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Capítulo 17

Mas quando a dor te cortar profundamente
Quando as noites não te deixarem dormir
Apenas olhe e verá
Que eu serei seu remédio.
(Remedy – Adele)


Observo a vista colorida através da janela do quarto 502. Estamos no meio do verão e o dia está lindo fora dos muros daquele hospital. E, pela primeira vez naquela semana, o céu não está nublado.

Saturn adoraria admirar esta vista. Adoraria ver o verde vivo das árvores e da grama depois do intenso inverno, adoraria ver o azul intenso do céu ensolarado sem ao menos uma única nuvem. Sei que Saturn faria de tudo para fugir do seu quarto só para ir lá fora caso estivesse acordada. Sei que ela faria de tudo para aproveitar o dia. Como sempre o fez.

Mas a vista da sua janela pinta uma completa contradição com o que é vivido aqui dentro.

– Ataque de asma. – As palavras simplesmente saltam da minha boca.

É verdade que uma pequena parte de mim ainda espera por uma resposta, ainda espera por algum sorriso em troca, ainda espera uma recuperação repentina. Mesmo após cinco dias a visitando, mesmo após cinco dias que Saturn não acorda, uma pequena parte de mim ainda espera ouvir a sua voz novamente, ainda espera vê-la bem e saudável de novo, se é que algum dia eu já a vi assim.

E, às vezes, eu me sinto um completo idiota por ainda esperar. Porque, a cada hora que passa, as chances de alguma melhora diminuem drasticamente.

Mas uma pequena parte de mim ainda teima em tentar esquecer que estou vivendo esta maldita realidade. Mesmo após cinco longos dias.

– Ontem eu tive uma crise de asma e, como sempre, eu não estava com a minha bombinha. – Ainda me lembro do modo como eu saí do quarto 502 ontem. Do modo como a minha mão tremia, do modo como as minhas pernas fraquejavam. – Você sabe que eu nunca estou com a minha bombinha. Porque eu sequer tenho uma.

Alguns enfermeiros estão passando lentamente pelo corredor. Escuto um deles dizer para o colega de trabalho: "... e, então, o paciente vomitou".

– Você ainda se lembra do Ano-Novo, Saturn?

Eu fui até o apartamento dos seus pais para buscá-la. Nós havíamos combinado que você passaria o Ano-Novo comigo e com a minha família, porque os meus pais, depois de anos, conseguiram uma folga nesta data. Sea, a princípio, não havia gostado (nem um pouco) da ideia inicial porque queria que Nathan fosse em seu lugar.

Ah, e ainda havia o pequeno detalhe de que ela sentia ciúmes de você, é claro. Ainda mais depois que você publicou uma foto nossa em seu Instagram.

Lembro que foi a sua avó quem abriu as portas para mim naquele dia. "Entre garoto, você está congelando!" E eu pendurei o meu casaco azul revestido com alguns flocos de neve junto com as demais blusas na entrada do apartamento. Tirei, também, o meu tênis e fiquei apenas de meia. "Vai passar o Ano-Novo conosco?" Ela perguntou.

"Eu vim buscar a Saturn, na verdade." Respondi enquanto apertava os meus olhos, um pouco confuso. Pensei que você tivesse avisado toda a sua família que você passaria a virada em minha casa.

Ela apertou os olhos, assim como eu havia feito e, então, inclinou a cabeça levemente para o lado. "Oh, querido." A sua voz era doce, quase como se estivesse me pedindo desculpas. "Marie está passando mal." Demorei alguns segundos até lembrar-me de que a sua avó costumava te chamar de Marie.

Lembro de abrir a boca algumas vezes para perguntar algo, mas, justo naquele momento, Luna, sua irmã mais nova, apareceu atrás da sua avó. "Ocean, certo?" Ela olhou para mim enquanto me analisava. "Saturn está no banheiro, no fim do corredor." Ela indicou. Eu pedi licença a sua avó para poder me aproximar. "Eu vou fazer um chá para ela. Quer que eu faça um para você também?"

