12: Enquanto isso...
Na manhã de domingo, Marta arrumou-se e foi para a igreja. Na volta, encontrou com Elizabeth e ela pediu para conversarem, queria saber se Marta tinha alguma ideia do paradeiro de Bruna. Ambas se dirigiram até um banco ali perto e sentaram.
- Tia Marta, eu não sei se a Nana falou para a senhora quem é o pai do bebé dela - Elizabeth olhou para as próprias mãos, repousadas no seu colo.
- Ela falou sim, Elizabeth. Ela me contou a história toda - Marta deu um sorriso triste, e levantou os olhos para o céu.
- Está bem, assim fica mais fácil de falar - sorriu nervosa - É que ontem o Francisco foi lá na minha casa. Ele estava muito machucado. Disse que foi o Félix quem bateu nele por ir procurar a Nana.
- Sim, o Félix me disse isso também - Marta a olhou - ele falou para você o que queria?
- Ele perguntou se eu podia dar um jeito de eles se encontrarem. Disse querer se desculpar com ela e fazer as pazes. Que ele só reagiu daquela forma porque entrou em pânico e não sabia o que fazer. Ele falou que tentou ligar para ela naquele dia, mas ela não atendia - Elizabeth fez uma pausa e suspirou - ele pareceria realmente arrependido.
- Eu não sei o que dizer, Elizabeth - Marta suspirou - eu ouvi o lado da Bruna, mas a história toda está muito confusa. Quero que isso se resolva logo e a minha filha volte, quero vê-la feliz. Mas até agora, eu não tenho notícias dela, absolutamente nada. Os policiais também não têm quase nenhuma novidade sobre as buscas, e disseram que não podem fazer muita coisa, já que ela deixou uma carta se despedindo e é quase maior de idade.
- A Nana com certeza está bem. Ela sempre soube se cuidar. E algo me diz que ela vai voltar para nós em breve - Elizabeth segurou na sua mão, tentando confortá-la.
As duas despediram-se, e cada uma seguiu caminho para casa.
Já haviam decorrido duas semanas desde que Bruna havia começado a trabalhar, e como trabalhava sozinha, recebeu logo o primeiro pagamento. Com o dinheiro em mãos, decidiu procurar uma casa própria, era muito grata a Dona Maria por acolhê-la, mas precisava do seu próprio espaço.
Falou com Carla, que logo ligou para o senhorio delas.
No dia seguinte ele apareceu e mostrou-lhes um quarto que ele usava para guardar móveis velhos e coisas do tipo. Ficaram de acordo que ele se encarregaria da limpeza e em três dias ela poderia se mudar. Aquilo parecia um chiqueiro, mas ela aceitou por dois motivos.
Primeiro, ficava perto da casa da dona Maria. Segundo, não acreditava que teria a sorte de encontrar algo melhor que coubesse no seu orçamento.
Como a renda não era muito alta, ela conseguiu pagar três meses adiantado e ainda sobrar com algum dinheiro. Tinha alguns móveis ainda aproveitáveis, que ela pediu ao senhorio que deixasse.
Depois de alguns dias ela finalmente se mudou, mas o contacto com Carla e Dona Maria não reduziu, afinal eram vizinhas.
Thomas ligou alguns dias antes para avisar que passaria para acompanhar o trabalho de Bruna, uma espécie de supervisão, e no dia que ele apareceu, ela passou mal. Mentiu que não comera nada o dia todo, por ficar com medo de falar sobre a gravidez e ser demitida.
Ele sentiu-se um pouco culpado por não encontrar outro funcionário ainda, obrigando-a a trabalhar demais, então se ofereceu para pagar um almoço para ela. Bruna não se sentiu muito bem, mas teve de continuar com a mentira, então a contra gosto e de estômago cheio, foi almoçar outra vez.
No domingo, depois da igreja, foram até a casa da Dona Marta, e Bruna passou o dia com elas. Carla conversava com uma colega que apareceu por lá, sobre a faculdade, e Bruna sentiu um vazio por saber que não poderia entrar para a faculdade, pois para começo de conversa, nem os seus documentos escolares ela tinha.
