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Capítulo 22

Porque somos todos
Feito de estrelas
Fragmentos de prata caindo
Somos feitos de estrelas
Procurando por aquela promessa secreta
Feito de estrelas
Você me cura, você me preenche.
(Made Of Stars – Hovi Star)


Lembro que era início da noite quando você havia me mandado uma mensagem me pedindo para ir ao seu quarto. E não havia detalhe algum na sua mensagem de texto, apenas um simples e único: "Você pode vir aqui?". E aquilo parecia ser urgente.

A porta do seu dormitório estava entreaberta e, sem pedir qualquer permissão, eu entrei nele. Rapidamente eu passei os meus olhos pelo quarto completamente bagunçado, como sempre, e eu encontrei, ao lado da sua cama, uma garrafa completamente vazia. Lembro de respirar profundamente. Na sua mesa havia um termômetro, e ele marcava 39 graus.

E o quarto estava vazio.

Passei as mãos em minha nuca, coçando-a. Virei-me e observei com atenção o seu dormitório mais uma vez, perguntando-me onde raios você poderia estar. O ar começou a pesar dentro do meu peito, porque eu sabia que você não estava bem, porque eu sabia que você havia bebido.

Os meus olhos enfim repousaram sobre o termômetro em sua mesa e, no mesmo momento, eu me lembrei de algo. Os meus pais costumavam dar banho frio em mim e na minha irmã quando ficávamos com febre alta, e isso aliviava a nossa temperatura por um curto período de tempo.

Saí do quarto e corri em direção ao banheiro no fim do corredor.

"Saturn?" Chamei-a assim que entrei no banheiro feminino que, por sorte, parecia estar vazio. Lembro de ouvir um barulho de água caindo sobre o chão. Um dos chuveiros dali estava ligado. "Saturn?" Chamei-a mais uma vez quando me aproximei da cabine, só para conferir.

Com certa hesitação, empurrei a porta da cabine, devagar. Confirmando todas as minhas suspeitas, encontrei você sentada no chão do banheiro. A água gelada do chuveiro caía sobre você, levemente, e os pingos escorriam por todo o seu rosto e corpo, demoradamente.

"Céus, Saturn." As palavras saltaram da minha boca quando a vi ali, naquela situação. Como reflexo, fechei o registro, parando completamente o curso da água. Lembro que você ergueu os olhos para mim, e eu reparei que eles estavam vermelhos. "Você está bem?" Ajoelhei-me ao seu lado, sem me importar com a poça de água que havia embaixo dos meus pés, sem me importar com nada. "Você está bem, Saturn?" Insisti ao reparar que você nada dissera.

Você, como resposta, abraçou ainda mais o seu joelho, encolhendo-se de mim. Escondendo-se de mim. Com vergonha de mim. Lembro de tocar em seu rosto, fazendo-a olhar para mim, fazendo-a ter a certeza de que eu estava ali para te ajudar.

Passei as minhas mãos em seu rosto e pescoço, verificando a sua temperatura. Apesar da água fria que caíra sobre você segundos antes, você ainda estava quente. Muito quente, Saturn. E, quando você percebeu a preocupação evidente em meu rosto, você simplesmente sentou em meu colo e me abraçou.

Os seus pés estavam ao redor da minha cintura e os seus braços abraçavam-me pelo tronco. Eu podia sentir o seu peito subir e descer contra o meu todas as vezes que você respirava. A sua roupa estava completamente encharcada por conta do chuveiro, mas eu não me importava, Saturn. Eu simplesmente não me importava.

Eu suavemente passava a minha mão por toda a extensão das suas costas, onde eu podia sentir a rigidez de cada músculo do seu corpo causada pela dor e pelo cansaço que você tanto sentia. Eu respirava profundamente, tentando me acalmar. "Céus, você está tão quente." Fechei os meus olhos por um momento. "Desde quando você está assim, Saturn?"

Eu podia senti-la tremer entre os meus braços, e eu sabia que você tremia de frio. Frio por conta da água gelada. Frio por conta da febre. "Eu não sei ao certo..." Você murmurou em meu peito. "Algumas horas."

Pisquei algumas vezes, em completo e absoluto silêncio. Você estava queimando de febre a horas. Horas. Balancei a cabeça, sentindo-me culpado, de alguma forma. "Você tomou algum remédio, Saturn?" Finalmente perguntei.

Você rapidamente ergueu a cabeça para mim. Os seus olhos estavam abertos em alerta máximo, como se estivesse sentindo um medo genuíno do rumo daquela conversa inocente. Como se estivesse com medo de que eu houvesse descoberto algo sobre você. "O quê?" Você gaguejou.

