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114ºCapitulo


Antes de lerem este capitulo queria apenas dizer obrigada pelos comentários nos últimos capítulos e nas redes socias, têm sido tão bom todo o feedback, é uma sensação maravilhosa de repetir.

Btw alguém amanhã vai ao NOS Alive ver o baby The Weeknd?




Quando entro na sala onde eles têm a Sophia ela está de pé. Uma enfermeira caminha com ela para cá e para lá e observo enquanto uma careta de dor toma conta das suas feições e ela se encolhe antes de esmagar as mãos da senhora paciente.

-Ela não devia estar deitada? Com uma epidural ou assim?- Pergunto repetindo para mim todos os palavrões que conheço. Merda estou mais assustado agora do que quando acordei sozinho naquele maldito hospital.

A Sophia olha para mim com os olhos a brilhar e tomo as mãos dela da enfermeira, enquanto ela caminha contra mim.

-Estamos a deixar a gravidade fazer o seu trabalho.- A enfermeira respondo-me, no entanto o aperto que a Sophia me dá quando outra contração chega faz-me pensar que ela têm muito mais força do que alguma vez lhe dei crédito.

-Dói.- Ela sussurra baixinho. Tento não pensar em todas as coisas que podem correr mal. Ela foi uma grávida extremamente saudável, sem quaisquer imprevistos. A médica dela estava a explicar-me que íamos tentar o parto natural, mas sinceramente preferia que lhe acabassem já com o sofrimento. A cor dela é amarela e as bochechas vermelhas da força que está.

-Miss.Black têm uma dilatação normal. - A médica entra no quarto e olha para nós.- No entanto a bolsa já rebentou á demasiado tempo, temos que acelerar o processo.

Sinto de repente a cabeça da Sophia poisar no meu ombro e grito estridente que ela dá. Agarro-lhe a nuca e deixo-a gritar enquanto ela quer. Quando a respiração dela volta ao normal acaricio-lhe o fundo das costas e quase que a vejo desmaiar de alivio. A merda do meu coração bate com tanta força que juro que vai sair a qualquer momento. Beijo-lhe o cabelo e tento manter-me calmo, se me enervar agora ela vai reparar.

-Está tudo bem amor.- Sussurro e sinto lágrimas na minha t-shirt.

-Dói.- O sussurro dela é tão baixo e frágil, como um vaso prestes a partir-se.

-Quem me dera que pudesses passar por isto sem o caralho da dor.- Murmuro mais para mim do que para ela.

Ela ri-se pelo meu uso de linguagem "feia" como ela me diz e isso alivia-me um pouco. Vou dizer todo o tipo de asneiras se isso a fizer rir.

-Não temos um nome.- Ela fala comigo e sei que se está a tentar distrair.

Riu-me e deixo-me ficar agarrado a ela no meio do quarto. Ela tem uma agulha espetada ao braço e alguma coisa a correr pelo tubo. Não sei quando foi a ultima vez que estive assim num ambiente hospitalar, mas o pânico que sinto por ela estar aqui assim é maior do que posso pôr em palavras.

-Podes escolher.- Digo-lhe e ela volta a apertar-me com força.- Está tudo bem.

Tento imitar as respirações que me ensinaram nas aulas pré-parto mas parece ridículo agora.

-Posso deitar-me?- Ela pergunta e olha para a médica dela trás de nós.

-Claro Sophia.- Ela sorri e levanta o lençol enquanto eu tento calmamente deitar a minha menina.

O suor na testa dela acumula-se e a bata hospitalar que lhe vestiram começa a colar-se aos seus lados.

Os meus lábios tocam-lhe a bochecha e ela geme em apreciação enquanto os seus dedos me acariciam o cabelo.

Passaram-se duas horas de sofrimento e ela continua com a mesma dilatação. Eu sei o que se está a passar, consigo ver o olhar preocupada da médica. Ela sorri como se me pudesse enganar, mas não pode. Eles deram-lhe Pitocin para aumentarem as contrações mas não resulta. Ela está cansada e a olhar para mim.

