14ºCapitulo
Há uma ranhura estranha e parece que ele lê os meus pensamentos quando faz um cartão deslizar pela mesma, na verdade á uma ranhura ao nosso lado e outra perto das portas atrás de nós.
-Existem duas saídas para dois tipos de apartamentos e assim dependo da ranhura onde insiras o teu cartão ele leva-te ao teu piso.
-Espera, há um piso para cada casa?
-Sim.- Eu não me consegui situar quando estávamos a vir para cá, foi estranho, estava demasiado envolvida em contar-lhe o que se tinha passado que nem reparei porque sítios passamos, e depois lembro-me de entrarmos na garagem, mas não consegui ver o prédio por fora.
-Deves ter montes de espaço.- Murmuro. Casas grandes ainda me lembram da antiga casa dele Oxford.
-Sim, embora a Gemma cuide da maior parte do espaço.
Oh isto é uma novidade! A última vez que vi a Gemma foi quando lhe liguei e contar o que se tinha passado, e uma vez que ela estava lá para o seu irmão eu vim-me embora. Ela deve detestar-te agora.
-Vives com a Gemma?
-Mais ou menos, embora ache que ela esteja prestes a dar o próximo passo com o novo namorado.- Ele sorri com afeto e quando as portas se abrem piso para fora do elevador.
A minha boca caí, o sitio não tem nada a ver com o antigo apartamento do Harry, tem uma decoração quente e confortável, mesmo ao nosso lado esquerdo há uma enorme parede de vidro que separa a sala de estar da de refeições, uma saliente com uma lareira e por cima uma enorme televisão, um pouco atrás disso está uma incrível janela do chão ao teto, tanto que consigo ver tudo desta posição, o empire parece estar a alguns minutos de voo, é incrível a visão daqui de cima.
-Posso?- Aponto para a janela e ele sorri-me.^
Ando em frente até encostar uma mão no vidro, vendo tudo iluminar-se a meus pés, os carros lá em baixo, o vermelho e amarelo que os carros deixam para trás, não vejo pessoas, mas a iluminação que vem ao longe da Time Square pode ser vista daqui, e é incrível.
-Deus, eu não tenho este tipo de vista do meu quarto.
-Tu tinhas antes.- A voz do Harry é rouca atrás de mim e sinto-me tremer, ele não me toca, mas eu sinto-o.
-Isso foi á um longo tempo atrás.- Murmuro, no apartamento dele em Oxford nós tínhamos uma vista privilegiada, mas não tão bonita como esta. Nunca nada naquele lugar vai ser bonito novamente.
-Pareces ressentida.- Ele coloca-se ao meus lado, a olhar lá para baixo também.
-Não me censures, as minhas ultimas noites lá não foram propriamente as melhores.
-Não censuro, pelo menos não isso, na realidade tu nunca gostaste da casa.
Viro a cabeça para ele, e ele olha para mim com olhos de "conheço-te melhor do que pensas" ele toca no meu rosto com cuidado e sorri.
-Era óbvio como aquela casa te fazia sentir mal.
-Não sempre, havia coisas boas lá, boas memórias, mas havia uma aura triste nela.
-Talvez por estarmos a viver naquele tinha sido um esconderijo da minha mãe.
Viro-me e desço o degrau para volta para perto do sofá, passeio até á parede de vidro que divide as salas e percorro a enorme mesa, mesmo atrás da mesma está uma cozinha enorme, decorada em tons de preto liso e madeira escura, é uma cozinha linda, com uma ilha mesmo no meio.
-Tu gostas desta casa no entanto.- O Harry segue cada passo que eu sou de perto.
-É muito bonita, e apesar de parece desproporcional é acolhedora.
De repente agarra-me na mão e guia-me gentilmente até ao balcão da cozinha, á salmão e legumes salteados em pratos individuais e sorriu, porque ele ainda não perdeu o seu dom culinário.
-Muito bem Styles, cheira mesmo muito bem.
Ele sorri-me e puxa uma das cadeiras altas ao que me sento, ele instala-se ao meu lado e serve o meu copo com água, e o dele com aquilo que acho que é vinho branco.
-Eu não perdi as minhas qualidades.- Ele murmura enquanto mete uma garfada de comida na boca.
-Ainda bem, tu eras muito talentoso.- Lembro de pensar em todas as coisas fantásticas que ele podia fazer, ele tem tantos talentos.
-No entanto eu não fui talentoso o suficiente para te fazer ficar.
As palavras cortam o meu coração em pedaços. Ele acha que foi ele, mas não foi, a única coisa que me fez ir embora, fui eu mesma. Desvio os olhos do prato e olho para ele, de olhos arregalados, os lábios separados enquanto espera que eu diga alguma coisa. Mesmo depois deste tempo todo, ele continua a minha espera, e pior que isso, ele ainda consegue parecer assustado com tudo o que aconteceu. Talvez eu não conheça as profundezas do que aquela noite lhe causou.
-Não foste tu que me fizeste vir embora Harry, tu devias sabe-lo.
