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Capítulo 14

Me conte uma história de estrela
Firme em um céu noturno frio
Onde quer que você vá eu vou eu
Bata em Júpiter e vire à direita
É um passeio lento, é um passeio lento.
(Jupiter – Aoife O'Donovan)


Solto todo o ar preso em meus pulmões ao fechar a porta atrás de mim e finalmente adentrar o quarto 502. Mas o meu estômago ainda se revira dolorosamente cada vez que a minha mente insiste em me lembrar de Violet. Cada vez que a minha mente insiste em trazer à tona a imagem de Violet chorando, murmurando e gemendo de dor.

Será que aquilo era comum para a garotinha? Será que Saturn já presenciou aquela cena ao lado de Violet? Será que Saturn já correu pelos corredores do hospital, procurando alguma enfermeira para Violet?

Observo o seu corpo repousando sobre cama do hospital. Observo os acessos em seu braço e em sua mão. Observo os fios que monitoram cada mínimo detalhe da sua saúde precária. Observo a máquina barulhenta ao seu lado, que indica a sua pressão e os seus batimentos cardíacos. O som é irritante no início, confesso, mas é graças a ele que eu sei que Saturn está viva.

Saturn está viva, mas não acordada. Ela não responde a nenhum estímulo, não responde aos médicos, não responde à sua família, não responde a mim. Saturn não movimenta os olhos, não chora ao ouvir a voz de alguém que a conhece, não mexe nenhuma parte do seu corpo. Saturn está viva, mas está mergulhada em um coma profundo há quatro dias.

Quatro dias. Saturn já deveria estar acordada. Saturn já deveria responder a algum estímulo, por mais insignificante que fosse. A probabilidade de ela acordar novamente diminui a cada dia que passa. Quatro dias. Quatro dias.

Balanço a minha cabeça, afastando qualquer pensamento que possa me levar em direção a um lugar já sem esperança da sua volta, da sua melhora. Eu preciso ter fé de que ela ficará bem, assim como Violet acredita. "A Saturn é a pessoa mais legal que eu conheço. Aposto que logo logo ela vai estar bem de novo." E eu preciso ter a fé que a Saturn sempre teve. Eu preciso, mas o meu lado racional grita em cada canto vazio da minha mente.

O meu lado irracional, plantado e cultivado por Saturn, está morrendo lentamente. O meu lado irracional, que ainda acredita na sua melhora, morre a cada dia que passa. E o velho Ocean, movido pela racionalidade cega, busca controlar novamente todos os meus pensamentos. Saturn já deveria estar acordada.

– Saturn, você se lembra do dia em que completou o quinto item? – As palavras saem naturalmente pelos meus lábios. Eu não posso me render a esses pensamentos. Eu não posso. Eu preciso distrair a minha mente, e eu preciso com urgência.

"Qual a maior loucura que você já cometeu, garoto astrônomo?" Você me perguntou numa terça-feira à tarde. Estávamos sentados sobre a grama verde em frente ao prédio principal da universidade e nós dois dividíamos um tubo de Pringles.

"Loucura?" Inclinei a minha cabeça para o lado, ao mesmo tempo em que eu apertei os olhos em sua direção. "Que tipo de loucura, Saturn?" Questionei de volta.

Você mexeu os ombros e, logo em seguida, comeu mais um pedaço de Pringles.. "Ora, qualquer coisa que você tenha feito que os seus pais até hoje não aprovam. Ou, então, qualquer coisa que você tenha feito escondido da sua família." Você voltou a olhar para mim, curiosa com a minha resposta.

Lembro de respirar profundamente enquanto pensava a respeito. E, ah! Era tão frustrante não ter nada a dizer a você. "No colégio a minha vida social não era uma das melhores porque, bom... eu não levava jeito algum para esportes e nunca gostei de frequentar festas, então... basicamente eu nunca fiz algo diferente de estudar."

"O quê?" Você arregalou os olhos, surpresa com o que eu acabara de dizer. "Claro que você fez alguma coisa, Ocean. Não é possível que você seja tão certinho assim. Mesmo porque nós nos conhecemos em uma festa de fraternidade. Vai me dizer que você nunca ficou bêbado e fez algo que se arrependeu depois? Ou então você nunca expe..."

