Capítulo 8 - E Tudo o Vento Levou
Gérmen ficou algo confuso, mas ao mesmo tempo entusiasmado: Angie queria falar com ele, queria vê-lo e isso só podia dizer que talvez tudo se conseguisse resolver. Ele gostava de contar a Violetta, sabia que ela iria ficar mais animada, mas Angie pedira para não contar nada a ninguém. Assim saiu do escritório pronto para ir ao encontro de Angie, olhou para Violetta estava feliz com Clara ao colo, com Francesca e Camila a fazer palhaçadas para que esta sorrisse. Não, não podia estragar aquela felicidade, Violetta ficara tão triste quando percebeu que Rosário não tinha conseguido trazer Angie de volta, então para quê criar-lhe novas esperanças, decidiu não lhe dizer nada. Naquele momento vendo-a com Clara, ela estava tão feliz, se ninguém soubesse o que se passava podiam até dizer que eram uma família perfeitamente normal. Rosário, que apesar de todos os seus erros estava a tentar resolver as coisas, estava feliz com as duas netas.
Gérmen ainda ponderou de novo interromper toda aquela algazarra, dizer-lhes que iria sair, mas iriam fazer demasiadas perguntas e ele não queria ter que mentir mais, assim resolveu sair sem que ninguém o visse. Enquanto conduzia até ao Estúdio pensava apenas numa coisa – o que será que Angie quereria falar com ele? Voltaria ela para casa com ele? Ou será que ela tinha decidido acabar com o casamento?
Quando acaba de arrumar as malas no carro, Angie parte para o seu encontro com Gérmen. No caminho pensa no que está prestes a fazer, ela sabe que fugir dos problemas nunca resolveu nada, quantas vezes a mãe lhe dissera aquela frase ou mesmo Pablo, mas ao mesmo tempo ela sabe que esta separação tem que acontecer. Ela precisa de encontrar uma forma de contar a Angélica todo aquele enredo entre o pai e Rosário, contar-lhe sobre Luzia mas acima de tudo ela tem que entrar em paz com o seu passado - tem que conseguir perdoar o pai.
Chegando ao Estúdio, apenas se ouve o som da banda dos rapazes que ensaiavam um novo tema, na cabine de gravação estavam Brenda e Pablo. Estão todos tao concentrados no seu trabalho que ninguém dá pela sua chegada, assim ela mantém-se no meio do átrio de entrada recordando tudo o que se passou naquele lugar: todos os anos em que fora aluna, o que aprendera com todos os professores; recordou António que agora pensando bem fora tantas vezes um pai para ela; o que sofrera ao perceber que poderia ficar sem a música, sem o Estúdio, o que depois de ficar sem Maria e sem Vilu teriam sido momentos complicados, tudo porque o pai não queria que Angie continuasse pelo mesmo caminho que Maria escolhera.
Depois da morte de Maria, Miguel não queria mais música perto dele e Angie pagara caro esse capricho do pai, que deixara de pagar o Estúdio. Valeu-lhe na altura a mãe que sabendo que a música era tudo o que restava a Angie foi falar com António e conseguiu que lhe fosse atribuído uma bolsa de estudo – a mãe sempre a ajudara ao longo da sua vida, como é que ela podia contar-lhe toda esta história de traição e de enganos.
Relembrou-se do momento em que António os convidou, a ela e a Pablo, no final do percurso de alunos para dar aulas no Estúdio, os dois amigos inseparáveis continuariam o seu trajecto profissional juntos. Foram, eram momentos inesquecíveis que ela revivia com saudade e com uma alegria imensa.
