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Capítulo 14 - A Fuga (continuação 2)

Ludmila acorda com o som de alguém a gemer...Angie...levanta-se rapidamente e encontra-a sentada no chão da casa de banho bastante pálida. Ludmila não sabe o que fazer, será que devia chamar alguém?

- Angie! Angie, estás bem? O que queres que eu faça, por favor estás a assustar-me...

- Desculpa Ludmila...eu estou bem. São os enjoos matinais, nada grave...a sério tem calma...

- Calma! Tu estás sentada no chão da casa de banho a deitar fora tudo o que comeste durante dias, estás mais branca do que a parede e pedes que tenha calma?

- Ludmila...respira fundo. Eu estou bem...ajuda-me só a ir para a cama.

- Tens a certeza? Não é melhor ir para o hospital? Angie tu estás com péssimo aspecto...

- Obrigada pelo elogio. Agora podes ajudar-me por favor? - Ludmila ajuda-a a levantar-se e caminham as duas até ao quarto de Angie. Assim que esta se  deita, Lu encaminha-se para a porta deixando que Angie descanse.

- Se precisares de alguma coisa chama-me. Vou para a sala...

- Ludmila...- ao ouvir Angie chamar vira-se para esta...- Porque é que não te deitas aqui comigo...por favor.

- Com uma condição?- Angie olha para ela...- Assim que estiveres melhor vamos ao médico...e vais me deixar escolher o nome dos bebes...

- Não sei...a Vilu também vai querer escolher...que tal assim: tu sugeres dois nomes um para rapaz outro para rapariga, a Vilu faz o mesmo e depois eu e o Gérmen escolhemos.

- Hum! Parece-me justo, posso dar já a minha sugestão?

- Podes, mas lembra-te, quem tem a palavra final sou eu e o Gérmen.

- Ok. As minhas sugestões são: Sofia e Martim...

- Sofia e Martin...gosto.- diz Angie sorrindo e abraçando-se a Ludmila.- Obrigada por tudo, por estares comigo, por te sacrificares e protegeres Clara...

- Não tens que me agradecer Angie, para mim a Clara é como se fosse minha irmã assim como Vilu já o é. Vocês são a minha família...

- Lembrei-me agora...temos que ir às compras, não podemos comer pizza todos os dias.

- Angie ainda agora estavas a deitar toda a comida que tinhas no estômago para fora e já estás a pensar em compras?

- E ainda não viste nada,  quando estava grávida de Clara obrigava Gérmen a levantar-se a meio da noite e fazer as coisas mais malucas...

- Nem penses em repetir o mesmo...não me vou levantar para satisfazer os teus desejos...

- Combinado...mas agora vamos arranjar-nos, fazer a lista do que precisamos e a seguir...compras.

- Estás a esquecer-te de uma coisa? - Angie olha para Ludmila com um ar interrogativo...- Médico? Tens que marcar uma consulta.

- Ludmila! Tudo bem, quando voltarmos das compras, prometo que trato do assunto...agora vai te vestir.

Depois de se arranjarem, e fazerem a lista do que iriam precisar, desceram o elevador. Quando chegaram ao átrio encontraram o Senhor Óscar, a quem perguntam onde ficava o supermercado mais próximo e também onde poderiam tomar o pequeno almoço. O simpático porteiro indica-lhes um café bem na esquina onde podiam comer. E deu-lhes também as indicações para o supermercado que não ficava muito longe do café. E assim as duas seguiram o seu caminho a pé, já que o carro de Angie estava guardado na garagem.

Em Sevilha, Germen decide finalmente ir ter com a filha. Violetta tinha o direito de saber a verdade, até porque esta a envolvia a ela também...tudo podia mudar se José as encontrasse. Claro que faria de tudo para o impedir, Gérmen não queria perder as filhas e iria lutar com a sua própria vida se chegasse a esse ponto. Quando chegou ao quarto conseguiu ouvir risos, pelo menos pensou, Vilu estava animada e feliz naquele momento. Quando entrou viu algo, que achava nunca mais na vida pudesse ver: uma Violetta com uns grandes bigodes de chocolate e as mãos todas sujas...

- Parece que andei uns anos para trás no tempo...- disse Germen sorrindo...- Nunca pensei voltar a ver essa cara...- diz Germen sorrindo para Vilu. Tatiana e Frederico viram-se e também eles estão lambuzados de chocolate...- Parece-me que andaram a fazer tudo menos a comer chocolate...já  olharam bem para a vossa cara.

- A culpa foi da Vilu...foi tua.- diz Frederico olhando para Vilu com um olhar de gozo...- Não foi Tati? Ela é que começou...

- Pois foi Tio, a Vilu começou...e depois nós também entrámos na brincadeira e...

