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Capítulo 44

Christian Charles:

— Talvez eu me entregue quando tudo acabar.

— Espera. O quê? Tá falando de se entregar?

— Sim.

— Você... Perdeu o juízo! — exclama Mário pasmo. Ele espera que eu diga que é brincadeira ou me explique melhor, mas não digo nada. — Charles! Vão te torturar até você confessar quem mais estava nessa. Você vai morrer preso! Se você tomar na bunda, a gente também toma!

— Eu disse talvez. É que... Eu não quero ficar longe dela.

— Pois não fique!

— Impossível. E quando ela descobrir a verdade, Mário? Eu não sei o que vou fazer. 

Ele me observa atento.

— Ela vai te odiar mesmo.

Faço uma cara assassina para ele.

— O assunto é sério. Você não está ajudando.

— Ok. Relaxa. Poxa, nunca vi você tão deprimido. — Mário respira fundo, escolhendo minuciosamente quais palavras dizer. — Se você está disposto a lutar por ela, vai aguentar a sua raiva e seu desprezo. Vai fazer de tudo, entende? Lutar até onde puder. E se mesmo assim ainda não der certo, por mais que isso te despedaçe por dentro, deixe- a ir, Charles. E, merda, você sabe que se entregar é burrice. Por mais que não queira, vai arrastar todos nós também.

— Tudo bem.  — respondo.

— Prometa.

Suspiro e lhe lanço um olhar irritado.

— Eu prometo. 

— Posso fazer uma pergunta?

Bufo.

— Já está fazendo uma pergunta.

— Quando foi a última vez em que  você transou com uma mulher?

— Não lembro. — falo dando de ombros. — Por que?

Ele parece espantado, mas sua expressão fica divertida no mesmo segundo.

— Como assim? É sério que você tá sobrevivendo disso? — Mário começa a gemer e a fazer movimentos invisíveis com a mão. Em um canto, duas amigas e um homem começam a rir.

— Será que dá pra você parar com essa merda?!

— Ok. — diz ele parando e rindo ao mesmo tempo. — Ela tem que idade mesmo?

— Dezesseis.

— Cuidado: Ela é de menor. — Mário  segura uma risada na tentativa de alertar-me sobre aquilo ser algum tipo de problema.

— Não fode.

— Quando ela for te beijar vai ficar assustada por causa do bafo da bebida.

— Uma pastilha resolve. E, além do mais, ela não se importa. E também não estou enchendo a cara.

O homem que riu de Mário se levanta de sua mesa e vem até nós. Não. Espera. Corrigindo: Vem até ele.

— Olá.

— E aí, cara. — ele me lança um olhar interrogativo. Sacudo os ombros como resposta.

— Eu vi o que você estava fazendo. Quer dá uma saída?

De repente, ele se dá conta do que o cara é.

— Ah. Aquilo não foi para você. Foi para o meu amigo. Não. Porra! Foi para ele, mas não do jeito que você está pensando. Ah, merda...

— Mário, cale a droga da boca. — o homem ri e chega mais perto dele, que se afasta o quanto pode, ou seja, alguns centímetros apenas.

— Sou hétero. — dispara Mário.

— Sei. — responde ele com ironia. —
— Toma meu número. Manda uma mensagem para marcarmos um dia, delícia. — ele dá um tapinha em seu ombro e sai. Quando está longe o suficiente, Mário diz:

— Presta atenção, eu não vou mais sair com você. Tomei uma surra e ainda tem um cara ali super musculoso querendo me comer.

Gargalho tanto que minha barriga chega a doer.

— Foi você quem pediu para vir, Mariazinha. Agora seu apelido ganhou sentido.

Ele murmura "cretino" e tira do bolso uma carteira de cigarros, colocando um na boca e acendendo-o.

— Quer um?

— Não. Valeu.

Chego em casa e, antes de ir vê-la, coloco a mão na frente da boca. É. Não estava mais com cheiro forte por causa da menta da pastilha.

Encontro Violeta deitada, seus cabelos estão molhados e o que cobre seu corpo é apenas um short curto de dormir e uma blusa de alça.

Ela se vira na minha direção.

— Oi.

Vou até a cama, tiro os sapatos e me deito ao seu lado.

— Oi. Eu não queria te acordar.

— Não estava dormindo, só... pensando.

— Em quê? — pergunto.

Ela se aproxima mais e passa uma perna entre as minhas, deitando a cabeça em meu peito. É uma tortura nauseante ficar assim e não ir além disso. Quero tanto ela que chega a doer, mas não consigo. Não com ela sem saber do que aconteceu, das porras que fiz.

— Em tudo. E senti sua falta também.

Toco sua bochecha.

— Estou aqui agora. — ela sorri e põe sua mão sobre a minha.

— É.

— Eu trouxe isso. — tiro do bolso a barra de chocolate que comprei no caminho de volta. — Parece que é bom quando a mulher está em dias assim.

O entusiasmo toma seu rosto. 

— Acho que você leu meus pensamentos. — ela rasga o papel e dá algumas mordidas, soltando um gemido. — Maravilhoso. Quer um pedaço?

— Você já comeu tudo.

— Desculpe. Você demorou para responder.

Rio e passo a língua no canto de sua boca, onde ficou sujo. Ela me puxa pela nuca, me beijando de modo lento e provocador. Suas mãos passeiam pelos meus bíceps e levantam minha camisa. Quase perco o ar quando Violeta se ajeita e fica sobre mim, colando beijos em meus ombros e pescoço.

— Droga... Não. — de algum modo, consigo dizer.

— Qual o problema? — sussura no meu ouvido. — Só quero beijar você assim.

Olho para seus olhos, estão ardentes e sérios.

— Tudo bem. Vou parar de reclamar. Pode passar a noite inteira me beijando, se quiser.

Sua risada gostosa ecoa por meus ouvidos. Ela se ajeita sobre minha cintura e eu xingo, reprimindo um gemido.

— Você vai me matar de tesão, meu anjo.

— Essa é a ideia.


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