Capítulo 19 - O Plano começa a Ruir (continuação 1)
Gérmen, sabe que ir ter com Angie é o melhor a fazer. Rosário nunca poderia fazer uma viagem de horas, mesmo com num jato privado e com todas as condições necessárias era demasiado arriscado. Mas, estava a consumi-lo não conseguir ir vê-la nem que fosse por um segundo.
E embora ele tenha tido que iria para Rosário, o seu coração estava dividido. Angie estava rodeada por pessoas que a iriam defender fosse do que fosse. E a mãe...ele podia não a ver nunca mais...pega no telemóvel e decide ligar para quem lhe pode acalmar o coração. Ela é a única que lhe poderá dar uma luz, mas infelizmente o telemóvel está desligado. Lembra-se então de um outro numero e liga...toca...e ele espera ansioso...
"- Estou..."- alguém muito sonolento diz...
"- Lu, desculpa. Sei que aí ainda é madrugada aí, mas eu preciso falar com a Angie..."
"- Gérmen!? Aconteceu alguma coisa? Sabes que a Angie não pode..."
"- Eu só quero falar com ela...eu não dormi nada esta noite. Eu preciso ouvir a voz dela...e eu não aguento mais..."- o telemóvel fica silencioso...
"- Gérmen, tu tens ideia das horas que são aqui? São 02h00 da manhã..."
"- Eu sei...por favor Lu...eu preciso de ouvir a voz dela..."
"- Tudo bem, vou acordá-la. Mas cuidado com o que dizes..."- ouço barulho, acho que ela está a ir acordar o meu amor, a minha esposa...- "Angie...Angie...Ei! Desculpa, mas existe um ser irritante aqui no telemóvel que quer falar contigo..."
"- O quê? Quem...?"- percebo que ela acorda meio confusa, mas Ludmila também não facilita...
"- Um ser irritante chamado Gérmen Castillo quer falar contigo..."- ouve-se uma pequena gargalhada, e sei que é da minha mulher...-" Agora sei de onde Vilu herdou a impulsividade..."
"- Angie...amor..."- digo ansioso por ouvir a sua voz...
"- Gérmen. Está tudo bem? Diz-me que não aconteceu nada, por favor...diz-me..."
"- Está tudo bem. O meu pai soube que estamos em Sevilha, mas a Luzia ajudou-nos. Estamos escondidos, mas estamos bem e estamos todos juntos. Amor, como estás? Os Bebés?"
"- Eu estou bem...eu tive um pesadelo, eu acho que pressenti que vocês estavam em risco. enervei-me e comecei a sangrar...depois eu não me lembro de mais nada eu acho que desmaiei. Mas agora estamos bem, nós os três..."
"- Já soubeste da minha mãe?..."
"- Sim, o Tio Roberto veio falar comigo antes de ir para casa. Gérmen, eu vou perceber se tu quiseres ficar por aí...mas eu tenho medo que ele acabe por te encontrar...e leve..."
" Eu não sei o que fazer Angie. Por um lado eu quero estar contigo, com as nossas filhas, os nossos bebés, mas..."
"- Mas não queres deixar a tua mãe...Gérmen, eu percebo-te. Fui eu que quis vir para Buenos Aires para falar com a minha mãe. E mesmo depois de saber o que ela está a fazer eu não a consigo odiar, ela é minha mãe..."
"- Angie...eu não quero que as meninas fiquem aqui, ele sabe que elas estão em Sevilha. E aí eu sei que o Tio, não vai deixar o meu pai chegar perto...então eu pensei..."
"- Vais mandar as meninas, mas tu vais ficar. É isso não é?"
"- Desculpa amor, mas eu não consigo deixar a minha mãe, eu estou com medo de a perder, eu estou com medo de estar muito longe se o pior acontecer..."
"- Gérmen, eu até te entendo. Juro que entendo..."
"- Mas..."
"- Mas um lado meu quer que tu venhas para perto de mim..."- ouço um soluçar, e sei que ela está a chorar...- "Eu vou perceber se tu quiseres ficar, promete-me só uma coisa...por favor."
"- Qualquer coisa...diz..."
"- Não te arrisques, ele via estar à tua espera no hospital. Fica, mas não vás ao hospital, por favor...sei que o que te estou a pedir é algo quase cruel...mas..."