- Vocês! Papá não acredites neles, o Frederico é que teve a ideia e...

- Eu não quero saber quem começou...-  e tirando o telemóvel do bolso rapidamente tirou uma foto dos três...- mas quero ficar com uma recordação...e vou enviá-la para a Angie.

- Não papá, por favor apaga essa foto...por favor...

- Bem acho melhor nós irmos lavar a cara Tati...até já Vilu.

- É acho melhor lavarem-se. Frederico, podes pedir ao Leon para vir ter connosco por favor? - este acente e sai... - Agora vamos lavar essa cara Dona Violetta...- Germen pega numa toalha e começa a limpar a cara de Vilu.

- Papá, vais-me contar o que é que se passa? Conheço-te e sei que me estás a esconder alguma coisa.

- Vamos só esperar que o Leon chegue, pode ser? Prometi-te que nunca mais te iria esconder nada e vou cumprir essa promessa.

- Sabia que me estavas a esconder alguma coisa! Papá, é sobre a Angie? Aconteceu alguma coisa? Papá, diz-me não aguento mais...

- Vilu tem calma...vamos esperar pelo Leon...- alguém abre a porta e para além de Leon entram Rodrigo, Luís, Luzia e Rosário...

- Desculpe Germen, tentei vir sozinho mas, NINGUÉM me deu ouvidos...

- Se lhe vais contar a verdade Germen quero estar presente.- diz uma Rosário decidida. - O Rodrigo e o Luís estão aqui como médicos...

- Eu só vim porque a mãe me pediu para estar com ela...- diz Luzia...- mas antes, Violetta queria pedir-te desculpa...fui muito dura contigo e não merecias.

- Também não fui muito simpática contigo Tia...- Luzia ficou sem palavras, Vilu tinha a finalmente aceite...e sem hesitar chegou-se perto dela e abraçou-a.

- Obrigada...Angie tinha razão, tu és especial...- E de novo se abraçaram.

- Pai, podes agora acabar com todo este suspense, e contar-me de vez o que tens a contar.

- Tudo bem, mas vais deixar-me falar até ao fim...não vais interromper e principalmente vais manter-te calma...

- É um pouco complicado estar calma, podes por favor dizer o que tens a dizer...

- Como te disse quando acordaste a Angie foi a Buenos Aires falar com a tua avó Angélica. Não sabíamos quando ou mesmo se irias acordar.

- Mas ela acordou, e se Angie não tivesse ido para Buenos Aires, não estaríamos a ter esta conversa...

- Mamã se não queres ajudar, pelo menos não atrapalhes...

- Papá...podes dizer-me de uma vez o que se passa? 

- Vilu, não sei como dizer-te isto, o que se passou é que a Angélica descobriu que "fugimos" e ficou zangada. Então decidiu unir-se ao teu Avô José e conseguiram...eles ganharam a vossa guarda...

- Papá, não quero...ele vai proibir-me de cantar, de tocar, não me vai deixar estar com o Leon. E a Clara?

- Vilu, ouve o teu avô não sabe onde estamos e se for preciso vou até ao fim do mundo, mas não vou deixar que ele fique contigo ou com a Clara.

- E quando é que a Angie volta? Ela vai voltar não vai?

- Não princesa, infelizmente eles ficaram a saber que a Angie fugiu connosco, por isso a tua tia não pode voltar para cá...

- Então vamos viver assim? Separados, não papá tem que haver uma solução...tem que haver.- e começam a cair-lhe as lágrimas...- Eu quero a Angie, quero...a minha mãe...papá, não posso...sem ela...

- Vilu...- e abraça-a como se de alguma forma com aquele abraço a pudesse proteger de toda a dor...- Eu gostava que houvesse uma forma de ficarmos todos juntos...mas por enquanto, temos que aprender a estar separados...

- Porquê? Porquê é que o avô é assim? Ele destruiu tudo...

Gérmen abraçava Violetta, tinha que a tirar daquele sofrimento...tinha que a fazer sorrir. De súbito lembrou-se, sabia exatamente o que lhe dizer para a fazer feliz...ou pelo menos um pouco mais feliz. Mas esta era uma conversa entre os dois, apenas eles os dois iriam ficar a saber.

- Por favor, podem deixar-me sozinho com a Vilu...- Disse Gérmen olhando para todos os que estavam no quarto. Todos sem excepção saíram, até mesmo Leon a quem este fez sinal, como que a dizer que ela ficaria bem. - Vilu quando te acalmares eu tenho algo para te contar...mas é algo que só tu ficarás a saber.

