72ºCapitulo
Ave e eu estamos a falar sobre o facto de o final do filme ter sido demasiado terrível. Os meus pés estão no colo do Harry e ele suavemente desenha círculos nas palmas. Levo a minha caneca com chá aos lábios e reparo na segunda garrafa meio vazia no chão. Eles estão realmente a beber. Da última vez que bebi fiquei tão mal que só de olhar apetece-me franzir o nariz.
A conversa entre Paul e o Harry parece fluir em bom-tom, no entanto algo está a confundir-me, o Harry nunca fez nada parecido com isto, geralmente ele acha conversa fiado um desperdício de tempo e evita-a a todo o custo. Ele leva o copo aos lábios e de repente os seus olhos voltam-se para mim, sou literalmente apanhada a cobiça-lo, e ele sabe, vai sempre saber. Ele vira a cabeça de novo para Paul não sem antes me piscar o olho fazendo-me sorrir.
-És nojenta.- Olho para Ave que está sentada na poltrona, onde eu estava á uma hora atrás.
-Não, não sou.- Meto a língua de fora e ela olha para mim com um sorriso estranho.
Ela faz um sinal com o dedo para que me aproxime e estico-me, a mão do Harry segura o meu pé mas faço força para sair do seu aperto.
-Mesmo aqui, vocês parecem presos dentro de uma bola de vidro. Chega a ser irritante.
-Sinto uma ligeira pitada de ciúmes no ar?- Sorriu e ela bate-me ligeiramente no ombro. Nunca vou saber realmente o que vai na cabeça das pessoas. Nunca vou saber o que vai na cabeça da Ave, se ela realmente não gosta do Harry, ou se até o suporta, se realmente quer que fique, ou que a deixe com Paul.
-Vocês estão a pensar em ir viver juntos em breve?- De repente tanto eu como Ave viramos a cara. A voz do rouca do Harry é muito acentuada contra o silêncio que se fez de repente.
-Não, não realmente.- Paul gagueja.
-Porquê?- O Harry leva o copo aos lábios e beberica o líquido rosa. Com o pé toco-lhe na perna, prestes a entrar em pânico, mas ele aperta-me e quase que me dói.
-Nunca...pensamos nisso, andamos á muito pouco tempo.- De relance vejo Ave revirar os olhos, ela levanta-se e Paul segue-a com os olhares.
-Pedir a uma mulher para viver connosco é uma grande prova do quanto a amamos.- Ela sorri, e reparo pela primeira vez no sorriso amarelo. Foi isto que ele passou o tempo a fazer? A tentar arranjar espaço de manobra para leva a sua a avante. Ele fez-me acreditar que queria passar tempo comigo e com os meus amigos para depois levar tudo por terra?
-A Soph ainda vive aqui.- Paul aponta para mim e tenta rir-se mas soa estranho.
Harry olha para ele, aquele tipo de olhares que pode deixar qualquer uma definhar, Paul quase que se encolhe, mas escolher rir-se novamente, percebo que Harry está a estuda-lo. Preciso de parar isto.
-Amanhã podíamos ir a uma pequena feira na Amesterdão.- Digo e Ave que volta da cozinha acena com a cabeça.
-A Sophia vive aqui, mas não por muito tempo.
Não vejo. Não oiço. Nem sequer sinto, mas a Ave endireita-se e prepara-se para atacar, não posso ver pior maneira de acabar a noite, á cinco minutos atrás pensei que isto ia ser uma boa noite para recordar, mas o caminho parece estar a desviar-se do meu plano. Tenho a certeza de que estou em estado de choque com o que ele disse, eu nem cheguei a dar-lhe uma resposta e ele já está a fazer de tudo para que Ave...
-Harry eu não disse...
-Ela vai viver aqui por quando tempo ela quiser.- Ave murmura, ela está a controlar-se para não ser mal-educada, e não a culpo, quando o Harry age como pudesse controlar tudo e todos eu própria tenho vontade de lhe bater.
-Sim, estou só a dizer que não vai ser muito tempo.
Paul apressa-se a interromper o discurso da sua namorada.
-Viver juntos é um grande passo na relação.- Olho para o Harry sento-me ao lado dele, a minha cara apoiada na minha mão. Porque é que ele não se cala?
-Harry chega!-Peço-lhe mas ele está lançado, ele quer uma resposta e está a pressionar desta maneira.
-Não estás preparado para dar um grande passo com a Ave?- Ele ri-se, e Ave levanta-se. Ela está vermelha, os olhos lacrimejantes.
-Fora!- Ela aponta com o dedo para a porta e levanto-me.
-Ave...
-Não, chega! Ele vem para minha casa, age como se pudesse chegar aqui e interrogar o meu namorado com perguntas que não são assunto dele, ele pode ser o meu patrão, mas na minha casa eu exijo respeito e se ele não sair eu vou chamar a polícia.