Pensando em tudo o que passara naquele lugar percebeu como tinha saudades de tudo: de estar ali simplesmente a olhar para aquelas salas agora vazias mas que durante o dia se enchiam de vida; sentia falta de dar aulas, da algazarra, das discussões dos miúdos, das pequenas e das grandes vitórias que todos eles iam alcançando...enfim sentia falta de tudo o que fazia daquele lugar mágico e único. Aquele era sem dúvida o seu lugar, o único lugar onde ela tinha sido verdadeiramente feliz. Encaminhou-se para a sala onde encenavam os espectáculos, o Zoom, e foi-se sentar no meio do palco, fechou os olhos e de repente era como se pudesse reviver tudo de novo: os ensaios para os Shows, a primeira vez que ouviu Vilu cantar, todos os momentos maravilhosos que viveu com ela, relembrou-se daquele momento em que cantara com Gérmen ao piano...como tinha sido mágico. De alguma forma estranha ao estar ali sentiu-se mais perto dela e de Gérmen.
Entretanto na sala de música Leon e a banda continuavam o ensaio, com Pablo e Brenda; de repente entra alguém, o primeiro a vê-lo é Maxi que dá sinal aos outros como que a perguntar se um deles conheceria aquele homem, contudo, nenhum deles dá uma resposta afirmativa por isso continuam o ensaio ignorando a sua presença.
No Zoom Angie encaminha-se para o piano tocando primeiro alguns acordes, e de seguida já sentada começou a tocar a melodia de uma das músicas de Violetta, começando a cantar:
"No, one knows what it's like?
Behind these eyes, behind this mask
I, wish we could rewind,
and turn back time To correct the past
Oh, baby, I wish I could tell you
How I fell but I can't 'cause I scared to
Oh, boy, I wish I could say that
Underneath it all I'm still the one you love
Still the one you're dreaming of
Underneath it all I'm missing you so much.
Baby, let's not give it up
Now, I'm lost in my mind
Don't want to hide, but I'm can't escape
I, I wanna a new start
Cause you're my true heart,
no more masquerades
Oh, baby, I wish I could tell you
How I fell but I can't 'cause I scared to
Oh, boy, I wish I could say that
Underneath it all I'm still the one you love
Still the one you're dreaming of
Underneath it all I'm missing you so much.
Baby let's not give it up
Quando José a vê nem pode acreditar que todo aquele tempo ela tinha estado tão perto e entra decidido a reaver Clara.
- Finalmente, sabia que te havia de te encontrar. Onde está Clara? Vim busca-la, onde está ela?
José começa a olhar à volta, procurando-a por todo lado, mas não a vê em lado nenhum. De início Angie fica algo nervosa, porém passado alguns segundos dá-se conta que José já nada lhe podia tirar, depois de Gérmen e Clara; depois de a afastar da sua família, aquela que com tanto esforço ela construiu já não sobrava muito mais que ele lhe pudesse arrancar da sua vida...a não ser pensou ela - aquele lugar. O Estúdio era a única alegria que ainda lhe restava; era o seu refúgio, sempre o fora...pensando bem era ali que ela sempre ia buscar as forças para continuar o seu rumo, bom tinha também Gérmen: um sorriso, um abraço, uma carícia, um beijo e Angie sentia que podiam vir tempestades, terramotos e marmortos que nada a fazia sentir mais segura que estar perto dele. Mas naquele momento já não tinha Gérmen para a fazer sentir segura, Angie não estava disposta a perder aquele lugar também...aquele lugar era seu. Era tudo o que lhe restava para conseguir continuiar em frente com a sua vida...uma vida sem Gérmen, sem Violetta e sem Clara.
- O que faz aqui? – José começa a revistar tudo, todos os cantos
- Vim á procura de Clara...
- Sim já percebi, mas porquê aqui?
Angie não percebia, ela sabia que ele andava á procura delas, mas como é que ele se lembrara do Estúdio, seria o último local onde Angie o esperaria ver. Podia ser apenas um mero acaso? Não Angie não podia crer...não com José. Mas como é que ele a descobrira ali?
- Foi um feliz acaso, se bem que eu não acredito em acasos...enfim eu quis conhecer o famoso Estúdio onde a Violetta se perdeu, por tua causa...e acabei por te encontrar, nem sei como não pensei nisto antes.