Eu pensei seriamente em recusar, pensando que não ficaria ali por muito tempo, afinal, o plano era simplesmente pegá-la. Mas você me conhece, Saturn. Sabe que eu jamais recusaria um chá. "Eu adoraria." Foi o que eu respondi.

Lembro de empurrar lentamente a porta do banheiro, e lembro de prender a respiração em meu peito quando eu a vi sentada no chão, em frente ao vaso. Havia algumas lágrimas em seu rosto, e você colocou a mão em seus olhos quando me viu em pé ao lado da porta. "Saturn? Você está bem?" Eu me abaixei ao seu lado.

Confesso que a primeira coisa que se passou em minha mente é que você havia bebido além da conta, como aquele dia em que conheci Christopher.

Você desviou o olhar para o lado. "Eu não queria que você me visse desse jeito." Você abaixou a cabeça, devagar, visivelmente envergonhada. "Desculpa, Ocean." Você soluçou brevemente.

"Não precisa se desculpar." Apoiei uma das minhas mãos em suas costas. Você finalmente abaixou as mãos que estavam em seu rosto e olhou para mim por um instante. E, céus, você parecia tão fraca. Tão indefesa. Tão cansada. "Não precisa se desculpar, Saturn."

"Desculpa." Você sussurrou tão fracamente que a palavra saiu dos seus lábios como um pequeno assopro. As lágrimas ainda caiam de seus olhos, e você parecia tão exausta. Você ainda se desculpava quando inclinou suas costas para frente para vomitar mais uma vez.

Lembro de fechar meus olhos. Eu fazia pequenos movimentos circulares em suas costas e ainda assim podia sentir todos os seus músculos se contraírem enquanto você vomitava um líquido transparente. Não havia nada em seu estômago, Saturn. Simplesmente não havia nada. Lembro que, em determinado momento, tudo o que se podia escutar eram os soluços que escapavam da sua boca. Até que, então, tudo se calou.

Você apoiou o rosto em suas mãos trêmulas enquanto respirava profundamente. "Eu não sei se conseguirei ir à sua casa hoje. Eu sinto muito, Ocean. Eu não queria que fosse desse jeito. Eu não..." E eu sei que dizer tudo aquilo foi doloroso para você, Saturn, porque você se mostrou extremamente vulnerável para mim. E você odiava fazer isso.

"Apenas pare de pedir desculpas, Saturn." Sussurrei, olhando diretamente para você. "Eu não vou a lugar algum até ter certeza de que você está bem." Falei pausadamente, buscando saber se você havia entendido que eu estava falando sério. Lembro que, em seguida, você colocou a mão sobre a sua boca, sentindo mais um refluxo a alcançar. "Você tem algum remédio? Algum para enjoo?" Perguntei.

Você apontou para a pia do banheiro. "No armário do espelho." Céus, os seus dedos e o seu braço tremiam com o simples esforço de erguer a mão.

Levantei-me rapidamente e abri o espelho. Lembro de ficar assustado com a quantidade de medicamentos que estavam guardados ali. Eu abri os meus lábios para perguntar qual era o certo para enjoo, mas os meus olhos continuavam fixos nas inúmeras embalagens de remédios.

Lembro de quando Luna surgiu na entrada do banheiro, trazendo o chá ainda quente para nós. Era de gengibre com limão e, talvez, fosse ajudá-la com os enjoos que você estava sentindo. "Droga, Saturn." Ela murmurou ao vê-la daquela forma. Luna me empurrou para o lado para pegar um dos frascos e, então, entregou-lhe um comprimido branco.

Luna, ajoelhada ao seu lado, ajudou-a a engolir o remédio. Sim, sem água. Ela sussurrou algo em seu ouvido e você balançou a cabeça em negação, lentamente. Lembro de ver uma lágrima escorrer pelo seu rosto quando você curvou a cabeça para trás, fazendo com que o medicamento descesse pela sua garganta. Seco.