Eu ri, balançando a cabeça. "Parece até mesmo que você não me conhece, Saturn." Peguei mais um Pringles. "Bom, se você quer mesmo saber: eu nunca fiquei bêbado. Então, não, eu nunca bebi ao ponto de fazer algo que eu me arrependesse depois."

"Ora, Ocean." Você tocou em meu braço, arrancando uma risada minha. "Você deve ter feito algo."

"Certo, certo, deixe-me pensar." Lembro de ajustar o óculos em meu rosto, procurando alguma coisa que eu tenha feito escondido dos meus pais e que eu podia falar em voz alta. Você estava certa, eu deveria ter feito algo. Quer dizer, todos nós já fomos adolescentes certo? O grande problema é se você foi um adolescente que nunca se permitiu experimentar algo diferente, como o meu caso. O grande problema é se você sempre teve medo de tentar, se você sempre teve medo de não seguir as regras dos adultos, se você sempre teve medo de viver, como o meu caso. O grande é se os seus pensamentos o impedem de tentar o novo, como o meu caso. "Bom, eu... Eu já matei aula para assistir a estreia de um filme no cinema."

"Oh, meu Deus." Você inclinou a cabeça para trás, rindo do que eu acabara de dizer. "Você é ainda mais certinho do que eu imaginava, garoto astrônomo!" Você voltou a olhar para mim com um pequeno sorriso em seu rosto. "Pelo menos me diga que foi por um bom filme."

Lembro de abaixar o olhar, um pouco tímido. Tímido ao perceber que eu nunca fiz algo que beirasse a loucura. Tímido ao perceber que eu me privei de muita coisa durante toda a minha vida. Tímido ao perceber que a minha vida nunca foi interessante, ao perceber que eu mesmo não era interessante. "Foi para assistir Interestellar." As minhas palavras soaram como pequenas murmurações.

Você riu alto.

Franzi a testa, fingindo estar profundamente magoado com a sua reação. "Ei!" Protestei, firmemente. Eu estava sério. "interestellar é um clássico da ficção científica." Voltei a prestar atenção nas batatas Pringles entre nós. "Mas e você, Saturn? Qual foi a sua loucura?"

"Bom..." Você se ajeitou sobre a grama verde. Você olhou para cima, parecendo estar pensando na resposta que daria a mim, assim como eu havia feito antes. "Na categoria fazer coisas escondidas dos meus pais: eu fiz uma tatuagem." Você voltou a olhar para mim e, então, inclinou a cabeça para o lado. "Na verdade foram três. Três tatuagens escondidas."

Ergui as sobrancelhas, surpreso com aquilo. Não me entenda mal, Saturn, mas você não parecia ser do tipo que gosta de tatuagens. Aliás, parecia ser o completo oposto disso. "Eu jamais faria uma tatuagem." Murmurei, pensando que simplesmente não fazia sentido algum manchar a sua pele para sempre com um desenho qualquer. "Posso vê-las?"

Você mexeu as pernas desconfortavelmente e cruzou os braços, parecendo estar se fechando novamente para mim. "Desculpa, garoto astrônomo." Você começou a dizer. "Mas eu não posso mostrá-las."

Eu a observei de cima a baixo, demoradamente. Fiz um grande esforço para reprimir o sorriso malicioso em sua direção. "Certo." Foi tudo o que saiu da minha boca.

Lembro de mal conseguir me concentrar no restante das aulas daquela semana. Tudo o que os professores e palestrantes falavam ecoavam em minhas orelhas, mas eu ao menos conseguia ouvi-los. E aquilo jamais aconteceu comigo, Saturn. Jamais fiquei tantos dias seguidos sem conseguir prestar a devida atenção nos estudos.

