Capítulo 21 - Epílogo 3
Angie, Vilu e Clara continuam abraçadas, sentadas no chão. Estão numa bolha só delas, com lágrimas a cáirem que nem pingos de chuva, mas sorrindo entre elas. Naquele momento é como se apenas existissem elas as três ali naquele lugar, ou no mundo mesmo.
- Mama...mama...
- Estou aqui minha princesa, a mamã nunca mais te vai deixar...eu prometo. Estás tão grande, eu perdi o teu primeiro passinho minha princesa...
- Por acaso não perdeste...- Vilu ri-se e olha para Angie...- Quem perdeu foi o papá, foi a primeira vez que ela andou sem ter alguém pegando nas mãozinhas...
- Estás a falar a sério?- Vilu acena...- A minha princesa guardou este momento para mim...
- O papá vai ficar com ciúmes, mas ele podia ter vindo...- Vilu fica com um olhar estranho, não é de raiva, talvez de desapontamento...
- Vilu. A tua avó está numa cama de hospital, sem se saber se...é a mãe. Coloca-te no lugar do teu pai, se fosse a tua Mãe, se fosse Maria...tu ias deixá-la, havendo a hipótese de ela partir e tu estares longe.
- Sei que têm muito que conversar, mas podemos ir para vossa casa?- diz Roberto.
- Sim...vamos...- e de repente Angie começa a olhar para Leon, Fred, Ludmila...como é que vão morar 7 pessoas num apartamento onde só tem 3 quartos, e ainda tem os gémeos...- Só não sei onde vamos dormir sete pessoas naquela casa...
- Não te preocupes com isso, porque já foi resolvido esta semana.- diz Milagros sorrindo para a sobrinha.
Sobem à vez no elevador, primeiro Angie com Clara, Vilu, Leon, Martina e Milagros. No outro vinham Cristina, Roberto, Ludmila, Fred e Juan. Assim que entram em casa Angie senta-se no sofá sempre com Clara ao colo, a pequena não a larga nem por um segundo, Vilu senta-se ao lado da Tia, e os outros vão se sentando ou mantendo-se de pé.
- Então como vamos fazer com as dormidas? Os quartos aqui estão ocupados, eu estou num a Martina está noutro e a Angie noutro...- Angie que continua com Clara ao colo, que entretanto adormeceu com os mimos da mãe, olha para a Tia Milagros.
- Como eu disse lá em baixo, está tudo resolvido...- Milagros olha para Ludmila...- O apartamento aqui da frente está livre, e eu achei que vocês jovens gostassem de ter um espaço só vosso.
- Sério?! Mas como é que vamos pagar isso...quer dizer este é da Angie, mas...
- Não te preocupes...eu conheço bem o dono e tenho a certeza que ele até vos paga para vos ter perto dele...
- Tia! O apartamento é do Avô Nico?
- Sim...ele comprou-o há anos para a Paula, mas ela preferiu continuar connosco...e tenho a certeza que ele vai adorar por saber que vai ser usado pelas bisnetas...
- Eu queria ficar contigo Angie, iria sentir-me de vela com a Lu e o Fred...- Vilu aninha-se em Angie...
- Pensei que quisesses ficar com o teu namorado...mas...- diz Milagros.
- O Leon vai ter que voltar para Buenos Aires, então...- Vilu deixa uma lágrima cair, e Leon olha para ela...
- Não fiques assim, o Leon não se vai embora hoje, então vão os quatro para o apartamento aqui da frente ter uma noite só vossa. Depois quando o Leon se for embora, vemos o que fazer, combinado?
- Sim...- Vilu diz, porém nada animada.
- Então já que está tudo combinado eu e o teu tio vamos indo. Combinamos com a tua tia no fim de semana irem lá a casa almoçar, vamos finalmente ter a família toda junta.
- Tia, não sei se é boa ideia. E se a...
- Está descansada, ela vai para a fazenda. Ela convidou-nos, mas a tua tia insiste...
- Nem continues essa frase Roberto Castillo.- Cristina dá um olhar de fúria para o esposo e dirige-se para junto de Angie...- Adeus meu anjo, falamos melhor amanhã...é uma pequena Angie esta princesa...- diz ao olhar para Clara que dorme tranquila ao colo da mãe...- E tu, és a imagem de Maria, e quero saber tudo de ti...
