17: Tudo está bem quando acaba bem
Alguns dias depois.
— Marta, nós precisamos tratar dos procedimentos para transferência da Bruna — falou Daniel olhando para a filha ainda desacordada.
— Sim, você tem razão — Marta o olhou por um instante — Já estamos a tempo demais na casa da Angélica. Falaremos com o médico quando ele vier fazer os exames.
— Você realmente acha que ela vai acordar e que tudo ficará bem? — Daniel olhou para Marta, o olhar cabisbaixo e triste.
— Claro, Daniel — Marta segurou as suas mãos — ela vai ficar bem, até agora tudo indica que ela está bem. O médico não sabe como ela estará quando acordar, mas temos de ter esperanças.
— Não sei, Marta — Daniel estava desanimado — Fico a pensar, e se eu não tivesse dito essas coisas a ela? — olhou para a filha por uns instantes e continuou:
— Tudo seria diferente, a nossa filha estaria bem, acordada, tudo seria resolvido...
— Daniel, você não tem motivo para pensar assim — segurou em a sua bochecha, fazendo-o olhá-la — Deus sabe o porquê das coisas e...
Marta foi interrompida pelo médico que os cumprimentou, estava na hora de verificar os sinais vitais e se havia ocorrido alguma evolução durante a noite.
— Doutor — começou Daniel — estávamos aqui pensando, e achamos melhor transferir a Bruna para um hospital na cidade em que moramos. Será mais fácil para nós, e como o senhor mesmo disse, interagir com pessoas que ela conhece pode ajudá-la a melhorar. E nessa cidade não tem quase ninguém.
— Claro que sim. Eu entendo. Falarei com uma enfermeira, e logo ela chamará vocês para resolverem todos os trâmites.
— Muito obrigado, doutor. Agora deixaremos o senhor fazer os exames.
Depois dos exames, o médico chamou os pais da Bruna até a sala dele para que assinassem os papéis da transferência. Eles iam para casa quando Daniel recebeu uma mensagem de Félix.
"Boa tarde, pai. Preciso conversar com você. Fiquei a pensar esse tempo todo, e quero realmente saber o que aconteceu de verdade e o porquê de vocês terem escondido a verdade sobre o meu pai biológico, eu quero saber a história toda."
Félix havia voltado para a capital por conta das aulas, e aproveitou para desabafar com Daniela, que o encorajou a conversar com os seus pais e esclarecer o assunto de uma vez por todas.
Daniel mostrou a mensagem para Marta, e ela disse que seria melhor se ele ligasse para o Félix e marcassem um local para se encontrarem, estava machucada por ele não estar a falar frequentemente com ela, mas não podia reclamar, ela convencera Daniel de que seria melhor ele não saber a verdade.
No dia seguinte, eles foram até a casa da Bruna para arrumar as coisas dela e levar tudo com eles. Ambos agradeceram muito a dona Maria e a Carla por darem abrigo e ajudado Bruna quando ela precisava e despediram-se.
Após terem todas as coisas arrumadas, eles foram para o hospital, conversaram com o médico, e o mesmo passou os detalhes da transferência de Bruna, que seria feita à tarde.
Eles acharam melhor voltar para sua cidade de manhã, para terem tempo de descansar um pouco antes de irem ao hospital recebê-la. Após quatro horas de viagem, eles finalmente estavam em casa. Marta tomou um banho e cozinhou alguma coisa para eles comerem antes de irem para o hospital.
— Marta, você acha que o Félix vai querer conhecer melhor o Vítor? — perguntou Daniel enquanto dirigia.
— Para falar a verdade, eu não sei o que ele vai dizer. Acho que ele continua muito chateado comigo por ocultar a verdade — o tom não escondia a tristeza que sentia.
— Não se preocupe — Daniel lançou um rápido olhar para ela — O nosso filho é muito racional. Ele com certeza entenderá o que aconteceu e os motivos que nos levaram a esconder a verdade dele.
— Espero que sim. Não quero que ele me odeie por causa daquele homem — Marta lamentou.
Eles chegaram no hospital, estacionaram o carro e entraram. Foram até a receção, e logo uma enfermeira os levou até a sala do médico que cuidaria da Bruna dali para frente.
— Eu senti muita confiança nesse médico. Algo me diz que a nossa filha vai acordar em breve — disse Marta animada, por um instante toda a preocupação em relação a Félix havia se dissipado.
