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Capítulo 7

Os olhos verdes
Sim, os holofotes
Brilham sobre você
E como poderia
Alguém
Rejeitar você?
(Green Eyes – Coldplay)


Lembro que eu estava sentado na sala de estudos, adiantando um chato e trabalhoso questionário que eu teria que entregar na semana seguinte. As minhas mãos já estavam cansadas de tanto escrever e deduzir as fórmulas pedidas pelo professor. A minha visão estava começando a ficar embaçada pelo esforço que eu fazia para resolver todas aquelas malditas questões.

Lembro de escutar um barulho que me chamou a atenção. Ao erguer a minha cabeça para cima, vi a sua silhueta através da parede de vidro que nos separava. Você acenou para mim com um sorriso inocente no rosto e, então, escreveu algo no caderno que estava em suas mãos. Instantes depois você virou a folha para mim e eu finalmente pude ler o que estava escrito: "Você sabe andar de bicicleta?"

Inclinei a minha cabeça para o lado, confuso com a pergunta aleatória e repentina. Mas você sempre foi assim, Saturn. Você sempre surgia com um assunto inusitado em horas completamente inusitadas. Sempre achei isso curioso e intrigante em você. Por fim, levantei o meu polegar, dizendo que sim, eu sabia andar de bicicleta. Afinal, quem é que não sabe, certo?

Logo em seguida eu ajustei o óculos em meu rosto e, então, voltei a minha total atenção ao questionário à minha frente. Ah, aqueles exercícios estavam tão difíceis, Saturn! E eu odeio me ver falhar na resolução dos cálculos. Odeio e sempre odiei não ter o controle sobre algo, mesmo que uma simples e mísera questão.

Você bateu novamente no vidro e eu respirei profundamente antes de olhá-la. Era tão difícil assim perceber que eu estava ocupado? Era tão difícil perceber que eu estava concentrado? Ou pelo menos tentando me concentrar? Lembro de ser obrigado a apertar os meus olhos para poder enxergar a sua pequena letra. "Me ensina?"

Eu ri, irônico. Como alguém da sua idade ainda não sabia andar de bicicleta? Fala sério, é o básico que se espera de uma criança. Foi então que eu me lembrei da sua lista, Saturn. Lembrei-me especialmente do nono item. Lembrei que isso fazia parte das suas tarefas. E, mesmo assim, eu respondi: "Estou ocupado." Simplesmente assim.

"Qual é, garoto astrônomo?" Você fez um bico manhoso, assim como a minha irmã de apenas dez anos de idade fazia. Era adorável, porém eu conhecia muito bem aquele truque, afinal, eu sou o irmão mais velho. "Você merece uma pausa. Eu vi que você está estudando a tarde inteira e agora parece cansado." Eu podia escutar a sua voz ser abafada pelo vidro a minha frente. Você abaixou a cabeça e voltou a escrever no caderno. "Por favor!" era o que estava escrito. Revirei os olhos lentamente.

Respirei fundo mais uma vez antes de, enfim, largar a lapiseira sobre a mesa. É, eu realmente devo admitir que: sim, eu estava cansado. Talvez, fazer uma breve pausa fosse mesmo uma boa ideia para clarear a mente. Assim eu poderia voltar a resolver aquelas questões mais calmamente.

Quando eu me levantei da mesa, pude escutá-la gritar em comemoração. O quarto andar foi milimetricamente preenchido com a sua voz estridente e animada, e vê-la vibrar com algo tão banal assim me fez sorrir, mesmo que discretamente. Apesar de tudo, você era uma boa pessoa, Saturn. Sempre foi.

"Obrigada, garoto astrônomo!" As suas mãos estavam erguidas no ar, ainda em comemoração por eu ter cedido às suas vontades. "Você não vai se arrepender." Você se aproximou de mim e tocou em minha cintura, arrancando-me uma breve risada com a cócega que eu havia sentido. "Viu, já está se divertindo."

Balancei a minha cabeça para o lado, em completa negação.

"Saturn!" Eu sussurrei alto o bastante para você, que estava a alguns metros de mim, pudesse ouvir. Mas você ao menos olhou para mim. Irritado, dei um passo para frente, em sua direção, e, então, cruzei os braços em frente ao meu peito. "Saturn Marie Campbell, você não pode simplesmente vir aqui e roubar uma bicicleta!" Passei a mão em meu cabelo, suspirando alto. "Isso não é contra a regra do alojamento, é contra a lei! Entende isso?"

