Capítulo 7 - Memórias Esquecidas
Quando amanheceu Gérmen apercebeu-se que tinha adormecido no quarto de Violetta. Esta ainda dormia ao seu lado, sem fazer ruído ele sai e depois de se arranjar desce para o escritório, Olga que estava já na cozinha decide levar-lhe o pequeno-almoço ao escritório, sabe bem que nenhum deles tem conseguido comer ou mesmo dormir depois de todos estes últimos acontecimentos. Quando estava para o levar tocam á campainha, e ela vai abrir: era Rosário. Olga nem quer acreditar! Primeiro José, agora Rosário, estava tudo a acontecer ao mesmo tempo, era tudo muito complicado, muito confuso, muito tumultuoso e Olga fica como que assombrada. Rosário cumprimenta-a e pergunta-lhe por Gérmen, ela não consegue falar mas indica-lhe o escritório, esta percebe que Olga estava a levar o pequeno-almoço a Gérmen, pega na bandeja e pede a Olga que lhe prepare também um café, depois vira-se e bate á porta do escritório. Gérmen convencido que é Olga ou Ramalho manda entrar.
- Posso entrar Gérmen?
- Mamã! Mas eu pensei que tu não viesses...tu disseste que não vinhas.
- Sim e não era para vir mas a tua irmã, Luzia, convenceu-me.
- Luzia, convenceu-te? - Gérmen estava incrédulo...
- Sim. Eu contei-lhe tudo o que me disseste ao telefone. E bem podes agradecer á tua irmã por ser muito convincente quando quer. – Gérmen faz uma cara de admirado, zangado...confuso.
- E decidiste vir porque Luzia te convenceu...mas quando eu te pedi tu nem pensaste duas vezes e respondeste logo que não...e ainda queres que agradeça a Luzia...
- Gérmen, cena de ciúmes na tua idade...não achas que estás um pouco crescido para isso?
- Não são ciúmes, simplesmente acho incrível...só vieste porque a tua filha te disse para vires e quando fui eu, o teu filho, que te implorei pela tua ajuda, simplesmente me ignoraste me mandaste tratar eu do assunto.
- Ela apenas me disse que seria uma boa oportunidade para que todos, e incluo Angélica, saberem de tudo. E que tu precisavas da minha ajuda...mas se não queres volto para Sevilha...
- Não, desculpa mamã, eu estou cansado têm sido dias difíceis. E também já te disse que Angie nunca vai deixar que Angélica saiba de...de toda esta história entre ti e Miguel...ela ama-a demasiado.
- Agora sou eu que te digo que não é justo castigar Luzia. Ela quer-vos conhecer, estar com a sua família: contigo, com Violetta, com Angie, com Clara.
- Não me parece que isso vá acontecer tão cedo mamã. Desculpa, e sei que Luzia não tenha culpa mas têm que dar tempo a Angie.
- Por isso mesmo decidi vir. Não vim falar com o teu pai, nem contigo e muito menos com Angélica...vim falar com Angeles.
- Vieste falar com Angie?
E pegando numa foto de casamento de Gérmen e de Angie, relembra vários momentos do passado: aquela menina linda de cabelos loiros, olhos verdes...a correr, a saltar, a dançar, a cantar...parecia que fora ontem que a vira assim um anjo lindo...mas estava uma mulher linda e a expressão continuava igual toda ela inspirava uma doçura brilhante.
- Ela continua tão linda como eu me lembrava. Sempre teve este ar de anjo...mas era tão endiabrada...
- Tu ainda te lembras de Angie? Mas passaram-se tantos anos.
- Sim, mas há feições que não mudam...e Angeles não mudou nada, tem a mesma expressão que tinha quando era menina. Lembras-te quando ela caiu num natal e a árvore caiu em cima dela, e quando a tiramos de lá ela ria como se nada fosse.
- Sim, Maria ficou tão aflita...mas quando levantamos a árvore Angie ria...com as luzes todas embaralhadas naquele cabelo loiro...
- E estes olhos verdes, que nos inundavam de doçura, ternura candura, inocência até...continua com o mesmo olhar. Sabes onde é que ela está?
- Não sei, ninguém sabe. Não atende o telefone a ninguém, não sei dela. Estou a ficar doido...eu não consigo imaginar a minha vida sem ela...e Vilu está mal, Angelica está pior...
- E já a procuraste, falaste com os amigos?