Inclinei a cabeça para o lado, levemente, e arrumei o óculos em meu rosto. "Algum remédio para a febre. Você tomou?" Lembro de afastar o meu rosto do seu para poder te olhar com atenção. "Eu posso perguntar para os meus pais qual é o melhor para a..."

"Não se preocupe, garoto astrônomo." Você respirou profundamente, e, então, voltou a deitar-se em meu peito. "Eu tomei sim." E você parecia estar aliviada, Saturn.

Lembro de apertar os meus olhos, visivelmente desconfiado. Porque eu sabia que havia algo de errado com você, Saturn. Eu sabia que você não estava bem. Eu sabia que, em algum ponto, em algum detalhe, você mentia para mim, descaradamente.

E eu sabia disso desde o Ano-Novo. Sabia que você, de fato, não estava bem desde o dia em que eu a encontrei sentada no chão do banheiro do seu apartamento. Desde o dia em que eu a vi vomitar, em que eu a vi de um jeito tão vulnerável. Desde o dia em que eu tive que carregá-la até o seu quarto porque você mal conseguia se manter em pé. Porque desde aquele dia você tem piorado lentamente, Saturn. Porque desde aquele dia a sua saúde estava se deteriorando.

Mas você ainda tentava esconder isso de mim.

"Ah, é mesmo?" Ergui as sobrancelhas, um pouco irritado. "E você achou que seria uma boa ideia misturar o remédio com álcool?" Murmurei alto o bastante para você ouvir.

Você discretamente se afastou de mim para conseguir olhar em meus olhos. Havia lágrimas descendo pelo seu rosto. "O remédio não estava fazendo efeito e, então, eu... eu... Eu não sabia o que fazer." Você sussurrou e, logo em seguida, soluçou baixinho.

Lembrei-me da sua primeira fase com o álcool.

Fechei os meus olhos com força, passando uma das minhas mãos em suas costas. "Desculpe, Saturn." Balancei a cabeça, levemente. Aquele não era o momento para dar lição de moral, não era hora de apontar e dizer que aquilo era errado, que você não podia ter feito aquilo. Eu estava sendo um babaca.

Respirei profundamente, dessa vez pensando com mais clareza. "Acho que deveríamos ir ao hospital." Falei. As minhas mãos ainda afagavam as suas costas delicadamente.

Mas, quando eu disse aquela simples frase, você voltou a abraçar-me ainda mais forte, como uma pequena criança assustada. Como se a simples possibilidade de ir ao hospital lhe causasse um medo angustiante. "Eu estou bem, Ocean." Você levantou o seu rosto levemente e eu pude ver que os seus olhos ainda estavam marejados pelas lágrimas que ameaçavam cair. "Eu tenho certeza de que é só uma febre de início de gripe, sabe." Você tentou sorrir. "Se eu for ao hospital eles só vão me medicar, de novo." A lágrima caiu do canto do seu olho.

Lembro de pressionar o meu maxilar com força. Eu odiava vê-la daquela forma, Saturn.

Odiava vê-la tão indefesa, tão fraca. Odiava ver o seu nariz sangrar em momentos aleatórios do dia. Odiava saber que você havia bebido uma garrafa inteira de álcool só porque não estava se sentindo bem. Odiava vê-la perder todas as forças bem na minha frente. Odiava vê-la vomitando em um banheiro, como no Ano-Novo. Odiava vê-la tremer em meus braços. Odiava tê-la encontrada sentada no chão da cabine do chuveiro com a água fria ligada sobre o seu corpo. Odiava vê-la com as roupas encharcadas pela água gelada que caía sobre si. Odiava ver as lágrimas quentes escorrerem pelo seu rosto. Odiava saber que tudo isso ajudava a diminuir a insistente febre que você sentia. Odiava assistir a sua lenta degradação e ao menos saber o quão devastador aquilo realmente era. Odiava não saber a verdade.

Odiava sentir-me de mãos atadas perante tudo isso.

Porque aquilo Saturn, quebrava-me da forma mais cruel possível. "Eu só estou preocupado com você, Saturn." Sorri fracamente, sozinho. "Muito preocupado." Lembro de sussurrar a última parte para mim mesmo.

A sua respiração estava mais devagar, como se você estivesse ficando cada vez mais calma. "Você não deveria, Ocean." Você sussurrou de volta. A sua voz estava arrastada, como todas as vezes que você acabava com uma garrafa de bebida.

