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Capítulo 24

Existe essa visão que eu tenho pensado
Poderíamos estar colhendo morangos e
Tomando banho lá fora.
(Isle of Strawberries – Edwin Raphael)


Lembro do exato momento em que você entrou no carro.

Você se sentou sobre o banco do passageiro e colocou a sua bolsa no chão. Lembro que você usava um vestido comprido branco, com pequenas flores amarelas e laranjas bordadas por todo o tecido. Algumas pulseiras cobriam o seu pulso esquerdo, como na festa em que a conheci. Você estava linda naquela tarde, Saturn. Absolutamente linda.

Você olhou para mim após fechar a porta ao seu lado e, então, sorriu timidamente ao perceber o jeito como eu a encarava. E eu não fiz questão alguma de esconder a minha admiração por você naquele dia. "Oi, garoto astrônomo." Você me cumprimentou.

Logo depois de prender o seu cinto, você se aproximou de mim, lentamente, pronta para me beijar. Mas, então, a minha irmã inclinou o corpo para frente, colocando o rosto dela entre os nossos. "Oi, Saturn!" Ela exclamou animada. Havia um grande e inocente sorriso no rosto dela.

"Ah." O ar escapou entre os seus lábios. Você apertou os olhos e os intercalou entre eu e Sea, rapidamente, parecendo estar confusa com tudo aquilo. "Oi, Serena." Você cumprimentou, brevemente. Lembro que, depois que minha irmã voltou a encostar no banco de trás, você inclinou a cabeça, esperando a minha explicação.

Conferi o retrovisor por um segundo, conferindo se Sea havia posto o fone de ouvido novamente. "Eu sei que eu disse que seria apenas nós dois..." Sussurrei baixinho, na esperança da minha irmã não ouvir aquela parte inicial. "Mas a minha mãe está cobrindo um plantão e o meu pai teve que correr de última hora para o hospital. Pelo visto deu alguma complicação em um parto. Como sempre." Murmurei.

Você apoiou a mão em minha perna e sorriu minimamente. "Está tudo bem, Ocean." Você falou. Sorri.

Ouvi Sea coçar a garganta propositalmente enquanto olhava seriamente em direção à sua mão. Eu já disse que ela morria de ciúmes de você, Saturn? "Nós vamos ou não?" Ela perguntou enquanto cruzava os braços, brava.

Eu ri e, então, liguei o carro para finalmente tirá-lo do estacionamento do alojamento.

Pelo canto dos olhos eu percebi que, quando já estávamos na rua, afastando-nos dos prédios e blocos da universidade, você começou a ler as placas do trânsito, confusa com a direção que eu estava seguindo. "Acho que agora é uma boa hora para eu perguntar onde é que estamos indo, garoto astrônomo." Você falou.

Eu ajustei o óculos em meu rosto, segurando o sorriso que insistia em alcançar os meus lábios. Fingi dar de ombros e continuei a olhar para as ruas a minha frente. "E eu acho que agora é uma boa hora para continuar a deixar essa informação em segredo, Saturn." Balancei a minha cabeça minimamente.

Você encostou a cabeça sobre o banco e respirou profundamente. "Isso é injusto." Você olhou para mim e sorriu.

Pelo canto do retrovisor, percebi que Sea retirou os fones de ouvido que estava usando. Ela olhou para mim e para você por um instante. "A Saturn não sabe onde estamos indo?" Ela perguntou, sorrindo de canto. Sea cruzou as pernas em cima do banco, deu de ombros e, então, ela mexeu brevemente em sua calça jeans nova. "Eu sei."

Você arregalou os olhos e, no mesmo instante, virou a cabeça para trás, completamente esperançosa em arrancar alguma mísera informação da minha irmã. "É mesmo, Serena?" Você me olhou por cima do ombro. "E onde exatamente estamos indo?" Você finalmente perguntou, apertando os olhos para ela.

Serena olhou para você por um momento e, sem pensar duas vezes, balançou milimetricamente a cabeça para os lados, em completa e absoluta negação. Ela fez um bico de desprezo e deu de ombros. "Não vou te falar." Foi tudo o que Sea murmurou antes de colocar de volta os fones de ouvido.

Eu mordi a boca para não rir alto.

Você ficou alguns segundos em completo silêncio, apenas olhando para a minha irmã e piscando algumas vezes, sem acreditar. Então, você voltou a se encostar no banco e olhou em minha direção. "Eu pensei que ela gostava de mim." Você sussurrou, parecendo estar desapontada.