Depois de eu me calar, comemos em silencio, até que de algumas forma ele se levanta para ir buscar pratos mais pequenos ao armário e os deixa cair, o barulho faz-me perder a respiração e levanto os olhos na direção dele, está de costas para mim, agarrado á bancada, os nós dos dedos branco.
-Harry?
-Tudo bem.- Ele murmura, mas não se mexe, ele treme ligeiramente e vou até ele tento vira-lo para mim, mas ele afasta-me com um empurrão que me faz tropeçar para trás.
-Harry!- Exclamo quando ele começa a respirar de forma muito superficial, parece quase torturado enquanto procura ar, as suas respirações são longas e a seguir rápidas, e muitos descompassadas enquanto ele curva novamente para a frente.
-Para de me chamar!- Ele grita e encolho-me no meu lugar.- Como posso não ter sido eu?- Ele vira-se para mim passando pelos pequenos fragmentos dos pratos e chegando até mim.
-Não foste tu, fui eu, eu escrevi isso.- Murmuro sem olhar para ele, no entanto isso é nada quando ele agarra o meu queixo e me obriga a encara-lo.
-Essa Sophia, é a desculpa mais velha que alguém já me disse, tu vivias comigo, tu namoravas comigo, era comigo que tu estavas, foi de mim que tu fugiste.
-Eu não fugi de ti era, eu só não aguentava mais aquele lugar, aquelas memorias, eu... era demais para mim.
-Que memorias? Nós podíamos ter enfrentado aquilo juntos mas tu escolheste ires-te embora, isso faz sentido para ti?- A sua voz é baixa e rouca, lembrando-me de tempos remotos em que a única coisa que ele sabia fazer era repreender-me.
-Eu não consegui lidar com a pressão.- Murmuro.
-Qual pressão? Eu matei alguém, é o sangue dele está nas minhas mãos, não nas tuas, tu não ficaste lá para mim Sophia!
Dói ouvir as palavras em voz alta. Mesmo que ele tenha razão.
-Mas do que é que me vale pedir-te desculpa Harry? Isso chega? Alguma vez alguma coisa vai chegar para pagar eu ter ido embora?
Ele senta-se novamente ao meu lado e fecha os olhos com calma.
-O que foi exatamente que te levou a vir para cá?
Respiro fundo antes de lhe responder.
-Medo.
-Medo? Depois de todas as ameaças se terem ido tu tinhas medo?
-Eu ainda tenho medo.- Murmuro.
-Do que exatamente? O que há em mim, em Oxford, o que há de tão assustador Sophia?
Fechos os olhos e abano a cabeça freneticamente. Ele não percebe, ninguém percebe.
-Tudo Harry, tudo lá me aterrorizava depois daquela noite, o Dean, o sofrimento, tudo lá, até tu, tudo estava contagiado pelo medo, tu... eu não sei, eu senti que...- a minha garganta aperta-se e os meus olhos enchem-se de água.- Eu senti que tudo ficou negro, eu não conseguia olhar para ti sem ver o que se tinha passado, sem pensar que mais alguém ia vir Harry, quantas mais pessoas no mundo te iam odiar? Por quanto mais íamos nós passar? Ninguem pode viver na incerteza para sempre.- Murmuro.
Os olhos dele são vazios para mim.
-Eu odeio a maneira como tu me fizeste sentir Soph, a maneira como me fizeste apaixonar por ti, a maneira como puseste o meu mundo de cabeça para baixo, a maneira como me forçaste a sentir outra vez e depois só desapareceste, como é que te sentirias se fosse ao contrario, se eu te tivesse deixado, se tivesse traído a tua confiança?
-Confiança? Tu achas que me podes falar de confiança quando em primeiro lugar tu partiste a confiança que eu tinha em ti? Sabes por quanto tempo eu pensei que podia lutar e voltar a confiar em ti? Tu deixaste-me, eu confiei em ti e contei-te uma coisa feia acerca de mim, e sabes o que é que fizeste? Saíste de casa, deixaste-me.
-Mas voltei Sophia, não te deixei durante três anos. Isso nem sequer é o ponto.- Ele passa as mãos pelo cabelo e percebo que o estou a fazer ferver. É isso que quero.
-Talvez seja essa a raiz dos nossos problemas Harry, foi aí que tudo começou, eu não confiava em ti.
-Então porque é que não me disseste fodace?!- Ele grita levantando-se.
-Porque não confiava em ti, mas mais do que viver sem confiança, eu não era capaz de viver sem ti.- Murmuro, porque é verdade, foi o que senti durante toda aquele tempo, foi por isso que não lhe contei do Dean.
-Não Sophia, o problema é que...
-Não Harry o problema era que te amava numa medida maior do que aquela de que precisava de confiança, e confiança e amor devem estar equilibrados.
-Não me venhas ensinar como é amar a alguém, eu amei-te...