— Meu amor, não quero tirar o seu ânimo nem acabar com as suas esperanças. Mas já fazem dez dias que estamos a ouvir isso.
— Não fale assim. Tenha um pouco mais de esperança, e fé. Sinto que a nossa filha acordará. Dessa vez tem uma coisa em mim que grita que ela acordará logo.
Eles saíram do hospital e foram para casa. Na mesma tarde Francisco foi visitar Bruna no hospital, sentia-se muito culpado por vê-la deitada numa cama de hospital, quase sem vida.
Sentou-se ao seu lado na cama e segurou a sua mão, brincava com os seus dedos enquanto lhe contava como ia a vida na capital. O médico havia dito que faria bem para ela interagir com pessoas próximas, e ele não sabia se ainda podia se considerar assim, mas passou a visitá-la sempre que possível e a conversar sobre coisas aleatórias.
A primeira visita foi a mais difícil, ele não sabia o que falar. Se desculpou por tudo o que acontecera, pela forma como agira e chorou muito por não ter coragem de voltar e desculpar-se mais cedo. As outras foram mais suaves, até que passou a conversar normalmente com ela, acariciava o seu rosto e entrelaçava os dedos das suas mãos, era como conversar com uma bela adormecida.
Francisco continuava o seu monólogo, as suas mãos seguravam a mão direita de Bruna e brincava tranquilamente com os seus dedos enquanto falava, algo que ela tinha a mania de fazer quando eles namoravam.
Havia conhecido a sua filha, graças a Marta, pois Félix e Daniel continuavam reticentes em deixá-lo se aproximar de Alexa, e aquele momento fora magico para ele, arrependeu-se ainda mais por rejeitá-la quando ainda era um pequeno ser em formação no ventre da sua mãe.
Sentiu um dos seus dedos mexer, mas não sabia se era realmente ela ou ele mexera o dedo sem querer, então parou os movimento e ficou a olhar atentamente para a mão dela. Outro movimento. Era lento e pequeno, passaria facilmente despercebido aos olhos de qualquer outra pessoa.
Ele então voltou acariciar a sua bochecha enquanto pedia que ela acordasse, e como se respondesse ao seu pedido, Bruna abriu os olhos, apenas por alguns segundos, e voltou a fechá-los.
Francisco sentiu o seu corpo ser tomado por uma euforia imensa, e saiu do quarto correndo para procurar uma enfermeira.
— Daniel, Daniel... — Chamou Marta apressadamente enquanto descia as escadas.
— O que foi? Estou aqui na sala. Cuidado para não quebrar uma perna correndo assim...
— Ela acordou, Daniel, a nossa filha acordou — se jogou nos braços do marido enquanto dava gargalhadas de alegria.
— O quê? Repete o que você falou — Daniel sentiu-se instantaneamente revigorado.
— A Bruna acordou, Daniel. Acabaram de me ligar do hospital. A nossa filha finalmente acordou — ela declarou as mãos e a cabeça para o alto — muito obrigada, Senhor, por ser sempre tão misericordioso. Vamos para o hospital — puxou a mão de Daniel.
— Vou pegar a chave — falou Daniel, correndo até a cozinha para pegar as chaves.
— É melhor você trocar de roupa primeiro — olhou para o calção e regata que ele usava
— Você tem razão, eu já volto — subiu as escadas correndo.
Daniel foi até o quarto trocar de roupa e desceu apressado para irem ao hospital. Quando chegou lá, uma enfermeira os encaminhou até a sala do médico.
— A Bruna acordou faz algumas horas, e nesse tempo pude fazer alguns exames de primeira instância. Ao que tudo indica ela está bem, mas precisará fazer fisioterapia para poder voltar a se movimentar normalmente. Ela perdeu parte da memória e acordou no dia do aniversário dela, nós fizemos os exames e eles estão a ser analisados, não sabemos ainda qual é a gravidade do assunto, peço que esperem 24 horas antes que eu vos dê um diagnóstico.
— Está bem, doutor. Podemos ver a nossa filha?
— Sim, a enfermeira irá levar vocês até o quarto dela, mas peço que não mencionem nenhuma questão importante que sucedeu depois do aniversario dela, não sabemos que impacto isso pode causar.
Eles concordaram e foram até ao quarto dela, ela parecia bem, feliz, eles conversaram por algum tempo e depois a deixaram descansar. Estavam felizes por ela acordar, mas era difícil simplesmente ignorar tudo o que acontecera durante um ano, Daniel ainda se sentia mal pela última conversa que tivera com Bruna, e queria se desculpar, mas não podia, precisaria seguir os conselhos do médico e esperar que o mento preciso chegasse.
