12ºCapitulo
Oiço-o a andar atras de mim, mas recuso-me acreditar que isto é ele. Ele esfregou na cara de um rapaz que era pobre demais para me levar a lanchar. Ele julgou-me sem antes me conhecer. Tudo bem não me falta nada, mas não sou do tipo que pede e tem. Os meus pais fazem-me esperar tempo suficiente até eu aprender a dar valor ao que tenho não sou nenhum tipo de miúda mimada.
-Sophia anda cá.- ele chama. Ignoro-o e continuo a andar.
-Sophia...- há uma espécie de ameaça implícita na sua voz. Oiço-o a correr para chegar até mim. Ganho velocidade sem me aperceber.
Ele chega até mim e agarra-me pelo braço. E então expludo
-achas mesmo isso de mim? Que sou uma miúda mimada. Que tem tudo o que quer? Tu chegaste mesmo a achar que os meus pais são ricos ou coisa do género? Oh senhor, asserio Harry? Só porque aparentemente vivo num bom apartamento não quer dizer que não me tenha esforçado para isso sabes? Claro que não sabes, acabaste de dizer a um rapaz que ele não tinha dinheiro para me levar a lanchar. És tao arrogante e frio como achei que fosses, és tao pretensioso e mau como esperei que fosses. Fazes-me dizer-te todas estas horríveis coisas que já mais eu seria capaz de dizer a alguém só para te mostrar que nem tudo o que parece é. És tao incrivelmente atraente por fora e tao incrivelmente duro e feio por dentro. Como é que podes ser o mesmo rapaz que ontem me perguntou se queria dormir com ele. Como?
A minha voz está alta e sinto a garganta ficar apertada. Ele está estupefacto com tudo o que acabei de dizer. Eu estou estupefacta com o que acabei de dizer. Oh céus fui tao ma. Ele deixa-me louca, ele deixa-me fora de mim. Ele é bondoso, ele é frio e duro. Eu estou a ficar sem estofo para ele.
-queres que eu te diga o que?- ele pergunta depois do que pareceram horas de silêncio
-nada.- Digo e viro costas.
O caminho de volta para o meu edifício é longo e faço-o numa passada lenta. Não quero chegar lá e chorar. Se for devagar vou ter tempo de assimilar as coisas com o Harry.
Eu não queria ser tao dura, mas não suportei o facto de ele me julgar assim, sem mais nem menos. A mim e ao Dean. Ele é assim com toda a gente? Espero que não. Deve ser difícil arranjar amigos assim. Quer dizer ele tem o Louis e a rapariga de cabelo azul que me deu a bebida. Oh sim essa miúda, ele conheceu-a. Devo preocupar-me?
O dia arrasta-se demasiado devagar. Tive dois blocos de historia da arte e a professora deu matéria portanto estou agora á espera na fila da reprografia que tirem fotocopias das atas que a professora deu hoje.
Estão mais de cinquenta alunos á minha frente. Vou demorar uma eternidade a chegar a casa. A chegar ao Harry queres tu dizer! O meu subconsciente lembra-me Vou ter que o ver mais tarde ou mais cedo. Quero que seja mais tarde se possível.
O tempo passa e ao fim de dez minutos somos informados que a reprografia vai fechar. Ótimo que dia resmungo para mim mesma.
Faço o caminho até casa muito, mas muito lentamente. Não quero ver o Harry, pelo menos sem uma preparação psicológica para tal. Ele pode ser cansativo especialmente hoje.
A porta de casa está trancada com duas voltas ao que suponho que o Harry tenha saído. Respiro de alivio ao contatar que o apartamento esta totalmente vazio.
Em cima da mesa está um bilhete e uma pasta creme por baixo. Ando até lá e pego no bilhete.
"Os teus apontamentos estão aqui e o jantar esta no micro-ondas, vou voltar tarde."
Boa! Sei que evitar o problema não era uma solução, mas agora não posso fazer nada. Dou a volta á bancada e tiro um prato arroz e bifes. Cheira bem. Despacho-me a colocar um individual na mesa, mas depois penso no Harry, em como poderíamos estar aqui os dois sentados a discutir a minha forma de comer. Decido por um individual também para ele. Coloco os respetivos pratos em cada individual e sento-me a comer a minha comida.
Acho sinceramente que disse todas aquelas coisas ao Harry porque ele me magoou. Porque sinceramente, ninguém aguenta ser magoado pelo pai e pelo colega de quarto quase de uma vez certo?
