60ºCapitulo
Quando desço para o pequeno-almoço pareço ligeiramente atrasada, o meu pai está a trabalhar na mesa de centro, Teddy e Mer a ver televisão, a minha avó deve estar na estufa e a minha cantarola qualquer coisa dentro da cozinha.
Esfrego os olhos e murmuro um bom dia. Todos me respondem em coro e riu-me. Olho para o relógio da sala e são quase meio dia. Dormi muito, mais do que geralmente faço, e enquanto ando até á cozinha Teddy segue-me para ir buscar um copo de água.
-Gostaste de sair ontem á noite Sophia?- A minha mãe sorri enquanto mexe alguma coisa numa panela. Suspiro e deito a cabeça no mármore frio da ilha.
-Ele teve um sumo de maçã e depois sentiu-se mal, e o resto... ela esteve bem?
Bem? BEM? Estive bem foi isso? Da última vez que me lembro de acordar a meio da noite, estava suada, quente e com a imagem de um par luminoso de olhos a fitar-me, verdes como uma floresta negra.
Estive muita coisa a noite passada. Bem não foi uma delas...
-O Harry encontrou-te? Ele telefonou á um dia ou qualquer coisa a perguntar se podia aparecer, como andavas tão cabisbaixa decidi fazer-te uma surpresa, é só estranho ele não te ter encontrado ontem, nem ter voltado para aqui.
A minha barriga contrai-se e o Teddy cospe parte da água contra o frigorífico, pega num pano e começa a limpar, mas os meus olhos estão vidrados nos da minha mãe.
-Sou tão burro!- Teddy bate com a cabeça no frigorifico, não fosse eu estar a tentar entender o que se passa, teria rido.
-O que é que se passa?- A minha mãe pergunta e levanto-me.- Sophia!
Suspiro com força e viro-me para ela. O som de uma música qualquer que ouvi num filme toca na minha cabeça, é uma maneira de evitar a raiva, lembrar-me de uma melodia suave e triste.
-Podemos falar sobre isto quando eu tiver algumas roupas no meu corpo?- Arqueio uma sobrancelha.
-Claro...pensei que ia ajudar, não sabia que ainda estavam zangados sobre.- Ela olha para o meu irmão como se ele não fosse suposto ouvir.
-Vou vestir-me.
No quarto visto uns jeans, calço umas botas e visto uma camisola quente, quando estou a sair do quarto a porta do quarto do meu avô está aberta e olho lá para dentro, ele está a sorrir para mim. Fecho os olhos, se for lá ele vai fazer-me as mesmas perguntas e vou magoar-me, tenho que responder constantemente que sou a Sophia, e depois de lhe dizer isso tantas vezes comecei a perguntar-me quem realmente é a Sophia...
-Olá.- Murmuro e entro no quarto.
-Olá, és Americana.- Yap, pois sou...
-Sou a Sophia, a sua neta.- Murmuro e sento-me na poltrona.
-Oh. És muito bonita.
-O senhor diz-me isso desde que tenho uns três anos.- Riu-me.
-Então deve ser mesmo verdade hum?- Sou assim tão bonita? Ou sou só bonita quando me sinto bonita por dentro?
-Talvez...- Encolho os ombros, antes o quarto tinha um cheiro agradável, agora cheira a hospital.
-Pareces triste Sophia.
-Estou triste.- Olho para ele, os olhos dele são exatamente iguais aos meus, é quase um espelho.
-Porque?
-Porque não consigo fazer ninguém ficar calado.- Encolho os ombros.
-Queres fazer as pessoas caladas? Costumava querer isso a toda a hora quando era mais novo.- Ele dá-me uma risada rouca e olho para ele por entre os fios de cabelo que me caem pela cara.
-Quero não ter que me lembrar das coisas, mas parece que as pessoas insistem em lembrar-me.
-É isso que as pessoas fazem.- Levanto a cabeça e sorriu-lhe.
-Conheci um rapaz quando fui para Oxford, ele era sombrio, ao inicio tinha medo de falar com ele, partilhávamos uma casa dentro da Universidade...- Quero que o meu avô saiba, quero contar-lhe isto antes que dê por mim quando for tarde demais a contar-lhe apenas no meu pensamento.- Não foi fácil convence-lo de que podíamos ter uma relação, na realidade até foi difícil convencer-me a mim, ele assustava-me, ainda o faz ás vezes, mas acho que agora também o assusto... depois de algum tempo contei-lhe uma coisa feia e ele foi-se embora, fiquei destroçada. Não durou muito, passado algum tempo ele voltou, a vida trouxe-o para mim carregada de sombra e pesadelos, pensei que ia conseguir mas no fim.- Riu-me e abano a cabeça.- Voltei para o pai e para a mãe, deixei-o e tentei esquecer-me daquilo que me tinha dado vida, tentei esquecer-me do que era amar alguém, tentei esquece-lo...
