88ºCapitulo
O quarto estava mal iluminado, as grandes janelas do chão ao teto deixavam pouca luz entrar da noite sombria lá fora. O vento soprava com força, e a chuva parecia quebrar um pouco da janela de cada vez que batia. Não havia lua, não haviam estrelas, a única luz provinha dos prédios á frente, das luzes da rua lá em baixo.
Aos pés da cama, um pouco mais próximo da janela encontrava-se o corpo de uma rapariga, ela estava sentada com um cobertor á sua volta, a assistir enquanto a chuva aumentava, e alguns trovões vinham. Os olhos dela estavam vidrados no seu próprio reflexo que podia ver se se esforçasse. Lágrimas grossas rebolavam pelas suas bochechas, mas ela parecia nem reparar, havia hematomas na sua cara, o seu pescoço tinha marcas de dedos, e sangue puxado á superfície, o lábio estava cortado, a bochecha rocha, sem dúvida uma grande mão pesara ali. Mas olhando para ela de fora, ela não parecia minimamente afeta com os hematomas físicos, na verdade a olhar para ela, parecia que estava destruída. Destruída por dentro.
Ao lado dela um telemóvel brilhou, o nome "Harry" brilhou na tela, e ela estremeceu quando olhou, puxando o cobertor mais para cima dos ombros. Uma lágrima caio em cima da sua perna nua e isso fê-la olhar novamente para o telemóvel, uma risada triste escapou-se dos seus lábios, e ela agarrou o telemóvel com força enquanto o atirava contra parede, e o vidro do ecrã se estilhaçou em milhares.
Naquele momento o telemóvel não foi a única coisa a estilhaçar-se. O coração dela ficou naquela quarto escuro, partido em pedaços tão pequenos que jamais seriam recolocados.
POV Soph
As minhas costas doíam-me, abri lentamente os olhos e ainda estava no chão embrulhada no cobertor quente, mesmo assim sentia-me gelada. A minha cabeça tombou para o lado e vi o vidro do telemóvel por toda a parte. Então não foi um pesadelo, aconteceu mesmo.
Um som horrível de batida na porta fez-se ouvir, e percebi o que realmente me tinha acordado, havia alguém a bater na porta.
-Sophia? Mr.Styles está ao telefone, ele disse que a menina ainda não atendeu.
A voz era irritante, hoje tudo me parecia irritante e eu queria manda-lo calar, mas não foi isso que fiz.
-Pode passar a chamada para o quarto?
Levantei-me devagar e passei pelos pedaços de vidro tentando não pisar nenhum, o telefone na mesa de cabeceira do Harry emitiu um som, e peguei-lhe. Não havia mais nada a chorar, isso foi o que pensei até ouvir a voz dele.
-Olá?
Isso foi o bastante para a minha garganta apertar, e lágrimas começarem novamente a escorrer pela minha cara, eu não conseguia falar, não com ele. Desliguei a chamada, e tranquei a porta do quarto com duas voltas, enquanto caminhava para a casa de banho e despia a camisa do Harry do meu corpo, entrando no chuveiro, deixando a água quente lavar-me, tentando pensar no que fazer a seguir.
O Dean foi claro antes de sair, se eu contasse a alguém o Harry ia sofrer as consequências, isso diminuiu a minha lista de suspeitos. Ou o Matt, ou o Louis foram os verdadeiros culpados de tudo, um dos dois vai dar cabo do Harry no instante se eu não abrir o cofre no escritório do Harry e tirar o testamento da mãe dele.
Quando sai do duche reparei nos hematomas nas minhas costas, o meu lábio cortado, e a bochecha que tinha ficado castanha. Os dedos do Dean davam toda a volta ao meu pescoço e o chupão tinha um aspeto horrível. Procurei um cachecol e enrolei-o á volta do pescoço, apliquei uma quantidade generosa de base na cara, e vesti-me.