O Harry levanta-se ri-se, quero bater-lhe com força. Fecho os olhos e pergunto-me porque o deixei beber, ele nem bebeu assim tanto, ou bebeu? Paul levanta-se também e segura a sua namorada de perto, o Harry passa pelo meio dos sofás e vira-se.
-Ela não vai ficar aqui muito tempo, devias começar a pensar em arranjar alguém que aturasse esse feitio em breve, ou daqui a três anos podes estar sozinha.- Ele ri-se e quando abro a boca para o mandar calar Ave corta-o.
-Pelo menos tive-a durante três anos que nunca vais recuperar.- Ela cospe e o rosto do Harry transforma-se em alguma cosia estranha, ele parece sóbrio, zangado, triste...ele parecesse com algo que eu conhecia muito bem.
Ele bate a porta e vai-se embora. Olho para a Ave e sinto-me culpada por algo que está a fugir do meu controlo, sinto que preciso de seguir, que tenho que dar um passo, mas estou presa entre duas coisas que amo, preciso de avançar mas estou paralisada pelo medo.
-Ele está... a tentar....Desculpa.- Digo-lhe, os olhos azuis estão cheios de pena, e medo.
-Ele deve estar á tua espera.- Ela murmura, sinto que tenho um nó na garganta, e de alguma maneira acho que ela me está a mandar ir, me está a mandar seguir para baixo, até onde o Harry deve estar.
Fecho os olhos e quando os abro caminho com passos decididos para o quarto, visto umas calças e uma camisola e enquanto calço os ténis o meu telemóvel vibra com o número do Harry. Quando volto á sala as luzes estão apagadas, não sei se ela está no quarto ou se também se foi embora.
Fecho a porta com calma e sinto um vazio no coração e uma ira tomar conta de mim. Como é que ele se atreva a pressionar-me desta maneira? Como é que ele pode sequer pensar que magoar a Ave e pressionar o seu namorado a leva-la para longe seria uma boa ideia. Como é que ele pode destruir o meu pequeno momento de paz desta maneira, apenas para me levar? Quando abro a porta do átrio o Harry está encostado ao carro, os olhos fixos nas botas. Ele cuidadosamente levanta a cabeça e olha para mim, não sei como pareço mas ele parece estar visivelmente arrependido da cena que fez lá em cima.
-Não sei que merda é que te passou pela cabeça, mas aquilo lá em cima foi o pior espetáculo á que alguma vez assisti! Por acaso pensaste em como ela se estava a sentir depois de todas as coisas que disseste? Tu pensaste sequer se tivesse sido ao contrário? Tu pensas sequer na maneira como as pessoas são diferentes de ti? Na maneira em como nem todos podem levar as suas namoradas para escolher uma casa porque não tem um colchão de dinheiro? Fazes ideia de como eles se podem ter sentido rebaixados?
Ele olha para mim, os olhos esgazeados, ele pisca e depois o seu maxilar assume uma forma mais dura.
-É um problema deles, não meu.
Há um zumbido no meu ouvido e tenho a certeza de que isto á minha frente não é o homem apaixonado que me segura enquanto durmo, não pode ser.
-Tu não quiseste mesmo dizer isso.- Abano a cabeça e tento entrar para o carro, mas ele agarro o meu pulso.
-Foi exatamente isso que quis dizer.- Ele cospe.
Forço a minha mão para longe da dele e enterro a mão no bolso dos jeans dele, a chave do carro fica-se na minha mão e caminho para o lado do condutor.
-O que é que estás a fazer?- Ele pergunta quando abro a porta.
-A ignorar-te.- Encolho os ombros.- Bebeste, se queres que vá contigo, vais deixar-me conduzir.- Explico-lhe.
-Estás a chantagear-me?- Ele aproxima-se de mim.- Não estou bêbado.- Ele murmura, os lábios rachados do frio da noite, e a fumaça que escapa por eles.
-Eu sei Harry, mas enquanto conduzo posso concentrar-me em algo que não sejas tu, e na maneira como estás determinado em afastar as pessoas de mim.- Entro dentro do carro, e coloco a chave na ignição. Ele abre a porta e senta-se ao meu lado. Uma parte de mim quer gritar com ele, e outra quer ficar parada, observar enquanto me mexo em torno da orbita dele.
O trânsito está fluído a esta hora e conduzir relaxa o meu corpo tenso, sou assolada por vontade estrondosa de gritar, não com o Harry, apenas gritar para libertar a tenção.
-Porque é que estavas agir daquela maneira?- Murmuro. Sei que ele está a olhar para mim desde que sai do quarteirão onde vivo, mas não consegui arranjar coragem para falar.
-É assim que sou, sempre fui.- Ele diz-me, e riu-me.
-Não. É assim que achas que tens de ser para os outros te respeitarem e te sentires por cima, mas o mundo não funciona assim e pensei que já tinhas deixado isso de lado.
-Se eu estivesse a mentir?
-Para.- Suspiro.