O trabalho era calmo, a livraria era pouco movimenta, apenas alguns estudantes iam para la ocasionalmente para ler ou fazer trabalhos escolares, então sobrava muito tempo livre para ela. Ficava a maioria do tempo imaginando como seria sua vida se não estivesse gravida, se perguntando como estariam os seus pais e Elizabeth.
- Moça, estou a falar com você.
Ele bateu de leve duas vezes na mesa para chamar a atenção de Bruna.
- Por favor, me desculpe, senhor. Eu estava um pouco distraída. - Sorriu e levantou-se.
- Um pouco não, muito - ele sorriu também - Vocês por acaso têm a trilogia Fronteiras do Universo aqui?
- Claro, temos, sim, de Philip Pullman, certo? - Bruna logo o guiou até ao local em que estavam os livros.
Ele concordou e a seguiu.
- Quero dar de presente para minha sobrinha. Ela faz aniversário semana que vem, vocês também embalam?
- Claro, posso fazer isso também.
Após pegar os livros, voltaram ao balcão e Bruna embalou-os. O senhor pagou e despediu-se, aparentemente só mais um cliente.
Francisco chegou em casa de madrugada e foi até ao escritório do pai, a tentativa de falar com Bruna foi um fracasso, e ainda havia sido machucado. Após falar com Elizabeth ficou a saber que ela havia saído de casa, a culpa que ele já sentia se tornou esmagadora, não sabia o que fazer. Ele pegou uma garrafa de whisky, um copo e gelo, se jogou na poltrona e começou a beber, imagens de todos os momentos que passou com Bruna percorreram a sua mente.
Ele se culpou por todas as coisas más que aconteciam com ela, e bebeu até adormecer.
Na manhã seguinte conversou com o seu pai, e disse precisar de ajuda para encontrar uma pessoa, explicou apenas metade da situação, sabia que o seu pai não aprovaria a reação que ele teve ao descobrir que Bruna estava gravida, então evitou detalhes como esse.
O seu pai ligou para um detetive particular e eles se encontraram, Francisco deu algumas fotos e informações sobre Bruna, o detetive então foi embora e disse que entraria em contacto caso encontrasse alguma coisa.
Duas semanas depois, ele recebeu por correio algumas fotos, e outras informações sobre onde se encontrava Bruna. Em algumas das fotos ela aparecia com um homem de cabelos castanhos, alto e forte, parecia ser mais velho que ela. Olhando para as várias fotos deles juntos em locais diferentes, Francisco concluiu que eles tinham um relacionamento.
Ele não conseguia entender como foi que ela encontrou outra pessoa tão rápido, principalmente pelo facto de não conseguir parar de pensar nela. Todo esse tempo ele pensou que ela estivesse passando por provações, sofrendo por estar sozinha, por eles terem se separado, mas ela não estava sozinha e sim acompanhada de outro homem. Esse pensamento o enfureceu, e ele jogou a pasta no chão, espalhando os documentos todos pelo escritório.
Ele se perguntava se era alguém que ela conheceu naquela cidade ou se já conhecia há mais tempo. Milhares de pensamentos invadiram a sua mente, incluindo o de uma possível traição. Foi então que ele se atentou ao facto de algumas das fotos terem sido tiradas em frente a um hospital.
O pensamento de que talvez o filho também nem fosse dele o atormentou, e bebeu para tentar esquecer, mas os pensamentos não foram embora, apenas se intensificaram.
No dia seguinte, o pai dele entrou no escritório e estranhou encontrar o filho lá. Após olhar com mais atenção, viu uma garrafa de whisky quase vazia, documentos e fotos espalhados pelo chão, e automaticamente, preocupação tomou conta dele. Foi até ao filho e mediu os seus sinais. Ficou aliviado por saber que só dormia, mas nem por isso mais tranquilo. Ainda não conseguia entender o porquê de ele estar em casa, muito menos de ter bebido tanto.
Ele tocou o ombro do filho tentando acordá-lo, o que demorou um pouco.
- Filho, o que você faz aqui? O que houve? - olhou para ele ainda preocupado.