Com uma dificuldade palpável, você se levantou do chão. As suas pernas vacilaram por um momento. Lembro que você se apoiou sobre a pia do banheiro para escovar os dentes e tirar o gosto amargo que havia em sua boca. Doía tanto vê-la daquela forma, Saturn. Tanto.

Lembro de ver o seu corpo inteiro se desequilibrar quando você tentou ficar em pé sem nenhum apoio ao seu redor. Céus, você ao menos conseguia sustentar o próprio peso sozinha.

Sem ao menos hesitar, passei as minhas mãos ao redor do seu corpo e, então, pude senti-la perder o fôlego. Você estava tão fraca, Saturn. Tão assustadoramente fraca. Naquele momento eu fui tomado pelo medo de vê-la desmoronar ali mesmo. Porque você estava, de fato, desmoronando lentamente.

Lembro de erguê-la e de levá-la ao seu quarto.

Você segurou a minha mão quando finalmente conseguiu deitar-se em sua cama, como costumava fazer quando eu ia ao seu dormitório, ou quando você ia ao meu. Lembro de fechar os meus olhos ao sentir a sua cabeça e a sua mão em meu peito quando eu me deitei ao seu lado.

Lembro de delicadamente passar as minhas mãos em seu rosto, exatamente como eu costumava fazer quando eu me deitava com você. E eu secretamente a observei. Observei o seu rosto por longos minutos para ter certeza de que o remédio estava fazendo o efeito esperado. Observei o seu rosto até ter a certeza de que você estava dormindo, de que você estava um pouco melhor.

Horas depois, quando você finalmente pareceu pegar no sono, escutei a porta do quarto ser aberta por alguém. Lembro de virar-me para trás e de encontrar o seu pai olhando para mim com uma cara de poucos amigos, completamente sério e nervoso. No mesmo instante eu me levantei, completamente assustado e envergonhado de deixá-lo ver eu e você tão próximos.

Caminhei rapidamente até ele, que ainda olhava para mim com os braços cruzados. "Como ela está?" O seu pai apontou com a cabeça em sua direção, finalmente desviando os olhos de mim. O que era aliviador.

"Ela conseguiu dormir." Repousei a minha atenção em você, e ao menos fui capaz de esconder o sorriso mínimo que preencheu o meu rosto. Era bom ver que você estava descansando depois de tudo o que aconteceu naquele dia. "Acho que o remédio está fazendo efeito." Falei, contente.

"Ótimo." Foi tudo o que saiu da sua boca naquele momento. Em nenhum momento ele olhou para mim. Em seguida, a mão dele segurou com força a maçaneta da porta. "Então vamos deixá-la sozinha, que tal?" Ele ergueu as sobrancelhas para mim, ainda sério.

"Claro." Engoli em seco, dando curtos passos em direção ao corredor escuro e vazio do apartamento.

Percebi que ele respirou profundamente no momento exato em que a porta foi fechada. "Eu vou ser bem sincero com você, Oliver." Abri a minha boca para corrigir o meu nome, mas a fechei em seguida. Corrigi-lo não seria uma boa ideia. "Saturn tem um péssimo gosto para garotos." A sua voz era seca. Ele voltou a cruzar os braços. "Então eu não gosto de você, entendido?"

Lembro de ficar completamente imóvel. Eu queria dizer a ele que éramos apenas amigos da universidade, mas tudo o que eu consegui dizer foi: "entendido." E eu sabia que havia um dedo de Christopher em tudo aquilo. Eu sabia.

"Perfeito." Ele me olhou de cima a baixo e saiu. Simples assim.

Por alguns longos segundos, fiquei completamente sozinho naquele corredor, repassando a conversa estranha em minha mente, repetidas vezes. O que Christopher havia feito, Saturn? Sem mais delongas, fui procurar Luna. Ora, Saturn, eu precisava de respostas. Precisava entender o que estava, de fato, acontecendo naquela tarde. Precisava entender o que estava acontecendo com você. E precisava entender o porquê o seu pai falou comigo daquela forma.

