Capítulo 28
Queria ter dito que te amava mais
Talvez eu estivesse perdido antes
[...] E saiba que eu a ouvi chorar
Eu partirei, mas você ficará bem.
(Ocean – Alok)
Levemente apoio uma das minhas mãos sobre a parede do corredor ao sentir pouco a pouco a fraqueza insistir em me arrastar em direção ao chão. Apesar das intensas e longas sessões de fisioterapias que tive no hospital, as minhas pernas ainda tremem discretamente devido a perda de músculos. Andar sozinha é possível, porém cansativo.
A verdade é que, para ficar completamente bem, eu preciso de meses de fisioterapia. Preciso de sessões intermináveis de fisioterapia para recuperar tudo o que perdi enquanto estive presa naquela cama de hospital. Mas eu simplesmente não possuo esse tempo. Não possuo tempo algum.
Por um breve instante encosto-me no batente de madeira da porta do seu dormitório e observo Ocean pela pequena fresta que existe ali enquanto recupero o fôlego perdido na curta caminhada. Ele está visivelmente concentrado na leitura do seu livro de física – como sempre ficava na cafeteria que costumávamos ir –, e veste apenas uma cueca preta sobre a sua cama arrumada.
Eu gosto de admirá-lo quando ninguém mais o vê. Gosto de admirar o jeito que os seus olhos ficam semicerrados quando ele está concentrado. Gosto de admirar o jeito que as suas sobrancelhas se erguem quando ele finalmente entende um parágrafo ou quando sabe como resolver uma conta desafiadora. Gosto de admirar o jeito que os seus lábios silenciosos se movem durante a leitura. Incrivelmente, esse o único momento em que ele realmente parece relaxado sem a pressão da universidade caindo sobre os seus ombros. É o único momento em que ele pode ser simplesmente o Ocean Cooper, sem a sua timidez e o excesso de pensamentos o impedindo de realizar algo.
Empurro a sua porta com delicadeza e, no mesmo momento, posso ver Ocean erguer as sobrancelhas sem ao menos tirar os olhos do livro que está em suas mãos, como se adivinhasse quem está ali. Um suspiro descrente brota em seus lábios e ele balança a cabeça em negação.
– Não, Nathan. – Ele continua balançando a cabeça. – Eu não vou ir à festa com você. Já disse que uma bebida não pode me animar. – Os seus olhos continuam rolando pela página do livro. – E muito menos vou te emprestar dinheiro, porque você ainda está me devendo 10... – Ao levantar a sua cabeça para mim, o sorriso vacila em seu rosto e, então, ele imediatamente se cala. Ocean coloca os seus óculos de grau, analisando-me de cima a baixo, desacreditado. Ao se dar conta que realmente sou eu ali, parada em sua frente; o garoto abre a sua boca, nitidamente surpreso e confuso. – Saturn? – A sua voz vacila.
Sem mais delongas, adentro o seu dormitório. Ocean fecha o livro que está em seu colo, colocando-o na mesa ao lado da sua cama. Em nenhum momento ele tira os olhos de mim. Por fim, tranco a porta do quarto atrás de mim, garantindo que ficássemos a sós por um momento. Não quero que Nathan entrasse naquele instante, não enquanto eu converso com Ocean.
Inevitavelmente sinto as minhas pernas fraquejarem ao dar pequenos e curtos passos em sua direção.
– Saturn, eu... – Ele se senta na ponta da cama, aproximando-se de mim. – Eu não... – Ocean levemente estende os seus braços quando eu me desequilíbrio pela fraqueza que eu sinto em meus músculos, mantendo-me em pé. – Eu não sabia que você sairia do hospital hoje. Luna me disse que você só seria liberada daqui a alguns dias...
E eu de fato só seria liberada daqui a alguns dias. Mas isso foi há dois dias atrás, antes de Ellie dizer que não há mais nada que possa ser feito por mim dentro daquele hospital. Foi antes de eu receber orientações da equipe de Cuidados Paliativos. Foi antes da Leucemia de devorar por completo.
