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Epílogo parte 1

Um grito acorda-me. Todos os dias luto contra o impulso de achar que nos está a acontecer alguma coisa. O Harry está deitado ao meu lado, mas é uma questão de segundos até sair disparado pela porta. Sigo-o um pouco mais devagar porque a minha barriga parece terrivelmente enorme. A porta do quarto da Julliet está aberta e vejo-a puxar o irmão pelas pernas para fora do quarto. O seu pequeno corpinho puxa o ainda mais pequeno corpinho do irmão pelo chão e preciso de revirar os olhos.

-Julliet juro por Deus, senão largas o teu irmão...- O Harry agarra no pequeno Joshua e mete-o ao colo. Ele abre os braços para mim e o seu cabelo é tão castanho que esconde a palidez da sua cara. Tem os olhos escuros como os meus. Mesmo com uma barriga enorme não resisto a pegar-lhe ao colo. No entanto o Harry resiste.

-Nem pensar.- Ele abana a cabeça a olhar para mim.

É de pensar que pela terceira gravidez ele estivesse mais calmo mas é impossível. Julliet olha para nós, os braços cruzados e um pouco ressentida porque o irmão está ao colo. Baixo-me ela agarra o meu pescoço. O cabelo loiro é enorme e ela têm um enorme orgulho nele...exceto quando o pinta com qualquer coisa que tenha cor, ou quando o deixa ir para dentro da comida.

-Ele estava a mexer nas minhas coisas. - Ela diz com um suspiro dramático. - Eu disse-lhe para não mexer.

Joshua está ocupado a enrolar os dedinhos nos caracóis do pai.

-Bom eu diria que o teu pai também me disse muitas vezes para não mexer nas coisas dele, mas isso não leva a lado nenhuma querida. - Beijo-lhe a bochecha e o Harry ri-se.

-Sim a tua mãe era extremamente bisbilhoteira.

Levanto-me e levo Julliet comigo ao que ele arregala os olhos. Eu consigo levanta-la, mas quando me dirijo para as escadas ele faz-se ouvir.

-Não te aconselhava a fazer isso. - A sua voz torna-se profunda e preciso de sorrir.

-Também não sou boa com conselhos.

Aposto que a Julliet lhe tirou a língua de fora e que ele fez uma cara de zangado. Quando deixo a pequena Julliet no sofá a ver desenhos animados Joshua continua ao colo do pai, a cabeça no peito pintado.

-Tu és terrível a reparar que estás grávida.

Aproximo-me dele e beijo-o, sinto uma mão de criança na minha bochecha e chego-me para trás.

-A mim. - Joshua pede e encho-lhe a cara de beijos.

Durante a tarde Julliet parece não se importar de brincar na piscina com o irmão e eu estou a fazer de bóia e nadadora salvador. A minha mão acaricia a minha barriga e pergunto-me porque é que entrei em pânico por causa da Julliet, isto é incrivelmente satisfatório, ver que uma coisa tão poderosa como aquilo que sinto pelo Harry consegue gerar um ser humano. Por falar em Harry, viro a cabeça para dentro de casa mas não o vejo na sala, deve estar a trabalhar. Está sempre a trabalhar e por muito que lute contra isso, talvez nunca consiga mudar isso.

-Mamã?

Joshua sai da piscina minúscula que temos para eles e trepa pelas minhas pernas. Enrolo-lhe uma toalha à volta e ele deita-se como pode em cima das minhas pernas.

-Tudo bem querido?

-Sim.- A voz de bebé falha e quando vejo ele está a dormir. A Julliet drena-lhe a energia, ela é impulsiva, tem um temperamento igual ao do pai, é uma força da natureza e ainda só tem cinco anos.

A porta atrás de mim abre-se e o Harry aparece em calções de banho, senta-se ao meu lado e beija-me a cabeça, encosto-me ao seu braço e Julliet repara que estamos todos juntos, ela força a sua brincadeira com os patinhos de plástico para mais tarde e corre meio desajeitada.

-Não corras perto da piscina. - Harry fala alto e ela arregala os olhos antes de começar a andar devagar.

-Porque é que ela não é assim comigo? - Suspiro.

Ele esfrega a bochecha no meu cabelo e abre os braços para Julliet descanse em cima dele.

-Porque tu és boa, e eu sou...o Harry, sou o Harry.

Josh abre os olhos.

-Papá. - Ele toca na perna do pai, como que a dizer que o nome dele não é Harry, e é verdade, agora não sou só a Sophia, sou a mamã, e ele é o papá.