E eu lembro que o seu apartamento estava estranhamente quieto naquela tarde.

"Luna..." Aproximei-me da mesa onde ela estava sentada com Summer e, então, ela resmungou alguma coisa para mim, indicando que eu poderia sentar-me ao seu lado. "O que está acontecendo com a Saturn?"

"Você não sabe?" Summer abaixou o celular e, então, virou o rosto para mim, totalmente incrédula. Luna olhou para ela e balançou a cabeça em negação, exatamente como você fez quando Luna sussurrou algo em seu ouvido. Será que aquele sinal indicava que vocês deveriam esconder a verdade de mim?

Luna intercalava o olhar entre mim e a irmã enquanto pensava no que diria a seguir. "Ela..." Ela mordeu os lábios e respirou fundo. "Bom... é apenas uma intoxicação alimentar."

"Certo." Apertei os olhos, visivelmente desconfiado e esperando que Luna dissesse algo a mais, mas a garota simplesmente voltou a mexer no celular, assim como Summer. Céus.

A resposta não me agradou, é verdade. Eu odiava o jeito com que vocês se fechavam quando eu perguntava ou falava algo fora do superficial. Mas, ao mesmo tempo, parecia ser real, Saturn, parecia ser verdadeiro; porque aquilo parecia se encaixar com o que vi naquele dia.

E talvez a minha mente se recusasse, com todas as forças, a acreditar que você estava doente. Talvez a minha mente simplesmente tenha decidido ignorar todos os sinais de que você me deu ao longo dos meses, talvez a minha mente simplesmente tenha fantasiado uma realidade na qual você estava bem – e eu me agarrei fortemente naquela ideia consoladora.

Lembro de coçar a garganta enquanto me perguntava se era uma boa ideia ou não fazer a próxima pergunta. "E Luna..." Lembro de balançar as minhas pernas, totalmente inquieto. "Quem é Christopher?"

Luna deu de ombros. "O ex-namorado de Saturn." Ela ao menos tirou os olhos do celular.

Eu revirei os meus olhos, lentamente. Céus, eu obviamente sabia que ele era o seu ex-namorado. O que eu realmente queria saber é o que de fato aconteceu entre vocês dois. O porquê você ligava para ele quando ficava bêbada. O porquê você ainda esperava que ele dissesse que você era bonita. Eu queria saber o porquê ele estava na sua lista. O porquê Christopher era um dos itens. Queria entender o que ele significava para você. "E você acha que ela..." Olhei para as minhas mãos por um momento. Céus, elas estavam suando, Saturn. "Você acha que ela ainda sente algo por ele?"

"Sem chance." Foi a vez de Summer falar. Luna olhou para a irmã e, então, balançou a cabeça em afirmação, confirmando o que Summer acabara de dizer. "Quer dizer, se ela ainda tem um pouco de dignidade e amor-próprio a resposta definitivamente é não." Summer murmurou, ainda sem tirar os olhos do seu celular.

Luna ergueu uma das sobrancelhas em minha direção, analisando-me. "Mas por que você está perguntando isso, afinal? Vocês estão juntos." Ela se acomodou sobre a cadeira e, então, voltou a digitar algo em seu celular.

"Na verdade, nós não..." Pisquei os olhos algumas vezes.

"O que?" Luna exclama. As gêmeas finalmente deixaram o celular de lado e ambas olharam para mim. "Quer dizer que vocês nunca..." Luna apertou os olhos e sorriu maliciosa.

Céus. Lembro de arrumar os óculos em meu rosto ao mesmo tempo em que eu me mexia desconfortavelmente sobre a cadeira dura. "Somos apenas amigos." Falei por fim. Pude ouvir Summer e Luna rirem alto.

Semanas antes eu havia tentado beijá-la após o Karaokê, mas depois da nossa breve conversa, chegamos à conclusão de que, sim, éramos apenas amigos. Amigos confusos com o que sentiam um pelo outro, se é que sentíamos algo. Mas amigos.

"Certo." Luna sorriu e, logo em seguida, piscou discretamente para mim.