Ocean segura o meu quadril com força ao notar o silêncio entalado em minha garganta. Eu não sei o que dizer a ele. Os seus olhos buscam os meus por um momento e, então, reparo que ele faz um enorme esforço para prender o choro que está preso dentro de si. Sem ao menos dizer uma palavra sequer, Ocean repousa a sua cabeça em minha barriga.
Posso ver os seus ombros tremerem timidamente por conta das lágrimas que saltam dos seus olhos. Respiro profundamente, tentando me conter. Delicadamente, passo as minhas mãos em seus cabelos escuros, que parecem maiores desde a última vez que eu o vi.
– Céus, você realmente está aqui, Saturn. – Ele diz sem ao menos levantar o seu rosto para mim.
– Ocean... – Chamei-o, levemente. Percebo que ele suspira pausadamente por um segundo antes de finalmente erguer o seu olhar para mim, fazendo esforço para controlar o misto de emoções que sentíamos naquele momento. Meu Deus, ele é tão lindo.
As suas íris azuis dançam em meio ao seu olho vermelho enquanto ele me observa, e é tragicamente belo. Toco levemente em seu rosto, sentindo a sua pele quente logo abaixo das minhas mãos. O seu calor é tão real que, durante alguns segundos, desejo senti-lo para sempre. Desejo tê-lo e tocá-lo para sempre.
Meu Deus, como eu senti falta do Ocean durante todos esses dias. Como eu senti falta de simplesmente conversar com ele, de rir ao lado dele. Como eu senti falta de olhar para ele, de olhar para o seu sorriso tímido e os seus olhos hipnotizantes. Como eu senti falta de tocá-lo, de sentir a sua pele morna entre os meus dedos, de sentir o seu corpo junto ao meu. Como eu senti falta de me encaixar em seu abraço, do seu beijo delicado em meu ombro. Como eu senti falta do meu garoto astrônomo.
Como um rápido e breve flash em minha mente, lembro-me de cada visita sua no quarto 502. Lembro-me da sua voz ecoando em cada pequena célula nervosa em minha mente. Lembro-me de cada palavra dita a mim neste período que estive em profundo coma. Lembro-me de cada memória nossa que ele fez questão de me contar, detalhadamente. E lembro-me do quanto isso foi essencial para me manter viva e mentalmente sã no período em que estive no hospital. Do quanto isso resgatava a minha alma da escuridão assustadora da minha mente paralisada.
Ainda posso me lembrar da maneira linda com que Ocean evoluiu. Posso me lembrar de como ele costumava ser tímido – e um tanto quanto estressadinho – quando o conheci. Posso me lembrar de como ele era – e ainda é – apegado a regras bobas, em como ele dolorosamente se prendia em uma cela invisível que o impedia de aproveitar o presente. E eu ainda posso me lembrar de como ele quebrou, pouco a pouco, cada barreira dessa prisão. Posso me lembrar de todas as vezes que ele se permitiu experimentar coisas novas, desde cantar Maroon 5 no carro ao meu lado à cantar desajeitadamente em um karaokê com plateia, desde enfrentar uma tempestade de raios à invadir o observatório da universidade, desde patinar no gelo à gritar para as montanhas no lago gelado da casa da minha avó.
Posso me lembrar vividamente de como Ocean lentamente se abriu para o mundo ao nosso redor, de como ele parecia genuinamente realizado em me ajudar a realizar mais um item da minha pequena lista. De como ele aprendeu a viver intensamente.
E, naquele instante, olhando nos olhos marejados de Ocean, eu soube. Eu finalmente soube. Soube que eu tenho um significado único, que eu tenho um propósito especial. E o meu propósito foi ensiná-lo a viver. O meu propósito foi fazê-lo aproveitar a vida ao meu lado. O meu propósito foi destruir todas as barreiras e prisões que o impediam de enxergar a vida que estava ao seu redor.
Porque foi através de mim e da minha lista que Ocean viveu infinitos momentos inesquecíveis que o transformaram na pessoa livre e leve que ele é hoje, que o fizeram viver de fato.