- Sim mamã procurei por todo o lado. E falei com o Pablo, o diretor do Estúdio é amigo de infância de Angie, ele ia tentar falar com ela. Angélica acha que ele sabe onde ela está, mas...o que mais me preocupa agora é o papá...
- O teu pai claro, que é que ele fez agora? Ou melhor dizendo o que ele quer fazer?
- Ele anda á procura de Angie, quer tirar-lhe Clara. Quer levá-la a ela e a Violetta para Madrid.
- O teu pai quer o quê? Mas ele está pior do que eu pensava...
- Sabes como ele é, se for preciso consegue a guarda de Clara para ele. Mamã, eu estou a ficar doido com tudo isto...já não aguento mais...
- Não percebes que o teu pai vive com esse ódio há anos, e não consegue livrar-se dele...ou melhor não quer livrar-se. Sem esse ódio ele não tem nada, ele perdeu tudo: perdeu Angélica, perdeu-me a mim, perdeu-te a ti e a Vilu. Gérmen, temos que acabar com isto, Angélica tem de saber. Se retirares esse trunfo ao teu pai ele não vai poder fazer nada.
- Angie nunca o vai permitir. Mamã, Angélica é...tudo para ela. Quando Maria e Miguel morreram elas só se tinham uma á outra, apoiaram-se, ajudaram-se, têm uma ligação muito forte.
- Sim eu sei disso, foi muito duro: perderam Maria, e de certa forma também perderam Violetta.
- Porque fui egoísta e só pensei em mim...
- Sim isso é verdade. Logo a seguir Miguel morreu de forma estranha. Mas Luzia tem razão: vocês não têm que pagar pelos nossos erros.
- Sim nós não temos que pagar pelos vossos erros, mas a verdade é que sempre fomos nós que os pagamos. Sempre.
- Porque é que dizes isso?
- Lembras-te do que eu e Maria passamos? O que passamos para conseguirmos estar juntos?
- Sim, lembro-me bem. Este ódio, esta raiva, fez-nos sofrer a todos e está na hora de acabar com isto. Gérmen vocês já sofreram demais.
- Mamã, já te disse Angie preferiria dar a vida do que ver Angélica sofrer com toda esta história.
- Gérmen, onde posso encontrar esse Pablo? Nesse Estúdio? Dá-me a morada, eu quero falar com ele, porque quem vai falar com Angeles não vais ser tu, nem Angélica, e muito menos José. Sou eu.
Gérmen, em vão pediu-lhe para que não fosse falar com Angie, que ela seria a última pessoa com quem ela quereria falar, mas Rosário estava decidida, tinha que ser ela a falar ou ia-se embora de volta para Sevilha. Como não conseguia fazer a mãe mudar de opinião, decidiu oferecer-se para a levar até ao Estúdio, mas ela também não quis. Queria ser ela a resolver este assunto, e ou ele a deixava fazer as coisas á sua maneira ou ia-se embora de novo para Espanha. Gérmen não teve outra hipótese senão deixá-la fazer o que queria, pensou que pior do que estava não podia ficar.
Quando estavam a ponto de se despedir, tocam á campainha. Este abre a porta e vê Pablo, e foi como que se entrasse de novo uma luz no seu coração que estava escuro desde que Angie se fora. O facto de ele estar ali logo de manhã bem cedo só podia querer dizer que ele tinha conseguido falar Angie, mas teria ele conseguido convencê-la a voltar para casa? Teria ele conseguido que ela aceitasse pelo menos falar com ele? Gérmen estava tão nervoso, como se fosse um menino á espera de abrir o seu presente no Natal., mas antes de se dirigirem ao escritório apresenta-o a Rosário.
- Conseguiste falar com Angie? Ela vai voltar? Vou poder falar com ela? Pablo diz qualquer coisa...
- Calma Gérmen, sim falei com ela. Mas eu disse-vos, a ti e a Angélica que ia ser difícil, Angie é teimosa como só ela...igual a...
- Igual ao pai, Miguel. Sim se havia pessoa teimosa era o Miguel.
- Mas o que é que ela disse Pablo? Disseste-lhe o que o meu pai quer fazer? Ela vai voltar? Vou poder falar com ela?
- Gérmen, tu conheces Angie, ela nunca irá permitir que José conte alguma coisa a Angélica. E em relação ao resto...
- Mas tu disseste-lhe que ela pode ficar sem Clara...que se pelo menos eu soubesse onde ela está podíamos evitar que ele fizesse alguma coisa, que eu vou respeitar o tempo que ela precisa, que só não quero que o meu pai lhe tire Clara.