A minha mente parecia estar paralisada. Eu relembrava constantemente a minha infância e adolescência durante todos os dias e noites. E a cada memória antiga eu me perguntava se a minha vida havia valido a pena. Eu me perguntava se havia valido a pena abdicar de tantas oportunidades em prol do estudo. Eu perguntava se havia valido a pena ficar em casa estudando enquanto o restante da minha turma saía para se divertir. Eu me perguntava se havia valido a pena participar do clube de matemática e de física ao invés de conhecer novas pessoas. Eu perguntava se havia valido a pena não me permitir experimentar algo novo. Céus, eu sequer participava dos jogos de hóquei da escola, e se eu for bom em algum esporte? E se eu for bom em hóquei no gelo?

Eu me perguntava se havia valido a pena seguir todas as regras a minha vida inteira. Porque você mesma notou como eu fiquei nervoso em saber que você queria esconder um gato em seu dormitório. Porque você mesma notou como eu fiquei nervoso quando você descobriu que Sea dormia no meu dormitório nos dias que a babá não estava disponível.

Passei a minha vida inteiro olhando para o céu, tentando inutilmente descobrir os mistérios do universo e simplesmente esqueci de olhar para a Terra. Simplesmente esqueci de olhar para a minha própria vida. Porque eu nunca havia notado que vida estava passando diante dos meus olhos.

E foi você que abriu os meus olhos, Saturn.

Lembro que no sábado à noite daquela mesma semana eu desci até o décimo quinto dormitório, no primeiro andar. O seu quarto. Bati em sua porta, e não demorou até você abri-la para mim. "Vem comigo." As palavras saltaram dos meus lábios.

Você piscou algumas vezes, sem entender o que raios eu estava fazendo ali naquele horário. Sem entender o que eu estava falando. "Está tudo bem, Ocean?" Você retirou o curativo do seu braço e o jogou no lixo, ao lado da porta. Decidi ignorar aquilo.

"Vem comigo." Voltei a repetir. Havia urgência em minha voz.

"O que?" Você vestiu um chinelo rosa que havia por perto, a mesma cor do pijama que você usava naquela noite. "Onde nós vamos, Ocean?" Você parecia estar confusa, mas mesmo assim pegou a chave do seu quarto e o trancou atrás de si. Você começou a me seguir em direção à saída do alojamento.

A verdade é que eu também estava confuso naquela noite. Não sabia exatamente o que faria, muito menos como eu faria o que estava planejando. Eu só tinha uma ideia em mente, uma ideia muito estúpida em mente.

"Tomara que esteja aberta." Eu repeti essa frase no mínimo cinco vezes enquanto caminhava ansiosamente em direção à porta principal de um dos prédios da universidade. "Céus, tomara que esteja aberta." Murmurei baixinho ao segurar firmemente a maçaneta. E ela estava aberta, felizmente.

Empurrei a porta demoradamente, porque eu sabia que, por ser muito antiga, ela era muito barulhenta. O seu rangido ecoou em cada milímetro do prédio vazio. Você observou atentamente a placa iluminada acima da porta antes de entrar. "Departamento de Astronomia e Astrofísica?" Você olhou para mim, confusa. "Ocean, o que estamos fazendo aqui?"

O prédio estava com todas as luzes apagadas, como eu havia imaginado. Liguei a lanterna que eu estava carregando e, então, apontei-o para o corredor principal. "Você vem ou não?" Indaguei.

Depois do que pareceu ser uma eternidade, você finalmente respondeu: "Certo."

Com passos apressados e silenciosos seguimos pelo corredor. Eu procurava a sala de um professor em específico, o que nos obrigava a parar a todo momento para conferir o nome escrito nas placas pregadas sobre as portas. Até que finalmente encontramos a sala de Miller. Sala 7, a mais afastada.

Como o previsto, a sua sala em específico estava destrancada. Ao contrário dos demais professores, Miller não a trancava, porque utilizava o prédio para fazer uma das suas pesquisas de PhD sobre Sistemas Binários. Essa foi a única informação que eu consegui prestar atenção durante toda aquela semana.

"Certo." Acendi a luz do pequeno cômodo. Céus, a mesa de Miller estava tão desorganizada, o que me fez coçar o braço involuntariamente. Qual a dificuldade de manter tudo em ordem? É tão difícil assim? "Estamos procurando uma chave com um chaveiro branco."

