16: Seu filho?
Marta não queria falar com ele, o simples facto da sua presença no ambiente a deixava alterada. Sentia-se abalada, emocionalmente enfraquecida, a história mal resolvida com Vítor ainda a machucava, mas não queria voltar ao assunto, então o olhou nos olhos, e com um tom audível e ríspido falou:
— Nós não vivemos nada Vítor! Eu me apaixonei por você e você me usou. Fim da história — ela virou-se e começou a andar para dentro do hospital.
Vítor apressou o passo e foi atrás dela.
— Marta, você não pode ignorar o fato de nós termos um filho juntos!
Marta virou-se para ele e parou no meio do caminho.
— Não se atreva a falar do meu filho. Você nunca se importou com ele, nem quando eu te contei que estava grávida, então não venha querer bancar o pai preocupado agora!
— Você não pode me culpar — Vítor tentava se justificar — Éramos jovens. Eu tinha toda uma vida pela frente...
— Eu não tinha? — Marta o olhou chocada — Você era o único que tinha o direito de viver?
— Marta, não foi isso que eu...
— Já chega, o que você quer com a minha esposa? — Daniel posicionou-se ao lado de Marta, defensivamente — Não basta tudo o que você fez com ela no passado? Ainda quer voltar e atormentar o presente dela?
— Eu não estou aqui para atormentar ninguém. Eu só quero conhecer o meu filho e construir uma relação com ele...
— A questão aqui é que você não tem um filho com quem construir um relacionamento — o olhar de Daniel era forte e destemido, um vislumbre de raiva crescente nele, já perdia a paciência com aquele assunto.
— Temos um filho sim! — Vítor insistiu e aproximou-se mais deles, o tom de voz um pouco mais ameno — Tenho certeza que você não abortou, eu conheço você Marta, nunca faria uma coisa dessas — a sua voz soava como uma súplica, estava mais tentando se convencer daquilo do que apontando um facto.
— Vítor faça-me um favor — Marta o olhou nos olhos — Desaparece, vai embora daqui, assim como você fez anos atrás.
— Eu não desapareci, eu voltei e procurei você — a sua voz saia num fio, o homem forte e confiante deu lugar a um jovem confuso e com medo.
— Você voltou e me procurou após me mandar embora e dizer que não queria saber nada sobre o meu filho.
— Eu não tive como...
— Já chega! — Daniel quase gritou — Vamos embora, Marta — pegou na sua mão — E você, nem tente se aproximar do Félix. Ele não é seu filho, você nunca fez nada por ele — o indicador apontado em direção a Vítor.
— O Félix é meu filho, sim, e vocês querendo ou não, eu vou falar com ele, eu tenho esse direito!
— Sou seu filho? — Félix estava parado no fim do corredor olhando para eles três, a pergunta saio quase como um sussurro, mas o silêncio do ambiente a fez ecoar como um grito nos ouvidos dos três.
A expressão no rosto de Marta era de pânico e desespero. Daniel tinha uma expressão igual, já Vítor apresentava uma expressão um pouco triste pela forma como Félix descobriu que era seu filho.
— Não, Félix — Marta aproximou-se dele — você não é filho desse homem, o seu pai é o Daniel — tentou tocá-lo no rosto, mas como se estivesse muito perto do fogo, Félix recuou e desviou do seu toque.
— Eu ouvi o que vocês falaram, não tudo, mas o suficiente — o seu tom estava repleto de mágoa, levantou os olhos para Daniel, antes de continuar — a minha vida toda foi uma mentira! Vocês mentiram para mim por vinte e três anos sobre quem é o meu pai!
— É claro que não foi uma mentira. Você é meu filho, eu sempre amei você. — Daniel tentou se aproximar dele.
— Não, vocês mentiram para mim esse tempo todo — ele olhou para Vítor — Fui rejeitado pelo meu próprio pai — a frase soou amarga, ele sentiu como uma faca sendo enterrada no seu peito, se virou e saiu correndo, não conseguia mais olhar para eles.
— Muito obrigada, você consegue mesmo deixar as coisas um caos! — Daniel virou-se para Vítor, o olhar repleto de raiva — Agora entendi a quem aquele assassino puxou.
— Não se atreva a chamar o meu filho de assassino — Vítor colocou-se na frente de Daniel.
— Por favor, chega de briga por hoje — a voz de Marta era baixa, estava cansada de tudo aquilo — Daniel, vai atrás do Félix, por favor. Fico aqui com a Bruna.
— Acho que ele devia ficar um pouco sozi...
— Ninguém aqui pediu a sua opinião. Vê se cala a boca e desaparece da minha vista — Daniel gritou para Vítor e logo foi atrás de Félix.
— O Thomas pediu para avisar a senhora que foi embora. Ele precisa ir trabalhar em algumas horas — disse Francisco quando Marta se sentou ao seu lado.
— Obrigada — respondeu seca, sem nem olhar para ele.