O sol bate-nos com força, mas a vista é linda, e não há maneira de eu conseguir sentir-me algo menos que contente.

POV Harry.

A mão pequena da Julliet aperta-me com força quando saímos na garagem e subimos no elevador. A birra dela ao pequeno almoço quase me deixou fora de mim, mas depois ela perguntou com os olhos cheios de lágrimas se podia ir comigo para o trabalho. Só hoje. E como sou muito bom a dizer-lhe que não, disse-lhe que sim.

-Estás mais calma? - Pergunto-lhe e baixo-me para ficar à altura dela. Max o segurança está encantado com ela.

Ela sorri, e acena com a cabeça, as crianças esquecem-se depressa daquilo que lhes faz mal e a minha filha não é diferente. Eu podia dizer que ela estava assustada com alguma coisa quando acordou.

-Sim, hoje vou trabalhar. - Ela diz-me e puxa o vestido de jardineiras para baixo fazendo-me rir.

-Vais fazer-me muitos desenhos está bem? - Ela diz que sim e agarra-se ao meu pescoço, uma clara ordem para eu a levantar do chão.

As portas do elevador abrem-se e carrego-a para dentro. Toda a gente está a olhar para mim em circunstancias normais considero isso bom, quer dizer que estão com medo, mas agora é só porque tenho uma menina querida de quatro anos ao colo.

-Oh meu Deus.- Chloé e o secretário levantam-se

-Olá!- Julliet diz antes de eu puder dizer algo. Ela acena com força e eles estendem a mão para lhe acariciar as bochechas. Normalmente não gosto que lhe toquem, mas a Chloé parece perdida de amores e não lhe vou dizer nada.

-Vim trabalhar com o papá.- Julliet explica.

-Estou a ver que sim, vais fazer um trabalho fantástico. - Chloé diz e depois olhar para mim.

-Hoje vamos ter que ir com mais calma com as reuniões, e podem levar o pequeno almoço daqui a dez minutos.

Quando me viro Julliet diz:

-Mas já comemos!

-Tu comeste muito pouco - Digo-lhe e fecho a porta atrás de mim.

Quando a meto no chão ela corre para a minha cadeira e manda-a contra a janela. Meu Deus vai ser um longo dia.

-Vais ficar com essa cadeira? - Pergunto a rir-me.

-Sim, as rainhas ficam nas cadeiras grandes. - Ela não consegue subir para a cadeira e cruzo os braços. Quero rir-me, mas fico calado.

-Podes subir-me papá? - Ela olha para mim e faço-lhe a vontade. Ela fica onde eu geralmente fico e só viro o computador para o meu lado da secretária, quando alguém bate à porta eu mando entrar. O pequeno almoço é posto à minha frente e quando me viro vejo Chloé meio hipnotizada a olhar para a Julliet.

-Mais alguma coisa?

-Não, eu só... marquei a sua reunião para as dez e meia.

-Muito obrigado.

Tiro um garfo e destapo a salada de frutas. Levo um cubo de morango e pêssego à boca de Julliet e ela abre sem olhar, muito concentrada a "trabalhar".

-Mr.Styles?

Ela ainda aqui está? Volto a dar outra grafada a Julliet e ela volta a abrir a boca.

-Sim Chloé?

-Quer que eu traga uma sopa ao almoço? Hoje tem um almoço aqui com os empresários italianos.

-Não me tinha lembrado...sim isso seria bom, e alguma massa.

-Claro. - Ela sorri e sai.

-A tua senhora é estranha. - Julliet diz enquanto mastiga.

-Ela não é a minha senhora.

-Posso falar com a mamã? Por favor?

A Julliet é temperamental, grita e esperneia muito raramente e hoje fez isso. Sophia ficou muito zangada antes dela sair e neste momento aposto que a pequena diabinha está arrependida.

-Podes sim.- Meto o telemóvel em alta voz.

-Olá campeão.

-Olá meu amor, há alguém que quer falar contigo.

Riu-me e a Julliet morde o dedo.

-Olá mamã, estou a comer fruta e a desenhar e estou a portar-me bem.

-Isso é muito bom meu amor, estás mais calma?

Julliet acena com a cabeça e depois apercebe-se que a mãe não a pode ver.

-Tenho saudades tuas, mamã.

-Também tenho saudades tuas macaquinha, vais portar-te bem não vais?

-Vou, vou levar-te um desenho.

-Está bem meu amor, amo-te.

-Amo-te mamã.