-Vamos fazer a merda da cesariana por favor?- Imploro pela vigésima vez.

-Não!- A Sophia impõem e gostava de saber onde é que ela arranja voz, nunca a vi tão cansada em toda a minha vida

-Mas não porquê?- Sei que me estou a deixar levar pela ansiedade, mas ela está a tentar por tudo suportar isto e mais que claro que não consegue.

-Porque consigo fazer isto!

Depois de dizer isto ela fecha os olhos e respira fundo e eu dou-lhe a mão á espera do momento em que ela vai tentar erguer o corpo do colchão. Ela choraminga e depois a dor toma conta dela num violento tormento.

Não sei exatamente quanto se passou mas quando volto a ganhar consciência do que está á minha volta a médica abre a porta muito depressa.

-Não está a resultar Sophia, precisamos de realizar a operação.

-Aleluia fodace! - Levanto-me da cama e começo a ouvir a respiração alta da Sophia. Viro-me para ela e observo enquanto ela nega.

-Não! Eu...

-A sua dilatação não é suficiente o Pitocin não está a fazer mais que isto...o bebé está a sofrer.

A minha cabeça voa para a médica e ando até ela.

-Está a brincar certo?- Tenho plena cônsciencia do olhar assustado na cara dela.- Só pode estar a brincar merda! O bebé e ela estão aqui a sofrer e só agora é que percebeu?

Ela engole em seco e endireita-se.

-Com todo o respeito Mr.Styles eu sou uma das melhores ginecologista/obstretistas de Nova York, foi por isso que me procuraram.

-Não! Procurei-a porque queria segurança e agora a minha mulher está a sofrer... e o bebé.- Digo mais baixo.

Vejo quando começam a levar a cama da Sophia para fora do quarto e ela olha para mim.

-Harry!- Ela chama quando deixa de me ver.

A médica dá-me um olhar de aviso.

-Vista-se com roupa hospitalar se quer ficar com ela.

Apetece-me mandá-la para o caralho mas a pequena probabilidade de perder de vista a Sophia deixa-me paranoico.

Visto-me e sigo um enfermeiro.

-O Harry?- Oiço a voz pequena da Sophia.

-Vai estar aqui em breve.- A médica sussurra e abro a porta para a ver. Os olhos esbugalhados e as bochechas manchadas.

-Está tudo bem.- Sussurro-lhe no cabelo e ela agarra a minha mão.

-Tenho medo.- Ela murmura com os lábios quase brancos.- E se não acordar? Eles vão cortar-me.

Ela chora na minha mão e tento evitar as lágrimas que se acumulam nos meus olhos. Quando foi a ultima vez que estive tão assustado. Sei que passaram algumas horas, mas parecem dias, longos e difíceis dias.

O anestesista entra e diz-me resumidamente as drogas que lhe vão aplicar. Os olhos dela aumentam de tamanho para a seguir toda ela parecer uma gelatina mole. Os olhos dela parecem mais verdes do que nunca e pergunto-me quando será que vou parar de sentir esta dor no peito.

-Sente isto?- A médica pergunto e espreito apenas para ter a certeza de que ela está apenas a belisca-la.

-Sim... uma impressão.- A Sophia sopra e começo a pensar se ela imune á anestesia.

A médica olha para o anestesista que conforma os cálculos de novo.

-Está certo, tento outra vez doutora.- A medica repete o movimento e desta vez a Sophia mantem-se imóvel a olhar para mim. Ela até sorri. Um sorriso pequeno, mas cheio de luz.

-Vamos ver o nosso bebé.- Ela murmura e fecha os olhos.- Amo-te.

Franzo as sobrancelhas e encosto-me mais a ela, só para sentir o quente da sua pele, ter a certeza de que ela permanece aqui.

-Ela vai adormecer?- Pergunto á médica que me diz que não.