- Sim, eu contei-lhe tudo. Que tu apenas querias tentar resolver tudo, que não querias tirar-lhe Clara, mas ela diz que já abdicou de ti, que não ia abdicar de Clara, nem permitir que Angélica soubesse de alguma coisa.
- Eu sabia, eu sabia...ela nunca irá deixar Angélica sofrer...
- Pablo, posso chamá-lo assim? – E vendo que este não se opõe – Permite-me fazer-lhe uma pergunta?
- Claro diga...
- O Pablo sabe onde está Angie, não sabe? – Pablo ficou algo surpreso...- Pelo seu discurso parece-me que esteve com ela pessoalmente, será que estou errada?
- Não, não está. Eu sei...- e olhando para Gérmen...- desculpa não vos ter tido nada, e foi tão difícil mentir, principalmente a Angélica...mas eu tinha prometido a Angie que a ajudava.
- Eu percebo Pablo, quis ajudar Angeles, mas acho que agora já percebeu que para isso tem que nos dizer onde ela está.
- Sim e foi isso que cá vim fazer. Sei que Angie me vai odiar por fazer o que vou fazer, mas alguém precisa de a impedir de fazer uma loucura.
- De que loucura estás a falar Pablo? – Pergunta Gérmen assustado.
- De fugir, de desaparecer. Aí sim o teu pai teria razão, eu não a posso fazer isso...eu vou levar-te até onde ela está Gérmen.
- Não, vai-me levar a mim. Sou eu que vou falar com ela.
- Mamã, não acho que seja uma boa ideia. Se Angie não me quer ver a mim...muito menos te vai querer ver a ti.
- Gérmen tu tinhas razão no que disseste á pouco não podem ser vocês a sofrer pelos nossos erros. E sabe Deus os erros que nós os quatro cometemos ao longo destes anos todos.
- Mamã, não sei se Angie vai querer falar contigo, logo contigo: tu és a mãe de Luzia, a filha que Miguel teve da traição...desculpa estar a dizer-te isto assim mas é como Angie te vai ver.
- Luzia é vossa irmã, e de vocês todos é talvez a que menos culpa tem nisto. Angie vai ter que aceitar as coisas como elas são. Vamos Pablo?
- Eu não quero meter-me em assuntos que não são meus, mas eu conheço Angie há muitos anos, conheço-a melhor que Gérmen...
- Ouve o Pablo mamã...ele conhece muito bem Angie...
- Bom, e eu não acho muito sensato ir a Senhora falar com Angie. Como disse o Gérmen, ela vai associá-la a tudo o que levou a esta situação em primeiro lugar: o pai, a traição, a filha que nasceu, á chantagem que vocês estão a ser alvo, e mesmo á própria relação que ela teve com o pai antes e depois da morte de Maria.
- Estás a falar de quê Pablo? Que relação tinha Angie com o pai?
- Bem eu não vou entrar em pormenores, mas vamos dizer que não era das melhores e depois de Maria morrer ficou um pouco pior.
- Bem, concorde ou não, vou eu falar com Angeles.
Pablo olhou para Gérmen, que ao olhar para a mãe tão decidida percebeu que nada a faria mudar de opinião, assim deu um sinal a Pablo que fizesse o que a mãe lhe estava a pedir, e assim saíram os dois ao encontro de Angie.
Quando lá chegaram Pablo quis entrar com Rosário, ele achava que talvez fosse mais fácil para Angie tê-lo por perto se bem que ao mesmo tempo era capaz de o mandar embora com raiva por ele ter contado a Rosário e Gérmen onde ela estava, mas ela fê-lo ficar no carro, dizendo que aquele era um assunto entre elas e pediu para lhe dizer qual era o apartamento, deixando Pablo á espera.
Angie estava com Brenda que era agora a sua companhia durante os dias que estava fechada em casa, esta transformara-se numa boa amiga e ajudava-a com Clara para que Angie conseguisse descansar e dormir. Hoje porém Brenda estava lá em casa porque tinha combinado com Pablo, eles tinham receio que se Gérmen aparecesse sem que ninguém estivesse lá com Angie esta não lhe abrisse a porta, assim enquanto ele ia buscar Gérmen, ela ficaria com Angie de forma a garantir que a porta seria aberta a Gérmen. Quando batem á porta é Brenda que vai abrir com Clarita ao colo, ela sabe quem seria, pelo menos era o que ela pensava.