Comecei, então, a vasculhar as inúmeras pilhas de folhas que estavam sobre a mesa. Eram diversas anotações, com cálculos que, em algum momento, eu havia visto nas aulas dele. Mas eu não via nenhuma chave sequer.

Você estava em pé, parada ao lado da porta. O seu olhar viajava entre eu e a sala onde estávamos. Você respirou profundamente ao me ver fuçando alguns papéis. "Ocean, o que estamos fazendo aqui?"

Ergui os meus olhos para você. "Não é óbvio?" Inclinei levemente a minha cabeça para o lado. Rapidamente escondi as minhas mãos do seu campo de visão, porque elas estavam tremendo. As minhas mãos tremiam com medo de ser pego ali, naquele momento. Eu estava apavorado, Saturn, porque eu nunca havia feito algo como aquilo. "Estamos invadindo o observatório da universidade."

Você abriu os lábios algumas vezes, mas não disse uma palavra sequer. E, sim, eu sabia o quão louco aquilo soava, ainda mais vindo de mim: o senhor certinho.

"É por isso que precisamos encontrar a chave." Novamente voltei toda a minha atenção para a mesa extremamente desorganizada a minha frente. Céus, ela me dava tanta agonia, Saturn. "Ela tem um chaveiro branco escrito: sala do observatório."

"Certo." Pelo canto dos olhos percebi que você se aproximava da mesa. E em nenhum momento você me repreendeu ou me questionou. Pelo contrário, você parecia empolgada em me ajudar. "Ocean Davis Cooper está invadindo um prédio da faculdade. Eu mal posso acreditar nisto." Você murmurou, baixinho.

Eu ri, mas a minha mão continuava a tremer pelo medo de ser pego. Eu ao menos conseguia imaginar o que aconteceria se Miller aparecesse naquele instante, justamente quando estávamos revirando a sala dele.

"Estamos realizando o item..." Você apertou os olhos lentamente enquanto tentava materializar a lista de tarefas em sua mente.

"Vinte." Falei ao ajustar o óculos em meu rosto. Sem nenhum sucesso de encontrar a chave sobre a mesa, ou entre os papéis brancos, resolvi abrir o armário que estava no canto da sala.

Pelo canto da armação do óculos, percebi que você me observava. Por um momento afastei a minha atenção da busca frenética da chave para olhar para você. Um pequeno sorriso preencheu o seu rosto quando nossos olhares se encontraram. As suas covinhas eram discretas. "Obrigada por estar me ajudando a completar a lista, Ocean."

E eu sorri, genuinamente. Eu realmente gostava de cumprir a sua lista ao seu lado, Saturn. Gostava de fazer dos seus desejos os meus.

"Aliás..." Você se aproximou de mim. "Acho que encontrei a chave." Você segurou o chaveiro branco entre as mãos, mostrando-o para mim.

Fomos em direção ao observatório da universidade, do outro lado do prédio escuro e vazio. Por mais silencioso que tentávamos ser, os nossos passos insistiam em ecoar pelo corredor.

Pude ouvi-la suspirar animadamente ao meu lado quando finalmente abri a porta da sala do observatório. Era uma sala branca e espaçosa. Todas as suas paredes eram curvadas, dando uma forma arredondada ao lugar, e o seu teto, também oval, estava parcialmente aberto. Alguns computadores ocupavam os cantos da sala, onde geralmente tínhamos as aulas práticas. Um dos computadores estava ligado, mas não dei muita importância para aquilo, alguém esqueceu de desligar, pensei. O seu centro era inteiramente ocupado pelo maior e melhor telescópio do país.

Os seus olhos brilhavam tanto quanto os meus. Eu amava cada centímetro daquele lugar. Amava observar a grandiosidade do telescópio que estava bem a minha frente. Amava observar e interpretar os dados naqueles computadores imensos. E, bom, parece estranho mas eu também gostava da organização daquele lugar.

"Vem." Sussurrei ao olhar para você. Você ainda admirava cada mínimo detalhe daquela sala, mas voltou a sua atenção para mim. Com passos discretos fui caminhando em direção ao grande telescópio. "Eu quero te mostrar uma coisa."