"- Mesmo que eu quisesse, a Luzia nunca me iria permitir. Era bem capaz de me prender a uma parede nos calabouços desta casa..."- começamos os dois a rir.
"- Como está a Luzia? E a Tati...?"
"- A Tati está um pouco em baixo, ontem estive a falar com a Luzia. Ela enfrentou o meu pai, depois que ele agrediu a minha mãe...ela viu tudo..."
"- Mas ele não lhe fez mal, pois não..."
"- Só porque a Luzia e o Luís chegaram nesse momento, ele estava pronto para bater nela também..."
"- Meu Deus. A Tati é uma criança, como é que ele pode pensar em...Gérmen, nós podemos deixá-lo levar a Clara ou a Vilu, não podemos..."
"- E não vamos, por isso elas vão ter contigo. Eu sei que aí elas vão estar protegidas. O Tio Rob, vai-me ligar durante o dia de hoje. Mas tenho uma notícia que sei que te vai fazer feliz..."
"- Qual?"
"- A nossa irmã está grávida...vamos ser pais e tios..."
"- A Lúzia está grávida...vamos ter os nossos bebés quase com a mesma idade...vai ser bom depois de tudo passar podermos estar todos juntos..."
"- Sim, eu espero que sim. Até porque já os convidei para ir a Buenos Aires..."- ficamos em silêncio durante uns segundos, pensando num futuro que não sabemos quando será...- "Angie, eu amo-te, nunca te esqueças disso. E tudo vai passar, eu prometo que estaremos todos juntos mais cedo do que pensas."
"- Também te amo, muito. Mas não me faças promessas que não sabes se poderás cumprir..."
"- Eu vou cumprir, eu juro Angie. Tudo vai passar...eu sei que vai."
E depois de mais uns segundo em silêncio acabamos por desligar a chamada. Eu sei que prometi algo que talvez seja difícil de concretizar, mas quem sabe...Não sabemos o que o futuro nos reserva, mas podemos simplesmente olhar para a frente e ser otimistas. O futuro, na verdade, só depende de nós.
Quando penso em tudo o que quero no meu futuro, ela está lá. Angie, o amor mais improvável, aquela que seria talvez proibida por ser irmã da minha primeira esposa...porém, ninguém consegue mandar no coração. E o nosso amor nasceu assim de repente, e tornou-se algo tão importante como respirar.
Ouvir de Angie, que apesar de me querer perto, abdicava disso para eu ficar junto da minha mãe. Fez-me ver que ela é a mulher da minha vida, aquela com quem quero passar o resto da minha vida. Maria foi o meu primeiro amor, foi um amor de adolescência, de juventude que virou um amor maduro. Fomos felizes, tivemos Violetta que é o fruto do nosso amor.
Angeles, veio numa altura que eu tinha fechado o meu coração para o amor. Achei que nunca mais poderia amar como amei Maria, e só em pensar que perderia sofrer de novo o que sofri com a sua morte, fizeram-me criar uma muralha à volta do meu coração, aliás à volta de mim e de Violetta, ela era a única coisa que ainda me mantinha à tona da imensidão de escuridão em que eu me encontrava, Vilu era a minha luz ao fundo do túnel.
Mas o modo como Angie me enfrentava, que tratava de Vilu, fascinou-me. E de repente surgiu este sentimento, demasiado grande para passar despercebido. Se o evitei? Sim, com todas as minhas forças, mas não consegui controlar. Quando soube quem era a verdadeira Angie, o meu mundo de novo ruiu, eu não poderia amar a irmã de Maria...era errado...era a coisa mais certa que eu senti um dia, porém proibido.
Lutámos os dois contra o sentimento que se apoderou de nós. Mas eu já vos disse, ninguém consegue lutar com o coração. E por fim, com a ajuda de Vilu, finalmente assumimos perante um milhão de pessoas o que sentíamos. A viagem que fizemos a Sevilha foi como dizem os mais novos "um abre olhos" e aquela frase na escola onde andei há tantos anos atrás fez-me pensar no que eu estava perdendo por: medo e inseguridade.
"Toda os propósitos do teu caminho, são um passo rumo ao teu destino."