— E eu sei que a senhora deve me odi... — Ele começou, mas logo foi interrompido.
— Eu não estou no clima para ouvir o seu discurso agora. O do seu pai é suficiente para uma vida.
— De onde a senhora e o meu pai se conhecem? — Francisco a olhou curioso.
— Pergunta para ele. Afinal, é seu pai, não é mesmo?
Marta se levantou e foi se sentar do outro lado. Ela não estava mesmo a fim de conversar.
Francisco levantou-se e foi procurar pelo pai. Não aguentava mais ficar de fora. Após andar por uns minutos, ele encontrou o pai sentado em baixo de uma árvore, olhando para o nada.
— Pai, o que está a acontecer? — ele sentou-se ao lado do pai.
— Umas coisas, filho, mas você não precisa se preocupar com isso — respondeu com os olhos ainda fixos ao nada.
— Como não? — Francisco o olhou perplexo — Dá para notar a tensão que se forma quando o senhor e a mãe da Bruna ficam no mesmo ambiente, sem falar que têm trocado olhares desde que ambos chegaram no hospital.
— Você lembra da história que eu te contei aquele dia no escritório?
— Sim, o que te... — Francisco interrompeu-se para lembrar do que exatamente o seu pai falava, e quando a ficha caiu continuou — Pai, não me diz que a senhora Marta é a mulher da história — o olhava apreensivo.
— Sim, é dela que eu falava, e o Félix, bom... — Vítor respirou fundo — ele é seu irmão mais velho.
Francisco levantou-se sem dizer uma palavra e foi a caminhar em direção ao nada, não sabia como reagir, mas, ao mesmo tempo, não se sentia no direito de reclamar, também havia escondido do pai que tinha uma filha.
Vítor ficou sentado ali por mais um tempo e depois voltou a entrar no hospital.
Angélica mandou uma mensagem para Marta avisando que eles poderiam ir se trocar e comer alguma coisa na casa dela, quando quisessem, e que Alexa estava na casa da Bruna com dona Maria.
Daniel avistou Félix sentado perto de um poste de luz, e se aproximou com cautela, temia afastá-lo ainda mais, agia como se estivesse a lidar com um animal ferido. Sentou-se ao lado dele e ambos permaneceram em silêncio por algum tempo, até Félix decidir quebrá-lo.
— O senhor sempre soube?
— Félix — Daniel colocou uma mão no seu ombro — o que aquele homem diz não importa, eu te amei muito antes de você nascer, e eu sempre te olhei como um filho, o facto de você não ter o meu sangue nunca me impediu de ser seu pai.
— Por que vocês nunca me cotaram? — mantinha os olhos fixos no chão.
— Porque nos não queríamos que você se sentisse desse jeito, queríamos ao máximo evitar que você sentisse essa dor.
— Obrigada — Félix levantou finalmente o olhar — obrigada por me aceitar como o seu filho — abraçou Daniel, que correspondeu aliviado.
Ambos voltaram até a sala de espera, e durante o caminho nenhuma palavra mais foi dita. Ao saber sobre a mensagem que Angélica enviara, eles decidiram ir para casa e relaxar um pouco. Daniel insistiu bastante para que Marta fosse com eles, mas ela recusou firmemente e disse que ficaria para o caso de Bruna acordar.
Após tomar um banho, Félix finalmente olhou para o celular, a última vez que o usou foi quando estavam a caminho do hospital, tinha várias ligações e mensagens de Daniela. Suspirou e coçou a cabeça, como faltavam algumas horas para amanhecer, decidiu dormir um pouco e falar com ela apenas quando acordasse.
Daniel voltou ao hospital com o celular de Bruna, e Marta já o esperava para irem embora. O médico explicou que não adiantava eles ficarem no hospital, pois não poderiam vê-la ainda, e disse que ligaria para dar qualquer notícia.
Ambos saíram do hospital e foram para a casa de Angélica para que Marta se trocasse e comesse alguma coisa, aproveitaram também para dormir um pouco, e ao amanhecer foram para a casa da dona Maria pegar Alexa. Eles ficaram lá por um tempo, e dona Maria os ajudou a arrumar algumas coisas da Alexa para que eles ficassem na casa da Angélica, por ser maior e mais perto do hospital.
Por volta das quinze horas, Marta recebeu uma ligação do hospital e eles foram para lá. O médico explicou que Bruna estava em coma e que isso foi uma consequência do traumatismo sofrido. Ela saiu da UTI e foi para um quarto, já poderia receber visitas, uma por vez, um máximo de quatro visitas por dia. Ainda não sabia quanto tempo ela ficaria em coma. Podia durar apenas alguns dias ou até anos.
Hi sweetie.
Penúltimo capítulo, estamos a um passo do final da estória.
O que vocês estão a achar dela?
Vamos torcer para a Bruna ficar bem.
Bjs. <3
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