- Bom Dia, Angeles está?
- Aqui não mora nenhuma Angeles, deve-se ter enganado na porta. – Brenda não tem ideia de quem é Rosário, e muito menos sabe tudo o que aconteceu em casa de Gérmen, e que Pablo se acabou forçado a vir com Rosário em vez de vir com Gérmen.
- Eu sei que Angeles mora aqui, até porque reconheço a minha neta, pelas fotografias que o meu filho me enviou. Não se preocupe eu só quero falar com ela, não vim tirar-lhe Clara e muito menos vou dizer ao meu ex-marido onde ela está.
- Eu não sabia que...desculpe, entre. Eu estava só á espera de outra pessoa.
- Eu sei estava á espera do meu filho, pois eu sei. Mas vim eu...pode ir chamar Angeles por favor?
- Eu vou chamá-la, ela está a descansar. Mas não sei como ela vai reagir.
- Ela não vai reagir bem, eu sei. Mas não se preocupe eu só quero falar com ela.
- Com licença eu vou chamá-la...- Brenda deixou Rosário na sala...
Quando entra no quarto, Angie estava a dormir, acordou-a pedindo-lhe desculpa mas estava a avó de Clara na sala e queria falar com ela. Quando esta se inteirou que estava lá a avó de Clara pensou imediatamente em Angélica, e numa fração de segundo ocorreu-lhe que a mãe já saberia de tudo, depois do sacrifício que esta fizera, José fizera-o: contara a traição do seu pai. Não ela não podia acreditar, não era possível, Gérmen teria impedido ela tinha a certeza, mas que outra razão levaria a mãe a vir ter com ela, Pablo sabia que só se fosse uma urgência poderia contar onde ela estaria, e ela confiava em Pablo, mas pensando na conversa da noite anterior, teria sido ele capaz de ir contar tudo a Angélica? Não Pablo gostava demasiado de Angélica, ela era como uma mãe para ele, ele nunca faria nada para a ver sofrer.
Ao entrar na sala não foi a mãe que viu, era Rosário, a mãe de Gérmen. Ela lembrava-se bem dela sempre a tratara bem quando se viam nos anos de Maria, nos Natais e mais tarde nos anos de Violetta; e apesar de hoje perceber que tinha todos os motivos para tratá-la mal nunca o fizera. Hoje que sabia de toda a verdade Angie pensava que Rosário tinha todos os motivos para nunca ter gostado dela, mas nunca a mãe de Gérmen a tratara mal, pelo contrário sempre a tratara bem, nunca se esquecia dos seus anos fazendo questão de lhe oferecer sempre algum presente e de estar presente nas suas festas. Mas de qualquer forma Angie ficou petrificada, gelada não sabia bem o que fazer ou dizer, Rosário era claramente a última pessoa que esperava ver ali naquele dia.
- Angeles, estás igual...linda como me lembrava, e esses olhos que nos encantavam a todos. – Ao vê-la com um ar surpreendido mas também algo assustado Rosário esboçou um sorriso. – Não te preocupes não te vim ver para tirar Clara, apenas vim para falar contigo, e aproveito para conhecer a minha neta, que realmente é muito parecida contigo.
- Não percebo, que está a fazer aqui? Como soube onde eu estava?
- O teu amigo Pablo, ele foi falar com Gérmen hoje de manhã. - Angie olha para Brenda que continua com Clara ao colo, e depois para Rosário. - Eu também cheguei ontem de Espanha e estava precisamente naquela altura em casa de Gérmen a falar com ele sobre ti quando o teu amigo chegou, foi uma coincidência...
Angie olha de novo para Brenda sem perceber como é que Pablo fora capaz de ir falar com Gérmen, contar a Rosário onde ela estava. Ela confiara nos dois, mas ele...traíra-a.
- Como é que o Pablo...eu...eu confiei em vocês. Como...?
- Desculpa Angie, eu e o Pablo falamos e achámos que tu e Gérmen tinham que falar. Têm que resolver o que vão fazer sem que ninguém sofra, porque como estão as coisas todos vocês iram sofrer.
- Eu confiei em vocês. Em ti, em Pablo...e vocês foram a correr contar a Gérmen...e dizem-se meus amigos?
- Angie tu ias, tu vais ficar sem a Clara se continuasses assim...nós só te queríamos ajudar.