Eu lembro de intercalar o meu olhar entre você e a rua movimentada a minha frente, respirando profundamente. A única coisa que eu pensava é que aquele seria um longo e difícil dia. "Por incrível que pareça, Sea realmente gosta de você, Saturn." Confirmei enquanto aguardava o sinal vermelho abrir para dar continuidade ao caminho.

Você mordeu a bochecha enquanto olhava discretamente para a menina no banco de trás, que balançava a cabeça no ritmo de alguma canção qualquer. "Mas..."

O sinal finalmente ficou verde novamente e eu voltei a acelerar o carro. Eu queria chegar o quanto antes no lugar planejado para podermos aproveitá-lo. "Ela gosta..." Mais uma vez respirei profundamente enquanto começava a explicar aquilo para você. "Mas acho que Sea não gostou de quando você..." Inclinei a minha cabeça para o lado, levemente.

"O quê?" Você perguntou enquanto apertava os olhos, pensando em alguma justificativa plausível para o mau-humor da minha irmã. De repente, você virou a cabeça em minha direção, como se finalmente tivesse entendido o que havia acontecido. "Foi porque eu tentei cumprimentá-lo com um selinho?" Você ponderou. "Ou foi porque eu coloquei a minha mão na sua perna?"

Eu balancei a minha cabeça. "Talvez os dois." Murmurei.

Você levantou as mãos para o alto em sinal de rendição e riu discretamente. "Recado entendido." Você mirou a sua atenção no rádio e, sem mais delongas, ligou-o a procura de alguma música conhecida. "Sem contato físico então."

Em determinado momento da nossa curta viagem, uma música começou a tocar em uma das estações do rádio. Você soltou um gritinho animado e, no mesmo instante, inclinou-se para frente para aumentar o volume. Logo eu pude reconhecer a voz do Adam Levine cantando Sugar.

Lembro que, pelo retrovisor, pude ver Sea tirar o fone de ouvido e apertar os olhos, tentando reconhecer a música que estava tocando. E não demorou até ela balançar a cabeça, tão animada quanto você.

"Sugar, yes, please! Won't you come and put it down on me?" Vocês duas cantaram e gritaram juntas.

Vi que Serena estava com os braços levantados enquanto recitava todo o refrão da música. "Aumenta o volume, Vi!" Sea pediu e, mesmo assim, não parou de cantar nem um segundo. Não sabia que ela gostava dessa canção.

Você olhou para trás e sorriu largamente ao ver que Serena estava cantando e dançando no banco. E você aumentou o volume.

"I gotta be a man, there ain't no other way, 'cause, girl, you're hotter than the southern California bay" Cantei baixinho enquanto olhava discretamente para você pelo canto dos olhos.

Lembro do barulho seco da madeira rangendo abaixo dos nossos pés quando finalmente adentramos a pequena e aconchegante casa de madeira. Havia uma lareira e algumas madeiras cortadas no canto da sala, e o cômodo estava praticamente vazio.

Sea correu em direção ao sofá de couro marrom e se sentou nele, soltando um suspiro aliviado e preguiçoso. E eu não a julguei, porque eu gostaria de fazer o mesmo que ela. A viagem havia sido curta, porém cansativa, ainda mais com toda a cantoria e danças que vocês insistiram em fazer.

Você olhava ao redor, observando cada mínimo detalhe daquela casinha. Lembro que você se aproximou da janela, prestando atenção nas árvores e na terra que rodeavam o lugar. "Uma fazenda?" Você perguntou ao olhar para mim.

Eu sorri minimamente enquanto me aproximava lentamente de onde uma mulher de meia idade estava. "Quase isso." Respondi a você.

Você deu mais alguns passos apressados em minha direção, tentando me alcançar. A madeira antiga fazia todos os seus passos ecoarem pela casa. Você ainda parecia estar perdida e confusa com todos os detalhes daquele lugar.

"Oi." Acenei para a mulher de cabelos brancos e rugas profundas que estava sentada na grande mesa, também de madeira. Ao lado dela havia algumas cestas trançadas e uma caixa média que parecia ser antiga, nela havia uma plaquinha escrito: pagamentos. "Eu conversei ontem com a senhora pelo telefone. Não sei se você vai se lembrar de mim, mas..."

