Visão No. 19
Hoje o entardecer foi belo,
De uma beleza de metal raro…
Certamente um deus
Forjara-o com sua divina alquimia,
Convertera-o de banalidade
Em oblação…
Mas por que mostrar beleza
A tantos espíritos ressentidos?
Quem ousará falar das maravilhas
Se a vingança tarda?
Se a vingança esperada demasiado
Amarga a tarde ensolarada
Dessa plúmbea realidade
Intransmutável?
Mas há beleza lá fora!
Chove! — disseram -me.
Duvidei olhando a nau solar
Indo atracar a um porto de ouro e de sangue…
Chove!
São lágrimas de uma tristeza
Que se converteu em raiva…
E ninguém há de convencer
Ao melancólico de algo tão vago como a beleza…
Eu a vejo,
Porque é tudo o que resta…
Julgando que a vingança não me cabe mais nesta vida…
E nada vale a pena!
No fim das contas,
Recebi uma guirlanda de folhas de oliveira
E minha carne fez-se deste ouro,
A cada réstia tépida que me banhou o rosto…
E tive certeza,
Neste instante,
Brevemente,
Como soem ser as certezas,
Que também a minha estória
Sem propósito
Conta uma versão
Da história de todos os homens…
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