-Não a sério, e se estivesse a faze-lo por ti, e se este tempo todo estivesse a fingir para me tornar quem tu querias que eu fosse?- A voz dele tem falhas e sinto como se houvessem facas a atravessar o meu corpo. Vejo uma rua de prédio sem saída e entro com o carro para aí. Desligo o motor e viro-me para ele.
-É isso? -Murmuro.
E ele fica calado. É agora!
-Estás sempre a dizer que não me queres magoar, olha para ti agora.- Sopro.
-Ela tem razão! Vai sempre haver bocados de ti que estão perdidos Soph, bocados de mim que estão perdidos no tempo e que nunca vamos recuperar!
-Eu posso sentir o teu coração a bater Harry, a tua mente está a correr, e tudo isto é uma perda de tempo, porque eu não quero saber do que perdi de ti, quero saber do que posso encontrar quando estou contigo...- Um soluço escapa dos meus lábios.- Por isso para de tentar cortar-me de ti.
Fecho os olhos e suspiro. O polegar dele toca no meu lábio e sobressalto-me, ele massaja devagar como que com medo de que eu me parta. Sinto-o aproximar-se a respiração dele bate na minha bochecha.
-Respira.- Ele sussurra.
-Não é negociável.- Respiro.- Isto não é negociável e tu sabes disso.
-Eu sei.- Ele sussurra.
-Então para Harry! Para de fazer isto! Esta parte da minha vida vai sempre fazer parte das escolhas que fiz, podemos passar o resto da vida a analisar onde erramos, ou podes viver. Viver de verdade.- Abro os olhos e deixo-me perder na intensidade que o meu coração se move.- A Ave é uma parte da minha vida, e tu não tens que faltar-lhe ao respeito, não importa quem tu sejas, nem o que fazes!
Ele afasta-se de mim e encosta-se á porta, a cabeça a pender na janela. Passa as mãos pela cara e suspira.
Harry POV
A minha mente corre em direções diferentes, eu estava a dizer a verdade, ás vezes aquele é quem eu sou porque foi uma parte de mim que cresceu comigo, é uma parte de mim que só com controlo é que posso deixar de lado, e quando estava naquele apartamento, cheio de memorias de coisas que perdi, cheio de gargalhadas e lagrimas que nunca fui capaz de captar. Eu só queria tira-la dali, esquecer-me de quem eu era, esquecer quem ela era, começar de novo. Aquele desejo intenso de voltar a sentir tudo de novo como na primeira vez. E aquela rapariga que não era nada passou a ser o seu tudo, a Soph era metade mim e depois foi-se, e agora que a tenho, sou obrigado a partilha-la com uma vida que nunca foi nossa. A raiva volta a fluir através de mim, porque este sou eu, e eu sei que ela sabe, e tudo o que posso esperar é que ela não fuja do que ás vezes sou, me aceite com tudo aquilo que lhe dou. Eu preciso dela, tanto como preciso de ar.
-Eu vou pedir-lhe desculpa.- Sussurro.
-Estás a dizer-me isso porque é o que quero ouvir?- A sua voz sai assustada.
Abro os olhos e ela está encolhida, estou a mostrar-lhe o que sou mas ela não me pode ouvir. Ela só me pode sentir.
-Sim.- Encolho os ombros.
-Então não lhe peças desculpas.- Ela respira fundo e liga o carro. Entro em pânico e nem entendo porque, a minha mão desliga o carro e tiro a chave.
-Estou zangado, sabes como fico quando estou zangado.- Sopro, odeio admitir que faço merda e que estou errado e que fico um filho da mãe quando me zango, porque ela não faz nada para o merecer.
-Sei Harry, sei.- Ela sussurra.
O cabelo castanho cai-lhe pelos ombros e ela suspira, os lábios cheios são humedecidos e passa a palma das mãos nas bochechas como que para arrefecer, ela é tão bonita...porque é que ela não está a gritar comigo por ter sido terrivel? Porque é que ela não me está a atirar nada a cara?
-Não estás zangada?
Ela ri-se, e depois limpa uma lágrima que não consigo ver.
-Estou, mas não posso fazer nada, é o que tu és, não adianta ameaçar-te, zangar-me, gritar, ir me embora, volto sempre ao mesmo sitio, e sinceramente não vou lutar mais contra ti, quero o que tu queres.- Ela apanha o cabelo e torce o elástico no cabelo escuro. Não sei com o que estou a pensar quando me atiro para cima dela, os nossos lábios colidem, os dentes chocam-se as línguas tocam-se e ela arqueja assustada e surpreendida.
-Harry...
-Sabes o que significa misericórdia?- Pergunto-lhe enquanto as nossas bocas estão uma nas outras.
-Sim.- Ela responde sem entender.
-Demonstra alguma.
A maneira como ele sabia naquela noite era algo de extraordinário, havia algo novo na maneira como ele me segurava, como se o amanhã fosse incerto como se o mundo fosse mudar, como se estivéssemos ao virar da esquina de algo grande que nos ia engolir ou glorificar. Naquele beijo eu não era a Sophia e ele não era o Harry, eram as nossas almas a dar um nó.
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A.M
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