Ela ergueu o rosto para mim e sorriu gentilmente. "Ora, você deve ser o rapaz que estava planejando um encontro." A senhora retirou o óculos de leitura que estava em seu rosto e o colocou sobre a mesa para poder me medir de cima a baixo.

Você piscou algumas vezes, surpresa. "Encontro?" Você sorriu e, então, olhou para mim. Havia um brilho ingênuo em seus olhos esverdeados, e era lindo.

"Ah..." Gaguejei. Lembro de levar a minha mão à nuca para coçá-la, completamente desajeitado. As minhas mãos começaram a suar, instantaneamente, e um calor subiu para o meu rosto. Depois de saber que a minha irmã viria conosco, eu só queria esquecer que aquilo seria, inicialmente, um encontro. Digo, um encontro oficial. Um encontro que eu havia planejado sem antes falar com você. Mas, bom, a partir daquele momento você soube. "Aconteceu um imprevisto, então... vou fazer o pagamento para três pessoas." A minha voz saiu fraca.

Peguei o dinheiro que estava guardado em minha carteira e a paguei. Em troca, a moça nos deu três cestas.

Quando nos afastamos da mesa e começamos a caminhar em direção ao sofá onde a minha irmã estava jogada preguiçosamente, você segurou delicadamente o meu braço, chamando a minha atenção. "Hoje era para ser um encontro, garoto astrônomo?" Você sussurrou para Sea não a ouvir.

Eu olhei para o outro lado, respirando profundamente. As minhas mãos continuavam a suar, e eu odiava aquilo. "Era." Decidi confessar.

Você sorriu verdadeiramente.

Caminhei rapidamente até o sofá, ficando em frente à minha irmã. "Vamos, Sea." Toquei em seu ombro e, em seguida, apontei para a porta aberta que ficava do outro lado do cômodo, indicando onde deveríamos ir.

Na mesma rapidez que ela se jogou no sofá, ela se levantou dele e, sem dizer qualquer palavra, correu em direção à porta. Lembro que tivemos que dar passos apressados para acompanhá-la e para não a perder de vista.

Por um longo segundo você ficou parada em frente a porta, apreciando toda a vista daquele verde mar composto unicamente de folhas e grama. Havia apenas outros dois casais caminhando entre toda aquela plantação. Os nossos olhos não eram capazes de enxergar o fim daquela propriedade.

Ergui a minha mão e, então, apontei para a plantação a nossa frente enquanto descíamos os dois degraus entre a casa de madeira e a grama. "Pelo que eu pesquisei, essa propriedade é de uma família antiga." Comecei a explicar. Por um segundo, observei a grande casa que ficava ao lado da modesta casinha de madeira onde estávamos. "Toda essa plantação é deles. E eles são responsáveis pelo abastecimento de alguns mercados locais da cidade." Continuei a dizer. Pelo canto dos olhos, percebi que você prestava atenção dos detalhes ao seu redor. "Duas vezes por ano eles abrem a propriedade para o público."

Nos aproximamos lentamente de algumas plantas. "Nós podemos comer qualquer fruta que a gente conseguir colher diretamente do pé. E, até onde eu sei, não há limite de quantidade." Falei, rindo discretamente ao ver que Sea já estava comendo. "Dentro da casa onde estávamos, há uma área onde podemos preparar um fondue com as frutas que a gente colheu, e eu trouxe algumas bananas para complementar." Completei.

Lembro de colocar as mãos em meu bolso, esperando você dizer alguma coisa. Qualquer coisa.

Você deu um pequeno passo para frente e, então, segurou entre os dedos uma pequena folha verde. Ao lado dela havia uma fruta vermelha e pequena. "São morangos?" Você perguntou, erguendo a cabeça para mim.

"São." Respondi, simplesmente. Lembro de ajustar o óculos em meu rosto enquanto olhava para você. "Você me disse que queria comer os morangos frescos de julho." Eu inclinei a minha cabeça levemente para o lado e sorri. "E que queria comer direto do pé." Sussurrei. "É o primeiro item da sua lista."

Você sorriu e, então, observou mais uma vez o tamanho gigantesco daquela plantação. Observando os incontáveis pontinhos vermelhos espalhados por lá. Observando Sea correndo até nós já com a cesta cheia de morangos maduros. "Você lembrou." A sua voz era baixa, como se estivesse simplesmente pensando alto.

