A minha respiração é pesada e sinto-me como se estivesse a ser chicoteada, vezes e vezes sem conta. Ele fez coisas terríveis, ele dormiu com a noiva do pai, ele... oh céus, isto é tanto para assimilar, e tenho tanto medo agora que me contou. Medo de lhe contar de mim, medo de lhe contar o que me acontece, o que faço, medo de o perder.

Eu consigo aceitar o que ele fez, mesmo que eu não devesse, mas eu consigo mesmo aceitar, não sei porque mas a verdade é que sinto que preciso de aceitar para ele não me julgar quando eu lhe contar, eu apenas não tenho maneira de encaixar tudo isto, toda esta nova informação.

 Em que gaveta meto isto? Na da roupa suja, ou na do meu namorado tem jeito para dar cabo das coisas?

Eu enterro a minha cabeça nas minhas mãos e respiro fundo a combater a minha dor de cabeça. Eu posso ter uma visão se eu não me controlar, demasiada informação está a deixar-me nervosa.

Levanto-me do seu aperto e caminho até á casa de banho, tiro um comprimido do armaria e engulo-o com ajuda de água. Quando levanto a cabeça o Harry está atras de mim.

 -diz alguma coisa!- ele murmura.

-faças o que fizeres, não abras a capa se a conseguires.- Sussurro.

Ele acena com a cabeça, e eu viro-me de novo para ele. O que quer que possa estar na cabeça dele neste momento, não dá para adivinha. Eu só queria poder enroscar-me sobre mim mesma, e apagar, para nunca mais precisar de voltar a ouvir esta história de novo.

Saio da casa de banho e avanço para o quarto. As camas estão feitas, mas ambas continuam juntas, eu deito-me sobre a minha, e levo os meus joelhos ao meu peito e fecho os olhos. Eu preciso mesmo de dormir um pouco. Eu ando tão cansada, e o pouco que dormi em casa da Kate parece ter sito á eternidade. Respiro fundo e tento acalmar-me, eu apenas preciso de me manter calma, e perder a consciência é um bom método.

Sinto o colchão a afundar, e as mantas serem puxadas para cobrir o meu corpo. Os raios da tarde entram no quarto mas os meus olhos são pesados, mesmo com a luz a invadir o quarto de forma tão violenta.

O Harry aconchega-se mesmo atras de mim e puxa-me para o seu peito. Lágrimas indesejadas começam a escorrer com o contacto, ainda é muito para assimilar, mesmo que eu compreenda alguma coisa, ainda dói. Algumas das coisas que ele fez são horríveis, no entanto a infância a que ele teve acesso não foi fácil. Rodeado de opulência, mas sem o amor maternal, apenas um miúdo sozinho com frustrações por descarregar. Tudo que eu podia esperar dele era amor e compreensão, então agora, eu decido que eu vou fazer, e dar-lhe o mesmo. Amor e compreensão, mas mais uma vez isso não está diminuir o buraco no meu coração.

Viro-me para ele, ainda encolhida na posição fetal e agarro a sua camisola nos meus punhos. Encosto-me tanto a ele, que a minha respiração torna-se quente contra ele. As lágrimas correm e a única coisa que ele faz é encolher-se também contra mim. Como um círculo, o bom e o mau, não á bondade sem maldade, e não há paz, sem guerra. Nós não somos nada sem os defeitos um do outro, porque sem tal, as nossas qualidades nunca seriam destacadas.

-eu peço desculpa.- ele murmura a meio do meu choro.

Quero pensar bem no que lhe vou dizer a seguir, mas todas as palavras parecem estar desconectadas, parece que tudo é um turbilhão de emoções, parece que estou dentro de um aspirador e ando às voltas.

-porque?- a minha voz não passa de um murmúrio, baixo e rouco.

-por trazer isto para ti, por não poder guardar tudo isto para mim, por sentir que estávamos a viver em cima de mentiras, e coisas por desvendar, agora tenho a certeza de que está tudo preto no branco, de que não há mais nada. Sabes de todo o meu passado, e quero que isso continue, quero contruir um passado melhor contigo, quero que o amanha, seja tão bom, que se torne um passado bonito.- Ele sopra as palavras no seu tom habitual rouco, e um arrepio percorre a minha espinha.

Ele está a ser tão sincero comigo. Ele pensa que acabou. Ele pensa mesmo que as mentiras, e os segredos acabaram, mas não, eles ainda estão, mesmo ao seu lado. Ele está a dançar com eles na minha cabeça, a guia-los para a minha boca, para que finalmente eu consiga expô-los em voz alta.

-Harry eu...

A minha voz quebra e eu rebento em soluços e lágrimas, tudo é oco e vazio, assim que mandar as palavras para fora sei que vai ser o fim, quero ter direito ao paraíso por mais alguns segundos, horas, e talvez dias. Eu vou contar-lhe mas agora parece-me demasiado. Eu estou assim porque ele me contou coisas meramente banais a comparar aquilo que lhe vou dizer. Talvez a boneca por estriar dele tivesse saído da caixa, e depois voltado para lá sorrateiramente. Talvez eu não seja tao inocente como ela pensa. Eu sou um fantasma que consegue ver através do tempo. Nada vai restar de mim se eu lhe contar. Mas eu tenho de contar, eu vou contar-lhe. Eu vou dizer-lhe. Eu vou dizer-lhe. As palavras morrem na minha cabeça enquanto eu perco a minha consciência.