- Ela trocou-me, pai. Ela já tem outro, não adianta eu ir atrapalhar a vida dela - respondeu grogue e sonolento, o olhar cabisbaixo.
- Como assim? Do que você está a falar? - Vítor não entendia o que acontecera.
- O detetive já encontrou ela pai, mas ela estava com outro homem - se sentou e apoiou os cotovelos nos joelhos, a cabeça baixa.
- Pode ser um amigo ou parente que você não conhece - apesar de não entender muito bem a situação, Vítor tentou reconfortar o filho.
- Não, pai, se fosse isso, os pais dela saberiam onde ela está. Eu sempre soube que ela é linda e vale ouro, mas pensei que eu tivesse algum significado para ela - a sua voz saiu num sussurro.
- Tudo isso pode ser um mal-entendido. Eu ainda acho que você devia ir atrás dela - Vítor colocou uma mão no seu ombro.
- Eu não quero me magoar mais , e não quero ouvir da boca dela que me odeia depois de tudo. O senhor tinha de ver como ela parecia feliz. Os olhos estavam até brilhando... - falou magoado.
- Conheci essa garota? Quero dizer, eu já vi ela antes? - Vítor quase não conseguia reconhecer o filho.
- Eu não sei - deu de ombros e mostrou uma foto de Bruna para o pai.
O pai dele olhou para a foto e ficou curioso.
- De onde você tirou essa foto, filho? - perguntou ainda a olhando, um sentimento de melancolia crescendo no seu peito
- Como assim de onde eu tirei? - Francisco o olhou confuso - Essa é a Bruna, a minha namora... quer dizer, ex-namorada, mas por que a pergunta?
- Nada não - Vítor estreitou os lábios - ela parece-se muito com alguém que conheci - Sorriu pequeno e foi embora.
Alguns dias antes,
Bruna saiu do trabalho e foi até a lanchonete da Carla. Estava sem vontade de cozinhar, na verdade, nunca estava com vontade de cozinhar, só fazia porque era necessário.
- Bruna, você não acha que está a exagerar em fast food? - Carla olhou-a com cara feia enquanto ela devorava o segundo hambúrguer.
- Não - Bruna respondeu sem dar muita importância - é que fico com muita fome, quase o triplo do que eu ficava antes, e não sou muito fã da cozinha.
- Mesmo assim, você deve manter uma alimentação mais saudável, e não ficar se enchendo com essa comida. Pode fazer mal a você e ao bebé.
O seu tom de você ficou meio-baixo quando ela citou o bebé e Bruna franziu as sobrancelhas, não entendeu a mudança repentina no tom.
- Prometo que vou passar a comer melhor a partir da próxima semana - sorriu - Você parece meio-triste. Aconteceu alguma coisa?
- Não, melhor eu voltar ao trabalho. Bom apetite - ela parecia incomodada e não queria falar sobre o assunto.
- Obrigada, quando eu terminar aqui, te ajudo. - falou mudando de assunto, não queria insistir muito.
- Não precisa, você já trabalhou o dia todo. Vai para casa descansar.
- Está bem, obrigada. A gente se vê.
Terminou de comer e levou os pratos até a parte da cozinha, aproveitando para limpar algumas mesas. Quando foi pagar a conta, Carla recusou, então Bruna esperou que ela estivesse distraída e colocou o dinheiro na caixa.
Quando saía da lanchonete, se deparou com dona Maria, e mesmo sabendo que não era certo, perguntou, a curiosidade falava mais alto.
Dona Maria explicou-lhe que Carla estava grávida e perdeu o bebé não muito tempo atrás por não tomar cuidado com a alimentação. Bruna ficou triste pela Carla e muito assustada por ela mesma e o seu bebé, não queria que acontecesse algo grave por sua culpa.
Precisava passar a ter uma alimentação melhor e ir ao hospital. Já devia estar com dois meses ou próximo disso.
Na sexta-feira completou um mês de trabalho, e aproveitou a presença de Thomas para pedir dispensa no período da tarde, ele concordou e disse que não precisava mais abrir a livraria quando voltasse.
Ainda não havia aparecido ninguém para trabalhar com ela, provavelmente por ser período de férias, mas já havia se acostumado, o trabalho não era pesado, e ela gostava, sem contar que ganhava, a mais, mais do que a metade do que seria seu salário normal.