-Amo-te.- Digo-lhe de volta e ela sorri-me.

Tento não olhar quando cortam a barriga inchada da Sophia. Os meus olhos não deixam a sua cara, apenas para ter a certeza de que ela está relaxada e sem dor. Alguma coisa apita na sala e eu olho para a Sophia. Oiço a médica a dizer alguma coisa que não entendo e a seguir as mãos de um enfermeiro agarram-me o braço.

-O que se passa?- Digo e vejo os olhos da Sophia abrirem-se.

-Precisa de sair.- A médica diz-me e liberto-me do braço do homem.

-O que se passa?

-Harry?- A voz pequena da Sophia esvai-se completamente quando o anestesista aplica uma dosagem de alguma coisa e os seus olhos se fecham.

A próxima coisa que sei é que estou na sala á espera. Tenho lágrimas nas bochechas e ninguém me diz nada. Oiço a memória do meu nome a partir-se nos seus lábios secos e o meu coração bate com força.

-Merda.- Chuto uma cadeira que não se mexe e ando em volta. A porta abre-se e uma enfermeira aparece lá de dentro. Mas que merda é esta agora? Porque é que sai? O que é se passou?

-Mr.Styles?- Ela anda até com medo. Bem que devia. Sinto o meu corpo enrijecer quando ela me dá um sorriso complacente. A minha garganta aperta-se quando começo a pensar na merda que pode se estar a formar ali dentro. Se ela se for? E se o bebé não está bem? Parecia tudo tão agitado...

-Sim?

A minha voz sai tremida e em outro momento qualquer estaria envergonhado pela maneira como estou a chorar, mas o meu coração está dentro daquela sala e não faço ideia do que se passa.

Memórias de mim e da Sophia na casa de Hudson River invadem a minha mente. E sinto-me tremer ainda mais por fora. Sei que não posso pensar no pior, mas se ela morrer, fico com o quê?

Sinto alguma coisa empurrar a minha mão e resmungo com o inconveniente, até que a realidade rasteja até a superfície e me lembro que tenho adormecido todos os dias com a mão aqui porque em algum ponto o bebé começa a chutar. Abro os olhos lentamente e vejo a Sophia bocejar enquanto sorri.

-Que coisinhas irrequieta. - Murmuro e a Sophia ri-se.

-Está a lutar ali dentro. - Ela sussurra como se não quisesse acordar e eu acendo a luz da mesa de cabeceira, para a seguir me perder no lençóis perto da barriga dela e ver as ondulações provocadas pelas ponta pés persistentes.

-Dói?

O riso dela ecoa pelo quarto.

-Pela vigésima vez Harry Eduard não, não dói. É uma impressão estranha, da primeira vez foi esquisito, agora é só...interessante.

Aceno com a cabeça, ignorando o uso do meu segundo nome para me repreender. Não imagino o que seja ter alguma coisa a formar-se dentro de nós. Uma vida, um pequeno ser humano, uma criança minha e dela. De repente sinto-me possessivo e protetor da vida que está á minha frente. A mulher que amo carrega um filho meu e o meu cérebro ainda têm dificuldades em processar como foi que me tornei pai e um homem quase casado. Onde é que fiz tanta coisa certa para merecer uma vida tão boa?

-Acho fascinante.

Os meus lábios conectam-se com a pele irrequieta e sinto a pressão na minha boca. É incrível. Olho para cima e a Sophia sorri para mim, e não sei se houve em tempo algum um momento em que me sentisse tão completo como agora. Mordo a pele só para receber mais um empurrão e a Sophia ri-se passando os dedos pelo meu cabelo. Fecho os olhos e gemo com o carinho. Não importa que tenho vinte e seis anos agora e que seja um homem adulto, quando ela me olha com tanto amor e me faz sentir como um miúdo pequeno sinto que sou o centro do universo dela.