 Talvez eu estivesse sempre a dormir a minha vida toda. Talvez eu acorde amanha e esteja com doze anos, pronta para ir para a escola. Talvez eu esteja a sonhar com um mundo paralelo onde vejo coisas, talvez eu nunca me tenha apaixonado pelo Harry...

Dedos suaves raspam o meu coro cabeludo e um gemido fica preso na minha garganta. Quero pensar que estou em casa, longe de lhe contar. Mas sei que estou em Oxford, num mês chuvoso. Talvez eu deva fazer um inventário das coisas antes de acordar e olhar para o Harry.

1ºEstá a chover.

2ºEstou em Oxford.

3ºTenho um namorado.

4ºEstou apaixonada.

5ºEstou aterrorizada.

6ºVou ter que lhe contar.

-Não vais dormir esta noite, dormiste demais.- a voz suava e rouca do Harry preenche o meu ouvido.

Quero ouvir a voz dele, quero mesmo ouvir a voz dele.

-canta para mim.- suplico ainda de olhos fechados

"You and I
We don't want to be like them
We can make it 'till the end
Nothing can come between
You and I
Not even the Gods above
Can separate the two of us
No, nothing can come between
You and I
Oh, you and I"

E quando a voz dele canta algumas das palavras que eu preciso desesperadamente de ouvir eu acalmo-me.

A voz rouca e grave dele perto do meu ouvido, a cantar a musica que ele escreveu para mim, faz com que os meus demónios se vão para bem longe. Para longe do sítio onde eu e o Harry somos felizes. Se eu pudesse descrever o quão relaxante é ter os olhos fechados e ouvir a sua voz a cantar perto do meu ouvido, eu não iria encontrar as palavras, fazendo-me parecer a única rapariga no mundo. Ele faz com que o mundo caia, e apenas estejamos nós dois a flutuar num espaço sem tempo.

Eu abro os meus olhos para encontrar um par de olhos verde-esmeralda a admirar-me de perto. Sombras negras cobrem a parte inferior dos seus olhos, e ele precisa de dormir, mais o que eu.

-o que estiveste a fazer?

-a trabalhar.- ele admite.

-faculdade?- tento.

-não.

E não precisa de dizer mais nada. Enrosco-me nele novamente e quero esquecer que ele tem um negócio a gerir. Oh Harry, amo-te tanto que assusta.

-ias dizer alguma coisa antes de adormecer! Lembras-te do que era?- ele olha para mim expectante.

A minha barriga contrai-se e o medo apodera-se de mim. O quarto já escuro deve esconder a palidez na minha pele, e eu engulo em seco, preparo-me mentalmente para lhe mentir.

-não, não me lembro.- a minha voz sai firme, e sem cortes, e é quase impressionante.

-Podemos ir jantar fora? Ir ao cinema, qualquer coisa que um casal de namorados faz?

Ele acende a luz e vejo a espectativa presente na sua cara. A luz da mesinha de cabeceira a conferir um brilho suave ao seu rosto animado. Parece uma criança a perguntar se pode ir ver brinquedos numa loja.

-cinema e restaurante? Parece-me bem, podíamos passar numa loja de fotografias e eu iria imprimir todas as nossas fotografias.- Levanto-me lentamente da cama.

Vejo que são quase seis da tarde, e penso no quanto dormi hoje. Talvez tenha tempo de ir á loja de decoração no centro e comprar algumas molduras.

-então vamos?- ele pergunta animado.

-se não estiveres demasiado cansado, eu diria que iria ser uma honra.

Faço-lhe uma vénia e ele aproxima-se de mim. Os seus lábios próximos dos meus enquanto ele agarra o meu queixo e o ergue na direção da sua boca.

Ele cobre os meus lábios com os dele, e beija-me de uma forma adorável, amorosa que me faz querer agarra-lo e nunca mais o deixar ir, a sensação de ter os lábios dele nos meus é a melhor, e eu queria poder parar neste momento e perpetua-lo para sempre. Para viver na felicidade eterna, sem dramas, nem complicações, apenas eu e ele.

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Olá meninas, faltam dois capítulos para a Vision acabar, mas como algumas já sabem a segunda temporada vem ai como muito, muito suspense.

Bom eu queria aproveitar para vos dizer, aquelas meninas que estão chocadas com o vídeo que foi parar á net do Louis e do Zayn para não se deixarem abalar, eles são pessoas normais, eles são rapazes e todas sabemos que mesmo que não seja um vício, os rapazes gostam de experimentar, só quero tranquilizar-vos meninas, isto não é uma guerra, e por favor não tentem lutar contra eles. Só voz peço isto, não lutem contra eles, lembrem-se de quem é o verdadeiro inimigo, os media são o verdadeiro inimigo.

LOVE YOU GIRLS