Após fechar a livraria, chamou um táxi e foi direto ao hospital. A consulta foi boa, sentiu um frio na barriga no momento do ultrassom, e queria não estar sozinha, mas a simpatia da doutora Helen cobriu um pouco o vazio que sentia.
A doutora a aconselhou bastante e elas tiveram uma conversa longa, disse que esta tudo bem o bebé, não deu para ver o sexo ainda, mas ouvir os batimentos deixou Bruna muito feliz, e descobriu que esta quase com quatro meses, muito mais do que ela imaginava.
Andava distraída pela saída do hospital quando, de repente, esbarrou em alguém. Grande foi o seu espanto quando viu que era Thomas, seu chefe.
- Desculpa, moça, eu não vi vo... Bruna? - Ambos trocaram um olhar curioso.
- Senhor Thomas - sorriu nervosa - Não precisa se desculpar, eu que andava distraída.
- E lá vem você com o 'senhor' outra vez - Thomas sorriu - Você está doente ou coisa assim?
- Como... como assim? - Fez uma cara confusa, não entendera a pergunta.
- É que você pediu para sair mais cedo, e agora te encontro no hospital - explicou o óbvio.
- Ah, claro! - Bruna deu um tapa na própria testa e condenou a sua lentidão para entender certas coisas - não, eu não estou doente. Só consulta de rotina mesmo. E o senh... você? - sorriu.
- Ainda bem, não sei o que seria de mim se você ficasse doente agora. Vim com a minha noiva. Estamos a esperar um bebé.
Ele abriu um sorriso enorme e os seus olhos brilharam. Ele com certeza estava muito feliz.
- Que bom, muitos parabéns. Quanto tempo ela tem?
- Acabamos de descobrir. Mas ela já está com cinco meses - Sorriu um pouco.
- Uau! Vocês demoraram mesmo para descobrir. Eu também... - Parou de falar e arregalou os olhos assim que percebeu para onde levava aquela conversa.
- Você também...? - Thomas a incentivou a continuar, o olhar curioso para descobrir o final da frase
- Nada não, deixa para lá... Tenho de ir - se despediu apressada.
- Está bem, nos vemos na próxima semana - acenou para ela.
- Oi, amor, já terminei... - chamou uma mulher e o abraçou.
Ela era ruiva, alta e magra. Muito bonita, com olhos verdes, um rosto angelical e sereno.
Thomas as apresentou e elas tiveram uma conversa breve, na qual Angélica, noiva do Thomas, acabou mencionando que viu Bruna saindo do consultório e perguntou se também estava grávida, mas ao ver a expressão desconfortável no seu rosto, logo se desculpou.
- Desculpa, eu disse algo errado? - Angélica enrugou o nariz - você ficou estranha.
- Não, claro que não - Bruna sorriu nervosa - Só preciso ir mesmo.
- A gente dá uma boleia para você - falou o Thomas.
- Amor, é sobre isso que vim falar - Angélica interveio - ficarei um pouco mais com a Helen. Você pode levá-la. Depois te encontro em casa.
- Tudo bem então, só não chega tarde - fez carinho nas costas dela.
- Claro, até mais. Foi um prazer, Bruna.
- Para mim também, até mais - sorriu e acenou.
- Então, vamos? - Thomas fez um gesto com a mão, indicando o caminho.
Caminharam em direção ao estacionamento, mas de repente Bruna sentiu vertigens e perdeu o equilíbrio, antes que caísse Thomas a segurou, e sentaram-se num banco que estava por perto. Ficaram por uns minutos ali até ela estar melhor e voltaram a caminhar. Ele perguntou se o que Angélica havia dito sobre Bruna estar gravida era verdade, e ela não teve como negar.
Se desculpou por mentir e explicou porque havia feito aquilo, e para sua surpresa, a reação dele foi bem diferente do esperado, completamente o oposto, talvez por estar a esperar um filho também.
Durante esse tempo, o mesmo homem que havia ido à livraria alguns dias antes estava os seguindo e tirando fotos o tempo todo.
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