Delicadamente eu retirei o protetor do ocular que quase ninguém usava, afinal, as imagens dele poderiam ser vistas digitalmente, o que a gente era treinado para fazer ao longo da faculdade. Após apertar alguns botões e finalmente desvinculá-lo do único computador que estava ligado, coloco-o na versão manual. Com a ajuda do localizador, movimento-o e o aponto para o objeto que eu queria lhe mostrar.

"Aqui, Saturn." Eu falei ao observar a linda imagem refletida bem diante dos meus olhos. Aprender a movimentar e a olhar o telescópio pelo computador tem os seus (inúmeros) benefícios, como a precisão da localização. Mas olhar diretamente através do ocular era... mágico. Simplesmente mágico, Saturn. "Venha aqui." Apontei para o ocular.

Você se aproximou, não sendo capaz de esconder de mim a sua animação sincera. Antes de finalmente utilizar o ocular do telescópio, você olhou para mim, uma última vez.

E foi tão bonito, Saturn! Foi tão bonito o modo como os seus olhos brilharam verdadeiramente perante a imagem refletida ali. Foi tão bonito o modo como você suspirou, genuinamente surpresa. Foi tão lindo o sorriso que espontaneamente surgiu em seus lábios. Foi tão lindo olhar para você naquele momento, Saturn.

"Oh meu Deus, olhe para isso, Ocean!" Você exclamou, retirando, mesmo que por alguns segundos, o seu rosto de perto do ocular. "Olhe só para isso!" Você voltou a repetir, e eu ri com a sua reação. Você estava muito animada, Saturn, isso é completamente inegável.

E eu faria tudo novamente, se quer saber. Eu entraria no prédio vazio da universidade no sábado à noite novamente. Eu entraria na sala do professor Miller novamente. Eu reviraria toda a papelada em busca da chave novamente. Eu entraria escondido no observatório da faculdade novamente. Eu faria tudo aquilo outra vez, só para vê-la feliz, só para ver o brilho em seus olhos, Saturn.

Naquele momento a minha mão parou de tremer, porque eu não mais estava com medo.

Você suspirou, sem ao menos tirar a sua atenção do telescópio. Você parecia estar encantada, Saturn. "Olha como é lindo, Ocean!" Você exclamou.

Lembro que os meus olhos vagaram por todo o seu corpo, demoradamente. "Sim, ela é." Sussurrei, deixando todos os meus pensamentos transparecerem. Mordi o lábio, com medo de que você tivesse me ouvido, porque em momento algum eu me referi a Saturno.

Lembrei-me de quando eu a vi se equilibrar sobre o parapeito da calçada. Lembrei-me de quando descobri que o contorno dos seus olhos eram verdes e que você tinha covinhas. Lembrei-me de quando eu a vi dançar, de como você era linda de todas as formas. E lembrei-me de quando você me ensinou a dançar. "É, ela é linda." Suspirei.

"Olha só os anéis!" Havia grande empolgação na sua fala. Era bom vê-la feliz daquela forma, Saturn. "Eu estou vendo os anéis de Saturno!" Por um momento você se afastou do ocular para olhar para mim. Você sorria verdadeiramente. "Eu estou vendo Saturno!"

Coloquei as minhas mãos dentro do bolso da minha calça e dei um passo para trás. Olhei para os meus pés e pensei por um breve instante, lembrando-me da sua lista de tarefas. "Item número cinco concluído." Falei.

"Oh, é mesmo!" Você se afastou ainda mais do telescópio, dando um passo em minha direção. "Obrigada, Ocean." Você sussurrou, aproximando-se de mim lentamente. "Obrigada, de verdade."

Você ficou na ponta dos pés, colocando uma das suas mãos em meu ombro. Lembro que o ar ficou preso em meu peito quando você se inclinou em minha direção. Mas, então, você depositou um delicado beijo em minha bochecha, ao lado da minha boca. "Eu amei."