- Ajudar? Queriam ajudar...como?
- Angeles por favor, não te zangues com os teus amigos, eles fizeram-no com a intenção de te cuidar. E depois a tua amiga tem razão, temos que resolver tudo isto.
- Não é assim tão fácil. Quem me dera que fosse assim tão fácil...mas não é. Mas se acham que é assim tão fácil, dêem-me uma solução, em que ninguém saia a sofrer? - Nem Rosário, nem Brenda lhe respondem.- Sabem porque não dizem nada? Porque não há solução, no meio de toda esta mentira todos nós vamos sofrer de alguma forma.
- Não eras tu que estavas cansada de tudo: das mentiras, dos enganos e dos segredos...então, vamos acabar de uma vez por todas com esta história. Se retirarmos este trunfo a José ele...
- Não, a minha mãe nunca irá saber desta história, nunca. Se eu puder evitar que ela sofra eu farei o que for preciso...eu abdico de tudo.
- Por favor pode-me deixar falar com Angeles sozinha. – Diz Rosário a Brenda, uma vez que queria ter esta conversa sozinha com Angie – Pablo está lá em baixo, porque não vão passear um pouco com Clara. – E olhando para Angie que acena como que a dizer que consente, Brenda sai com Clara. – Por favor podemos falar?
- Eu não tenho nada para falar consigo Rosário. Se depender de mim a minha mãe nunca irá saber de nada disto, ela não merece sofrer mais.
- E vais sofrer tu, Gérmen e todos os que estão á vossa volta por erros que nós os quatro cometemos? Sim, porque erramos todos, até a tua mãe.
- A minha mãe? Foram vocês que a traíram, onde é que a minha mãe errou?
- Angeles, a tua mãe não é uma inocente nisto, a tua mãe sabia que o teu pai estava disposto a sair daquele casamento.
- O único erro foi talvez esse: não ter desistido mais cedo do meu pai. Ela amava-o...demais
- Não duvido...mas ela errou ao decidir fazer chantagem com o teu pai.
- Não, ela amava-o. Ela faria tudo por ele e por nós...ela nunca...
- Ela aproveitou o facto de o teu pai amar demasiado a tua irmã Maria. Ele estava disposto a deixar tudo e ficar comigo, mas a tua mãe disse-lhe que se o fizesse ficaria sem Maria.
- Não, ela nunca faria isso...ela nunca faria isso...- Angie não podia acreditar que a mãe fizesse algo assim...não a mãe não era assim.
- Mas é a verdade, não te digo que o tenha feito com más intenções, eu acredito que ela o amava e estava disposta a tudo para o manter com ela...que o fez por amor.
- A minha mãe nunca faria isso, ela amava o meu pai...ela nunca o iria pressionar a...não...
- Ela fez sim...e depois nasceste tu, parecias um Anjo. Angeles, nesse dia eu percebi que o tinha perdido para sempre. Se tu soubesses como os olhos dele brilharam quando te viram a primeira vez...
- Ele nunca...ele nunca quis que eu nascesse, eu sei, ele disse-me antes de morrer. Apesar disso era meu pai e eu amava-o...
Angie olha para Rosário, e caiem-lhe as lágrimas descontroladamente, sem querer ela lembra-se da sua infância com os pais, com Maria...ela fora feliz durante os primeiros anos da sua vida não o podia negar, mas ao fim alguns anos, Angie não sabia precisar quantos, havia sempre algo no pai que ela nunca conseguira decifrar: um olhar, um gesto, uma palavra que sempre deixava Angie inquieta. Fora apenas depois da morte de Maria quando o pai entrou naquele abismo, quando ele lhe negava toda e qualquer demonstração de afecto nessa altura ela começou a perceber o porquê de toda aquela frieza para com ela. Miguel sabia da existência de Luzia, embora Rosário pensasse o contrário, ele sabia que esta a tinha dado á irmã Mercedes para esta a criar.
Depois de Maria morrer a única preocupação de Miguel era encontrar esta filha, para substituir o buraco que Maria tinha deixado no seu coração, apesar de ter a Angie, o pai vivia obstinado para encontrar Luzia, era como se ela não fosse mais sua filha, ele esquecera-se completamente dela. Assim fez com que esta seguisse pistas não para procurar Violetta mas sim para procurar Luzia. Um dia Angie apercebeu-se desta obsessão e perguntou ao pai quem era esta Luzia e como esta poderia ajudar a encontrar Vilu. Miguel ficou fora de si, acusou-a de não querer ajudar, de apenas pensar nela, inclusive chegou a dizer que ela não era sua filha. Angie sofrera em silêncio, pois nunca contara á mãe o que o pai lhe dizia, apenas Pablo sabia de algumas coisas, este era já nesta altura o grande amigo e confidente de Angie.