Pelo menos eu não aguento. E depois tudo o que disse estava certo. Ele foi mau para com o Dean. O Dean trabalha e estuda ao mesmo tempo para provavelmente pagar o seu dormitório e estudos. O Harry foi estupido em dizer-lhe aquilo que disse. No entanto sinto-me como uma bruxa má por dizer o que disse. Podia eu ser mais contraditória?
O meu pai tentou ligar mais duas vezes e nunca atendi. Sei o que ele vai dizer. Sei exatamente que vou chorar e que ele vai provavelmente tentar convencer-me a voltar. Mas agora eu não posso dar-me ao luxo de me deprimir. Porque agora não tenho nenhuma Kate para me ouvir. Agora só posso contar comigo. Comigo mesma.
O telemóvel volta a vibrar e é a minha mãe. Decido atender.
-mãe não vou falar com ele.- Digo antes de ela me fazer mudar de ideias.
-olá Soph.- A voz rouca do meu pai soa através da linha. Sinto-me congelada
-olá pai.
- Desculpa querida. Sinto muito.- Ele diz. O meu rosto contínua inexpressivo. Ele só fez isto uma vez antes de ontem e fiquei tao magoada que não abri a boca durante um mês.
-também eu.- Acabo por dizer
-tiveste uma visão?- ele acaba por dizer. Pondero em responder-lhe. Mas agora quero ser tao má para ele como ele foi para mim.
-sim, vi o passado- digo do passado, porque geralmente são do futuro. As do passado doem muito mais.
Geralmente quando tenho visões, vejo um rapaz alto de costas. Ele tem asas, mas é mau. Ele bate em pessoas por divertimento. Ele destrói sentimentos por prazer. É um anjo negro. E de cada vez que tenho uma visão com o passado as suas asas vão ficando cada vez mais negras. Como um céu tempestuoso.
-oh.- é tudo o que ele diz
-é só?- pergunto fria.
-Soph eu... lamento. Eu não queria, eu esqueci-me completamente eu...
-tu querias magoar-me como eu te estou a magoar a ti por estar longe.- digo o que ele não diz
-eu...
-pai estou cansada o meu dia foi imensamente cansativo.
-claro eu só...
-eu sei pai até amanha. Amo-te- digo desconfiada da minha própria voz.
-ainda me amas?- a sua voz adquire uma rouquidão estranha e sei que está a chorar
-claro que sim pai. És tudo para mim.- ele mantem-se em silencio
-estas em casa?- pergunto
-não. Estou no escritório eu e a tua mãe discutimos.- oh bom, foi com certeza por minha causa
-vai para casa e diz á mãe que eu te amo, a ti pai.
-asserio, posso dizer-lhe que me amas? Só a mim?- sinto o seu sorriso
-sim só a ti papá
-ok eu vou princesa.
-espera lá como é que tens o telemóvel da mãe se não estas com ela?- as minha sobrancelhas unem-se
-um homem tem os seus métodos.- Riu-me com a resposta e despedimo-nos com palavras amorosas
São nove horas e nada de Harry. Pensei bastante a cerca do meu pai. A conversa não correu como eu achei que fosse correr. Ele não me tentou fazer voltar nem me fez chorar. Estou surpreendida. Provavelmente a discussão com a minha mãe foi brutal, e ainda me sinto mal por ser a causadora de isso. Eles não ficam chateados. Nunca. A única vez que aconteceu foi quando ninguém soube de mim por três horas. Penso no Teddy sozinho a ouvi-los gritar a noite toda sem mim lá. As vezes penso no meu pai mesmo zangado e associo á aquele tipo de homem que bebe. Mas o meu pai não bebe. Nunca.
Estou sentada com as pernas cruzadas á chines em cima do sofá a ler os apontamentos que o Harry trouxe para mim. É tao complicado e foi apenas a primeira aula. Isto de geometria é pior do que matemática.
A fechadura roda e o Harry aparece. O meu queixo cai, literalmente cai com o que vejo. Ele parece... Ele parece um anjo. Todo ele é um smoking. Os cabelos rebelde puxado para trás. Parece um deus. Um empresário. Um ator. Um cantor... parece um anjo. O mais bonito que vi até hoje
-Olá.- Ele diz com um certo melindre na voz.
-olá.- a minha voz é tranquila
E sei que vamos ter a nossa conversa. A nossa longa e cansativa conversa. Por muito que o belo rapaz á minha frente pareça impecável, ele tem algum grande problema. E eu estou a começar a deixar-me afetar por esse grande problema. Eu não quero deixar-me ficar, eu quero que ele volte para o lindo e amável rapaz que era ontem.