Sei que não posso exigir de Gérmen que deixe Sevilha neste momento. Sim, claro que o queria comigo, claro que tenho medo que José o apanhe...mas Rosário pode nem sair do coma. Soube pelo Tio Roberto que o caso é grave, e que não sabem se ela irá sobreviver. Nunca tive muito contacto com Rosário na infância, sim passámos alguns Natais juntas em família em casa de Gérmen e de Maria.
Hoje percebo porque ela estava sempre tão distante de mim, faltava alguém ali naquelas festas, faltava Luzia. Faltava um pouco dela e do meu pai. Talvez se ela tivesse assumido a filha, talvez se os meus pais não me tivessem tido, tudo seria diferente. Talvez se eu não tivesse nascido, o meu pais ainda estivesse vivo, sendo um pai e avô para as filhas e os netos.
- Angie? Não consegues dormir? Queres que vá pedir alguma coisa à enfermeira?
- Não. Obrigada Lu...
- Ele não vem, pois não? Ele vai ficar?
- Sim.- Lu olha para o lado e sei que está a chorar. Gérmen tem sido o pai que ela nunca teve, e de certa forma eu considero-a como parte da família...- Lu, anda...deita-te aqui...
- Não, eu posso magoar-te, ou...
- Vem, deita-te aqui...não podes negar-me nada...lembras-te...
- Isso não vale, é chantagem emocional...- ela caminha na minha direção e deita-se junto de mim...
- Eu sei que estás com medo, mas Lu é a mãe dele. Nós não podemos negar-lhe isso...tu ouviste o Tio Roberto, a situação é grave...
- Eu sei, mas e se aquele homem...
- Lu, o Gérmen prometeu-me que não iria ao hospital. Temos que acreditar que ele...
- Angie, não querendo aqui ser a pessimista, mas achas mesmo que ele vai conseguir não ir ver a Rosário ao hospital?
- Eu preciso, eu tenho que confiar nele. Mas a Vilu e a Clara vêm para cá assim como o Fede e o Leon.
- Finalmente, eu estou cheia de saudades dele...e da clara também.- olho para Lu...e sorrio...- Ok, da Vilu e do Leon também...ela faz-me falta, eu admito.
Damos uma gargalhada as duas, e decidimos fechar a luz para tentar dormir mais um pouco. Espero que a Martina me dê alta logo, não gosto de hospitais, nunca gostei...e posso muito bem ir para casa. Quando olho para o lado, percebo que alguém já está a dormir. Porém, eu não consigo pregar olho, fico a pensar em Gérmen e em Rosário. Até que sem nem dar conta os olhos se fecham.
Na manhã seguinte, não sinto Ludmila ao meu lado. Abro os olhos e vejo a Tia Cristina, e alguém que pensei nunca mais ver: Marisol. Nós éramos mais ou menos da mesma idade e mesmo não nos vendo muitas vezes tínhamos uma relação muito próxima. Era com ela que eu desabafa as minhas ansiedades, frustrações, medos e mágoas. Era com ela que eu chorava sempre que o meu pai me ignorava, ou simplesmente me afastava.
- Sol...eu...eu...
- Lua...eu nem acreditei quando a minha mãe me contou. Aliás eu só acredito porque estou a ver-te e tocar-te. Tantos anos, tanta coisa que temos que conversar.
- Vamos ter tempo, muito tempo. Eu nao vou sair de Rosário tão cedo...- lembro-me da minha conversa com Gérmen...- Tia, onde está o Tio? Eu preciso de o avisar de algo...
- Passou-se alguma coisa? Sentes alguma coisa? Os bebés, eu vou chamar a Martina...
-Não, eu estou bem. Aliás também quero falar com a Martina, para saber quando vou sair daqui.
- Assim que a tua médica o permitir...nem vale a pena falares com a tua prima...
- Tia, a minha prima é a minha médica...
- É isso aí! Sou as duas coisas, mas vamos tentar separar as coisas, certo?- diz Martina entrando com Ludmila.
- Bom Dia Lu...- ela caminha até mim e abraça-me...eu olho para Martina...- E neste momento quem está aqui?
- Bom...primeiro a médica: Se tudo correr bem dou-te alta amanhã...
- Amanhã! Mas eu estou bem, sério...eu só quero a minha casa, a minha cama...