- Violettase perdeu? Por minha causa? - Angie nem podia crer no que ouvia.
- Sim, tu é que a incentivaste a cantar, Gérmen sempre o evitou...mas tinhas que vir tu e...
- Por muito que se lute contra há coisas que não se consegue vencer.
- Não percebo...sinceramente não percebo o que é que este lugar tem de tão especial. Bom, agora que cheguei acabou-se esta coisa da música, da dança, das aulas...
- Vilu tem a música na alma, nada nem ninguém poderia impedir de seguir o seu destino.
- Destino? O mesmo que a mãe teve? Não, não vou permitir, podes ter a certeza que não. Mas afinal onde está Clara?
- Do que está a falar, o que aconteceu a Maria foi uma fatalidade...um acidente...como é que seguindo o seu coração, o seu destino poderia algum dia magoar Violetta?
- Tu queres mesmo que te diga? Onde está Clara? – Insistiu José
- Quero. Porque eu não percebo esse seu ódio à música, a ver as pessoas felizes fazendo o que gostam. - José fica a olhar para Angie á espera que esta lhe diga onde está a neta, mas Angie não estava disposta a dizer mais nada.
- Onde está a minha neta? Onde está Clara?
- Onde deve estar...em casa dela...ao lado que quem lhe quer bem.
- A casa dela, o lugar de Clara é junto de mim...quer dizer...
- A casa de Clara é junto da família que a ama e protege: do pai, da mãe, da irmã e das duas avós. Não de um avô que quer destruir a sua família por causa de um ódio, uma raiva que não faz sentido.
- Não me podes falar assim...eu não te admito ouviste, não te admito...
- Não posso, não me admite...você tirou-me tudo o que eu tinha na vida: tirou-me a hipótese de ter um pai que me amasse, tirou-nos a hipótese de ver Vilu crescer convencendo o Gérmen a fugir, e agora tirou-me a família que nós os dois construímos.
- O teu pai...o teu pai sofreu pouco para o que me fez. Ele perdeu a sua filha querida por um capricho dele...e perdeu a neta...
- Por um capricho seu. O meu pai sofreu sim, e para si era o que mais lhe interessava: fazer o meu pai pagar algo que ninguém percebe bem o quê. Para si não lhe interessava que todas as outras pessoas que estavam à sua volta pudessem também sofrer, é isso não é, tudo vale numa vingança que nunca teve sentido.
Enquanto Angie e José continuavam a sua discussão a banda dos rapazes terminava o ensaio e saem da sala de música juntamente com Pablo e Brenda. Nessa altura entra Gérmen apressado, mas também algo ansioso.
- Gérmen, que fazes aqui? – Pergunta Pablo que não sabendo que Angie lá estava, não percebe o porquê de Gérmen estar ali.
- Vim ter com Angie, pediu para falar comigo. È um bom certo? Pelo menos quer falar?
- Sim, pode ser um bom. Mas eu não a vi entrar.- virando-se para os rapazes...- Meninos, viram Angie entrar?
- Eu não vi a Angie, mas vi entrar um "Senhor", até fiz sinal ao pessoal mas...pensando bem, malta, ele parecia-se consigo Gérmen...- Todos acenaram olhando ora para Gérmen ora uns para os outros.
- Comigo...? – Gérmen olhou para Pablo...que olhou para Gérmen
E de repente ouve-se a voz de um homem e a de Angie, parecia que estavam a ter uma discussão; quer Gérmen quer Pablo perceberam imediatamente quem era o "Senhor" que estava no Estúdio – era José.
- O teu pai...podia contar-te umas boas verdades sobre o teu pai. - Continuava José.
- Não percebe que todo esse rancor está a destruir os que estão á sua volta: o seu filho, as suas netas e...
- Estou a fazê-lo por eles...para que possam ser felizes.
- Você está cego, completamente cego. Não vê, não percebe que todos nós estamos a sofrer. A minha mãe, a mulher que você diz que amou...está disposto a fazê-la sofrer também?