Lembro de olhar para o meu tênis por um momento enquanto eu tentava controlar o sorriso tímido que insistia em alcançar o meu rosto. "É claro que eu lembrei." Falei por fim.

Os meus olhos encontraram os seus por um segundo, e você sorria como naquele dia em que invadimos o observatório da universidade. Você sorria tão genuinamente que as covinhas se fizeram presentes em sua bochecha. Você sorria tão genuinamente que eu sorri também, como um bobo.

Sem aviso prévio, você deu um pequeno passo em minha direção, apoiando a mão em meu peito. E, antes que eu pudesse pensar, você me beijou.

Lembro de apoiar as minhas mão em sua cintura, retribuindo o beijo.

"Vi?" Nos afastamos rapidamente como num pulo ao ouvir a minha irmã chamar por mim. Ela estava olhando para nós com os lábios abertos, em completo choque. "O que você... O que você está fazendo?" Sea gaguejou por um momento. E ela não parecia mais estar surpresa, ela parecia brava.

Lembro de umedecer os lábios, preparando-me para ter uma longa e cansativa conversa com a minha irmã. "Sea, olhe..." Respirei profundamente antes de me baixar para ficar na sua altura.

Ela deu um passo para trás, como se simplesmente se recusasse a acreditar em tudo o que havia visto. Céus, sempre tão dramática. Tão dramática. "Por que você beijou ela, Vi?" Sea olhava diretamente para mim, esperando alguma mísera resposta, alguma mísera explicação.

"Porque..." Comecei a dizer, mas ela fechou os olhos e respirou profundamente.

Sea apertou a alça da cesta que estava segurando, e naquele momento eu soube que ela não estava tão nervosa quanto aparentava, ela só estava confusa. Muito confusa. "Vocês estão namorando?" Ela perguntou, agora intercalando o olhar entre mim e você, rapidamente.

Por um instante eu ergui o meu rosto e olhei para você. E, em contrapartida, você olhava para mim, em completo e absoluto silêncio. Você também estava curiosa para ouvir a minha resposta, Saturn. Você também estava curiosa para saber o que, de fato, era a nossa relação. "Estamos." Respondi.

Pelo canto dos óculos eu percebi que você sorria discretamente.

Serena cruzou os braços e apertou os olhos para mim, séria. A cesta cheia de morangos vermelhos quase caiu de sua mão. Ela respirou profundamente enquanto mordia o lábio inferior. "Você gosta dela?" A voz de Sea falhou por um segundo.

Eu balancei a cabeça, demoradamente, confirmando o seu questionamento. "Gosto." Sussurrei.

"Mas..." Sea apertou ainda mais os braços ao redor do seu corpo e chutou um pouco de terra, parecendo estar profundamente chateada. "Mas no dia que a gente se conheceu você disse que ela era só uma colega." Ela fez bico. Céus.

"Ok, Serena." Respirei profundamente, fechando os meus olhos enquanto implorava mentalmente para ter paciência. "O que está acontecendo?" Perguntei.

Sea descruzou os braços e, então, aproximou-se de mim, aparentemente com vergonha de você estar ouvindo aquela nossa conversa. "Quando eu era pequena você me prometeu que eu e a mamãe seria as mulheres da sua vida." Ela sussurrou baixinho, perto do meu rosto.

Lembro de colocar as minhas mãos em seu ombro, fazendo-a olhar para mim. "Você e a mamãe são as mulheres da minha vida." Eu falei olhando nos olhos dela enquanto balançava a cabeça. "Mas não serão as únicas, entende isso, Sea?" Perguntei. A minha irmã ficou em silêncio, parecendo triste. "Ninguém vai tomar o seu lugar. Você vai ser sempre a minha irmãzinha." Expliquei, tentando tranquilizá-la. "Além disso, só você pode me chamar de Vi."

Sea sorriu, satisfeita.

Eu finalmente me levantei. "Será que agora podemos comer morangos?" Perguntei.

Serena balançou a cabeça em concordância e, sem ao menos protestar ou bater o pé como eu pensei que ela faria, ela se virou e começou a colher mais morangos, colocando-os em sua pequena cesta – que já estava cheia.

Lembro de segurar a sua mão, entrelaçando os nossos dedos delicadamente. Você olhou para mim por um instante e sorriu. "Acho que agora o contato físico está oficialmente liberado." Suspirei.

Você riu.