Roberto despede-se todos, vai até Martina e diz-lhe algo ao ouvido que a faz sorrir. E assim vão se embora. Ludmila decide junto de Fred arrumar as suas coisas para se mudar, e Milagros combina com Angie, Vilu e Martina um almoço no dia seguinte para que Nicolas conhecesse as bisnetas.
Quando os jovens estão prontos para se mudarem, Milagros sai com eles. Violetta no início ficou meio reticente, por um lado queria ficar com Angie e matar todas as saudades que tinha, por outro seria talvez a última noite com Leon durante algum tempo. Angie ao perceber a sua hesitação, incentivou-a a ir com os mais novos, elas teriam muito tempo para matar a saudade. E assim saíram os quatro com Milagros, deixando as primas sozinhas com a pequena Clara.
- Ela é linda...e a minha mãe tem razão parece-se muito contigo em bebé.
- E como é que tu sabes?- Angie ri-se para a prima...
- A mãe tem um monte de fotografias tuas e da Maria espalhadas pela casa. Para além de um dossier com tudo o que saiu de notícias da Maria. O tio separou-nos, mas a fama de Maria pelo menos dava-nos a hipótese de ir sabendo que vocês estavam bem.
- Continuo sem perceber porque é que o pai nos impediu de continuar a falar convosco. No início eu perguntava quando é que nós podíamos voltar, depois passei a pedir para falar convosco. Mas um dia ele zangou-se a sério, ia-me batendo, se não fosse a Maria a impedir...
- Eu também nunca soube o porquê. Perguntei algumas vezes ao meu pai, porque a minha mãe ficava sempre triste quando nós perguntávamos, principalmente a Sol. O senhor Roberto desconversava sempre e com promessas de doces, ou idas ao parque lá nos deixava sem resposta.
- A tia disse que eles tinham ido ao enterro de Maria, eu não me lembro.- Angie olha para Martina...- Vocês foram com eles, ou...
- Não. O Juan estava a acabar o doutoramento e noivo da Marina, estava a mil; eu estava na faculdade, em época de exames, decidiram dizer-me só depois do enterro, e a Sol era muito nova. Quando regressaram e nos contaram o Juan ficou de rastos, de nós os três foi o que mais sentiu.
- Eu lembro-me de algumas coisas, mas não me lembro de ver os tios...
- O teu pai não os deixou aproximar-se. Nem os avós puderam ir...a minha mãe diz que eles morreram de desgosto.
- Eles morreram depois de Maria?
- Sim, passado um ano e pouco...- Martina diz...- Eles ficaram arrasados com a morte de Maria, porém, eu acho que o que os matou foi o que o tio lhes disse...- Angie ia falar...- e nem vale a pena perguntares o que foi, porque eu não sei. A avó Tina apenas me disse que nunca esperou ouvir de um filho o que ouviu do Tio Miguel.
- O meu pai morreu um tempo depois deles. Foi naquele dia que eu fiquei a saber de Luzia...ele se foi nos meus braços...- Angie chora, ela deixa que as lágrimas que sempre guardou desde aquele dia...- eu estou a chorar e nem sei porquê.
- Angeles, era o teu pai. Por muito que ele tenha errado, era o teu pai e amava-te.- Angie levanta o olhar para a prima...- Não me olhes assim, talvez não o demonstrasse, ou o fizesse de forma errada, mas todo o pai ama o filho.
- O meu pai nunca me amou prima, naquele dia, no seu ultimo sopro de vida...ele disse-me com todas as letras: "Perdoa-me, eu nunca te quis. Tu foste um erro. Tu és a única coisa que me arrependo de ter feito na vida."
- Angie...eu...eu nem sei o que te diga...- Martina abraça-se a Angie...- Eu nunca gostei do Tio Miguel, ele sempre foi meio que um bicho papão para mim. A mãe chorava muito, por causa do afastamento dele, e os avós sempre o defendiam deixando a mãe e a Tia Esperança chateadas.
- Eu nunca percebi porque é que ele me disse aquilo. Quando soube de Luzia, porque ouvi uma discussão entre Gérmen e o José , eu fiquei de rastos. Nem era por mim, mas pela minha mãe. Eu já não esperava nada de bom do meu pai, acho que no fundo nunca esperei, no fundo sempre soube que ele não me amava. Mas a minha mãe...ela nunca poderia saber de Luzia. Então decidi ceder à chantagem do José, e fugi com Clara na manhã seguinte. Porém antes, estes dois pequenos foram feitos com muito amor...