"Mas se você está tão curioso em saber sobre Christopher..." Summer inclinou um dos ombros e voltou a sua atenção para mim. "Saturn e ele começaram a namorar na faculdade. Vovó sempre gostou dele." Summer revirou os olhos, sozinha. "Mas Christopher sempre foi um completo idiota, se quer a minha opinião. O garoto nunca esteve disponível nos momentos em que ela precisou dele, mas sempre estava livre para levá-la a alguma festa estúpida só para, em seguida, levá-la para a cama." Ela respirou fundo, como se realmente estivesse sentindo raiva dele. "A alguns meses atrás a Saturn..."

"Decidiu raspar a cabeça." Luna falou rapidamente, cortando a fala da irmã. No instante seguinte as duas olharam para mim, esperando a minha reação diante do exposto. "Sabe, coisa de filha revoltada." Ela insistiu, mas fazer o papel de filha revoltada simplesmente não combinada com você, Saturn. Quer dizer, quando eu a conheci na festa enquanto você virava uma garrafa inteira, você realmente parecia ser a filha rebelde. Mas você não é assim.

"Ela não sabe, mas já a vi sem." Foi tudo o que eu disse, referindo-me a peruca. Luna sorriu para mim.

"Certo, isso facilita o resto da história." Summer lentamente balançou a cabeça antes de continuar. "Enfim, depois de alguma festinha de fim de semana, Christopher foi ao dormitório dela e, quando eles estavam prestes a transar, ele simplesmente diz que não consegue. Diz que não consegue fazer isso com ela daquele jeito: parecendo uma doente. E o Christopher simplesmente recolheu as coisas dele e saiu do alojamento."

Lembro de abrir a minha boca, completamente paralisado pelo enorme choque. As palavras de Summer atingiram-me como um forte soco no estômago. "É, eu sei. Essa foi a nossa reação quando descobrimos o que ele fez com ela." Summer voltou a mexer no celular, como se nada havia acontecido. "Eu avisei que não há possibilidade de Saturn gostar dele. Ela pode ser ingênua, mas não é masoquista a esse ponto."

Isso explicava e explica tanta coisa, Saturn. Tanta coisa.

Era por isso que você ainda ligava para ele quando bebia além da conta? Só para conseguir a aprovação de Christopher de novo? Só para conseguir a aprovação daquele que te machucou? Por que se ele – e só ele – revertesse as palavras proferidas no passado, você se acharia bonita de novo?

"É que..." Eu ajustei o óculos em meu rosto mais uma vez, sem necessidade alguma. Então, eu passei a minha mão sobre a minha nuca. "Às vezes parece que ela..."

"Que ela não se abre com você por que ainda pensa em Christopher?" Luna voltou a olhar para mim. "Não vou mentir para você, Ocean... ela ainda pensa nele. Pensa que ele a machucou e a deixou terrivelmente destruída. É óbvio que ela teria dificuldade em se relacionar com alguém de novo. Mas... se quer a minha opinião, acredito que ela não continuará a pensar desse jeito depois de hoje. Christopher nunca cuidou dela do jeito que você cuidou. Nunca."

Lembro que eu estava ao seu lado no instante em você despertou.

"Meu Deus, que horas são?" Você coçou os olhos rapidamente e, então, pegou o celular para conferir o horário na tela inicial. "Meu Deus, faltam dois minutos. Dois minutos para meia-noite. Eu não acredito que dormi a tarde inteira. Acha que conseguiremos chegar na sua casa a tempo da ceia, pelo menos, Ocean? A sua casa não fica tão longe, certo?" Lembro que você parecia muito agitada, inquieta. "O que os seus pais vão pensar de mim? Acha que eles vão ficar..."

"Ei, ei." Passei a minha mão sobre as suas costas, delicadamente, acalmando-a. Você ergueu os olhos para mim por um momento, dando-me a atenção que eu queria. "Você está bem, Saturn? O remédio fez efeito?"