- Ele sabia de Luzia, mas como? Como é que ele sabia, eu nunca contei a ninguém? Aliás José só o soube á uns anos.
- Não sei como é que ele sabia, talvez ele a conhecesse bem para saber que nunca abandonaria a sua própria filha.
- Sim talvez, não há aí qualquer coisa que não está certo, o único que sabia da existência de Luzia era Gérmen, e mesmo ele apenas sabia que eu a tinha entregue a uma amiga.
- Eu não sei como ele soube, e viveu obcecado por a encontrar, era única coisa que o fazia viver.
- E tu, tu sabias? Tu sabias que quem estavas à procura era tua...
- Não, eu sabia que era alguém importante para o meu pai, nada mais. E de certa forma era a única coisa que ainda o fazia feliz...
- Mas nunca a encontraste, e o teu pai acabou por morrer sem a conhecer...e agora descobriste que ela é tua...
- Só no outro dia depois de ouvir o que ouvi e pensar no que o meu pai me pediu antes de morrer é que juntei as coisas.
- O que é que Miguel te pediu? Tinha alguma coisa a ver com Luzia?
- Sim. Pediu-me para a encontrar, pediu-me que não contasse nada á minha mãe e pediu-me que a amasse como amei Maria.
- E tu nunca mais tentaste procurá-la, depois do teu pai ter morrido. Não pensaste no porquê de ele te pedir para a amares como a Maria
- Não, não tinha porquê. Eu queria encontrar Violetta, era isso que eu a minha mãe queríamos desde o dia em que Gérmen nos arrancou da vida dela. E depois...depois do que...
- E depois o quê? Angie o que aconteceu depois?
Nessa altura Angie não aguentou mais as lágrimas, e continuou a contar o que o pai lhe dissera quando ela o encontrou no chão. Ele nunca quisera continuar com a Angélica, apenas ficara com ela por causa de Maria, que se tivesse sido Homem não teria abandonado Luzia, e não teria abandonada a mulher que amava. Que ela nunca teria nascido se ele tivesse seguido o seu coração, que de certa forma ela era a imagem do que ele tinha abandonado, do que ele renunciara por algo que já nada significava para ele, a única coisa boa que o manteve durante anos era Maria e a sua carreira. Mais tarde quando Violetta nasceu Miguel transpôs esse amor que sentia pela aquela filha que nunca chegara a ver para aquela menina. Angie percebeu naquela altura porque é que o pai sempre fora mais frio com ela do que com Maria...era como se ela não existisse, havia apenas alturas, pequenos momentos em que ela sentia que o pai a amava...porque ela representava a filha que ele abandonara.
- O teu pai...ele amava-te, ninguém que o visse contigo o podia negar.
- Não, o meu pai via-me como aquela que o fez perder a "outra" filha, a vossa filha. Sempre senti que ele me tratava de forma diferente de Maria, mas sempre pensei que era por estar envolvido com a carreira dela e não ter tempo, por estar demasiado cansado.
- Angeles, ele amava-te. Eu conheci bem o teu pai, e o brilho que ele tinha nos olhos quando olhava para ti.
- Não hoje eu sei que não era nada disso, ele nunca me quis...e o que mais me dói, é que apesar de tudo eu não conseguia, nem consigo deixar de o amar.
- Miguel podia ter muitos defeitos mas nunca iria renegar a sua filha...não ele não era capaz disso.
- Ele disse-mo, ele disse-mo com todas as letras: "Eu pedi tanto á tua mãe para não te ter. Eu pedi...eu não queria. Não depois do que eu lhe fiz, eu portei-me como um monstro com ela, não devias ter nascido."
- O que ele fez? Mas o que e que ele fez?
- Não sei...ele nunca me chegou a dizer...mas...estas palavras ficaram gravadas todos estes anos dentro de mim, como uma ferida que não sara...
- Angeles, não cometas os mesmos erros que nós cometemos. Vamos acabar com isto de uma vez por todas, tu achas que a tua mãe não está a sofrer? Posso assegurar-te que está porque está longe de ti e sem saber o porquê.