-Sim mas nós não sabíamos lidar com esse amor, nós limitávamo-nos a pôr mais lenha na fogueira, nós fechávamo-nos naquele apartamento isolados do mundo, nós sabíamos viver um para o outro, e em certo ponto isso não é mau, mas quando nós começamos a viver á base de que se sairmos á rua alguém vai disparar contra nós, ou que alguém ia matar-te, ou a mim, isso esgota uma pessoa, e naquele momento, quando eu me fui embora eu tinha atingido o meu limite, eu não podia mais suportar o sufoco onde me tinha enfiado, eu não consegui andar na rua, olhar para aquela casa, olhar para ti e sentir-me bem, porque o amor que eu sentia por ti estava a misturar-se com o mal que me aconteceu ali, foi como a minha cabeça lidou com o que aconteceu, e não foi atitude mais certa, mas foi a atitude que me deixou amar-te de forma mais saudável e positiva.
Ele olha para mim pelo que parece uma eternidade e depois suspira levantando-se, andando até á sala grande, desabotoa um dos botões da camisa e depois vira-se para mim.
-Eu quero resolver isto, mas estou tão fodido contigo, passei todo este tempo a tentar vingar-me, a tentar arranjar uma maneira de te magoar, mas quando te pus os olhos me cima...- Ele anda até mim e segura a minha cara perto da dele.- É sempre o mesmo, cada vez olhas para mim sinto-me ficar mole, sinto-me a cair dentro de algo que quero e desprezo, não consigo pensar claramente contigo ao pé de mim, e todo o meu ódio se vai quando te toco, quando te sinto assim tão perto de mim.
Engulo em seco com as palavras dele, ele quer-me, mas não consegue lidar com isso, posso vê-lo perfeitamente.
-Fica aqui.- Ele murmura.
Ele desaparece por um lado da casa que mal posso ver e sinto-me ficar gelada, vejo o casaco dele em cima do sofá e talvez em outra ocasião, em outro tempo eu conseguisse vesti-lo, mas sinto que lhe estou a roubar a privacidade se o fizer.
Uma parte de mim percebe que o frio vem de dentro, que esto nervosa, porque o sinto zangado, mas ele não se quer zangar, mas ao mesmo tempo estou nervosa porque sinto que a possibilidade de voltar a estar com ele não está nas minhas mãos, está nas dele, se ele me quer e sabe lidar com isso, ou se ele desiste de mim.
Ele volta pouco tempo depois e manda-me sentar no sofá.
-Agora, eu vou dizer-te algumas coisas e não quero que me interrompas ok?- Aceno para ele.
-Mesmo quando te deixei eu sabia que não ia ser por um grande período eu só precisava de me afastar de ti, de pensar sem ti, e percebo que talvez tenha sido isso que sentiste, mas fodace Sophia foram o caralho de três anos e a única coisa que fizeste foi isto.- Sinto um masso de papel cair-me no colo e vejo as cartas que lhe mandei, meio amachucadas.
- Importaste de pegar na ultima que aí está e ler a ultima parte?
As minhas mãos tremem e desdobro-a, lágrimas voltam a formar-se nos meus olhos mas impeço-as de cair, preparo-me para ler em voz alta, mas quando os meus olhos passam pelas letras tremulas que escrevi naquela cadeira de hospital...
- Porque acima de tudo Harry eu amo-te, e talvez esse veneno a que chamamos amor, seja o que nos mata e nos matem vivos.- Murmuro baixinho, quando uma lágrima cai em cima do papel.
O Harry baixa-se e ergue a minha cara para a dele, ele limpa suavemente a minha lágrimas e eu fungo de uma maneira nada feminina.
-Desculpa.- Murmuro sem pensar, e parece que o mundo me sai de cima, todo este tempo as palavras tem estado presas no fundo da minha garganta, não conseguia dize-las porque não me conseguia desculpar a mim mesma, por de certa forma o ter odiado, e agora ele sabe.
-Desculpa. Desculpa.- Soluço quando sou lavada por um sentimento de culpa esmagador.
Ele encosta a minha cabeça ao seu peito e passa os dedos pelo meu cabelo.
-Tu não estas desculpada, mas pelo menos tu conseguiste dizê-lo.- Ele murmura suavemente no meu cabelo.
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Foi muito difícil escrever este capitulo, senti-me bloqueada porque não conseguia "pedir" desculpa ao Harry e acho que finalmente tanto eu como a Soph conseguimos perceber o motivo pelo qual ela se foi realmente embora, acho que esteve sempre na cabeça dela, mas demorou até eu perceber realmente o que se passou, e se alguma de vocês não percebeu eu explico. Quando se passa por um evento traumático com alguém de quem gostamos por perto, geralmente associamos isso a essa pessoa, e é difícil de lidar, eu já passei por isso e custa e enfrentar, é como quando tem um pesadelo e alguém de quem vocês gostam vos faz mal, quando acordam sentem como se aquela pessoa realmente fosse má. A Sophia sentiu-se como se o amor que ela sentia por ele estivesse a ser envenenado pelo que ler aconteceu de traumático, mas atenção ela ainda não agiu bem, no entanto como tantos de nós ela errou, e agora que finalmente ela conseguiu pôr para fora o que ela sentia, eu estou pronta para começar a escrever especialmente sobre o Harry, sobre como ele se sente sobre tudo isto.
Eu não sei quantas vezes esta semana vou conseguir postar porque não estou em casa, mas vou dar o meu máximo.
Love u
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