- Angélica...ela também me traiu; ela escolheu-o a ele, ela traiu-me. Mesmo depois de saber que ele a traíra...nem assim ela o deixou.
- Ninguém escolhe por quem se apaixona. Que culpa tem a minha mãe de amar o meu pai...mesmo depois do que ele lhe fez.
- Chega! Estou cansado desta conversa que não chega a lado nenhum, onde está Clara?
- Já lhe disse que Clara está onde tem que estar, em casa dela.- Angie estava a ficar cansada da insistência de José...
- Clara vai comigo para Espanha...ela e Violetta, acabou-se este disparate de música, namoros e casamentos...
- Você é louco, só pode. Clara não vai a lado nenhum consigo, ela é minha filha e de Gérmen...e você não nos pode tirar a nossa filha.
- Não posso? Eu já a tirei minha menina, os meus advogados já estão a tratar disso; é uma questão de tempo.
- Não pode...não tem esse direito...você...- Angie sentia as lágrimas prestes a cair, mas nunca iria chorar à frente de José, não lhe iria dar esse prazer...nunca...
- Não tenho o direito? Tu és igual ao teu pai...
- Não, eu não sou nada igual ao meu pai...
- És sim, sempre com a mania das grandezas, da fama, do direito a tudo...a tua irmã, pelo menos ela foi mais esperta, ela entendeu o meu recado quando proibiu o vosso pai de fazer Violetta seguir o mesmo caminho...da música.
- Foi por isso que Maria foi contra a ideia de Vilu cantar. Claro agora faz sentido. Como pôde? Você...você é um monstro... – E nessa altura José perde a cabeça e levanta a mão para bater a Angie, mas por trás de José aparece uma mão que segura a sua, é Gérmen.
- Nem te atrevas papá... – E coloca-se á frente de José.
- Que estás aqui a fazer? E isto...- olhando para os rapazes, Pablo e Brenda que, entretanto, estavam já junto de Angie que estava visivelmente nervosa e ansiosa. Apesar de tudo nunca pensara que José fosse capaz de lhe bater, mas...de qualquer forma estava grata a Gérmen por ter aparecido na altura certa.
- Chega Pai, tu ias...bater em Angie! Eu nem acredito ao que chegaste...eu não posso crer.
- Esta...rapariga tirou-me do sério. Se tivesses ouvido o que ela me disse, não a defendias e davas-me razão.
- Eu tirei-o do sério? Eu é que o tirei...do sério...eu é que...você quer me tirar a minha filha, quer levar Clara para longe...e eu é que...
- Por favor Angie tem calma, não vamos a lado nenhum se não se mantiverem todos calmos...- Intervém Pablo que tenta de alguma forma acalmar os ânimos...mas Angie continua tao nervosa como antes...
- O teu pai, Gérmen disse-me que ia levar a MINHA FILHA...A NOSSA FILHA para o outro lado do oceano. E eu é que o tiro do sério!
- Disse e repito para todos ouvirem e não restar qualquer dúvida: Clara e Violetta vão comigo para Madrid. Assim que os meus advogados me consigam a guarda de Clara.
- Tu estás a ouvi-lo Gérmen...Clara é NOSSA filha...ele não pode...você não tem direito...ele não pode – Angie quase que lhe implora que lhe diga que aquilo não será possível...que ele não pode fazer aquilo.
- Violetta vai para Madrid? Não Gérmen, não pode deixar que ela ir...- Leon começa a ficar preocupado, agora que tudo parecia estar a correr bem com o seu namoro, com a banda...Gérmen não podia Violetta ir...
- Calma, vocês os dois, nenhuma das duas vai a lugar algum. Pai, já te disse que as minhas filhas vão ficar comigo em Buenos Aires.
- Elas vão comigo para Madrid, é óbvio que tu não as consegues educar e controlar. Olha só como está Violetta? Ela não era assim insolente, impertinente, irreverente...