Assim que conseguiu Gérmen sentou-se ao lado de  Vilu, abraçando-a e tentando que ela aos poucos se aclamasse. Ele sabia que esta tinha medo, medo por ela mas principalmente por Clara, por esta poder passar por tudo o que ela passou. Gérmen sabia que o pai iria voltar a negar que se falasse de Maria, de Angie e talvez mesmo dele, que a música seria algo proibida de novo. Contudo, sabia acima de tudo que Vilu seria capaz de se sacrificar pela irmã. Vilu foi-se acalmando, acabando por adormecer, e apercebendo-se disso também ele se foi deixando ir nas teias dos sonhos, onde tudo estava como era suposto: ele, Angie, Violetta, Ludmila, Clara e o novo bebé que viria daqui a uns meses alegrar as suas vidas.

Assim que acabaram de fazer as compras, Angie e Ludmila voltaram de novo para casa. Quando chegaram junto do simpático porteiro este ajudou uma Ludmila carregada, já que esta não deixou Angie pegar em muitos pesos. Abriram a porta de casa pousaram os sacos e agradeceram mais uma vez ao Senhor Óscar. Depois de arrumarem tudo Ludmila pegou no telemóvel de Angie...

- Prometeste que depois das compras ias ligar a um médico.-disse uma Ludmila com um ar decidido mas dando um leve sorriso.

- Sim, prometi. Mas nem sei a quem ligar...pensei que podia perguntar à Paula, a minha prima, talvez ela conheça algum...

- Angie...tens que marcar uma consulta. Por ti...mas principalmente pelos bebes.

- Eu sei, e se fôssemos neste momento lá acima falar com a minha tia...

- Angie...não me vou esquecer...e muito menos deixar de te chatear...

- Acho que apanhaste a mesma doença que a Vilu, sabias...melguice aguda...- e com esta saída de Angie, ambas saíram de casa rumo ao andar de cima.

Ambas estavam nervosas, se bem que por motivos diferentes, Angie há mais de quinze anos que não via a Tia, e Ludmila tinha algum receio que está fosse contar alguma coisa a Angélica. Chegaram à porta...olham uma para a outra...Angie respira fundo e toca à campainha.  Quando abrem a porta aparece uma senhora de avental, devia ser a tal Rosa de quem o porteiro falou.

- Boa Tarde, posso ajudar? - disse Rosa, sem saber com quem estava a falar...

- Boa Tarde, nós...moramos no andar aqui debaixo...queria...gostava de falar com a Dona Milagros?

- Ah! Claro, o Óscar já me tinha dito à Senhora que viriam cá. Por favor entre. Pode esperar no escritório, por aqui. Vou chamar a Senhora...

Enquanto Rosa ia chamar Milagros, Angie e Ludmila olham para as fotos que estavam no escritório...algumas pareciam recentes, Angie conseguia reconhecer os tios, o avô Nico e Paula...olhou para uma onde estavam todos estes mais um homem, que Angie percebeu que seria o marido da prima,  e três crianças que deveriam ser filhos de Paula. A mais velha era a cara de Paula, pelo menos do que Angie se lembrava. Olhou então para uma estante onde estava uma foto de Maria e dela, e atrás da moldura um álbum, na lombada podia-se ler "Álbum Maria e Angeles", esta retirou-o e começou a vê-lo...Ludmila juntou-se a Angie, que lhe ia dizendo quem eram as pessoas nas fotos.

- Esta parece a Vilu...e esta a Clara.

- Sim mas sou eu e a Maria...

 - Angie, do que tens mais saudades? Da Maria, do que tens mais saudades?

- Não consigo dizer-te apenas uma coisa Ludmila. A Maria era...muito mais que minha irmã, era minha amiga, minha confidente...era...olha este é o avô Nicolas e está a avó Maria.

- Tens pena de te teres afastado...ou sentes raiva por te terem forçado a afastar...

- Era pequena quando saí daqui, mas lembro-me que todos os dias perguntava a Maria quando é que o avô e a avó nos iriam visitar...

Estavam de costas para a porta, e tão distraídas, que nem se aperceberam que a porta se tinha aberto e que Milagros estava à porta parada a olhar para Angie. Ludmila, deixou Angie a ver o álbum e virou-se...nessa altura viu alguém muito semelhante a Angélica...

- Angie...- mas Angie estava tão imersa no álbum que nem a ouviu...- Angie...Angie...

- O que foi Ludmila?- pergunta Angie olhando para Ludmila, e apenas nesse momento percebeu o porquê desta a chamar insistentemente.

- Angeles, és mesmo tu...a minha pequena Angie.- Milagros não a deixa sequer falar, vai até Angie olha-a bem nos olhos e não tem duvidas aqueles  olhos são os da sua Angie...- Continuas com o mar nos olhos...

- Tia, nunca pensei que me iria reconhecer tão depressa...- os olhos de Angie já estão marejados de lágrimas, mas desta vez são lágrimas de felicidade e não de tristeza.