- Mas vai sofrer ainda mais se souber, como é que eu posso ser feliz se a minha mãe estiver infeliz.
- Eu percebo-te, tu amas a tua mãe é normal depois de tudo o que sofreste, todas as desilusões que tiveste com o teu pai. Mas eu conheço bem o marido que tive, ele não vai desistir; enquanto tiver este trunfo ele não vai desistir. Vais ficar escondida para sempre?
- Não sei...talvez. Mas eu não posso contar nada, eu não consigo...
- Sabes que o José te quer tirar Clara, e não te iludas ele vai consegui-lo, ele tira-te Clara num abrir e fechar de olhos. Por favor pensa bem no que estás a fazer.
- Não percebem eu não consigo...não posso fazer isso á minha mãe.
- Angeles pensa em Angélica, pensa em Luzia.
- Em Luzia...porque é que eu tenho que pensar em alguém que...não conheço...alguém que...
- Angie, Luzia não tem culpa de nada disto, somos todos parte da mesma família, e ela também quer fazer parte dela, ela é tua irmã.
- Ela não é minha...eu só tive uma irmã, uma que foi Maria, e já morreu.
- Por muito que não queiras ou não aceites ela é tua irmã. Angeles, não é justo para ela estar longe da família: dos irmãos, das sobrinhas.
- E é justo para mim decidir se abdico do amor da minha vida ou faço aminha mãe sofrer?
- Não. Não é justo, claro que não. Mas porque é que não dás uma hipótese a ti mesma e a Luzia...
- Não, eu não a quero conhecer, não quero...- e as lágrimas voltam a cair-lhe...- eu só queria esquecer, tudo isto parece um pesadelo...e eu quero acordar...quero acordar e ter Gérmen ao meu lado...
- Eu até te posso perceber, mas quanto mais negares a realidade mais difícil vai ser tudo isto.
- Porquê? Porque é que tinham que aparecer e arruinar tudo, depois do que eu e Gérmen lutamos contra o que sentimos, nós eramos felizes tínhamos uma família com Clara e Vilu.
- E podem continuar a tê-lo. Angeles...
- Não...eu não vou conseguir ser feliz ao saber que a minha mãe está a sofrer...
- Eu acho que tu no fundo não estás zangada comigo nem sequer com José, estás zangada com Miguel, por tudo o que te fez sofrer no passado mas principalmente porque te continua a fazer sofrer.
- Não, ele era meu pai, eu amava-o. Apesar de tudo o que ele me fez eu amava-o.
- Angeles? Não percebes, tu nunca perdoaste o teu pai, apesar de achares que sim que tudo está no passado.
Nesta altura Angie apercebe-se que Rosário tem alguma razão no que diz, levanta-se e olhando pela janela consegue ver Pablo e Brenda brincando com Clara. Sim, era verdade, ela estava zangada com o pai, por tudo o que ele fez no passado e lhe está a pesar agora nos seus ombros.
Angélica estava a sofrer porque não sabe o que se passa, porque ela fugiu, porque ela decidiu que não a quer ver sofrer, mas a verdade é que na realidade, naquele momento todos eles estão a sofrer. Mas voltar significava que a mãe iria ficar a saber de tudo, e não seria apenas da traição do pai, ou da existência de Luzia; não Angie teria que lhe contar tudo, o que o pai lhe dizia quando estava alterado de tanta tristeza, mas principalmente o que ele lhe dissera nos últimos minutos de vida.
- Eu preciso de pensar. Sei que tem razão que estão todos a sofrer, e que está na hora de me livrar deste peso que carrego há anos. Mas preciso de tempo, quero ser eu a falar com a minha mãe.
- Tudo bem, eu compreendo. Posso pedir-te apenas uma coisa?- Angie olha para ela á espera do que ela quer.- Posso levar Clara para estar um pouco com Gérmen e Vilu? Eu prometo que a trago de novo.- Angie vira-se de novo para olhar Clara pela janela e de repente não teve dúvidas sobre o que tinha que fazer.
- Sim, sim acho que será bom para ela também.- E virando-se de novo para Rosário...- Eu vou só arranjar algumas coisas.