Sinto o meu coração bater fortemente contra o meu peito. Posso ouvir as batidas em meu ouvido, e pergunto-me se Ocean também pode ouvi-las. Toco novamente em seu rosto úmido pelas lágrimas quentes que ali escorrem e o admiro por um breve e curto momento. A ponta do seu nariz está avermelhada, o que o torna ainda mais lindo.
Sento em seu colo e, então, sinto os seus braços me envolverem. É acolhedor e eu finalmente me sinto em casa. Eu finalmente me sinto segura.
– Você... – Começo a dizer. Instintivamente aproximo-me do seu rosto, perto o bastante para sentir a sua respiração quente se chocar contra a minha pele. Perto o suficiente para enxergar a minha imagem refletida em sua pupila dilatada. – Você é o meu trigésimo item, garoto astrônomo.
As suas sobrancelhas discretamente se arqueiam no mesmo segundo, e é quando eu sei que ele se lembra do item trinta. É claro que ele se lembra. Um tímido sorriso alcança o seu rosto, evidenciando o contorno das suas covinhas. Como eu senti falta disso. E, sem ao menos pensar, finalmente o beijo.
E, meu Deus! A sensação dos seus lábios sobre os meus é infinitamente melhor do que eu me lembrava, o que causa arrepios em todo o meu braço. Como eu senti falta disso. Como eu senti falta do seu beijo e do seu gosto. Como eu senti falta da suavidade com que a sua boca toca a minha. Como eu senti falta do meu coração pular fora do ritmo dentro de mim.
– Saturn... – Posso sentir a sua mão tocar, delicadamente, o meu rosto quando, infelizmente, Ocean se afasta de mim. O seu dedão massageia todo o contorno da minha bochecha enquanto os seus olhos admiram cada pequeno milímetro da minha face. O seu rosto está ruborizado. – Você... Você está bem, certo? – A sua íris dança de um lado para o outro enquanto Ocean me analisa, esperando a confirmação que nunca virá. – Você vai ficar bem, não vai? – Ele insiste ao notar que eu nada falarei.
Mordo o canto da minha bochecha com força numa tentativa frustrada de segurar as lágrimas que ameaçam cair. Sinto os meus olhos marejarem.
– Por favor. – Inclino levemente a minha cabeça para o lado ao perceber que a minha voz falhou. – Apenas me beije. – Imploro.
Os seus olhos viajam sobre o meu rosto mais uma vez. Há dor e arrependimento em seu olhar, o que torna tudo pior. Ele sabe que eu não estou bem. E ele sabe que eu não ficarei bem. Mas, no segundo seguinte, Ocean volta a me beijar com urgência. Como se a sua vida dependesse daquilo, como se a minha vida dependesse daquilo. Como se eu pudesse, de alguma forma, ser curada através daquilo.
Em seus lábios há um desejo intenso, mas em suas lágrimas há uma dor avassaladora. A verdade é que, mesmo estando completamente quebrados por dentro, tentávamos concertar um ao outro.
Por debaixo do leve vestido florido que eu uso nesta tarde, sinto as suas fortes mãos subirem demoradamente pela lateral da minha coxa, causando-me arrepios inimagináveis. O seu toque é bom. O seu toque é viciante.
O meu desejo e a minha completa abstinência por Ocean faz cada mínima célula do meu corpo clamar desesperadamente pelo seu toque, como se cada milímetro da minha pele precisasse senti-lo mais uma vez antes de finalmente partir.
Respiro profundamente, tentando inutilmente controlar a minha falha respiração ao esconder o meu rosto em seu pescoço quando sinto as suas mãos frias ultrapassarem a minha cintura. A sua respiração quente e acelerada – assim como a minha também está – em minha nuca faz os meus pensamentos darem incontáveis voltas perigosas. Toda a minha mente está preenchida e tomada por Ocean.