-Aposto que ele foi atrás de ti, seria estupido senão fosse.
-Ele foi, apenas não com as intenções certas.- Encolho os ombros.
-Ama-lo?- De repente sinto como se o meu avô estivesse de pé, á minha frente, sou sugada para um mundo onde ele é o meu reflexo, os nossos olhos são os mesmos.
-Sim.- Não quero dizer isto.- Mais do que alguma vez pensei que seria possível amar alguém.- Cala-te Sophia!
Abano a cabeça e sinto-me mais normal, os membros do meu corpo relaxam e o meu avô sorri.
-É óbvio que amas esse jovem homem.
-Uma vez disse-lhe uma coisa...escrevi-lhe uma coisa. "...Talvez esse veneno a que chamamos amor, seja o que nos mata e nos mantem vivos..." talvez o amor e o ódio sejam curas para a mesma doença, entendes?- Estou a referir-me ao amor, ou amas, ou o odeias. Simples.
Ele olha para mim com uns olhos vidrados, está parado a olhar para mim, como se fosse uma espécie rara de alguma coisa.
-Tu não és só uma jovem bonita, tu és brilhante, olha só para o quanto podes controlar a tua mente, a tua perceção da sociedade é incrível.- Ele sussurra. É uma pena que daqui a algum tempo ele não se vá lembrar do que eu disse.
-Não sou brilhante.- Na verdade, acho que nunca estive tão obscurecida.
A minha mãe bate á porta e levanto-me.
-Vamos almoçar, a Sophia já volta pai.
-Tudo bem, é uma jovem muito inteligente.
A minha mãe sorri e descemos as escadas.
-O que disseste ao avô?
-Que queria descansar nestes dias que aqui estou, que sentia falta dele.
Entramos na sala e sento-me ao lado de Teddy, começamos a comer, o som baixo dos talheres, os copos, tudo está no seu devido lugar penso eu. Sinto-me leve depois de ter deitado cá para fora alguma da porcaria que habita na minha mente. Nunca num milhão de anos eu imaginaria que viria a viver um trágico romance, sentia-me estranha quando lia romances trágicos, achava estupido, e que só os idiotas não ficavam juntos se se amavam...bom agora o destino jogou com força contra mim.
-Então o teu namorado portou-se mal?- A voz da minha avó faz-se ouvir e tento controlar-me. Merda! Parem de trazer isso para cima.
-Fiz-te uma pergunta Sophia, estou á espera de uma resposta.- Levanto os olhos e sinto-os arder.- Eu avisei-te não avisei? Porque é ...
-Já chega! Avisaste-me? Obrigada, foi muito simpático, evitou uma desgraça, felizmente foi só uma separação, felizmente não foi uma gravidez, ou um acidente, ou algum de nós morreu, acabamos, simples assim!
-Acabaram?- A minha mãe olha para mim.
-Claro que acabaram, tinha um olhar tão vazio quando me foi abrir a porta, que mesmo que tentasse não o podia esconder, está a mentir desde que entrou por aquela porta, a comportar-se como uma idiota só porque...
-Não fale assim com ela!- O meu pai rosna, sinto lágrimas picarem os meus olhos.
Levanto-me da mesa, e oiço o meu nome ser chamado, e chamado...parem de chamar pela Sophia...Parem!
Agarro nas chaves do SUV e bato com a porta, ponho o carro a trabalhar e saio pelos portões, o estofo do assento aquece e o ar também, a primeira lágrima é só a chave para uma cascata. Está tudo mal, está tudo a meio, não entendo...nunca me senti assim, como se a minha cabeça não se conectasse com mais nenhuma parte do meu corpo, como que se os meus sentimentos estivessem á flor da pele. Estou perto da cidade, só mais uns minutos e estarei afastada o suficiente de tudo aquilo, seria tão fácil desaparecer, esquecer que existo, esquecer que vivo constantemente atormentada pelos palpites dos outros sobre mim e o Harry.
Como é que cheguei a este ponto?
Vinte minutos depois ele senta-se ao meu lado. Estou sentada numa pedra, o frio faz-me ficar com os membros gelados, tenho as lágrimas na minha cara a secar quase em gelo, e não sinto o nariz, olho para o mar, é calmo hoje, o céu ficou um pouco mais escuro e isso faz tudo mais acinzentado.