Agarro no telemóvel e oiço a voz de Joshua.

-Olá outra vez.- Digo e ela ri-se.

-Olá!

-Ela está a ser muito comportada.

Oiço-a suspirar.

-Não sei o que a levou a comportar-se assim, nunca tinha feito nada assim.

A Sophia é a melhor mãe do mundo, preocupa-se com tudo na medida certa, está sempre lá para os deixar cair, e depois para os apanhar, e quando olho para ela só me consigo apaixonar mais e mais, quando penso que o meu coração vai rebentar ela só me prova que ele estica e expande e que cabe aqui tanto amor quanto o que ela tenha para me dar.

-Está só a ser miúda. - Encolho os ombros.

-Estás a tentar dizer-me alguma coisa?

-Já foste bastante irracional meu amor.

-Bom se ela foi buscar isso a ambos, vamos passar um mau bocado.

Riu-me e ela acaba por me seguir, oiço-a dizer alguma coisa a Josh.

-Toda a gente está hipnotizada com ela aqui. - Levo mais uma grafada de fruta à boca da Julliet que já se esqueceu da mãe.

-Ainda bem, o Josh já não sabe o que fazer sem ela aqui.

Quando chega a hora do almoço ela senta-se ao meu colo para comer a sopa, ela come sozinha, mas insiste em ficar perto de mim.

-Posso não comer mais? - Ela pergunta enquanto leio um relatório.

-Não.

-Mas já comi muito.

Baixo as folhas e olho para ela. Os olhos verdes são implorantes e ela passa uma mecha de cabelo comprido para trás da orelha.

-Não.

Digo-lhe e vejo a tigela de sopa a meio.

-Mas papá!- Ela chuta o ar meto a minha cara de "é melhor ficares quieta".

-Eu estou a dizer-te que vais comer isso tudo, por isso não vais discutir comigo.- Levanto-me e ponho-a sozinha na cadeira, as bochechas dela ficam vermelhas de raiva e ela leva outra colherada à boca. Sento-me à frente dela e sinto-a medir forças comigo.

Ela larga a colher e cruza os braços. Olho para a tigela vazia e sorrio.

-Muito bem.

-Mas eu não queria mais!

-Queres ir fazer uma sesta?

-Não.

Reviro os olhos, claro que não quer.

-Queres desenhar?

-Não.

-Estás a fazer uma birra?

-Não.

Pisco os olhos e ela deita a cabeça na mesa, por cima dos meus papeis.

-Tudo bem querida, quando decidires avisa-me.

-Não.- Ela diz com um bocejo.

Dez minutos depois ela está a dormir e levanto-a no colo. A sua cabeça loira no meu ombro que me batem à porta.

-Entre.

Dois executivos entram atrás de Chloé.

-Mr.Styles.- Ambos estendem as mãos e eu aperto-as mesmo com a Julliet ao colo.

-Senhores, acho que vamos ter companhia na reunião de hoje.- Deito Julliet no sofá e cubro-a com uma manta.

Faltam duas horas para irmos para casa quando Julliet se levanta. Senta-se no chão a olhar para a estatua na mesa, mexe-lhe e fico a olhar para ela, com a caneta na mão a bater nos papeis. Quem diria que eu era feito de material paterno, não consigo pensar na minha vida sem filhos, nem sequer me consigo lembrar...bom mentira, lembro sim, eu e a Sophia tínhamos montes de diversão, os dois, mas em breve seremos cinco, mas uma menina. Meninas, muitas meninas aparentemente, eu e o Joshua vamos ficar em desvantagem.

-Tem cuidado com isso sim? Podes magoar-te.- Ela levanta os olhos ensonados e pisca muito depressa antes de se meter de pé, caminha até mim e ergue os braços para eu lhe pegar, o que acabo por fazer.

-Tens fome?

-Não.- Ela tira um elástico do pulso e dá-mo. Apanho-lhe o cabelo e ela encosta a cara ao meu peito.

-Quero brincar com o Josh.- Ela diz com os olhos vidrados na rua lá em baixo.

-Pensava que ele era chato.

-E é, mas quero brincar com ele.

Beijo-lhe a cabeça e faço-lhe cocegas debaixo dos braços, ela ri-se alto, tão alto que quando a porta se abre de rompante não oiço.

-Oh meu Deus é verdade!

Marcus entra e estende os braços para a frente.

-A minha miúda.

E é um pico de adrenalina que passa pelo corpo da minha filha. Ela salta do meu colo e sabe que Marcus significa brincadeira.