- Não. Angie, quero ter a certeza que a tua pressão continua estável, por isso amanhã. E agora vai sair a médica e entrar a prima...- ela dá uma volta sobre si...- Como tua prima mais velha, espero que obedeças à tua médica.
- Que remédio, mas por falar em primos, Tia preciso que vá dizer ao Tio que o Gérmen não vem. Ele vai mandar só as meninas e os rapazes.
- Como assim? Mas ele ontem...
- Ele ligou-me...
- De madrugada! Ele não sabe que pessoas no hospital têm que descansar? E mais que não se consegue dormir, há sempre um pib, um barulho de alguém a gemer, o barulho dos médicos e enfermeiros...
- Lu!- e apesar do tentar colocar um ar de "zangada" não o consigo fazer por muito tempo, e começamos todas a rir...- Ele não consegue deixar a mãe, e eu não consigo ficar chateada. Eu percebo-o, está com medo que a Rosário...que aconteça alguma coisa e ele não esteja perto.
- Mas ele não vai aparecer no hospital? O José já deve ter aquilo cheio de polícias...-diz Cristina
- Ele prometeu-me...
- E ela acreditou...- diz Ludmila revirando os olhos...
- Eu desta vez acho que a Ludmila tem razão Angie...- diz Martina...- O Gérmen não vai aguentar ficar sem ir ver a Tia Rosário.
- Ele prometeu-me, e eu vou acreditar nele. Eu preciso de acreditar...
E assim aquela conversa acabou. Dizem que a confiança é a base de tudo, e de todo o relacionamento. Tem que ser recíproca e que sem ela não existe a possibilidade de uma relação. Ter confiança em alguém é como saber que se está segura com esse alguém.
A confiança é um dos sentimentos mais nobres que um ser humano pode colher e cultivar dentro de si. Confiança é a base das grandes amizades, dos amores verdadeiros e das relações que não se baseiam na mentira. Confiança é a raiz do entendimento, até mesmo entre seres opostos. É o elo mais forte dessa corrente que une pessoas que se completam de alguma forma. Confiar é entregar ao outro, sem medo, tudo que há de mais valioso dentro do nosso coração.
A confiança, é muitas vezes ser escravos dos nossos próprios sentimentos, de algo tão maravilhoso e necessário chamado: AMOR. O amor e a confiança podem intensificar-se com o tempo, com o dia a dia, mas também com o tempo de espera. O tempo vivido sem dedicação e empenho, estraga e pode acabar mesmo com tudo. Não se engane o Amor, não trai a confiança, porque os dois andam juntos, e uma vez que a confiança é quebrada, é uma ida quase que sem volta, pois um não sobrevive sem o outro, o sentimento nunca mais terá a mesma plenitude, a mesma importância.
No entanto: Confie Sempre. Não percas a fé entre as sombras do mundo. Crê e esforça-te no bem e espera com paciência. Tudo passa e tudo se pode se renovar. Hoje, é possível que a tempestade, te amarfanhe, te atormente o coração. Porém, não te esqueças, de que amanhã será outro dia.
Quando depositamos confiança nas pessoas, o risco da decepção é grande, pois elas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, bem como não estamos aqui para satisfazer as dela. As pessoas não precisam umas das outras, mas elas se completam. Não por serem metades, mas por serem pessoas inteiras, dispostas a dividir objectivos comuns, alegrias e objectivos de vida.
Com o tempo, percebemos que para sermos felizes com outra pessoa, precisamos primeiramente não precisar dela. Temos que aprender a gostar e cuidar de nós mesmos e, principalmente, a gostar de quem gosta de nós. Um autor bem conhecido , Mário Quintana, dizia "O segredo é não correr atrás das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até nós.". Pois no final das contas, vamos achar não quem estávamos procurando, mais quem estava procurando por nós.
Confiança não se compra, não se vende e não se finge. Confiança é a força que nos move na direcção de quem a gente mais ama. E, por mais que sejamos imperfeitos, confiar e ser confiável é muito mais do que um simples tratado social, é uma questão de carácter e de respeito ao próximo.
Confiar é a arte de poder amar sem medo, dormir tranquilo e sentir o doce perfume da paz em cada movimento da nossa respiração. Confiar dispensa meios-termos: ou é para sempre, ou é para nunca mais.
Por isso, perante tudo isto, eu preciso de confiar que Gérmen vai cumprir o que me prometeu...
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