Ele gentilmente retira o vestido que eu estou usando e, então, deixa-o cair no chão. Mordo o canto da minha bochecha enquanto tento adivinhar o que Ocean está pensando, enquanto eu me pergunto qual será a sua reação ao notar a quantidade de peso e de músculo eu perdi durante todos os doze dias que estive no hospital. Mas os seus olhos doces continuam fixos no meus.
Não sei por que ainda temo a sua reação.
E, então, Ocean simplesmente aproxima levemente o seu rosto do meu e me beija mais uma vez. Os seus lábios são suaves e calmos sobre os meus. Não há urgência. Não há dor. É a demonstração perfeita de todo o seu afeto e de toda a sua devoção por mim.
A maneira delicada e gentil que a sua boca toca a minha nesse momento me faz esquecer de toda a dor que sinto em meu corpo, de todo o cansaço que suga as minhas energias, de toda a fraqueza que toma conta dos meus músculos, de toda a doença que me corrói e de toda a insegurança que aflige os meus pensamentos. Ninguém, nem mesmo Christopher, havia me beijado com tanta adoração como Ocean.
Os seus braços insistem em envolver as minhas costas nuas e, delicadamente, Ocean me inclina em direção à sua cama, deitando-me sobre os cobertores. Ele apoia as suas mãos e os seus cotovelos sobre o colchão, bem ao meu lado, para que o peso do seu corpo não fique inteiramente sobre o meu.
Os seus beijos descem suavemente por toda a extensão do meu pescoço, arrancando de mim algumas respirações descompassadas. É de tirar o fôlego. É completamente viciante. E, ao sentir os seus lábios macios sobre os meus seios expostos, as minhas costas involuntariamente se arqueiam, respondendo automaticamente ao seu toque hipnotizante em minha pele. Eu mal consigo conter os suspiros que alcançam a minha boca diante de toda a sua intensidade.
Ocean continua a descer lentamente a sua boca pelo meu corpo completamente sensível e entregue, como se ele quisesse decorar cada centímetro de mim novamente. E cada centímetro de mim deseja desesperadamente ser decorada por Ocean novamente.
Quando ele ergue os seus olhos azuis em direção aos meus, percebo que os seus lábios estão levemente entreabertos e o seu rosto discretamente ruborizado. O seu olhar está fixo em mim. Dessa vez não há lágrima alguma em seu rosto. Meu Deus, Ocean é tão lindo que eu mal posso respirar.
As minhas mãos afundam nos fios escuros do seu cabelo e, então, ele se inclina sobre mim novamente e me beija com muito mais intensidade, fazendo com que eu sinta aquele frio gostoso na barriga. O seu gosto é bom. É muito bom. A única coisa que se passa em minha mente é que eu preciso senti-lo ainda mais. Eu preciso de Ocean. Por mais assustador que seja, por um breve momento eu realmente chego a pensar que eu estou totalmente dependente dele. E, bom, talvez eu realmente estivesse.
Ocean afasta o seu rosto do meu. Por um segundo os seus olhos admiram cada canto da minha face, e eu posso sentir as minhas bochechas esquentarem. Eu nunca irei me acostumar com o carinho visível e palpável em seus olhos quando eles estão direcionados a mim. Logo em seguida posso vê-lo arquear as sobrancelhas para mim, minimamente, como se pedisse silenciosamente a minha permissão para continuar. Como se pedisse a minha permissão para ir mais fundo. Olho em seus olhos e, quase que imperceptivelmente, balanço a cabeça em confirmação.
Ele, então, olha para baixo por um momento e, no instante seguinte, volta a me observar com atenção quando finalmente o sinto dentro de mim. Fecho os meus olhos enquanto aproveito a sensação dos nossos corpos juntos e posso escutar um tímido e baixo suspiro escapar entre os seus lábios quando ele entra por completo. A sensação é incrível.
Os seus movimentos são lentos. São calmos. São delicados em todos os sentidos. É como se tivéssemos todo o tempo do mundo somente para nós dois. Como se o mundo inteiro fosse capaz de parar de rodar ao redor do Sol só para que vivêssemos aquele momento eternamente. Como se as estrelas no céu fossem capazes de parar de vagar pelo universo só para nos observar.
