65ºCapitulo Parte II
Riu-me, porque não posso fazer mais nada. A maneira como as palavras saem dos lábios dele, parecem tão imprevisíveis e estranhar que revelam um encanto amoroso nele. Beijo-o rapidamente e caminhamos até ao carro. Abro a minha própria porta e fico espantada com o facto de ele não o fazer. Sorriu quando me sento ao lado dele e quando ele tenta dar á chave meto a mão por cima da dele.
-E se fosse eu a conduzir hoje?- Acho que nunca conduzi em Nova York, é complicado mas pode ser uma excelente oportunidade, tendo em conta que o carro não é meu.
-Acho que não.- Ele tenta ligar o carro mas impeço-o.
-Por favor.- Faço beicinho e aproximo-me dele.
-Soph...a sério não me parece uma boa ideia.
-Oh por favor isso é tão machista, os homens acham que conduzem melhor, mas estudos apontam que as mulheres são melhores.
Ele sorri para mim e o desafio está lançado, os olhos verdes brilhantes derretem nos meus e num ápice eu estou confortavelmente sentada e a ajustar o banco e o retrovisor.
-Muito bem Sophia, é todo teu.
-Vou tomar nota disso e leva-lo para a casa.- Riu-me e dou á chave. O carro é leve e quando piso no acelerador é como deslizar em água, é encantador e dá-me vontade de carregar mais a fundo. As luzes da rua começam a ligar-se enquanto deslizo pela rua até cruzar para o trânsito, demoro quando dois minutos para conseguir entrar, mas assim que estou lá dentro, Harry ri-se.
Meia hora mais tarde estamos á porta do cinema, há mais dois casais á nossa frente e seguro a mão do Harry com mais força, a minha cabeça descansa no seu ombro e ele beija o meu cabelo delicadamente.
Peço os bilhetes e tiro a minha carteira da mala, o Harry tenta travar-me mas dou-lhe um sorriso travesso. Não me parece que o vá deixar pagar desta vez. Ele revira os olhos mas de alguma maneira sei que o gesto aquece o seu coração. Quantas pessoas lhe pagaram o cinema no fim de contas, pequenos prazeres da vida que talvez nunca ninguém lhe tenha dado.
-Então...- Empurro-o ligeiramente.
-Sim?- Ele mexo no cabelo e depois olha para mim.
-Já te pagaram o cinema antes?- Arqueio as sobrancelhas.
Ele ri-se e depois beija-me a bochecha.
-Não, obrigado.- Ele sopra.
-Não tens de quê, gostava de poder pagar as coisas mais vezes.- Encolho os ombros.
-É reconfortante.- Ele murmura.
-O quê?
-Ter alguém que se lembre que tenho vinte e cinco anos e não quarenta.
-Ás vezes precisas de agir mais como os homens da tua idade.
-Acho que só consigo fazer isso contigo...com a Gemma também, mas o teu espirito infantil leva-me a melhor.- Ele ri-se.
-Eu não sou infantil.
-Sim tu és. És um mundo de coisas, és engraçada, infantil, teimosa, e detestável às vezes.- Ele sussurra.
-Agora magoaste-me.- Levo a mão ao peito e faço um ar indignidade.
-Mas, mesmo com todos esses defeitos e qualidade eu continuo a amar-te.
Paro de andar e olho para ele. Os meus olhos perdem-se nos dele. Ele disse-o, ele realmente disse as palavras mágicas. Porque é que ele não pode ser sempre ele, para eu poder ser sempre eu? Porque é que não podemos sempre conversar desta maneira leve? Porque é que a vida não é uma brincadeira?
-Eu amo-te também.- Sussurro, e empurro a porta da sala de cinema.
Meia hora mais tarde olho para o Harry com um ar zangado.
-Pensava que me amavas.- Ele sussurra de olhos postos no filme.
-E amo, mas este filme é terrível.- Os carros que se transformam em gigantes feitos de ferro ou qualquer coisa do género fazem-me querer partir o projetor. Deve ser o filme mais terrível da história.
-Não, só precisas de entrar no espirito.
-Quando eu disse para agires como um rapaz da tua idade, eu dizia mesmo vinte e cinco, não doze.