-Porque é que me ligaste?- Não olho para ele. Não quero.- Vais ficar calada?
-A noite passada disseste que estavas á procura de alguem.- Murmuro a olhar para o horizonte. Ele respira com força.
-Pois disse.- Sinto os olhos verdes, penetrantes na minha cara, no meu coração, na minha alma.
-Acho que a encontrei.- Murmuro.
-A sério?- Ele parece surpreendido, na verdade ele parece confuso por o ter chamado.
-Está encostada á parede, naquele beco, a tentar perceber quando é que o bem-estar dela começou a depender do namorado.- Sinto mais lágrimas quererem descer mas impeço-as.
-Não fomos só namorados, sabes que não, era, e sempre vai ser mais forte do que namorados, é apenas uma palavras que nos caracteriza perante a sociedade.
-Era tão forte que foi tão fácil manda-la embora não foi?
-Estava a amar-te Sophia.- Ele agarra no meu queixo e o meu coração explode. Riu-me porque é a única coisa que me ocorre.
-Estás sempre a amar-me, mesmo quando me estás a magoar.
De repente o rosto dele ensombra-se como se, se lembra-se de algo particularmente doloroso. O maxilar contrai-se e ele tenta puxar a minha cara para perto da dele, o ar quente da sua respiração bate-me na bochecha.
-Porque é que estás aqui Harry? Porque é que estás a voltar atrás?- Preciso de saber porque está aqui, porque é que não desistiu.
-Porque preciso de ti Sophia.
-Exceto quando não precisas. É disso que estou a falar, tocas-me como se me amasses, o teu corpo ama-me, mas a tua boca está sempre a esfaquear-me, a dar-me empurrões a dizer-me que não sou a tal.- Ele engole em seco e calo-me, se me quer dizer alguma coisa, pode faze-lo agora...
Ele inspira e depois solta o ar.
-É um sitio bonito aqui, tem a ver contigo, a maneira como o frio de torna bonita.
Não digo nada, não quero ouvir sobre a minha aparência, quero ouvir sobre o que está a doer-me no meu íntimo.
- É como uma queimadura não é?- Ele murmure e imediatamente o meu peito sobressalta-se com a sensação.- Sei que é, quando me deixaste parecia que a dor nunca ia embora, nem mesmo quando adormecia, doía tanto que às vezes fazia listas do que fazer para poder esquecer-te...não resultou, nunca nada resulta contigo, estás marcada a ferros.- Ri-se sem humor.
-Nada daquilo que eu disse naquele beco foi verdade, bem maior parte foi uma grande mentira.- Fecho os olhos. Não resultamos, estamos sempre a cair nos mesmos erros.
-Porque é que o fizeste então?
-Justamente, estou farto que te tirem de mim, estou farto que me tires de ti, estou farto!- Ele passa as mãos pelo cabelo.- Antes perguntava-me o que é que me podias mostrar que eu ainda não soubesse, e depois mostraste-me que fazemos sentido da nossa própria maneira e que nada, jamais do que eu sabia ia aplicar-se a ti.
-Amas-me, mas magoas-me?
-Só magoamos as pessoas que amamos.
-Para mim isso não serve.- Levanto-me e ele faz o mesmo.
-Estou a tentar...
-Estás a tentar salvar uma coisa sem salvação. Resultamos durante períodos de tempo muito pequenos Harry, de cada vez que penso "Porra está a dar" tu vens e fazes-me isto, e não digo que és só tu, eu não sou fácil, mas estou a ficar gasta para isto. No minuto a seguir de te perdoar estou a amar-te para a seguir cair de novo.
Avanço até ao carro, o carro dele está ao lado do meu, quando abro a porta a mão dele empurra-a. A sua respiração está próxima do meu ouvido, os pelos do meu corpo levantam-se e viro a cara para ele.
-Estou a tentar proteger-te, estou a tentar salvar uma parte da minha vida, e a tentar não prejudicar outra.
-Fazer duas coisas ao mesmo tempo não é sensato.- Estou a pedir-lhe que escolha.
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Heyyy, espero que se estejam a divertir nesta ultima temporada tanto quanto eu, e amanhã vou escrever mais, não sei mas esta chuva dá me muita vontade de escrever ahaha, a sério que tempo horrível por um lado, mas magnifico por outro.
Sim estou a falar do tempo porque realmente é uma coisa que influencia ahah
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