- Meu Deus, tu....e quando é que soubeste? Quando é que descobriste?
- Eu só soube quando voltei para Buenos Aires para falar com a minha mãe sobre a Vilu. Mas acho que a Chica desconfiou...- Martina olha para Angie com um olhar de quem pergunta quem é essa...- A Chica é a empregada na casa da Tia Mercedes, irmã da Rosário.
- E essa Luzia? Ela...como é que ela é? Vocês dão-se bem?...- Martina para um pouco, franze a testa...- É tão esquisito, ela é tua irmã e da Maria...mas é irmã do Gérmen...e é tua cunhada e do Gérmen...ela é minha prima e...
- Não foi fácil esse parentesco todo, mas a Luzia é alguém especial. E é a cara da Maria...são tão parecidas, até no jeito de ser. Ela é casada, tem 4 filhos: A Tati, o Miguel, a Sofia e o Tomás. A Tati não é filha dela de sangue, ela é filha da primeira mulher do Luís, que infelizmente faleceu no parto. Eles conheceram-se no hospital, e ela apaixonou-se pela menina...e depois bem acabaram juntos e felizes.
Martina fica a olhar para Angie, e as primeiras lágrimas caem dos seus olhos. Ela levanta-se e vai até à janela. A história de Luzia é tão parecida com a sua, a única diferença é que não teve o final feliz, e ela perdeu os dois. Angie, decide ir colocar Clara na cama, coloca algumas almofadas à volta de forma a que esta não caia e vai ter com a prima que continua no mesmo sitio.
- Queres desabafar?- Martina olha para a prima, ela nega e Angie apenas a abraça...- Sabes se precisares eu estou aqui...
- Eu sei pirralha...- e sorri abraçando Angie...- Eu...passei por algo parecido, só que a minha história não teve um final tão feliz assim.
- Não precisas de me contar se não quiseres...pela tua expressão já percebi que é algo que ainda te dói...
- Muito...eu entrei em depressão...e fiz coisas que até hoje não consigo perceber como tive coragem. E o pior é que...- e de novo as lágrimas lhe fogem...e ela apenas se entrega à dor...
Angie percebe que a conversa acabou por ali, e apenas se deixa abraçar. Leva a prima para o quarto, deitam-se as duas. Martina deita a sua cabeça nas pernas de Angie e deixa-se ser acarinhada por ela. Aos poucos vai acalmando o choro e adormece.
Angie fica mais um tempo ali até ter a certeza que a prima dorme tranquila, e só depois sai para o seu quarto para junto da filha que dorme serenamente. E por fim depois de um dia de enormes emoções ela finalmente tem algum descanso. Clara está consigo, José está longe e não sabe onde estão, e mesmo que descubra ela sente-se segura sabendo que o Tio roberto e a tia Milagros a iram proteger.
Amanhã era um outro dia, e teria tempo para resolver todos os problemas que naquele dia lhe tinham aparecido: a ida de Leon para Buenos Aires e a história misteriosa de Martina. Sim amanhã era um novo dia...tal como diz aquela musica...
O sol vai sair, amanhã
Aposta teu último dólar que amanhã, vai haver sol
Pensa só, amanhã
Limpa as teias de aranha e a amargura,
Até não sobrar nenhuma.
Quando estou presa no dia, que é cinza, e solitário,
Eu ergo o meu queixo e digo:
O sol vai sair, amanhã
Então tens que aguentar até amanhã,
Aconteça o que acontecer,
Amanhã, amanhã, eu vou te amar amanhã,
Estás sempre a um dia de distância
O sol vai sair, amanhã
Então tens que aguentar até amanhã,
Aconteça o que acontecer,
Amanhã, amanhã, eu vou te amar amanhã,
Estás sempre a um dia de distância,
Amanhã, amanhã, eu vou te amar amanhã,
Estás sempre a um dia de distância.
Amanhã, amanhã, eu vou te amar amanhã,
Estás sempre a um dia-de-distância!!!
Sim. Amanhã é sempre um novo dia. Porque o amanhã é incerto, tudo pode acontecer. Até um milagre. Amanhã é outro dia, amanhã tudo pode mudar, amanhã é dia de tentar mais uma vez. Porque na verdade, o amanhã é sempre melhor que o hoje.
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