Fechei os meus olhos ao sentir os seus lábios em meu peito, sobre o meu moletom também molhado. O seu corpo ainda estava quente, mesmo após a ducha gelada. "Eu só estou dizendo que, como a temperatura não abaixou, mesmo após o remédio e a água, seria melhor ir ao médico. Talvez eles tenham uma medicação mais forte." Falei, simplesmente.

Você balançou a cabeça para os lados, rapidamente, em completa negação. Parecia implorar silenciosamente para que eu não a levasse ao médico. "Por favor, não me faça ver você assim, Saturn." Passei os meus olhos por todo o seu rosto vermelho e por toda a sua roupa encharcada. Toquei em sua bochecha, delicadamente. "Me deixe a ajudar você."

Você ficou em silêncio alguns segundos com os olhos fixos nos meus. Sobre o canto do óculos eu percebi que você mordia o canto da bochecha, ansiosa. "Conte-me alguma coisa. Qualquer coisa." Você pediu.

Sinto o ar pesar em meus pulmões ao lembrar de Violet pedindo para eu lhe contar alguma coisa. Ao lembrar que esse é o jeito que a Saturn lidava com a dor paralisante que ela sentia e com o cansaço excessivo que a afligia.

Tento, com todas as minhas forças, controlar a minha respiração. Mas saber hoje que ela estava sentindo alguma dor naquele dia faz o ar sair completamente de dentro do meu peito.

– Desculpa, Saturn. – Sussurro entre os meus lábios.

O Monitor Multiparâmetro ao lado da sua cama revela um batimento cardíaco irregular, completamente fora de sincronia com os demais. Isso nunca aconteceu antes. Mas, logo em seguida, tudo volta ao normal.

Aperto os meus olhos em direção ao aparelho e, então, intercalo a minha atenção com Saturn, que ainda repousa tranquilamente sobre a cama. Uma minúscula parte de mim quer acreditar desesperadamente que o batimento irregular logo após eu lhe pedir desculpa não se trata de uma mera coincidência.

Continuo a narrar as lembranças, esperando ingenuamente algum outro sinal:

Fechei os meus olhos com força, mais uma vez. Respirei profundamente, sentindo-me totalmente derrotado, totalmente cansado de insistir em ir ao hospital com você.

Balancei a cabeça milimetricamente ao notar que, sim, eu iria contar alguma coisa a você. Ao mesmo tempo, eu tentava inutilmente convencer-me de que aquilo a ajudaria, de alguma forma. "Fusão." Lembro de falar, de repente. Você me olhou com uma certa curiosidade. "Uma estrela realiza fusão nuclear durante toda a sua vida."

Eu ainda me lembro de como a sua voz falhou quando você sussurrou, pedindo para que eu continuasse.

"As Nebulosas são conhecidas por serem as formadoras das estrelas." Comecei a dizer. Eu continuava a passar as minhas mãos por toda as suas costas, e você parecia estar menos tensa. E isso, de certa forma, tranquilizava-me internamente. "Isso porque as estrelas nascem através da junção de milhares de átomos de Hidrogênio e Hélio que estão presentes nas Nebulosas." Expliquei.

Lembro que você lentamente balançou a cabeça, dizendo que estava me entendendo.

Ajustei o óculos em meu rosto antes de dar continuidade. "A força gravitacional, causada pelo acúmulo de átomos de Hidrogênio e Hélio numa determinada área comum, vai aumentando lentamente, até que, em determinado momento, a estrela e o seu núcleo são formados."

Sorri fracamente ao notar que os seus olhos estavam fixos em mim, sedentos por mais informações.

Respirei profundamente, tomando fôlego para continuar. "Depois de finalmente ser formada, a estrela – durante toda a sua vida – realiza fusão em seu interior, isto é: em seu centro. Em seu núcleo, dois átomos de Hidrogênio se fundem e, então, originam os átomos de Hélio." Ergo os meus dedos e os mostro para você, ilustrando toda a reação. "Em seguida, dois átomos de Hélio se fundem e, assim, formam-se os átomos de Lítio. E isso é a fusão nuclear: a junção de dois núcleos atômicos, formando um novo átomo ainda mais pesado."

Olhei em seus olhos, e você balançou a cabeça logo em seguida. "Certo, estou entendendo." Você respirou pesadamente. O seu corpo ainda tremia discretamente. "Pode continuar."

Sorri. "Os átomos vão se fundindo e se combinando centenas e milhares de vezes, originando elementos ainda mais pesados como o Oxigênio, o Carbono, o Nitrogênio e o Ferro, que são essenciais para a Terra e para a vida que conhecemos hoje."