-Um rapaz de doze anos diverte-se muito.- Ele sussurra de olhos postos no filme.
Encosto-me á minha cadeira e reviro os olhos. De repente uma ideia fantástica ilumina-me a cabeça e aproximo os lábios do ouvido dele. A sala não está muito cheia e estamos mesmo cá ao fundo, vai ser difícil alguém ouvir-me.
-Bom um rapaz de doze anos perde muita coisa.- Eu murmuro e a minha mão sobe pela sua perna.
-Estás mesmo a seduzir-me?
-Parece que estou.- Mordo o lobulo da sua orelha e a minha mão chega ao topo das suas calças.
-Dois podem jogar esse jogo.
-Parece que estou numa de solitário agora Mr.Styles, e se prefere um filme de bonecos á sua namorada eu diria que temos um problema.
Raspo o meu nariz no seu pescoço e sinto-o contrair-se, os meus dentes mordiscam a pele sensível e a minha língua atenua a picada de amor.
-Bom Miss.Black eu não seira responsável se fossemos presos por atentado ao pudor na casa de banho do cinema...estou a perder o filme.- Ele suspira e finalmente vira-se para mim. Os seus olhos estão vidrados em mim e as luzes inconstantes do filme dão-lhe um ar misterioso, é quase mágico, mas finalmente ele dá-me atenção.
-Nunca fui presa...- Encolho os ombros.
Ele franze os olhos e vira a sua atenção para o ecrã gigante. Ele já foi preso? A ideia aflige-me e faz-me contorcer em curiosidade, mas de todas as vezes que tive uma pequena curiosidade pareceu sempre tornar-se numa avalanche de problemas, então será que quero perguntar? A ideia é assustadora.
-Fui preso por conduzir sobre o efeito de álcool...- Dá-me a sensação de que ele realmente não acabou a frase, mas decido não querer saber.
-Que idade tinhas?- Sussurro.
-Dezassete.
-Não tinhas idade para conduzir.- Murmuro.
Ele encolhe os ombros com acidez e volta a olhar para a tela, embora eu saiba que não está a prestar atenção.
-O meu pai pagou uma fiança, sai duas horas depois.- Oh, claro. Ás vezes o pai dele parece uma personagem distante, alguem que parece na minha memoria de vez em quando. Quero perguntar-lhe, mas ele nunca gostou de falar dele, no entanto...
-Tens falado com ele?
De repente ele levanta-se e estende-me a mão. Olho para cima assustada. Passei alguma linha imaginária? Está zangado? Porque é que não podíamos ter ido ver um romance? Eu ia manter a minha boca calada. Agarro a mão dele e ele arrasta-me atrás dele para a saída da sala. Assim que somos banhados pela luz do corredor ele veste o casaco e passa-me o meu.
-Veste!- Ele suavemente manda, mas consigo ver que arruinei o humor.
-Não queria que ficasses chateado...podemos ir acabar de ver o filme se te apetecer.- Tento reparar os danos.
-Já não estou no modo.- Ele olha em frente com a sua mão na minha e saímos do cinema.
-Desculpa, estava só curiosa, desde que voltaste não disseste nada sobre ele.
Ele respira pesadamente e para de andar vira-se para mim. Os olhos magoados e perdidos, de repente sinto algo no meu peito, uma dor grande, quase tão forte que me faz queimar a garganta, sinto as lágrimas dele dentro de mim, mesmo que ele não as derrame.
-Não sei.- Ele responde pesadamente.
-Não sabes?
-Não tenho noticias dele Sophia. Não é uma novidade.- Ele encolhe os ombros.
-Porque é que ás vezes tenho a sensação de que toda essa indiferença é uma fachada?
-Porque é.- Ele suspira.
-Fala comigo sobre isso então.- Insto.
Ele engole em seco e depois agarra a minha mão. Deixamos o pequeno átrio e saímos para a rua gelada. Devem ser nove da noite e as pessoas amontoam-se.
-Soph é mais da mesma merda.
-Não, não é Harry, olha só para ti...lá dentro tu sabes que não é, antes eu falava nele e tinha ataques de fúria, e agora és passivo quanto a isso. Alguma coisa mudou, o teu pensamento mudou.