"Meu Deus!" Você revirou os olhos lentamente enquanto conferia todos os cadeados das bicicletas que estavam na área do estacionamento. "Você tem um fascínio por regras, hein, garoto astrônomo." E eu fiquei boquiaberto ao ver que você ria.

Ajustei o óculos em meu rosto, visivelmente incrédulo com a sua reação. Quer dizer, como você poderia achar tudo aquilo normal? Como você poderia cogitar roubar algo? "E parece que você tem um fascínio em quebrar elas. Impressionante." Murmurei alto (sim, propositalmente).

"A vida é curta demais para seguir todas as regras, garoto astrônomo." Pude ouvir você murmurar sozinha enquanto se abaixava para conferir mais um cadeado. "Os alojamentos estão vazios, todos já foram para a casa da família se preparar para o feriado de Ação de Graças de amanhã. Só sobrou eu e você aqui. Ninguém vai descobrir." Você ergueu a cabeça para piscar para mim. "Além disso, eu só vou pegar emprestado e depois devolver. Tenho certeza de que a pessoa não vai se importar..." Segundos depois você ergueu os braços em comemoração. "Achei! Eu falei para você, Ocean." Você soltou a corrente da bicicleta e, então, pegou-a. "Sempre tem alguém que não tranca o cadeado."

E eu virei a cabeça para o lado para que você não me visse bufar, completamente irritado. "Eu não acredito nisso."

Apesar da raiva inicial, minutos depois eu estava a empurrando pelas ruas desertas da nossa cidade. Todos pareciam estar aproveitando o fim de semana dentro de suas casas, perto do aconchego da lareira, pois estávamos entrando no inverno, e a universidade parecia estar, de fato, vazia. Não havia alunos andando ao redor do campus ou mesmo ao redor dos alojamentos, como costumava ter. Era estranhamente calmo.

Eu empurrava a parte de trás da sua bicicleta enquanto você pedalava da maneira mais atrapalhada possível. Eu fazia um enorme esforço para não rir da situação por completo, porque você me lembrava a minha irmã Sea quando estava aprendendo a andar de bicicleta. Você parecia de fato uma criança de sete anos.

"Saturn!" Eu não me aguentei e comecei a rir quando você se desequilibrou na bicicleta. Você quase havia caído sobre o asfalto duro de novo, porém, por sorte, eu segurei a sua cintura com força. Céus, você não parecia ter seus dezenove anos de idade. "Pedala mais rápido! Mais rápido!" Eu gritava ao seu lado.

Você parecia estar perdendo a esperança de aprender a andar de bicicleta e, além disso, parecia estar perdendo a paciência com a minha ajuda, que só a deixava mais ansiosa. "Eu juro que estou tentando, Ocean!" Você gritou, cansada. "Isso é muito difícil." Pude perceber que as suas pernas estavam tensas de tanto pedalar. E mesmo assim você estava indo muito devagar.

Instantes depois eu tive uma ideia, que, na hora, pareceu ser simplesmente genial. Eu iria soltá-la sem ao menos lhe avisar para que você não notasse a minha ausência. Foi assim que eu ensinei Sea a andar de bicicleta. Ela conseguiu pedalar sozinha, pensando que eu ainda a segurava. E assim como a minha irmã, você começou a pedalar sem a minha ajuda. Você parecia estar perdendo o equilíbrio, mas segundos depois se manteve firme.

"Ocean!" Você gritou histérica ao perceber que eu não estava mais ao seu lado. "Meu Deus! Ocean Davis Cooper, se eu cair..." Você girava o guidão da bicicleta de um lado para o outro, tentando manter o equilíbrio. Os seus olhos estavam fixos na rua vazia. Você nem mesmo conseguia olhar para os lados, com medo de cair novamente. "Meu Deus, eu acho que estou conseguindo!"

"Olhe para mim!" Você exclamou em alta voz. Pude ouvir a sua risada ecoar pelo quarteirão. Era impossível não vibrar junto com você. Era impossível não sorrir com a sua ingênua felicidade. "Eu estou andando de bicicleta!" Você deu a volta sozinha no quarteirão, e eu pude notar o largo sorriso em seu rosto. Você não fazia questão alguma de esconder o quão feliz estava se sentindo, não fazia questão alguma de esconder a sua empolgação e a sua animação, e eu achava legal aquilo em você. Achava legal a sua pureza e a sua intensidade. "É tão fácil andar nisso, garoto astrônomo." Você ria alto.