Lembro de quando chegamos no estacionamento do alojamento após deixar Sea em casa. Já era noite.

Você se aproximou de mim e, então, apontou para o meu suéter azul que você estava usando por cima do seu vestido. Depois do pôr do sol, o tempo havia virado de repente e você não havia levado nenhuma blusa para a 'fazenda'. Eu balancei a cabeça e as mãos em negação. "Pode me devolver depois." Eu a tranquilizei. Estava frio naquela noite.

"Boa noite, garoto astrônomo." Você sussurrou sorrindo. "Obrigada pelo primeiro item. E obrigada pelo encontro de hoje." Você se aproximou de mim e, então, beijou a minha bochecha, bem no canto da minha boca.

Logo em seguida, você atravessou o portão de vidro usando a chave magnética e finalmente entrou no prédio do alojamento. Eu continuei no estacionamento para pegar a sacola de morangos que eu havia trazido para mim. Só então eu guardei a sacola em minha mochila.

Quando eu fechei o porta-malas e tranquei o meu carro, comecei a caminhar preguiçosamente até a entrada. Lembro de notar que havia um homem parado ao lado do portão. Ele olhava para o lado de dentro, como se desejasse entrar.

Pensei que se tratava de um estudante qualquer que havia esquecido a chave, o que costumava acontecer com certa frequência. Mas, ao me aproximar, percebi que ele não me era estranho. Lembro de ajustar o óculos em meu rosto, prestando atenção em todos os seus detalhes. "Christopher?" Perguntei, totalmente incrédulo.

Ele se virou para trás, em minha direção. Por um segundo ele pareceu não saber quem eu era, mas, no instante seguinte, ele ergueu as sobrancelhas, como se finalmente se lembrasse de mim. "Ocean." O meu nome saiu com uma certa surpresa de seus lábios.

Lembro de fechar o punho e de respirar profundamente. Era impressionante como o simples fato de ver o rosto dele fazia o meu sangue borbulhar dentro do meu corpo. "O que você quer aqui?" Murmurei, completamente sem paciência.

Ele ergueu o rosto, como se não devesse nada a mim ou a ninguém. Christopher balançou os ombros e voltou a olhar para o portão de vidro, como se eu não existisse. "Vim ver a Saturn." Em seguida ele apontou para a trava magnética, esperando que eu o liberasse.

Eu apertei os meus olhos e, então, balancei a cabeça em negação. "Saturn não chamou você." Eu falei, sério. E, por dentro, eu confesso que ainda me perguntava se você havia o chamado ali, naquela noite. Mas você não havia bebido, então não tinha chance alguma de tê-lo chamado, certo?

"É." Ele se virou de volta para mim, também parecendo estar perdendo a paciência com a minha presença ali. "Ela não chamou." Christopher revirou os olhos lentamente, claramente com preguiça de me dar qualquer satisfação. "Mas..."

Eu dei mais um passo em direção a ele, segurando com força a chave entre os meus dedos. "Então acho que já está na hora de você ir embora." Sussurrei ao erguer a minha sobrancelha.

"E quem você pensa que é para..." Christopher abriu os lábios por um momento e, em seguida, ficou em silêncio, como se estivesse ligando alguns pontos dentro de sua mente. "Ah, entendi." Ele me olhou de cima a baixo, demoradamente. Christopher deu um sorriso mínimo. "É você que está comendo ela agora." Ele tirou as mãos do bolso da sua blusa. "Ela perdeu bastante peso mas até que dá para o gasto, não é mesmo? Nem parece doente." Ele riu ironicamente.

O ar frio ficou preso em meus pulmões, e eu pude jurar sentir o sangue invadir cada milímetro dos meus olhos. Sem ao menos pensar duas vezes, ergui o meu punho fechado e o atirei em direção ao rosto dele.

Mas Christopher segurou a minha mão antes mesmo dela conseguir encostar em sua pele. Não havia surpresa alguma naquilo, porque ele era mais alto e mais forte que eu. "Ei, ei." Ele deu um passo para trás, assustado com a minha reação. "Calma." Ele riu da minha cara ao mesmo tempo que abaixava a minha mão. "Eu falei alguma mentira aqui?"

Eu respirei profundamente e, então, puxei o meu braço, afastando a mão dele da minha.