Quero poder dormir com Ocean todas as noites para acordar ao seu lado todas as manhãs. Quero poder beijá-lo, tocá-lo e senti-lo dessa maneira todos os dias. Quero fazer milhões e milhões de listas de tarefas só para realizar todos os itens ao seu lado. Quero poder ouvi-lo sussurrar sobre o universo em meus ouvidos todas as tardes. Mas eu não tenho esse tempo.
Eu não tenho esse tempo. Eu simplesmente não tenho tempo algum. É tão injusto. É tão injusto não poder participar do resto da vida de Ocean.
E eu desejo, com toda a minha alma, com todo o meu ser, poder ter esse pequeno infinito ao lado de Ocean. Mas o tique-taque insistente do relógio ecoa segundo a segundo em meus ouvidos, lembrando-me insistentemente do curto tempo que aqui me resta. É horrível. É torturante.
E lembrar disso me destrói de uma maneira extremamente cruel e dolorosa.
– Você está bem? – Posso ver Ocean engolir em seco ao ver a pequena lágrima que escorre pelo meu rosto. Ele parece genuinamente preocupado, o que só piora tudo. – Eu estou machucando você?
Toco delicadamente em seu rosto e, de repente, penso em todos os momentos que não teremos juntos. Penso em todos os acontecimentos e conquistas que perderei por não poder estar ao seu lado, como a sua formatura ou até mesmo os seus futuros projetos científicos. Penso em todos os momentos que eu mesma não terei, como envelhecer ao lado de Ocean. Penso em todos os itens que deixaremos de cumprir juntos. Porque o meu tempo está acabando.
– Eu só... – Penso que o meu sentimento por ele é muito maior do que eu realmente posso me dar conta. E dar a ele um pequeno pedaço de torta de maçã, a mesma torta que eu usei para definir o amor com apenas oito anos de idade, quando estava internada no hospital talvez fosse uma discreta confirmação disso. – Eu acho que eu amo você, garoto astrônomo.
Os seus olhos se iluminam por um momento ao mesmo tempo em que ele ergue as sobrancelhas, minimamente.
– Bom... – Ele sorri timidamente. As covinhas se fazem presentes em seu rosto. E é lindo. – Eu tenho certeza de que a amo. – E, por fim, Ocean delicadamente beija o meu ombro.
O meu coração erra uma batida dentro do meu peito. Sinto o meu corpo ferver com a felicidade que explode em mim. É, eu definitivamente o amo com todas as letras.
Suave e lentamente, Ocean aumenta a intensidade dos seus movimentos, procurando encontrar o meu ritmo ideal, procurando tornar o seu corpo parte do meu. E, ao encontrá-lo, não sou capaz de reprimir o baixo gemido que insiste em escapar dos meus lábios. É maravilhoso. É perfeito.
Posso vê-lo com os lábios entreabertos para ajudá-lo a respirar. Os seus suspiros estão cada vez mais altos e irregulares e se misturavam com os meus. Ocean está com as veias saltadas em seu pescoço, e o seu rosto está levemente úmido pelo suor que começara a se formar na superfície da sua pele. Meu Deus!
Não consigo pensar em mais nada. A minha mente está completamente rendida ao momento. Completamente rendida a ele.
– Ocean... – O sussurro automaticamente escapa da minha boca ao sentir o meu corpo se contrair e, no instante seguinte, liberar incontáveis ondas elétricas, indicando o ápice que eu havia alcançado.
Ocean, então, apoia levemente a sua cabeça em meu ombro, onde é possível sentir a sua respiração completamente descompassada se chocar contra a minha pele.
☆
– Quanto tempo, Saturn? – É a primeira coisa que eu escuto quando finalmente abro os meus olhos. A sua voz está rouca.
A ponta dos meus dedos deixam de tocar toda a extensão do seu peitoral nu ao ouvi-lo quebrar o longo silêncio que havia se instaurado no seu dormitório. A sua pele está morna, e, com a minha mão, posso sentir as batidas ecoarem em seu peito. O seu coração está começando a acelerar. Então, elevo a minha cabeça em sua direção para olhar em seus olhos. O que exatamente Ocean estava tentando perguntar?