Você desviou o olhar. "Estou, não se preocupe." Você deu um curto sorriso e, então, abaixou a cabeça novamente. E eu sabia que você não estava bem. Eu sabia, Saturn.

"Não precisamos ir para a minha casa, Saturn. Sabe, eu ajudei a sua avó a montar a ceia e o cheiro está delicioso. Aliás, a sua família já reservou dois lugares na mesa para a gente." Lembro de olhar para o visor do meu celular. Faltava apenas um minuto. "Eu falei sério quando disse que não iria a lugar algum até ter a certeza de que você está bem."

A sua cabeça ainda estava apoiada levemente sobre o meu braço. Céus, você ao menos conseguia se levantar da cama, Saturn.

"25" Você falou, de repente. Eu lembro de apertar os olhos, tentando entender a sua fala aleatória. Você, então, olhou para mim e sussurrou: "Obrigada pelo item 25, garoto astrônomo.".

E eu não fui capaz de conseguir esconder a minha felicidade quando você disse aquilo para mim, porque o item 25 dizia: "Passar o Ano-Novo com alguém que vale a pena.". E, céus! Como eu queria poder beijá-la naquele momento, Saturn. Como eu queria poder beijá-la nos últimos segundos para a meia noite. Como eu queria poder começar o ano beijando você.

Mas o barulho dos fogos de artifício explodindo no céu acordaram-me para a realidade. Era meia-noite. Os clarões coloridos dos fogos invadiam o quarto pela pequena fresta da janela aberta, desviando toda a nossa atenção.

Lembro que você ergueu o rosto em minha direção. Você sorriu timidamente por um curto momento e, sem aviso prévio, beijou a minha bochecha, bem ao lado da minha boca. "Feliz Ano-Novo novo, garoto astrônomo." Lembro de ouvi-la sussurrar ao pé do meu ouvido.

E céus, como eu torcia para que a sua irmã estivesse correta. Como eu torcia para que você parasse de projetar os erros de Christopher em mim depois daquele dia. Como eu torcia para que as coisas entre nós fossem melhores.

"Feliz Ano-Novo, Saturn." Sussurrei em resposta.

Eram as primeiras horas do dia primeiro de janeiro.

Lembro que estávamos sentados sobre o grande carpete que revestia o chão da sua sala de estar, exatamente como duas pequenas crianças que dispensam o conforto do sofá. A sua cabeça estava apoiada sobre o meu peito e os meus braços a envolviam por trás. Eu estava feliz por você finalmente estar se sentindo um pouco melhor.

Naquele momento em especial, conversávamos sobre as estrelas que observávamos sob a parede de vidro da sala. Você parecia impressionada com o fato de o céu estar limpo mesmo após a grande queima de fogos de artifício daquela noite. Falávamos sobre o quão lindo aquela vista estava.

"Ocean, você acredita que nós somos feitos de poeira estelar como todos dizem?" Você perguntou, de repente.

Lembro de inclinar a minha cabeça para o lado enquanto pensava sobre como responder àquela pergunta. Quer dizer, a resposta era óbvia demais. "Nós somos, de fato." Olhei para a janela de vidro a nossa frente e então completei: "Por quê? Você não acredita?"

"Eu acho que acredito." Você respirou profundamente antes de continuar a dizer: "Eu só... Eu não entendo." As suas mãos pareciam tão inquietas quanto você. Lembro que você as passava sobre a sua perna, como se estivesse limpando o suor das mãos. "Ok, talvez essa pergunta seja um pouco ridícula mas, se realmente somos feitos de poeira estelar, por que não irradiamos luz como elas? Faz sentido?" Vi você inclinar a cabeça, mostrando que aquela dúvida era genuína.

"Bom..." Comecei a dizer enquanto ajustava o óculos em meu rosto. "Você irradia." Lembro de erguer, involuntariamente, o meu ombro direito ao formular a próxima frase em minha mente. "Não na mesma intensidade que elas, é claro. Mas sim, nós também irradiamos luz."