- Não, ela não era nada disso tem razão...- interrompe Angie...- era uma miúda encerrada numa prisão. Não podia ter amigos, não podia sair sem ter alguém atrás dela...
- Ela era feliz...tinha tudo o que queria, não lhe faltava nada nem eu nem Gérmen lhe faltámos em nada, tinha tudo o que precisava...
- Feliz! Não lhe faltava nada? Tudo o que precisava? Ela não tinha o essencial: Amor. Nem sequer tinha o direito a falar da mãe e muito menos de saber que tinha uma outra avó e uma tia que a amavam.
- Ela era feliz...era educada e conhecia quem tinha que conhecer. E vocês não eram...não eram essenciais na sua vida...
- Não éramos essenciais? Nós éramos a família dela, eramos a única referência que ela podia ter de Maria.
- De uma mãe que a abandonou? De uma mãe que a trocou? Pela música...pela carreira.
- Não lhe admito que fale assim de Maria. Ela amava a filha...- Angie sentia as lágrimas a queimarem-lhe os olhos, mas ela não ia chorar, não perto dele, engoliu em seco...- Sabe, eu estou farta disto e ninguém me vai tirar a minha filha, para mim chega Gérmen.
- Angie! Angie espera. – Gérmen olha para José e vira-lhe costas, o pai fora longe demais; ele sabia que teria que falar com José mas naquele momento tinha que tentar falar com Angie. – Angie, por favor espera, vamos falar...precisamos de falar.
- Gérmen basta! Estou cansada, farta do teu pai e das suas vontades, dos seus quereres, das suas chantagens. Cheguei ao meu limite...
- Eu percebo-te a sério que sim, eu próprio estou assustado, desesperado mesmo...mas peço-te apenas cinco minutos. Podemos ir para a Sala dos Professores?
Embora algo reticente no início, Angie acabou por acompanhar Gérmen; enquanto isso Pablo, Brenda e os rapazes tentam fazer José sair do Estúdio, mas este mantém-se decidido a ficar até que Angie lhe diga onde está Clara. Ele não está disposto a sair dali sem saber onde está Clara. Entretanto na sala dos professores Gérmen pensa numa forma de mudar o rumo de toda esta confusão...mas não há por isso decide que está na hora de actuar e não de falar.
- Gérmen não há nada que me possas dizer ou...o teu pai ultrapassou todos os limites...ele...
- Eu sei...por isso não vou dizer nada para o defender, aliás não vou dizer nada. – E devagar vai-se aproximando de Angie, primeiro com uma carícia, depois um beijo na testa, até que finalmente a beija. Gérmen não sabe bem como ela vai reagir, mas mais do que palavras aquele beijo representa tudo o que ele sente por ela. Se no início Angie hesita a entregar-se àquele beijo, ao que sente: à paixão, ao amor imenso...passado algum tempo não tem como negar o que aquele beijo significa para ela e cede finalmente ao que lhe vai na alma. Acima de tudo apercebe-se que sente falta daquele beijo...sente falta de Gérmen. Nada mudou entre eles, nunca se deixaram de amar...ela ama-o e tem a certeza que ele a ama.
- Gérmen...não posso...por favor Gérmen, não podemos...
- Não podemos? Ou não queres? Angie...- e beijou-a de novo...e de novo Angie se deixou levar por aquele beijo que a preenchia: de amor, de felicidade, de prazer...ela não podia negar que o queria demais.
E apesar de ter a certeza sobre os seus sentimentos, e os de Gérmen, Angie sabia que não podia, não queria voltar a sofrer. E a verdade é que enquanto José estivesse no meio deles, com aquela chantagem, com todo aquele peso nos ombros...eles não podiam ser livres.
- Gérmen...não...chega...por favor – e afastou-se...contrariando tudo o que sentia naquele momento.