Você estava completando o item nove da sua lista. E até que era divertido presenciar o momento em que mais um item era concluído por você.

Lembro de notar que você havia apertado os olhos minimamente, deixando o sorriso em seu rosto morrer lentamente. Você ergueu a sua mão direita em direção a ponta do nariz, e pareceu se assustar com o que havia ali, porque segundos depois, quando encarou os seus próprios dedos, você perdeu o equilíbrio e, então, eu pude ver o seu corpo se chocar contra o asfalto duro.

"Saturn!" Corri em sua direção, completamente assustado com o que havia acontecido. A queda, diferente das demais, pareceu ter sido séria e preocupante em todos os sentidos. "Saturn, você está bem?" Lembro de me ajoelhar ao seu lado e de aproximar o meu rosto do seu, conferindo cada mínimo detalhe dele. Passei os meus olhos por todo o seu corpo, procurando algum machucado, algum sangramento. Mas, por sorte, você parecia não ter mais do que alguns leves arranhões. "Céus, o seu nariz..." Falei ao notar a pequena gota de sangue que escorria dele.

"Estou bem sim." Você se apressou em dizer, olhando em seguida para o chão abaixo de nós. Você parecia estar se escondendo de mim, escondendo aquele 'machucado' de mim. "Não se preocupe comigo..." Foi tudo o que você disse antes de se levantar por completo. No momento seguinte você levantou a bicicleta e, então, pude ver que o seu joelho estava ralado pois a sua meia calça havia rasgado.

"Saturn..." Eu também me levantei e corri para caminhar ao seu lado. Percebi que você ainda andava com a cabeça baixa, como se estivesse com vergonha. E vergonha do que exatamente? "Caramba, isso deve ter doído, você está realmente bem?"

"Estou." Você respondeu de forma monótona e seca. O que era estranho, porque você não era assim. Nunca foi. Você parecia estar ficando distante de mim, distante daquela realidade, distante daquela situação.

"Eu já disse que estou bem, Ocean." Você repetiu pela vigésima sétima vez dentro de um período de cinco minutos. Certo, talvez eu esteja exagerando, mas você simplesmente não parava de repetir aquela frase, Saturn! Eu já estava perdendo a paciência com você.

"Céus, você é muito teimosa, Campbell." Murmurei baixinho e, então, pude ouvir você resmungar algo em resposta. Aproximei o meu rosto do seu lentamente para enfim encostar a sacola com gelo em seu nariz. Ele ainda estava sangrando, e ver todo aquele sangue saindo dele estava me deixando levemente preocupado e... desesperado. Eu não sabia lidar muito bem com sangue, ao contrário dos meus pais e de Nathan. "Se não melhorar a gente deve ir ao hospital."

"Não!" Você falou rapidamente. Apertei os meus olhos para você, que estava com as sobrancelhas arqueadas. "Meu Deus, não é nada demais, Ocean." Você fechou os olhos lentamente e apertou os lábios ao sentir o frio em seu nariz. Era adorável. "Ah, está muito gelado! Como exatamente isso vai me ajudar, garoto astrônomo?"

Respirei fundo antes de responder. "É física pura, Campbell." Com a minha outra mão livre eu ajustei os óculos em meu rosto enquanto movimentava o gelo pelo seu nariz para não a queimar com o frio. "Em Termologia nós aprendemos que a matéria tende a sofrer expansão quando aumentamos a temperatura dela. Já no frio, tende a sofrer contração. Então, o que eu estou tentando fazer é..."

"Vasoconstrição?" Você abriu os olhos e olhou para mim. "Está tentando diminuir o fluxo sanguíneo no meu nariz pra parar o sangramento?" Balancei a minha cabeça para cima e para baixo lentamente, respondendo a sua dúvida silenciosamente. "Inteligente."

"Obrigado, eu sei que sou inteligente." Não pude evitar o sorriso que insistia em alcançar o meu rosto.

Você revirou os olhos devagar enquanto respirava profundamente. "Ora, convencido." Pude escutar você murmurar baixinho ao sorrir minimamente. O seu nariz estava começando a ficar avermelhado por conta do gelo, mas o sangue parecia estar, de fato, diminuindo, o que, sinceramente, era um alivio para mim.