"O que?" Você se virou para trás e a animação em sua voz era completamente evidente. Os seus olhos estavam arregalados pela ingênua curiosidade. "Como assim?"

Os meus lábios se converteram num sorriso espontâneo que eu ao menos fui capaz de esconder de você. Eu sempre adorei a liberdade que você deu a mim para que eu falasse sobre os assuntos de que gosto. E eu sempre apreciei a atenção que você direcionava a mim quando me ouvia falar. Eu serei eternamente grato a isso, Saturn. "Nós irradiamos apenas uma pequena luminosidade devido aos radicais livres em nosso organismo." Juntei os meus dedos para ilustrar o pequeno tamanho da luz.

Você balançou a cabeça, como se concordasse com o que eu tinha acabado de dizer, e então ergueu as sobrancelhas, pedindo para que eu continuasse a falar.

"Ok." Sorri novamente. Ajustei novamente o óculos em meu rosto antes de continuar a breve explicação. "Você provavelmente entenderá isso muito melhor que eu: nosso metabolismo quebra moléculas através de reações químicas... Esse processo tem um nome específico, não tem? Não sou bom em biologia como você."

Você riu. Sempre gostei do jeito que os seus olhos pareciam se fechar todas as vezes que você sorria verdadeiramente. Do jeito que a sua bochecha ficava rosada no momento seguinte. "Catabolismo, garoto astrônomo."

"Catabolismo." Repeti para mim mesmo e em seguida assenti com a cabeça, satisfeito com a informação. "Nas reações de catabolismo há a liberação de energia. E essa energia é a responsável por irradiar a luz visível." Falei, e, então, percebi que você piscou os olhos algumas vezes, prestes a fazer uma pergunta. Mas, antes mesmo que você pudesse questionar a minha afirmação anterior, continuei a dizer: "Porém, a luz irradiada é mil vezes menos 'intensa' que a luz visível"

Você abriu os lábios por um breve e curto segundo, como se finalmente entendesse o que eu estava falando, como se previsse onde eu queria chegar. "Então o nosso olho não é evoluído o bastante para captá-la." A sua voz saiu como um sussurro ao completar o pensamento. "Certo, faz sentido para mim."

Lembro de levantar a minha mão esquerda para afastar uma mexa do cabelo que estava em frente aos seus olhos. Lembro da sensação da sua pele quente entre as minhas digitais e, então, eu sussurrei: "O rosto é a parte que mais irradia."

Os seus lábios foram convertidos num pequeno e tímido sorriso e você, lentamente, inclinou o rosto para o lado. "Esse é o seu jeito de dizer que eu estou radiante hoje, Ocean?" Você ergueu os seus olhos para cima, e eles encontraram os meus.

Lembro de encarar, pela grande janela a nossa frente, o céu estranhamente estrelado que pintava a nossa vista. Por uma curta fração de segundo os meus pensamentos preencheram o silêncio da casa, onde todos os seus familiares dormiam após uma generosa taça de champanhe de Ano-Novo.

E, Saturn, todos os meus pensamentos naquele momento se resumiam a você. Porque você estava, pouco a pouco, tornando-se dona dos meus pensamentos desde o dia em que fomos no concerto em que a sua mãe tocou. Desde o dia em que te vi flutuar sobre o parapeito da calçada.

Lembro de passar lentamente o meu polegar sobre a sua bochecha. Lembro de olhar para o contorno do seu rosto e de sorrir fracamente. "Você está radiante nesta noite, Saturn Campbell." A minha voz saiu como um fraco sopro.

E eu não sei se você encarou aquilo como parte da sua brincadeira, mas eu fui sincero em cada letra. Porque você estava radiante naquela noite, Saturn. Porque você sempre esteve radiante.

"E você está radiante nesta noite, Ocean Cooper." Lembro de sentir o calor da sua mão sobre a minha quando você a segurou.

Lembro de sorrir, tímido, quando você se virou para frente e novamente encostou a sua cabeça em meu peito. E durante alguns minutos eu continuei sorrindo. Sozinho.

★★★

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