- Porquê? Se não me amasses Angie...se não me amasses. - E beijou-a de novo...e mais uma vez ela se deixou levar por toda aquela sensação que tudo fazia sentido, era mais forte que ela...- Mas isto, o que se passa connosco, o que sentimos é real. Não percebes que nos amamos por muito que o meu pai queira destruir o nosso amor?
- O problema não é o que sentimos Gérmen. Eu amo-te e vou-te amar para sempre...e sei que me amas, mas enquanto o teu pai...
- E então, vamos fazer o que ele quer? Cada um para seu lado, vamos fazer os que amamos sofrer? Já pensaste em Clara, em Vilu? Na tua mãe?
- É na minha mãe que estou a pensar...eu não consigo suportar a ideia de a ver sofrer...
- Angie...Vamos parar com isto. Amor...por favor...- e de novo a beija, como se daquele beijo dependesse as suas vidas.
- Gérmen...- diz Angie afastando-se dele...- Eu preciso de tempo, preciso de me afastar daqui, de colocar as ideias em ordem, pensar em como dizer tudo á minha mãe.
- Não sei se vais conseguir arranjar uma forma fácil de lhe contar tudo isto; porque acho que não há.
- Gérmen não é só o romance da tua mãe com o meu pai que tenho que contar é...uma vida inteira de segredos, de palavras que foram ditas.
- Eu sei, a minha mãe contou-me a vossa conversa...não, por favor não a condenes, ela apenas ficou surpresa com tudo o que ouviu. Porque é que nunca contaste nada. Percebo que não quisesses falar com a tua mãe, mas tinhas Maria. Porque é que nunca lhe contaste?
- Porquê...porque não queria que também ela sofresse, sabes bem como ela me protegia. Maria e a minha mãe eram as pessoas que eu mais amava, não as podia fazer sofrer.
- E então sofreste tu em silêncio, sofreste tudo isto sozinha...
- Sim...não, Pablo sabia de algumas coisas, nem a ele contei tudo, havia coisas que nem a ele conseguia contar...- Angie emociona-se e caiem-lhe algumas lágrimas que Gérmen limpa.
- Angie...- E abraça-a tentando de certa forma protegê-la de algo que já não podia, porém sentiu-a a juntar-se àquele abraço.- Eu não quero que sintas que te estou a pressionar, mas posso pedir-te um favor?
- Um favor? Gérmen, eu não...- Angie sentia que já não tinha forças, para mais nada...
- Violetta. Vai falar com ela, conta-lhe o que quiseres mas não te vás embora com Clara sem falar com ela.
- Gérmen...- e foi neste instante que ela se lembrou do porquê de o querer ver...- Eu não vou levar Clara, era sobre isto que eu queria falar contigo...
- Não a vais levar? Por isso...por isso a deixaste vir com a minha mãe, claro. E Violetta, vais falar com ela?
- Sim, eu sei que Clara vai ficar bem contigo, com Viu...eu preciso de tempo, de ficar sozinha sem pressão de ninguém. E sim, eu vou falar com Vilu, ela merece que eu fale com ela. Mas eu não quero que o teu pai saiba que lá vou...
- Não te preocupes eu trato dele. E Angie, posso fazer-te outro pedido? Não te demores muito com essa coisa do tempo. Vou ter saudades tuas...e lembra-te sempre que eu te amo.
- Eu também te amo...
E fixam-se nos olhos um do outro: ele nos olhos verdes esmeralda dela que ficavam mais brilhantes que nunca quando ela chorava, e ela nos seus olhos castanhos-escuros que emanavam uma luz incandescente sempre que olhava para ela. E de novo, apesar de ambos saberem que não podem ficar juntos pelo menos por agora, deixam-se levar pela paixão que os une. Nenhum dos dois quer sair daquela sala, daquela espécie de "bolha" onde o mundo lá de fora, toda a dor que sentem, todos os problemas que existem não pode entrar; mas eles sabem que eventualmente teriam que sair daquele mundo e que aquela "bolha" onde estavam protegidos iria ter que rebentar e que eles vão ter que se separar, por quanto tempo nenhum deles sabe.
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