– Quanto tempo você ainda tem? – As palavras saltam da sua boca e me atingem como um doloroso soco. De repente é difícil respirar.
Como mero mecanismo de defesa, abaixo a minha cabeça e mordo o canto da minha bochecha, apreensiva. Eu não quero responder àquela pergunta, não quero falar em voz alta o escasso tempo que ainda me resta ao seu lado, não quero ter que lidar com a realidade assustadoramente cruel que me cerca, pelo menos não naquele instante. O meu desejo é viver esse momento eternamente. O meu desejo é continuar deitada ao seu lado, sentindo a sua pele entre as minhas digitais. O meu desejo é continuar fingindo que teremos um longo futuro juntos. Mas Ocean, mais do que qualquer um, merece saber a verdade.
Porque, mesmo que indiretamente, eu havia tratado todos os seus beijos e todos os seus toques como uma despedida, e não como um esperado reencontro. Eu havia tratado e encarado tudo o que aconteceu como se fosse a nossa última vez juntos. E, bom, de fato aquilo era o começo de um doloroso adeus entre nós.
– Algumas semanas. – Finalmente respondo. Fecho os meus olhos e respiro profundamente, sentindo o meu estômago doer. É difícil ter que lidar com essa realidade.
Sinto os braços de Ocean, que estão ao redor do meu corpo ainda nu, apertarem-me fortemente contra si, como se aquilo fosse capaz de me manter viva por mais tempo. Como se o seu abraço fosse capaz de me curar. Como se os seus braços fossem capazes de me proteger da morte. E eu me agarro a essa ideia, porque eu me sinto protegida aqui, porque eu me sinto bem. O seu coração está acelerado. O seu peito sobe e desce com rapidez, como se estivesse com falta de ar. Sinto os seus lábios em minha cabeça e posso ouvi-lo chorar discretamente.
O ar falta em meus pulmões. O meu coração dói em vê-lo assim. Tenho vontade de chorar como ele. Tenho vontade de gritar o quão injusto isso é. Tenho vontade de simplesmente gritar.
Eu me sinto destruído da pior maneira possível.
Após longos e eternos minutos sendo pisoteados pela realidade, sem ao menos dizer uma palavra sequer depois a minha resposta curta, Ocean se levanta com extremo cuidado para não me incomodar ou me despertar. Mas eu ao menos havia conseguido pegado no sono. É simplesmente impossível pensar em dormir neste momento.
Sobre o canto dos olhos, posso vê-lo abrir o seu organizado armário à procura de uma calça qualquer de moletom e, então, ele veste uma cinza. Ele está estranhamente quieto. Em seguida, Ocean abre a porta do dormitório e sai. Simplesmente saí. Em momento algum ele direcionou os seus olhos para mim. Um alerta se acende em minha cabeça. Há algo de estranho. Sem ao menos pensar duas vezes, levanto-me apressada e visto o meu vestido florido que estava caído no chão.
Eu não posso perdê-lo também. Eu não posso perdê-lo agora.
Ao abrir a porta do quarto e descer até a entrada do prédio dos alojamentos, encontro Ocean de pé em frente a uma pequena e fina árvore que fica no gramado da universidade.
Ele chuta o tronco frágil e duro com força, como se estivesse descontando toda a sua raiva e toda a sua frustação ali mesmo. Murmúrios altos escapam da sua boca. Ele também tem vontade de gritar. E, quando finalmente para de fazê-lo, passa as mãos em seus cabelos escuros, completamente perdido, completamente derrotado. No segundo seguinte, posso vê-lo perder todas as forças e cair de joelhos ao lado da pequena árvore. As suas costas sobem e descem agressivamente. Ele está com dificuldade para respirar, mas não é ataque de asma.
Ocean chora compulsoriamente debaixo da fina garoa que caí sobre os seus ombros.
☆☆☆
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