Ele apertou os olhos para mim ao mesmo tempo em que inclinou a cabeça para o lado, levemente. "Oh." Christopher sorriu largamente. "Você não sabe o que ela tem. Ela não contou para você, não é mesmo?" Ele balançou a cabeça, como se confirmasse a própria hipótese. "Bom, então deixe-me contar para você." Christopher limpou a garganta. "Saturn tem leucemia."

Lembro de dar um passo para trás.

Para ser sincero, Saturn, eu sabia que você não estava bem. E eu sabia desde o dia em que assistimos Interestellar juntos, sabia desde o dia em que eu vi você usando uma pulseira de identificação do hospital, sabia desde o dia em que você deixou de passar a Ação de Graças com a sua família por conta de um 'exame de rotina' qualquer.

E eu sabia que você não estava bem porque eu a vi sem a peruca. Porque eu a encontrei vomitando em frente à privada do seu apartamento. Porque eu tive que carregá-la até o seu quarto quando você ao menos conseguia se manter em pé. Porque você passou o Ano-Novo deitada em sua cama, sem forças. Porque o seu nariz sangrava sem qualquer motivo aparente. Porque você bebia para afastar a dor. Porque eu a encontrei sentada no chão do banheiro com o chuveiro frio ligado sobre o seu corpo.

Eu sabia, Saturn. Eu sempre desconfiei.

Mas, como eu disse anteriormente, do mesmo modo que você fingia estar bem para mim e para todos ao seu redor, eu fingia acreditar. Eu fingia porque era confortável demais me convencer de que você estava bem, eu fingia porque era dolorido demais lidar com a realidade.

E eu fingia porque eu não queria aceitar que você estava, de fato, doente. Eu não queria aceitar, Saturn.

Mas Christopher fez questão de esfregar toda a cruel realidade na minha cara, como um tapa eco e dolorido. Leucemia. Você não estava bem, Saturn. A sua saúde estava se deteriorando lentamente, bem diante dos meus olhos. E eu não podia e não conseguia mais fugir daquilo.

Você tinha leucemia.

Lembro de passar por Christopher, empurrando-o com os meus ombros para tirá-lo do meu caminho. Eu não queria que ele visse as lágrimas escorrendo em meu rosto. Não queria deixá-lo ver que os meus pensamentos estavam torturando a minha mente, que as suas palavras me atingiram dolorosamente.

Quando encostei a chave sobre a trava magnética, Christopher soltou o ar dos seus pulmões, em alto e bom som. "Eu sabia que você iria abrir para mim." Ele começou a dizer. "Estou congelando aqui fora."

Respirei profundamente, lembrando-me de tudo o que as suas irmãs me contaram sobre Christopher, lembrando-me da mensagem que você enviou a ele 'Você me acha bonita agora?', lembrando-me do que ele havia dito para mim na primeira vez em que eu o vi 'Quer saber? Diga para a Saturn que a resposta ainda é não'.

Virei-me para trás e, novamente, fechei os meus dedos em punho. E, dessa vez, Christopher não conseguiu segurar a minha mão a tempo. O soco o atingiu em cheio, logo abaixo dos seus olhos.

"Qual é o seu problema?" Ele gritou enquanto passava as mãos em seu rosto.

Olhei para ele, sem demonstrar qualquer emoção. Sei que, pelas regras da universidade, agressão é motivo óbvio para expulsão, mas, naquele momento, eu não me importava. Eu simplesmente não me importava. "Isso é por tudo o que você fez." Foi tudo o que eu falei antes de entrar no prédio.

Fico alguns minutos em silêncio, como sempre faço entre uma lembrança e outra. Escuto atentamente os sons ao meu redor, conferindo se Saturn está apresentando algum reflexo, algum mísero sinal, algum mínimo movimento. Mas ela não está.

Sorrio, triste.

Tento inutilmente me consolar, pensando e lembrando que Saturn já apresentou algo importante hoje, a poucos minutos atrás. Uma lágrima racional caiu dos seus olhos, mais de uma vez. Ela está recobrando a consciência, pouco a pouco. Ela está acordando, pouco a pouco.

E eu preciso me agarrar à essa esperança.

Procuro em minha mochila algo para comer, sentindo a minha barriga começar a roncar de fome. Mas, para a minha total surpresa, noto que ela está vazia, não há nada ali. E, então, eu me lembro que dei tudo à Violet em comemoração à suspensão da sua restrição alimentar.

Respiro profundamente. Por fim, decido ir à lanchonete que fica ao lado do hospital para almoçar.

★★★

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