Dei uma breve pausa para retomar a linha de raciocínio que eu pensei ter perdido por um curto segundo. "Quando o seu núcleo está majoritariamente preenchido por átomos de Ferro, a estrela colapsa sobre si mesma e explode. E essa explosão fornece a energia necessária para criar todos os demais elementos mais pesados que o Ferro."

Você balançou a cabeça mais uma vez, dizendo estar compreendendo. Lembro de ajustar o óculos em meu rosto, enquanto pensava no que diria a seguir. "Você entende o que quero dizer, Saturn? A fusão nuclear é a única coisa em todo o universo que pode criar novos átomos, novos elementos. Todos os átomos e todos os elementos que conhecemos hoje foram criados ali, no núcleo de uma estrela distante."

Você apoiou as suas mãos em meu peito, levemente. No mesmo instante, você inclinou a cabeça para o lado, ainda sem ao menos tirar os seus olhos de mim. "Isso significa que somos realmente feitos de poeira estelar." Os seus olhos esverdeados brilhavam ao lembrar da conversa que tivemos no Ano-Novo.

Lembro de passar a minha mão sobre o seu rosto, decorando e admirando cada mínimo detalhe dele, como as cores que dançavam em seus olhos, como o contorno da covinha que insistia em aparecer em sua bochecha, como algumas sardas que preenchiam o seu nariz. "Significa que cada átomo do seu corpo, Saturn, foi, um dia, forjado no interior de uma estrela."

Um tímido sorriso surgiu em seu rosto. Você, então, subiu as suas mãos para o meu pescoço, ainda olhando fixamente para mim. Lembro de sentir a sua respiração quente em meu rosto quando você se aproximou de mim, segundos antes de me beijar delicadamente.

E, céus! Eu jamais irei me cansar da sensação dos seus lábios sobre os meus. Jamais irei me cansar de sentir o seu gosto, e jamais irei me cansar de sentir o toque suave da sua respiração em meu rosto.

Lembro que logo você afastou o seu rosto do meu, demoradamente, mas eu não consegui me dar por satisfeito. Eu queria e eu precisava beijá-la novamente. E, sem ao menos pensar duas vezes, segurei o seu rosto entre as minhas mãos e beijei você mais uma vez.

Havia urgência. Havia um desejo diferente.

Lembro de quando as suas mãos se perderam em meu cabelo, causando arrepios por todo o meu corpo ao sentir a ponta dos dedos próximo ao meu pescoço. Lembro, também, de segurar firmemente a sua cintura, puxando-a para mais perto de mim.

Como dois átomos no núcleo de uma estrela qualquer, eu queria me fundir em você. Queria poder envolver todo o meu corpo no seu de tal maneira que virássemos uma única coisa, um único átomo, uma única substância. E eu sei, pelo jeito que você me beijava, pelo jeito que você correspondia ao meu toque, que você desejava o mesmo, Saturn.

Lembro da maneira involuntária que o seu quadril dançava sobre o meu todas as vezes que você se mexia sobre o meu colo. E lembro de como o meu corpo violentamente respondeu àquilo tudo.

As minhas mãos desesperadamente buscavam sentir a sua pele, buscavam sentir cada mínima curva do seu corpo, Saturn. Lembro do exato momento em que os meus dedos encostaram na pele nua perto da sua cintura, abaixo da sua camiseta. Você ainda estava quente. Muito quente.

Naquele mesmo instante você rapidamente se afastou de mim, assustada com a nossa aproximação, com a nossa velocidade. Você arrumou a barra da sua camisa, abaixando-a de volta para o lugar, como se sentisse vergonha de expor a sua própria pele para mim. Como se sentisse vergonha do seu próprio corpo.

Você estava lentamente se fechando para mim. Você estava lentamente levantando muralhas ao seu redor. Muralhas que eu não conseguia atravessar.

Eu já não sabia se Christopher ainda assombrava os seus pensamentos, se você ainda se sentia insegura em se revelar para alguém pela maneira como ele falou com você no passado; ou se as dores se tornaram insuportáveis ao ponto de você querer escondê-las de mim.

Lembro de como o seu rosto estava ruborizado e de como a sua e a minha respiração estava irregular.

Abaixei o meu rosto e fechei os meus olhos enquanto pensava. Você estava queimando de febre mesmo após uma ducha fria. E você havia bebido mais que o desejado. Você não estava bem e muito menos estava pensando com clareza. Eu não deveria ter te beijado e nem ter lhe tocado daquela maneira.