Ele avança até um dos poufs que está á frente do sofá onde estou confortavelmente aninhada e abre as suas pernas colocando cada cotovelo no respetivo joelho, apoiando as mãos no seu queixo. Ele fica tao intimidante de fato e gravata e nesta posição. Como se fosse alguém de muito importante, alguém com quem não te devias meter relembra o meu subconsciente.
-bonita gravata.- Acabo por dizer. Ele olha com desdém para o objeto e retira-o. Fico magoada mas não digo nada.
-acredita fizeste-a parecer um pouco menos detestável.- Ele acaba por dizer e solta uma risada.
-hum, isso é bom eu espero... se bem que nunca pensei em ver-te num fato desses.- Acabo por confessar.
-porque fico assim tao mal?- a sua sobrancelha eleva-se.
E quero dizer-lhe que ele fica sexy como um raio dentro de um fato. E quero dizer-lhe que o quero beijar. E quero dizer-lhe que ele não me sai da cabeça. Mas não posso, nós temos uma conversa para ter e ele está a dar a volta ao assunto. Ele distrai-me de formar imagináveis. Ele todo agora é conversa fiada. Mas neste momento, não é esse tipo de conversa que eu procuro e ele sabe.
-não de todo, quero dizer eu... han.- E lá vou eu para o paraíso dos vários tons de vermelhos. Bolas para mim e para as minha bochechas constantemente rosadas.
-adoro quando ficas toda vermelha é tao animador.- Ele confessa com um sorriso. Olhos para os meus apontamentos e oiço levantar.
-bom vou tomar um banho e trocar de roupa.- e sei imediatamente que distrair-me deixando-me envergonhada era o seu plano original.
-espera Harry.- Ele vira-se para mim como quem diz não vás por ai. Mas eu quero mesmo ir por ai.
-eu quero mesmo um banho Sophia.- Ele soa rude
-e vais ter um, o duche não vai a lado nenhum.- Digo na mesma medida, mas com voz mais suave. Levanto-me e fico de frente para ele.
-eu quero mesmo ouvir se pensas-te em tudo aquilo que eu te disse esta tarde.- estou assustada com a pergunta que lhe fiz.
-sim.- ele é curto
-e?
-E nada Sophia, tinhas razão sou pior do que tu ou eu podemos imaginar, sou pior do que qualquer pessoa pode imaginar, mas sabes uma coisa. Eu não me importo. Eu sou o que sou. Eu disse o que disse ao Dean, porque tu não o conheces e porque posso dizer o que disse. Porque eu posso pagar qualquer coisa que tu queiras percebes? Eu posso, ele não.
A maneira como ele fala dele próprio assusta-me. Como se ele pudesse fazer qualquer coisa. Como se ele fosse dono de uma fabrica de dinheiro. Todo ele é aspetos negativos á frente das outras pessoas. Mas ele não é assim comigo. Pelo menos não o tempo todo. É como se ele pudesse comprar as pessoas. E por momentos lembro-me de quando o meu pai lhe ofereceu dinheiro e ele recusou.
-Harry, tu não podes comprar qualquer coisa e sooa tao sínico e hipócrita, tu não podes dizer ás pessoas que elas não tem dinheiro, tu não podes, não é um direito que adquires.- A minha voz tornou-se um fio.
-vá lá Sophia não somos assim tao diferentes.- Ele responde e anda na direção da casa de banho.
Fico estática. Ele acabou mesmo de dizer o que disse? Não. Eu não ouvi bem. Eu estou a ter uma espécie de alucinação. O Harry não disse isto. O Harry não é isto. O Harry é.... O que é o Harry afinal? Que raio de ser é este que está a deixar todas as minhas emoções de pernas para o ar? Uma lágrima escorre pelo meu rosto.
Pego num casaco e nas chaves de casa e avanço para a porta. Vou só sair para dar um passeio. Mas se o Harry detesta assim tanto que eu saia, vamos dar-lhe a provar um pouco do próprio veneno.
O vento gelado bate na minha cara. Mas não se compara aos graus negativos a que estão o meu coração. Não de todo. O que ele me disse faz de mim uma pessoa detestável. Tal como ele. Mas o verdadeiro enigma no meio de tudo isto é. Se ele diz tudo isto da boca para fora ou sente mesmo que eu sou tudo de mal que ele disse. Ele comparou-me a ele. E hoje á escassos minutos atras ele era um homem zangado, irritável, frio e duro. Um rapaz não devia ter forma de homem. Ele só tem 19 anos, não 28. De onde vem tanta raiva? De onde vem tanto poder? De onde vem o Harry e o que está ele a fazer á minha cabeça?
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