Enquanto calçava os sapatos e o vapor da água deixava lentamente o quarto vi a maçaneta ser forçada.
-Sophia? Há alguma coisa errada? Mr.Styles diz que perdeu a chamada.
Há.
Eu trai o meu namorado.
Flash Back
O braço Dean era insistente enquanto ele me empurrava com força para o escritório do Harry, havia um brilho horrível nos seus olhos. Ele empurrou-me contra a secretaria a minha anca bateu na madeira escuro, ao mesmo tempo que eu uivava de dor.
-Então vamos lá, dá-me o numero do cofre.
Ele puxou-me para mais perto, os meus joelhos cederam quando ele me puxou para perto do cofre. Lembranças dolorosas de quando o Harry gritou comigo por eu ter aberto algumas das gavetas apareceram na minha memoria e abanei a cabeça freneticamente. O meu corpo todo gritava de dor, mas o que mais me fazia confusão era a dor no meu coração.
-Oh vá-la Soph, eu posso ficar aqui o dia todo, esperar que o Mark volte e mata-lo com as minhas próprias mãos. Tu não queres uma repetição do que se passou na noite do baile, tu queres?
As suas palavras foram sussurradas de forma suave no meu ouvido. A imagem do segurança a cair morto e sem vida aos meus pés voltou e fechei os olhos com força. Eu não ia aguentar isto. E naquele momento eu percebi o quão fraca eu era, eu estava prestes a roubar o meu namorado...
-Ele nunca me disse...eu...eu não faço ideia.
A minha memória era perfeita, e eu não me lembrava de alguma vez o Harry me ter dito a passe do pequeno cofre guardado dentro do armário.
-Mas tu sabes, ou então tu sabes onde é que ele guarda o código...tu só precisas de puxar por essa cabeça excecionalmente dotada meu amor.
Mas eu não me mexi, eu estava congelada no meu lugar enquanto imaginava o que o Harry ia pensar quando descobrisse, quando descobrisse o que eu fiz.
-otimo, tu não me vais dizer? Então vamos esperar os dois para que o teu segurança volte.
Ele sorriu, enquanto tirava um pequeno revolver do bolso do casaco, ele baixou-se até mim, e passou o cano rente á minha bochecha.
-vês o quão bom eu sou para ti? Eu estou a mata-lo em vez de o fazer contigo.
Ela estava a assustar-me, a chantagear-me, o Dean conhecia-me melhor do que eu julgava, ele sabia que eu nunca ia deixar ninguém pagar por mim, então lentamente eu levantei-me olhando á minha volta, mais lágrimas caíram dos meus olhos levei as costas da mão aos meus olhos limpando as lágrimas tentando...o caderno de cabeça. Havia uma agenda grossa cheia de folhas em que ele anotava um monte de coisas. Lembro-me de ver a agenda dentro de uma das gavetas, então cuidadosamente abri uma por uma, até o cabedal gasto reluzir para mim. As minhas mãos agarraram-no e eu senti-me usada, culpada e suja. Eu senti-me a pior pessoa do mundo enquanto as paginas cheias da letra rabiscada do Harry passavam pelos meus dedos.
A combinação de números soltos chamou a minha atenção e o som da voz do Dean agitou-me enquanto eu passava os dedos carinhosamente pelos números.
-Digita a combinação. Agora!
Os meus dedos mexeram-se com medo enquanto eu tocava suavemente a ordem dos númenos digitais no cofre.
2131996
Isso foi o suficiente para me fazer sentir novamente a pior pessoa do mundo. A combinação dos números era a minha data de nascimento, a maneira suave como o barulho dos números me encheu.
-Vez Soph? Está é a diferença, tu torna-lo fraco, a mim tornas-me forte.
O Dean passou por mim e abriu o cofre, havia dinheiro, papeis, uma caixa pequena e vermelha, havia tudo ali dentro, tudo o que era importante e que eu acabara de dar tão facilmente á pessoa que mais odeia o Harry.