Arrumei o óculos em meu rosto, ainda tentando controlar o ritmo da minha respiração. "Acho melhor eu levar você de volta para o seu quarto, Saturn. Lá você pode colocar uma roupa seca e tomar outro comprimido."

Você nada falou, nem mesmo olhou em meus olhos, apenas balançou a cabeça em concordância. Mais muralhas.

Lembro que eu a ajudei a levantar do chão molhado do banheiro. Durante todo o caminho, você se apoiou em mim e, com o outro braço, você se apoiava levemente na parede do alojamento. Assim como no Ano-Novo, você não conseguia se manter em pé sozinha. E doía vê-la daquela forma novamente.

"Vou chamar a Anne para ajudá-la com a roupa." Falei ao chegar em frente à porta do seu quarto. Eu sei que você se sentiria desconfortável com a minha presença ali, ajudando-a a trocar de roupa, e eu sei que chamar Anne era a melhor opção naquele momento.

Lembro de escutar passos ecoando pelo corredor. "Eu ouvi o meu nome." Uma voz rouca afirmou ao longe. "O que é que você quer, garoto?" Anne perguntou ao se aproximar de nós. Os olhos castanhos dela se arregalaram ao vê-la molhada daquela forma. "Droga, Saturn. De novo?" A loira balançou a cabeça, completamente desacreditada.

Abri os meus lábios, surpreso. De novo?

"Eu assumo daqui." Anne falou ao olhar para mim. E, sem ao menos esperar a minha resposta, ela se virou para você e disse seriamente: "Onde está o remédio, Saturn?" E vocês duas entraram no dormitório.

E você não olhou para mim em nenhum momento. Mais muralhas.

Quando vocês fecharam a porta na minha frente, pude ouvi-la chorar. Lembro de lutar bravamente contra todas as células do meu corpo para não voltar a você, porque eu sabia que, caso voltasse, você não aceitaria a minha ajuda. Você não me daria espaço, não me deixaria saber o que de fato estava acontecendo. E eu odiava aquilo.

Lembro de passar as minhas mãos em meu cabelo, totalmente aflito. Havia algo de errado com você, Saturn, eu podia sentir e eu podia ver. E isso tirava todo o meu sono, isso tirava toda a minha concentração das aulas e isso me perturbava todos os dias.

E lembro de mandar uma mensagem para Anne, pedindo notícias suas. E só quando ela me respondeu dizendo que a febre havia abaixado é que eu consegui relaxar de novo.

Solto a mão morna e leve de Saturn. Os seus dedos repousam sobre o cobertor branco e o líquido transparente continua a correr lentamente pelo seu acesso.

Novamente o Monitor Multiparâmetro registra outro batimento irregular, acompanhando outros vários. Ajusto o óculos em meu rosto ao observar com atenção a máquina a minha frente. Os batimentos cardíacos de Saturn estão aumentando lenta e gradativamente. O intervalo entre um bip e outro diminui cada vez mais.

Não pode ser coincidência.

Desvio a minha atenção para a Saturn. Os meus olhos passam pelo seu corpo até que eu noto o seu peito subir e descer com certa dificuldade e, ao mesmo tempo, aceleradamente. Durante todos os seis dias que eu estive aqui, nunca vi isso acontecer com ela. É como se Saturn estivesse lutando consigo mesma. Como se ela estivesse tendo um forte pesadelo.

Era difícil vê-la assim, com dificuldade para manter o ar em seu pulmão.

Seguro a sua mão novamente e a aperto, delicadamente. Passo o meu dedo sobre a palma da sua mão, tentando acalmá-la. Tentando demonstrar a Saturn que eu ainda estou ali, ao seu lado. Tentando demonstrar que eu jamais saí daqui.

Os seus batimentos continuam a aumentar.

– Ei, Saturn. Sou eu. – Aproximo o meu rosto do seu e sussurro ao seu lado. – Está tudo bem. – Forço um sorriso, como se ela pudesse me ver neste momento. – Está tudo bem.

Pelo som alto e claro emitido pelo Monitor ao lado da sua cama, percebo que os seus batimentos cardíacos estão diminuindo lentamente. Pelo canto do olho observo o seu peito, notando que a sua respiração de fato parece mais leve, mais calma. Não há mais nada irregular. Não há mais nada de anormal.

Sinto os seus dedos apertarem os meus, quase que imperceptivelmente.

Sorrio como nunca antes. Não é coincidência. Saturn, de alguma forma, pode me ouvir.

★★★

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