No fim de semana ela recebeu alta e Félix foi visitá-la com Daniela, aproveitando a oportunidade para ter uma conversa seria com os seus pais.
Após descobrir toda a verdade sobre como foi a história de Marta e Vítor, ele se desculpou por ficar tão chateado com a mãe e por culpá-la por esconder a verdade sobre o seu pai biológico, mas disse querer conversar com ele também, ouvir o lado dele.
Bruna ficara mais três dias no hospital depois que acordara, e nesse tempo passou a fazer exercícios, não apenas a fisioterapia, mas também exercícios para a memória.
Desde que Félix havia chegado, ela estava imersa em conversas aleatórias com Daniela, Alexa dormia o tempo todo, e ela ainda não se lembrava de ter tido um a filha.
Estavam no seu quarto quando ouviram um chorinho de bebé, como Marta estava no jardim com Félix e Daniel, não ouviu o choro.
Bruna achou muito estranha a presença de um bebé em casa, mas se levantou mesmo assim e foi a seguir o choro, ao perceber que vinha do quarto dos seus pais, se apressou até lá. Ao abrir a porta ela viu um berço e franziu as sobrancelhas, tinha certeza que o seu pai não tinha um berço em casa. Caminhou até ele e viu a bebé deitada de barriga para baixo e mexia levemente a cabeça enquanto gritava.
Ela segurou-a delicadamente e a balançou nos seus braços, assim que sentiu o calor da mãe Alexa parou de chorar e um sorriso se formou nos seus lábios, lágrimas ainda brotavam dos seus olhos, mas seus gritinhos eram de alegria. Ao olhar para a bebé feliz nos seus braços, Bruna sentiu uma dor de cabeça enorme e tudo a sua volta tornou-se escuro, sentiu o seu corpo ficar sem forças e desabar no chão.
Daniela foi atrás de Bruna para ver o que acontecia, e no instante em que cruzou a porta viu o seu corpo desfalecendo. Correu e foi rápida o suficiente para impedir que ela batesse a cabeça e Alexa caísse no chão, logo gritou por ajuda e Bruna foi levada para o hospital.
Horas depois...
— Bruna — Daniel entrou no quarto e sentou-se em uma cadeira ao lado da cama.
Bruna havia recuperado a memória e estava bem, mas o médico pedira que ela ficasse no hospital sendo observada, estava num quarto com Alexa nos seus braços, acabara de amantá-la e estava prestes a fazê-la dormir.
Levantou os olhos para Daniel, que parecia meio-desconfortável, não respondeu ao seu chamado, não sabia como responder.
— Quero desculpar-me com você — ele segurou em uma das mãos de Bruna e a olhou nos olhos — fui muito duro e rude com você, não devia ter dito aquelas coisas horríveis, todos nos estamos sujeitos a cometer erros, e eu não devia ter agido como se você tivesse cometido o maior pecado do planeta. Devido ao que eu disse você foi embora, e por minha culpa tantas outras coisas aconteceram com você, mas arrependo-me, arrependo-me de ter virado as costas para você e não ter sido seu pai quando você mais precisou de mim. Você pode perdoar-me? — os seus olhos estavam molhados e a voz embargada, não era fácil para ele deixar o orgulho de lado e pedir desculpas, mas sabia que precisava fazer aquilo se quisesse continuar a cultivar uma boa relação com a filha.
Bruna estava emocionada, não esperava que o seu pai se desculpasse, muito menos de uma forma tão aberta e sincera, sentia-se tocada por seu ato, não sabendo como responder, apenas o abraçou, e ambos caíram no choro, que foi interrompido pelos gritos de Alexa.
No dia seguinte ela foi liberada e os seus pais foram buscá-la no hospital.
— Estou tão feliz de finalmente poder voltar para casa — falou Bruna, abraçando a sua mãe.
— Sim, filha. Eu também estou feliz. Esse ano que você não esteve foi muito difícil para mim. Eu senti tanto a sua falta.
Decidiram então fazer um almoço especial para comemorar o retorno de Bruna. Félix e Daniela foram juntos, Bruna ficou um pouco espantada por eles ainda estarem a namorar, achou que não fosse durar muito tempo, mas não falou nada, ela se da dava bem com a Daniela e Félix parecia muito feliz com ela.