Ele agarrou num envelope de papel pardo e sorriu, enquanto me agarra o queixo e me beijava suavemente.
-Obrigada amor, eu volto para te vir buscar não te preocupes.
Assim que ouvi a porta da frente a bater, foi como se tivesse sido puxada de novo para a realidade, tudo me doía, o meu coração parecia mole, mas mesmo assim a caixa vermelha dentro do cofre chamou a minha atenção, era pequena, como um porta-joias, e quando a abri culpa passou por mim.
Um anel estava prostrado no meio da caixa, e assim que lhe toquei senti um choque de ansiedade percorrer, enquanto o virava e via as minhas inicias e as do Harry gravadas dentro do anel.
Deixei-me cair de joelhos e fiquei a olhar para o anel, enquanto lágrimas banhavam o ouro reluzente por entre os meus dedos.
E nesse momento soube que tinha tomado a pior decisão da minha vida, tinha acabado de dar alguma cosia de imenso valor ao Dean, algo que ele queria tanto que podia matar por isso.
Naquele momento eu queria gritar, mas não havia mais nada a fazer...eu tinha que pagar pelo que tinha feito.
Flash back off
-Nada Mark, eu... a chamada caiu!
Levantei-me e abri a porta, o meu melhor sorriso na minha cara enquanto olhava para Mark e passava por ele. Quando me sentei ao balcão havia bacon e ovos na mesa, mais bacon estava na frigideira e Mark foi até lá continuando a cozinhar, e sorri, pela primeira vez em vinte e quatro horas sorri verdadeiramente, por um momento ter traído a confiança do Harry valeu a pena, para ver este homem a assobiar enquanto me preparava um bom pequeno-almoço.
-Nunca a tinha visto acordar tão tarde.
Eram onze e horas, nem eu mesma alguma vez me lembrava de ter acordado tão tarde, parecia tão vazio e errado eu estar aqui de repente. Parecia que eu não pertencia mais onde estava naqueles momentos.
Mark voltou-se e serviu-me o resto do bacon, os seus olhos nunca deixaram a minha cara, preocupação nos seus olhos.
-Não vai ligar a Mr.Styles?
Ele estava propositadamente a testar-me, e eu sabia disso, ele sentia algo errado e estava mesmo a tentar descobrir, escavando no meu olhar, tão fundo que fui obrigada a desviar o olhar para o fogão.
-Vou já, vou só acabar o pequeno-almoço.
-Á uma vamos para casa do seu amigo, antes que a chuva se torne demasiado intensa, e seja praticamente impossível conduzir.
Levantei a cabeça e acenei-lhe, antes dele se retirar da cozinha e me deixar sozinha. Enquanto o vazio, a culpa, e os remorosos me engoliam numa possa de medo e desespero.
Levei uma garfada de comida á boca mas foi como areia seca, o meu estomago não estava preparado para comida, e pus o prato de lado. Apoiei a cabeça nas mãos e olhei fixamente para o balcão á minha frente, imagens de mim encurralada nos braços do Harry apareceram, sorriso e beijos roubados, pernas nuas entrelaçadas enquanto ele tentava concentrar-se na comida...e agora...agora eu não conseguia sequer ouvir a voz dele sem me sentir a pior e mais reles pessoa do mundo.
Algo dentro de mim me mandava correr, procurar o Dean, mas o medo estava a paralisar-me, ontem no computador do Harry descobri que os papéis continham o testamento da mãe do Harry, a minha única hipótese foi de facto o Dean estar a tentar falsifica-lo.
E se assim fosse, talvez aquilo pelo que o Harry tanto se esforçou lhe fosse retirado... por mim. Porque eu acedi ao cofre, porque eu abri o cofre.
Talvez assim eu não me tornasse realmente prisioneira de alguém, mas de mim mesma, neste momento eu era prisioneira de mim mesma.
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