Suspirei, talvez um pouco frustrado, porque no segundo seguinte eu amaldiçoei aqueles malditos milímetros que ficaram entre nós. Mas, ao mesmo tempo, eu estava feliz.

"E então, garoto astrônomo?" Você inclinou levemente a cabeça para o lado, olhando para mim com um discreto sorriso no rosto. "Qual foi a maior loucura que você já fez?"

Lembro que eu sorri. Definitivamente a coisa mais louca que eu já fiz em toda a minha vida foi invadir não só a sala particular de Miller no Departamento de Astronomia e Astrofísica, como também o observatório da universidade só para mostrar Saturno a você, Saturn. Só porque eu não consegui parar de pensar sobre a nossa conversa.

Lembro de dar um pequeno e tímido passo em sua direção e de respirar profundamente, tentando criar coragem para dizer tudo aquilo em voz alta para você. Tentando criar coragem para colocar as minhas mãos em sua cintura, como quando dançamos no apartamento dos meus pais. Tentando criar coragem para aproximar o meu rosto do seu.

Mas, então, ouvimos a porta do observatório se abrir. Ao virar os nossos rostos assustados em direção ao barulho, encontramos um senhor de meia idade com alguns fios de cabelo branco no topo da cabeça. Aquele era o professor Miller, e ele não estava com uma cara muito amigável, longe disso.

"Oh, estou atrapalhando algo? Não era a minha intenção interromper o seu encontro no Observatório do Departamento de Astronomia e Astrofísica, senhor Cooper." Ele falou, totalmente ríspido. Os seus olhos me perfuravam de cima a baixo.

Abri os meus lábios algumas vezes. Céus eu estava com tanto medo dele, Saturn, tanto medo. "Senhor Miller." Foi tudo o que saiu da minha boca. As minhas mãos, de repente, voltaram a tremer, temendo a reação dele.

"Saiam daqui." Era possível enxergar as veias saltadas em sua testa. "Agora!" Miller gritou. A sua voz rouca e grave ecoou por todo o prédio vazio. "E não pensem que não haverá consequências para a atitude imprudente de vocês dois."

"Senhor Miller, a culpa é toda minha." Você se apressou em dizer, colocando a mão em meu braço. Em momento algum você olhou para mim.

Os olhos de Miller agora fuzilavam o seu rosto. "Eu não perguntei de quem é a culpa, queridinha. Porque eu não me importo." Ele entrou na observatório e se sentou em uma das cadeiras, em frente ao computador ligado. "Você por acaso é minha aluna?"

Você umedeceu os lábios. "Não senhor, eu faço licenciatura em ciências biológicas." Pelo canto dos olhos percebi que você mordia o canto da bochecha, ansiosamente.

"Então dê o fora daqui." Miller apontou para você e, em seguida, para a porta de saída do observatório. "A minha conversa agora será com o senhor Cooper." Os olhos dele voaram em minha direção.

Assim que você saiu, eu me aproximei do professor Miller. A minha boca estava seca e as minhas mãos ainda tremiam dentro do bolso da calça, eu nunca havia passado por aquilo antes. "A culpa é minha. Eu que a trouxe aqui e eu... eu sei que..." Eu gaguejava de maneira tola.

Miller estava sentado em completo e absoluto silêncio. Ele analisava cada mínima informação do computador, até que, de repente, ele bateu fortemente na mesa. O barulho seco ecoou pela sala, fazendo-me estremecer. "Você tem noção do tamanho da estupidez que você fez, Cooper?" Miller gritou. "Eu estava colhendo informações para a minha pesquisa! E você simplesmente entrou aqui, mudou o telescópio de lugar e o desconectou do computador!"

Levei a minha mão à nuca e a cocei. Nenhuma palavra sequer ousou sair da minha boca. O que eu poderia dizer, Saturn? Absolutamente nada, porque eu sabia que havia feito merda.

"Eu vou falar o que você vai fazer quanto a isso, garoto." Miller ainda olhava fixamente para o computador. Após alguns segundos ele voltou a me encarar com uma expressão de poucos amigos. "Você vai consertar toda a merda que você fez. Você vai analisar todos esses dados e vai arrumá-los."

★★★

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