Lembro de erguer os meus olhos em direção aos seus. Lembro de reparar que perto da sua pupila escura a sua íris possuía uma cor castanha clara, que muito lembravam o mel. Ele tinha um arco mais escuro que circulava todo o contorno ao redor da sua pupila e, ao redor dele, o seu olho lentamente ficava verde. Eu nunca havia reparado que você tinha olhos verdes até aquele momento, Saturn. E eu nunca havia reparado no quanto eles combinavam com você. No quanto eles pareciam de fato ser um planeta, assim como o seu nome.

Você apertou os olhos para mim e inclinou a cabeça para os lados, alternando o olhar em meu rosto. Rapidamente abaixei os meus próprios olhos, não sendo capaz de sustentá-los em ti. "O que foi?" Você perguntou. Percebi que você havia levado a ponta dos dedos em direção ao nariz, conferindo mais uma vez se ele havia parado de sangrar.

"Os seus olhos..." Ajustei mais uma vez o óculos em meu rosto antes de finalmente dizer: "Nunca reparei que os seus olhos são verdes." Pelo canto dos olhos pude perceber que você piscou algumas vezes, um pouco surpresa com a minha observação. "São bonitos."

Você abriu a boca algumas vezes, mas não disse uma palavra sequer. Você parecia um tanto quanto tímida, e era divertido vê-la daquela forma. Era engraçado ver que Saturn Marie Campbell não sabia o que dizer só porque alguém falou que a cor dos seus olhos era bonito.

Lembro de afastar o saco de gelo do seu rosto e de prestar atenção no seu nariz. O sangue parecia ter finalmente cessado de vez. E eu não sei exatamente se o gelo teve alguma influência sequer naquilo, mas eu queria acreditar que sim. Queria acreditar que eu havia conseguido ajudar alguém. "Acho que o sangramento parou, Saturn."

Você passou um pequeno pedaço de papel toalha em seu nariz e o olhou por um momento, percebendo, então, que não havia nada ali. É, o sangramento havia mesmo cessado. "Obrigada, garoto astrônomo." Você ergueu o rosto para mim.

Percebi que você apoiou a palma de suas mãos sobre a bancada da cozinha, preparando-se para descer de lá. Mas, antes mesmo que você o fizesse, eu segurei o seu pulso com delicadeza para olhá-la com certa reprovação. "O que foi agora?" Você perguntou novamente, inclinando a cabeça para o lado.

"O seu joelho." Abaixei os meus olhos para voltar a minha atenção à sua perna. Havia um arranhão feio ali, bem atrás do rasgo na sua meia calça. Estendi o meu braço e, então, finalmente alcancei o curativo que estava ao seu lado.

"Ora, não precisa se preocupar, garoto astrônomo." Você sorriu, timidamente. A sua mão tocou a minha por um segundo, fazendo eu erguer os meus olhos em sua direção. "Nem está doendo. De verdade." Você afastou a sua mão de mim e voltou a apoiá-la no balcão.

"Céus." Murmurei, revirando os olhos dramaticamente. Dei de ombros, ignorando completamente a sua fala anterior e, então, voltei a segurar o curativo entre os meus dedos. "Como você é teimosa, Saturn." Lembro de passar um pouco de água oxigenada em um pano e de pressioná-lo contra o seu joelho, que estava sangrando. Aquilo parecia estar dolorido sim. Você automaticamente apertou o lábio inferior ao reagir ao contato. "Desculpa. Está doendo?" Perguntei, gentilmente.

"Não." Você riu, tímida. Havia um pequeno sorriso pendurado em seu rosto. "A sua mão está gelada." Lembro de sorrir como resposta. Os meus dedos estavam de fato gelados, afinal, eu estava segurando o saco de gelo para você. Rapidamente eu preparei o seu curativo para, então, colocá-lo sobre o seu joelho machucado.

Lembro de erguer o meu rosto para cima para dizer que eu já havia terminado de colocar o band-aid quando eu encontrei os seus olhos. Eu não menti quando disse que o achei bonito, Saturn. Eles tinham uma cor única, e aquilo me chamava a atenção. Lembro de me perguntar como eu fui capaz de não perceber que eles eram verdes todo esse tempo. Foi quando eu senti a sua respiração bater em meu rosto. Notei que eu estava invadindo o seu espaço pessoal, coisa que eu mesmo odiava. E eu me torturei mentalmente por demorar para perceber que estava tão próximo de você. Foi por isso que eu me afastei de você como num pulo. "Desculpa, eu... eu não devia ter soltado a bicicleta sem te avisar." Apontei para o seu joelho e para a sua meia calça rasgada.