O almoço correu muito bem e eles riram muito, Bruna contou-lhes sobre o que aconteceu enquanto estava na outra cidade e eles também contaram o que aconteceu enquanto ela estava fora, foi como se eles tivessem ficado afastados por décadas.
Eles terminaram de almoçar e arrumaram tudo, Félix saiu para se encontrar com Vítor, pois estava dando-lhe uma oportunidade para se conhecerem melhor, mas havia deixado bem claro que ele nunca poderia ocupar o lugar de Daniel na sua vida, pois era a verdadeira figura paterna que ele conhecia.
Bruna conversava com Daniela na varanda enquanto amamentava Alexa, os seus pais saíram para uma caminhada e só estavam as três em casa, então quanto a campainha tocou , Daniela foi atender.
— Boa tarde... Daniela! O que você faz aqui? — perguntou Francisco, um pouco surpreso.
— Pelo que eu saiba, você é que não é bem-vindo aqui — Deu as costas para ele o voltou para onde estava.
Francisco entrou atrás de Daniela, ele estava um pouco apreensivo, seria a primeira vez que falaria com a Bruna desde o dia em que ela contou estar grávida, ele não sabia como ela reagiria e tinha medo de que talvez ela não o entendesse e mandasse embora mesmo antes de o escutar.
— Boa tarde, Bruna — ele aproximou-se devagar e pegou Alexa que sorriu para ele, haviam se encontrado algumas vezes, e ele pretendia ser um pai presente na vida da filha.
— Vou deixar você com a Alexa. A minha mãe explicou que você veio visitar ela enquanto estive em coma — a princípio estava hesitante em entregar a sua filha para ele, mas não tinha outra opção, então decidiu ir embora.
— Não, eu quero conversar com você — Francisco pegou na sua mão.
— Acho que não temos nada para conversar — se afastou do seu toque — Você já deixou tudo bem claro para mim.
— Bruna, por favor, já se passou mais de um ano deste daquela conversa, eu mudei, eu quero realmente que a gente tente outra vez — o seu tom era sincero, mas Bruna estava determinada a não ceder.
— Francisco, você veio aqui pela sua filha, e você está com ela. Acho que isso é mais do que suficiente.
— Bruna, por favor, nós podemos tentar outra vez, podemos dar uma nova oportunidade para nossa relação, podemos tentar de novo, eu comprei uma casa, você e a Alexa podem ir morar comigo lá na capital, você pode começar a faculdade, podemos construir uma vida juntos.
— Melhor parar por aqui, eu não vou com você nem darei uma nova oportunidade para o nosso relacionamento, eu tive muito tempo para esquecer e superar o nosso fim, e como você agiu no nosso último encontro facilitou esse processo, então nem pense que tem uma oportunidade comigo.
— Nem pela nossa filha?
Francisco sabia que não era justo usar a própria filha para benefício próprio, mas era sua última esperança, e aproveitou o curto momento de hesitação de Bruna para se aproximar mais e continuar.
— Sei que errei, eu errei muito com você, eu não devia ter agido daquele jeito, fui covarde, deixei o pânico falar mais alto e coloquei a culpa em você — segurou na sua mão — mas você foi mais forte Bruna, muito mais forte do que eu — respirou fundo — e eu agradeço-te muito por ignorar o que falei — olhou para Alexa, alheia completamente a situação e brincava com os botões da sua camisa — nos temos uma filha linda, e você e ela representam tudo para mim. Eu só peço que você me dê uma oportunidade para reparar o meu erro e fazer vocês duas felizes.
Bruna sentiu toda a mágoa acumulada por mais de um ano acordar, ainda estava ferida pelo que ele havia dito, era como se tivesse acabado de ouvir aquelas palavras há alguns minutos, mas passado é passado, e uma hora ou outra precisa ser deixado para trás.
Tudo o que Francisco falou parecia realmente sincero e verdadeiro, e ela queria dar a oportunidade a Alexa de crescer numa família feliz e repleta de amor, assim como fora com ela, e foi com esse pensamento que ela murmurou um 'Eu vou tentar'. Francisco a abraçou e depositou um beijo na sua testa, estava disposto a fazê-la se apaixonar por ele de novo.
Fim.
Hi sweet
Finalmente o último capítulo, o que vocês acharam?
Deixem suas opiniões e comentários, isso me ajuda muito a melhorar.
Bjs e até ao próximo livro. <3
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