamente. Como na cozinha não tinha muita coisa para limpar, ela terminou rapidamente a parte de baixo.

Quase no final da tarde, ela olhou para tudo a sua volta e deu um sorriso satisfeito, por ver como havia deixado tudo tão limpo. Parte de baixo limpa, ela então começou a subir as escadas se dirigindo para o seu quarto, a maior desordem. Mas, assim que a música Teenage Dream de Katy Perry começou a tocar, a sua diva interior ganhou vida e ela começou o seu "show".

A música estava tão alta que ela mal ouviu quando o seu irmão entrou em casa, e muito menos notou que ele estava acompanhado. Como se ainda estivesse sozinha, ela continuou a dançar e cantar bem alto, mesmo não sabendo fazer nenhuma das duas coisas, não corretamente.

Maior foi o seu espanto quando a música terminou e ela percebeu ter plateia, e principalmente, ele estava nela, parecendo meio-envergonhado pela cena que acabava de testemunhar.

Quem gostou do show da Bruna???

Eu com certeza, sim, acabei-me de rir haha.

Bjs. e até ao próximo capítulo. <3

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