-Vou ter que disputar o lugar de honra com o miúdo.- Digo-lhe, voltando a dar razão á teoria de que talvez, e apenas talvez seja um rapaz.

No dia seguinte os pais dela vieram almoçar. O pai dela parecia abismado, e a mãe estava tão feliz que saltava sempre que a via. Foi tão complicado ao inicio, e eu queria dizer que se lixe a vossa opinião, mas depois pensei que talvez no lugar deles também ficasse assim. Posso entender a perspetiva deles melhor agora.

-Então Harry, preparado para ser pai?- Alex perguntou-me a seguir ao almoço enquanto Sophia e a mãe passeavam pela doca.

-Não sei, quer dizer quero ser pai, mas não sei nada sobre isso.

Sei que me engasguei, e que todos os dias lido com homens mais ameaçadores que Alex, mas ainda me parece um monstro de sete cabeças.

-Ela vai sair-se bem, desde miúda que passeava bonecos em carrinhos, passava dias a fingir ser uma mãe.

O pedaço de informação intriga-me e presto atenção enquanto ele me conta de que cada vez que saiam a Sophia insistia em levar esta boneca com eles. Tinha um lugar especial no carro entre ela e Tedd, passava tardes a brincar com ela, a falar...e que um dia a boneca foi perdida num bengaleiro á entrada de uma festa de um amigo da escola. Ele diz-me que desde então a Sophia só teve bonecos, nunca mais pediu nenhuma boneca.

Nessa noite quando voltamos para a cama a conversa com o pai dela estava a girar em torno da minha cabeça. Ela estava agarrada a uma almofada e eu mexia-lhe no cabelo.

-É por isso que não queres uma menina?- Pergunto.

-Hum?- Ela diz sem abrir os olhos. Ela está relaxada e sinto orgulhoso por conseguir coloca-la neste estado.

-Por causa da boneca que perdeste? - A minha voz fá-la olhar para mim. Uns olhos profundos e um tanto culpados.

-Pode parecer estupido...talvez seja um daqueles traumas de infância, mas fiquei meses a sentir-me mal. Sentia que tinha falhado de alguma maneira...é mais fácil se pensar que é um rapaz, não me faz pensar no assunto e sinto-me mais relaxada.

-Não é estupido. - Beijo a sua testa.- Toda a gente têm os seus próprios medos, sejam eles maiores ou menores.A minha mente volta ao presente e inclino a cabeça.

-Teve uma linda menina.- Ela sorri-me e mal posso ouvir as palavras que lhe saem dos lábios. Uma menina? De repente não sei se estou a chorar de tristeza, felicidade ou ansiedade.

Deixo-me levar pelo corredor e uma enfermeira traz-me uma minúscula menina embrulhada num cobertor amarelo. Sinto-me nervoso quando a enfermeira me ajuda a segura-la. Ela tem algo agarrado á sua pelo vermelha, talvez de chorar, no entanto os seus olhos estão esbugalhados, a olhar para mim. A minha boca abre-se e o meu peito incha, parte-se em mil pedaços e reconstrói-se ao mesmo tempo. É como se todo o amor que julguei sentir ganhasse uma nova profundida. Os olhos são cinzentos e ela têm longas pestanas, é a coisa mais bonita que já vi e sinto-me estranho, como se o cabelo loiro que ela tem me lembrasse alguma coisa...eu tinha o cabelo loiro quando era miúdo!

-É uma linda menina, e saudável!- A enfermeira diz-me a sorri e aceno que sim enquanto limpo as lágrimas com os punhos.

Olho para ela e tento absorver a quantidade de informação que me chega ao cérebro.

-A Sophia?

A minha pergunta é deixada sem resposta quando a médica aparece pelas portas duplas com uma expressão cansada. Tento não perder a força nas pernas e forço-me a ganhar consistência nos braços. Não se passou nada. Não se passou nada...

Não se passou nada.

-Preciso de lhe explicar algumas coisas Mr.Styles...

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