Angie vai até ao quarto e prepara o saco de Clara, ela irá contar tudo sim, mas não está preparada para enfrentar mais ninguém com tudo o que vai dentro de si, ela percebeu isso quando olhou para Clara, por isso tomou a decisão de abdicar também da filha. Ela precisava de perceber o que sentia, o que queria. No fundo ela sabia que Rosário tinha razão em tudo o que dissera: a raiva, a mágoa a dor que sentia não era com José, nem com Rosário nem mesmo com aquela irmã que ela não conhecia - era com o pai. O pai que ela amara mais do que ele próprio alguma vez a amara a ela, o pai que ela sempre admirara, o pai que a magoara tanto mas que ela nunca conseguira deixar de amar, mas que também não conseguira perdoar. Assim naquele instante em que olhara para Clara, percebeu que tinha que se afastar de tudo e de todos, ela precisava de se encontrar a ela própria, ela tinha que se reconciliar com o seu passado. Pegou num papel escreveu umas linhas e colocou-o no saco de Clara, pegou nele e na cadeira auto e entregou-os a Rosário.
- Obrigada Angeles, por me deixares levar Clara.
- Eu nunca quis, nem quero separá-la de Gérmen, nunca faria isso. Não depois do que eu a minha mãe passamos com o afastamento de Violetta.
- Eu sei que não. E agradeço-te pela confiança que me estás a dar.
- Posso pedir-lhe um favor em troca. Sei que talvez seja pedir muito...
- Não podes pedir.
- Pode entregar esta carta a Gérmen. Eu amo-o e espero que ele o saiba.
- Gérmen sabe-o, e eu sei que ele te ama a ti. – E abraça-se a Angie, Rosário percebia depois daquela conversa o tão difícil tudo aquilo era para ela...- Bom, vou andando...mais uma vez obrigado.
Angie ficou assim sozinha, e foi nessa altura que se deu conta: estava completamente só: sem nada, sem ninguém. Abdicara primeiro de Gérmen, para proteger a mãe e agora iria abdicar de Clara para que todos sofressem um pouco menos, mas e a ela quem a iria proteger? Quem é que a faria deixar de sofrer? E de novo a mesma sensação que lhe ocorrera tantas vezes: aquela mágoa, aquela dor, aquele fardo em cima dela que tantas vezes lhe pesara nos ombros.
E depois de algum tempo como que anestesiada, em que nada parecia real mas que ao mesmo tempo parecia ser a verdadeira realidade ouviu Pablo e Brenda entrarem, ele estava visivelmente ansioso, não podia acreditar que Angie tivesse deixado Rosário levar Clara, depois do que ele fizera para tentar que ela voltasse para casa? Ele sabia que a ideia de vir a mãe de Gérmen não tinha sido a melhor, tinha que ter insistido em que viesse Gérmen e não a mãe. Ele tinha a certeza que com Gérmen a conversa tinha sido outra, que eles teriam arranjado uma forma de resolver tudo, Angie não iria conseguir ficar longe de Gérmen, eles amavam-se e bastava ela sentir esse amor para voltar. De certa forma ele tinha-a deixado ficar mal.
- Angie, tu deixaste Clara ir? Diz-me que não...
- Eu deixei Clara ir ver o pai e a irmã. Pablo...Brenda, se não se importam eu quero estar sozinha.
- Estás zangada, e sei que sim. Eu não a queria trazer a ela, eu queria que viesse Gérmen. Eu tinha a certeza que quando tu percebesses que o vosso amor era maior que todos os problemas voltarias para os braços de Gérmen. Mas quando cheguei lá a casa...
- Pablo...eu fiquei um pouco chateada sim não te vou mentir, mas já me passou. Sei que o fizeste a pensar em mim, eu sei disso. Mas por favor neste momento eu preciso de estar sozinha.
- Mas Angie...eu...
- Pablo vamos. Angie se precisares de alguma coisa diz, por favor.
Assim que eles saem, ela começa a arrumar as suas coisas. Desta vez ninguém iria saber para onde ia, precisava deste tempo sozinha sem ninguém a dizer-lhe o que fazer, sem ninguém a ameaçá-la de alguma coisa. Estava livre, livre como uma ave que esvoaça os céus sem limites, sem rumo; mas ao mesmo tempo sentia que estava a abandonar Clara e Vilu. Era como se a tivessem ferido e embora voasse livre, o seu voo era incerto. A carta que escrevera a Gérmen era apenas o início, antes de tudo, antes de se dar a ela própria esse tempo que precisava para se reencontrar ela iria falar com Gérmen, ele merecia essa conversa e Angie não queria partir sem lhe dar uma explicação; depois teria que ter talvez o diálogo mais difícil da sua vida com Angélica.
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