-Posso leva-la a passear?

Olho para os dois, meio pasmo que o Marcus parece mais eufórico que a pequena miúda.

-Não saiam daqui de dentro.

-Sim pai.- Marcus diz e sai com a minha filha pela mão. -Vamos pregar partidas.

-Não quero saber!- Grito e mando os papeis contra a mesa.

-Mr.Styles, se eles não quiserem.

-Olhe para mim Gates, pareço-lhe interessado no que eles querem? Desde que fundimos as empresas eu detenho mais de metade das ações, por isso eu decido e eu já decidi.

A porta abre-se e viro-me bruscamente. Os olhos da Julliet arregalam-se e ela dá um passo atrás para fechar a porta.

-Entra querida.- Vou até ela e deixo Gates meio embasbacado com a mudança de tom de voz. Pego-lhe ao colo e ela está a olhar para mim um pouco desconfiada. Pergunto-me se me ouviu gritar.- Queres ir para casa?

-Por favor.

-Vai buscar a tua mala ok?

Ela vai para até ao sofá onde deixou as suas coisas e viro-me para Gates.

-Segunda feira quero isto resolvido até ás oito da manhã. Está dispensado.

Ele sai e Julliet aparece com a mochila mal posta nas costas, sorrio estendo-lhe a mão.

Ao passarmos pelas secretárias perto dos elevadores ela acena a alguém.

-Quem é?

-É a Julianne, como eu! Ela deu-me um desenho.

Nunca tinha reparado na rapariga que agora sorri à minha filha. Sorriu-lhe e ela parece ficar petrificada. Bom que ótima reação.

-Disseste obrigada?

-Sim.

-E já agora o teu nome é Julliet não Julianne meu amor.

Na garagem prendo-a na cadeira e ela baloiça as pernas.

-Mas temos um nome parecido.

-Têm pois. - Beijo-lhe a bochecha.

POV Sophia

Estou na cozinha a dar macarrão a Josh quando o Harry e a Julliet entram, ela corre para me abraçar e baixo-me como posso, estou no meu ponto de rutura, este bebé vai sair a qualquer momento.

O Harry abraça-me quando a filha se afasta e pergunto-me como correu o dia.

-Bem, ela foi incrível e já não está tão agitada.

-Ótimo, pode ser que durma bem hoje.

-Espero que sim.- Ele sorri e sai para pegar no filho.

Julliet mostra-me um desenho e depois pede-me que me aproxime dela. Vai contar-me um segredo parece-me.

-O papá estava a gritar no escritório.

Arregalo os olhos e sento-me sobre os meus joelhos.

-E assustou-te?

-Não?- Ela está a perguntar-me.

-O papá não grita contigo querida.

-Mas obrigou-me a comer a sopa toda.

-Mas eu também faço isso.

-Porque é que ele gritou com o senhor?

Agarro-lhe as bochechas e ela sorri, beijo-lhe o nariz e quando me afasto vejo-me a mim, curiosa e avida por saber o porquê das coisas.

-O teu papá tem um trabalho difícil, e às vezes fica zangado.

-Ele vai zangar-se assim comigo?

-Não, não vai.

-E com o Josh?

-Não.

-E com a bebé Cammellia?- Ela apalpa a minha barriga e a bebé parece sentir porque se mexe.

-Não, nunca com a bebé Cammellia.

-E contigo?

Pisco os olhos. Comigo? O que é ela pensaria se pudesse olhar nas minhas memórias? Ver todo o sofrimento, angustia, lágrimas e discussões que foram parte daquilo que ela é hoje. O nosso passado está lá, e vai estar lá para sempre, tudo aquilo que eu e o Harry podemos fazer é esforçarmo-nos para aprender com os erros do passado, e nós aprendemos. Eles nunca vão ver o que é uma discussão, porque para eles nós somos uma equipa, e as equipas não discutem, trabalham as diferenças.

-Não.

Ela vira-se a rir e vai procurar o irmão. Tento levantar-me e um par de mãos ajuda-me. Os lábios do Harry são quentes contra os meus e fecho os olhos por dois segundos, antes de espreitar para ver se não está ninguém a olhar.

-O que é que estavam a falar?-Harry diz nos meus lábios.

-Sobre tu, gritares...

-Ela ouviu-me não foi? Ela parecia assustada, devia pedir-lhe desculpa.

-Eu expliquei-lhe. - Ele esfrega o nariz na minha bochecha e sinto que me está a agradecer.

-Amo-te.

-Amo-te

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