"Não se preocupe, garoto astrônomo." Você voltou a apoiar as mãos sobre a bancada, tendo o apoio necessário para descer de lá. Lembro de sentir a sua mão tocar levemente o meu braço quando você me chamou mais uma vez. "Eu me diverti muito hoje, obrigada."

Eu sorri em resposta. Por incrível que pareça eu também havia me divertido naquela tarde. Mas, infelizmente, eu teria que voltar a fazer aquela lista de questões que eu estava procrastinando.

"Ocean, temos um problema." Você entrou correndo na sala de estudo em que eu estava e parecia estar levemente ofegante. Levantei a minha cabeça e apontei a lanterna do meu celular para você, reparando que em seus braços havia uma garrafa de vidro e um cobertor. "A luz acabou." Você falou por fim.

Eu me segurei para não rir da cena, Saturn. Olhei ao redor, verificando a escuridão que nos cobria naquele andar do alojamento. Não entrava uma luz sequer pelas janelas, então significava que o quarteirão inteiro da universidade estava sem luz. "É mesmo?" Perguntei, irônico. Voltei a olhar para você com a luz do celular. Abaixei os meus olhos para juntar todas as folhas que havia usado nos rascunhos dos exercícios e fechei o meu estojo. "É, acho que eu notei, Saturn."

Você ficou séria ao ouvir a minha resposta e, então, respirou fundo. "O que você está fazendo?"

Ajustei o óculos em meu rosto e, por fim, apoiei o celular sobre a mesa de estudo. "Estou indo dormir. Não tem muito o que fazer por aqui sem energia." Coloquei todas as folhas e todas as anotações dentro da minha pasta de plástico transparente.

"Ah, não." Você inclinou a cabeça para o lado, fazendo um bico manhoso para mim. Eu já disse que você lembrava a minha irmã Sea quando fazia isso, Saturn? "Pensei que a gente podia fazer companhia um para o outro. O que acha? Até trouxe uma garrafa de champanhe que achei no meu quarto."

Segurei o celular entre os meus dedos e o apontei para você. "Você achou uma garrafa de champanhe ou você roubou uma garrafa de champanhe?" Você riu e balançou a cabeça em negação. "Porque hoje à tarde você 'achou' uma bicicleta sem cadeado." Fiz aspas no ar.

"Ei, Ocean, em minha defesa eu a devolvi depois de usar, ok?" Você apertou o cobertor ao redor do seu corpo. "Então, tecnicamente, não é roubo." Você disse e eu ri discretamente. É claro que era roubo, Saturn. "E segundo, saiba que eu comprei esta garrafa. Pensei que a gente podia dividi-la."

Lembro que você se sentou ali mesmo, no chão da sala de estudos, com as costas apoiada na parede de vidro que nos cercava. Você desdobrou o cobertor que usava e apoiou a mão no chão ao seu lado, chamando-me para me juntar a você. Sem dizer uma palavra sequer, sentei-me ao seu lado e respirei fundo.

"Quer um pouco?" Você estendeu a garrafa de champanhe em minha direção. Peguei a garrafa da sua mão e dei uma conferida na embalagem, minha família costumava tomar aquele champanhe nas festas de fim de ano. Ele tinha um gosto doce e gostoso. Por fim, bebi um pouco e em questão de segundos eu voltei a devolver para você. Eu nunca fui fã de bebidas.

Você bebeu, parecendo estar um pouco absorva em seus próprios pensamentos. "Anne me mataria se estivesse aqui." Você olhou para a garrafa de vidro apoiada no meio das suas pernas e sorriu com o pensamento. "Ela odeia me ver bebendo."

Respirei fundo e me encostei na parede de vidro. Eu queria ir dormir, não vou mentir, mas eu estava sem sono. Afinal, era apenas nove da noite. "Por quê?" Perguntei em um sussurro enquanto virava a minha cabeça em sua direção.

"Quando eu bebo, eu tenho três estágios." Você respirou profundamente. Lembro de notar que você também havia ligado a lanterna do seu celular e o apoiou no chão, iluminando a pequena sala de estudos. "Primeiro eu fico sonolenta. É nesse estágio que eu relaxo, que o meu corpo relaxa por completo. Parece que eu não sinto dor alguma, entende? É como se eu estivesse anestesiada. É bom." Você mordia o canto da sua bochecha enquanto encarava o corredor vazio e escuro, sem demonstrar emoção alguma. "Depois eu fico animada. Até as mínimas coisas parecem engraçadas para mim e eu fico rindo de tudo e de todos."