Ele respira fundo e olha para mim antes de continuar andar. Passam-se minutos até que estamos de novo em frente ao carro, desta vez ele abre-me a porta e deixa-me entrar primeiro. Senta-se ao meu lado, os dedos compridos afastam o cabelo e vira-se para mim.
-Quando te foste embora...senti-me tão gelado por dentro que me era quase tudo indiferente, sentia-me mal e de alguma maneira queria fazer-me ainda mais mal, queria zangar-me mais comigo mesmo, sentia que tinha falhado contigo, sentia que tu tinhas falhado... de repente eu era o meu pai, e tu eras a minha mãe. Na minha cabeça o teu amor por mim tinha acabado e tu tinhas morrido, e eu era o meu pai, eu estava sozinho no mundo e nada me podia fazer vivo. Toda a minha adolescência culpei o meu pai pela morte da minha mãe, queria provar que tinha sido ele, mas agora que olho para tudo ele estava só a perseguir aquilo que amava. Acabou lamentavelmente, tornei-me um rapaz e um homem miserável. Vi a historia da maneira que me fazia sentir menos mal. Nunca culpei a minha mãe por trair o meu pai, nunca a culpei por nada...talvez se fosse eu, talvez se tivesse sido eu, tivesse feito a mesma coisa.- Ele sussurra e á uma parede de água por derramar nos seus olhos.
Meu Deus! Não, ele não é nada como o pai dele. Agarro a mão dele e faço-o olhar-me nos olhos.
-Se tivéssemos sido nós, eu gostava de acreditar que ias tomar conta do nosso filho.- Sussurro.- Às vezes Harry, nós achamos que somos cópias dos nossos pais, mas não somos, vamos agir de maneira diferente, eu quero acreditar que amarias o nosso filho ainda mais do que me amas a mim.- Sussurro.
-Estava partido Sophia, o meu coração não estava lá.
-O teu pai foi um pai negligente, o dever dele, com ou sem dor era cuidar de ti, amar-te e dar-te todo o carinho do mundo, em vez disso tentou roubar o que a tua mãe deixou, tentava magoar-te... Não te sintas como ele.
-Talvez a lembrança da minha mãe em mim fosse tão evidente que...
-Chega Harry! Meu Deus eras uma criança, merecias amor, não raiva e desrespeito.- Agarro-lhe a cara e trago-o para mim, os meus lábios estão nos dele suavemente, e de repente há uma pressa urgente em sentir os lábios dele, apenas para lhe provar que o amor não escolhe nada nem ninguém. Amor é um sentimento que se devia sentir, não importa quem, ou porquê.
-Estás sempre a dizer para o perdoar.- Ele sussurra.
-Sim, para o perdoares, não para te meteres no papel dele, não para te fazeres mal a ti próprio. Todos erramos, e sou consciente disso mas com uma criança, erros são fatais. Se o teu pai te tivesse amado como tu merecias talvez muita coisa nunca tivesse acontecido.
-Talvez nunca me tivesse cruzado contigo.
-Talvez nunca tivesses sido um grande idiota quando nos conhecemos, talvez nunca me tivesses detestado a ponto de me queres beijar... talvez eu nunca me tivesse apaixonado. Tudo acontece por uma razão Harry, ás vezes coisas terríveis acontecem, para coisas boas entrarem em cena. Se a vida fosse só coisas boas, onde estaria a nossa gratidão? Se as pessoas não se chateassem onde estava a chama da vida? Onde estaríamos nós se acatássemos com tudo o que o outro diz? Provavelmente desesperados de monotonia. O mundo é o que é, pelos pequenos prazeres da vida. Pelas manhãs em que acordamos ao lado das pessoas que amamos, pelas lágrimas que derramamos quando essa pessoa vai, pelo sorriso que fazemos quando volta. Sem a tristeza não há a alegria, e sem alegria não há tristeza. São duas faces da mesma moeda. Sem o ódio, como poderíamos saber que amamos uma pessoa?
Os olhos do Harry estão fechados e ele acaricia a minha face ritmicamente.
Love u
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