- Estes olhos são únicos meu anjo...nunca poderia esquecer deles.- e abraça-a como se esta fosse desaparecer de novo...- o teu tio ele vai ficar tão feliz...e o teu avô...a tua mãe? Ela veio contigo? E está menina...não me digas que é a Violetta...

- Tia por favor tenha calma...está a fazer tantas perguntas ao mesmo tempo...está não é a Violetta, é a Ludmila...

- Prazer...sou a Ludmila.- e apresenta-se  a Milagros...- Sou uma espécie de filha do Germen...

- O Germen...Castillo, o marido da tua irmã? Mas...

- Tia...podemos sentar-nos primeiro eu explico tudo prometo.

Quando por fim se instalaram as três, Angie começou por contar tudo o que acontecerá depois da morte de Maria: a fuga de Germen, a morte de Miguel, as buscas que tanto Angie como Angélica ao longo de anos fizeram a Gérmen, o reencontro com Vilu, as mentiras que contou para estar junto dela, como conseguiu mudar a vida da sobrinha e em como esta finalmente encontrou a sua vocação. Depois veio talvez a parte mais complicada o seu envolvimento com Germen, mas ao contrário do que está esperava Milagros não a recreminou, e quando viu a foto de Vilu e de Clara as lágrimas caiam-lhe.

- Mas ainda não me respondeste a uma pergunta: onde está a tua mãe? Ela veio contigo?

- Não tia, a mamã não veio comigo...aliás eu vim para cá para me esconder dela...e do José, o pai do Germen.

- O José...Castillo? A tua mãe e o José...eles estão...

- Não sei tia...mas o José quando ficou a saber que eu e o Germen nos tínhamos casado ficou...

- Doido...maluco...passado da cabeça...

- Ludmila...

- O que foi Angie, não estou a dizer mentira nenhuma. Aliás não sei como é que o Germen pode ser filho daquele homem...

- Do que me lembro do José...era uma pessoa complicada...com um feitio difícil. E imagino que ele não tenha gostado muito, lembro-me bem que nem ao casamento da tua irmã com Germen ele foi.

- Ele ameaçou o Germen, colocou-o entre a espada e a parede: ou acabava como nosso casamento ou contava tudo o que sabia sobre o meu pai...

- Angie, o que é que o José sabia sobre o teu pai?

Ludmila, olhou para Angie nessa altura, e deu-lhe a mão de maneira a encoraja-la a continuar. Milagros absorvia cada palavra de Angie completamente incrédula, nunca pensara que toda aquela história um dia chegasse aos ouvidos de Angie. E não podia acreditar que José pudesse chegar tão longe, chantageando o próprio filho. Porém, o pior ainda estava para vir...ao saber que José tinha pedido e ganho a guarda de Vilu e de Clara com a ajuda da irmã. Como é que está se podia juntar àquele homem...e contra a própria filha.

- Quando soubemos que Vilu podia não acordar do coma, eu pensei que a minha mãe tinha o direito de estar junto dela...então voltei para lhe contar tudo e levá-la...

- Mas percebeste que ela já sabia de tudo...e que estava do lado de José.

- Sim, eu por um lado percebo-a...- quer a tia quer Ludmila olharam para ela...- não estejam a olhar para mim assim, nós já tínhamos ficado sem a Vilu durante anos...ela teve medo que tudo se voltasse a repetir com Clara.

- Mas...quando percebeu que tu tinhas ido com Germen não te defendeu e ainda te ameaçou em ir à polícia Angie.- diz Ludmila com um ar de desagrado e revolta mesmo.

- Ela tem razão...por muito que me doa dizer isto...Angélica é minha irmã e apesar das nossas desavenças continuei sempre a gostar dela...mas ela virou-se contra ti...contra a própria filha.

- Ela continua a ser minha mãe...e apesar de tudo...não consigo deixar de gostar dela.

- Angie, se percebi bem tu fugiste de Buenos Aires para não teres que responder a mais perguntas. Achas mesmo que este é o melhor sítio para te esconderes?

- Ninguém sabe desta casa tia...Maria comprou-a quando Vilu nasceu, está em nome dela e eu tenho usofruto. Nem o Gérmen sabe que Maria a comprou.

- A tua irmã...sempre te fez as vontades todas, aliás todos te mimavam, mas quem é que te conseguia dizer que não.

- O papá era o único que com apenas um  olhar me colocava na ordem.

- Almoçam cá certo...vou dizer à Rosa para colocar mais dois pratos na mesa. E vou chamar o teu tio, ele vai ficar tão feliz...e o teu avô...

- É melhor primeiro chamar o tio...depois vamos ver o avô Nico...

- Talvez tenhas razão...- e Milagros saiu do escritório com um sorriso maior que o mundo, nem queria acreditar que a sua menina estava de volta.

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