Apertei os meus olhos e balancei os meus ombros para você. "E qual é o grande problema nisso? Por que a Anne não gosta de te ver beber?"

"Porque o problema está no terceiro estágio." Você sorriu fraco e, então, virou o rosto para mim. "Esse é o estágio que eu me sinto mal. É o estágio que eu vomito tudo o que comi durante o dia, e que sinto uma tontura absurda. Não que eu já não sinta essas coisas toda semana..." Você voltou novamente a sua atenção para frente. "É o estágio que eu tenho alguns pensamentos ruins sobre mim mesma. E é o estágio que eu ligo para o meu ex." Pude notar que os seus dedos batiam contra a garrafa. "E ligar chorando para Christopher é o grande problema."

Então o famoso Christopher que estava na sua lista realmente era o seu ex-namorado. Eu tinha razão, afinal. Mas eu tinha tantas perguntas para fazer, Saturn. Por que vocês terminaram, afinal? E por que você ligava para ele quando ficava bêbada? Você ainda sentia algo por ele? Por que ele aparecia na sua lista? Por que você precisava esquecê-lo? Mas, parecendo ler a minha mente, você disse: "Mas, mudando de assunto... hoje eu só vou beber para chegar ao primeiro estágio." Você bebeu mais um gole. "Estou sem sono."

"Eu também." Murmurei, baixinho. Coloquei o cobertor sobre as minhas pernas e, então, cruzei os meus pés. Estava frio naquela noite.

"Conte-me alguma coisa. Qualquer coisa." Você pediu. Pelo canto dos olhos eu percebi que você estava com os olhos fechados enquanto respirava profundamente. Você apertava a própria mão com força. "Talvez isso ajude a..." Você abriu os olhos como se lembrasse de algo e voltou a olhar para mim. "Talvez isso me ajude a dormir."

Ajustei o óculos em meu rosto enquanto sorria de canto. Não podia acreditar no que você acabara de falar para mim. A encarei por um momento. A única iluminação que recebíamos era a dos nossos celulares, que apenas tornavam visíveis o contorno dos nossos rostos. "Você está dizendo que me ouvir falar te dá sono, Saturn?"

"Não!" Você exclamou, um pouco alto perto dos sussurros que trocávamos até aquele momento. Senti o calor da sua mão em meu braço. Olhei para os seus dedos sobre a minha camiseta. "Meu Deus, não." Você colocou a mão no rosto enquanto ria, atrapalhada. Parecia envergonhada e um pouco tímida. Era engraçado vê-la assim, Saturn.

Lembro de apertar os meus olhos ao ouvir um barulho vindo das escadas. Todos estavam em suas casas para o feriado do dia seguinte. Se éramos os únicos alunos em todo o alojamento, quem mais poderia ser? Instantes depois um gato preto pula em seu colo e mia alto, pedindo carinho.

"Meu Deus, você ainda está com esse gato?" Perguntei, afastando-me de você. Eu não queria que aquele gato folgado e pulguento viesse para o meu colo.

O gato se deitou entre as suas pernas e você começou a acariciar as suas costas peluda. "Amanhã eu vou para o apartamento da minha família e vou deixá-lo lá. As minhas irmãs estão loucas para conhecer o Bruce."

"Você vai passar o feriado com a sua família?" Perguntei, curioso. Porque, na noite anterior, você havia me dito que a sua família estava em outra cidade.

"Não..." Você respirou profundamente e voltou a olhar para mim, com a cabeça apoiada na parede de vidro. "A minha família está na casa da minha avó, em outra cidade." Você confirmou o que já tinha me dito. "Amanhã pela manhã eu tenho exame e não vou conseguir ir até lá, mas pensei em almoçar no apartamento dos meus pais, que fica a quarenta minutos daqui." Segundos depois você bocejou e apoiou a cabeça em meu ombro. "Quer ir comigo? Podemos cozinhar o seu famoso macarrão com queijo."

Lembro de sentir o ar invadir o meu peito enquanto pensava a respeito. "Eu, você e o Bruce?" Perguntei.

Sorri ao ouvir o gato soltar um miado baixinho, como se de fato entendesse o que estávamos falando e fizesse parte da conversa. "Eu, você e o Bruce. O que diz?" Você perguntou em um sussurro.

"Parece bom para mim." Respondi.

★★★

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