Capítulo 34
Violeta:
Eu estava em algum lugar que extrapolava o nivel de esquisitisse. Não é exagero, juro. Tava mais pra um alojamento, uma prisão de adolescentes. Não sei explicar ao certo seus detalhes. Era enorme o mesmo, tinha entradas por todos os lados, mas só entradas, eu não via saídas. Suas paredes eram todas da mesma cor e causavam um certo pavor, pois aquela cor meio morta dava um grande desejo de sair correndo dali.
Eu via outras pessoas como eu, todas cansadas e trabalhando duro por algum motivo. Parecia até que era automático: Terminar uma tarefa e partir para outra, e depois outra. No meu caso, eu lavava a louça. As mãos já estavam com calos e doendo. Duas garotas que estavam próximas de mim esfregavam o chão, e cada um ia seguindo com sua tarefa.
Na minha frente havia uma vidraça, que estava com os lados recobertos por uma cortina velha e rasgada. Ela dava a visão para um jardim de poucas flores, árvores mergulhadas em um leito sombrio e não possuía aquela cor alegre como a que estamos acostumados a apreciar. E, como já é de se esperar, não era tão bonito e elegante como os de verdade, como os que nos encantam apenas com o cantarolar dos pássaros. Mas mesmo assim, era um jardim.
Eu escutava gritos e quando me virava para todos que estava por de trás de mim, tudo tinha desaparecido. Não havia mais pessoas. Então uma completa escuridão pairou em minha vista. Fiquei totalmente descontrolada, mas foi aí que olhei para o jardim, e vi um menino sentado no meio dele com a cabeça entre as pernas. Tentei ir ajudá-lo, mas meus pés não se moveram e uma voz gritou exasperada em minha cabeça:
Não, você não vai! Tem que sair correndo. Corre do monstro! Ele está vindo. Corre, corre, Violeta!
— Violeta? — escutei a voz bem realística. Dessa vez parecia que era de verdade, e não apenas da minha cabeça. Vi aquele rosto me analisando com uma expressão confusa e bem perto do meu, aquela face que me acalmou o coração. A angústia e o torpor do pesadelo se foram. Como se houvesse mágica naquele olhar, que desaparecia com toda minha aflição.
— Haam? — em estado de demência, quando não se sabe se ainda está dormindo ou acordado, falei, sem ao menos perceber que abri a boca.
— Dá pra acordar? Tá babando em cima de mim. — fui sacudida e aos poucos me despertei, me coloquei sentada de pernas cruzadas e coçei os olhos.
Espera só um momento... Como eu fui parar na cama dele?!
— O que aconteceu? — pergunto e Charles revira os olhos.
— Ah, nada. Você só tava babando em cima de minha barriga. — ouvi suas palavras e olhei para seu abdômen, tinha uma poça de baba ali e desejei imediatamente ter dormido no chão.
Respiro fundo e tento manter a calma.
— Por que raios eu estou na sua cama, Charles?
— Eu que pergunto! — ele dispara. — Não lembra que começou a chover e a trovejar bem forte? Você veio e se deitou aqui comigo.
Fico vermelha. Começo a lembrar que estava com medo dos barulhos fortes de trovão.
— Ér... Lembrei. — sinto vontade de esconder minha cabeça num buraco. E o resto do corpo também. — Eu não queria, tá legal? As circunstâncias me obrigaram!
Ele me lança um olhar sacana.
— Vejamos pelo lado bom, pelo menos você não babou em outro lugar.
— Ainda bem. — respondo com cinismo.
— Tava sonhando com o quê? Acordei com seus gemidos.
— Eu... Eu esqueci. — Ótimo. Eu devia ser a pessoa mais idiota do planeta, quem é que sonha com alguma coisa e depois esquece?
— Aposto que era um sonho muito bom. Ninguém geme desse jeito se não for uma coisa tão boa. — riu. Apesar de não lembrar, sentia um palpite de que coisa boa não era, antes fosse.
— Às vezes esqueço do quanto você é...
— Incrível. — ele completa e eu faço uma careta.
— Tá mais pra idiota por fazer esses comentários chatos.
— Posso até ser idiota, mas não fui eu que te babei. — ele dá um meio sorriso e, sem querer, sorrio por causa de seu sorriso, ficando com raiva de mim mesma por ter feito isso.
Suspiro e me ponho de pé.
— Bem, tenho coisa melhor para fazer. Tipo escovar os dentes.
— Eu vou primeiro. — diz Charles e se levanta. Meu olhar vai para seu peito nu, onde tem outra cicatriz uns três centímetros maior do que a do seu queixo. Depois os braços fortes e desce até sua barriga definida. Olho para seu rosto, sua boca está entreaberta e seus olhos azuis estão ardentes me fitando.
Caramba... Será que ele também me viu olhando para o volume em sua cueca samba-canção? Céus, quero desaparecer.
Me recupero aos poucos e falo:
— Então quero ver você passar. — me coloco na entrada da porta e cruzo os braços sobre o peito.
— Não me desafie. — ele chega tão perto, mas tão perto, que me xingo mentalmente por não ter ficado calada.
Charles me segura pelos ombros e murmura alguma coisa perto de meu ouvido, que para minha bendita sorte, não escuto.
— O que você disse? — no exato momento em que ternino de dizer isso, sinto meu corpo ser levantado do chão com uma rapidez feroz e ser jogado na cama.
— Pra sair do meio! — Charles gargalha e quando termina me lança um sorriso maldoso. Seu toque quente fica formigando na minha cintura.
— Você não jogou limpo! — rebati e tentei acertar o travesseiro nele.
— É preciso jogar sujo de vez em quando se quiser vencer. — ele prossegue. — Regra número dois da vida.
— E qual a primeira? — pergunto.
— Não morrer. Claro.
— E você é o autor dessas regras? — ergo uma sobrancelha.
— Sou. — responde sucinto.
— Nota zero pra essas suas regras.
— Por qual motivo? — sua testa se franze. — Tem regras melhores?
— Tenho. A primeira regra tá boa: Não morrer. A segunda tem que ser mudada.
— E o que sugere?
— Hm... Nunca desistir. Talvez. — Charles revira os olhos.
— Desista, gata. A minha é melhor.
Quando ele fecha a porta atrás de si solto um suspiro longo.
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Estávamos tomando café e Charles parecia muito pensativo. Quando eu percebia que ele estava olhando para mim, desviava sua atenção para outra coisa.
— Tem alguém tocando a campainha. — falo. — Charles, tem alguém tocando. — estalei meus dedos no ar perto de seu rosto. Ele aterrissou na Terra e foi atender.
— Deram uma festa aqui e nem me chamaram? Você tá uma cara de ressaca terrível. — reconheci a voz. Era Mário.
Charles abriu a porta e ele entrou, me dando um aceno de cabeça.
— A festa foi somente a dois. — Charles disse sorrindo, depois os dois olharam pra mim com uma cara que me causou vergonha, muita!
— Então, o que você quer? — pergunta.
— Conversar.
— Por que não ligou ou mandou uma mensagem marcando outro lugar? Sabe que negócios assim não são convenientes para resolver em minha casa.
— Se não fosse realmente importante, eu não viria até estas profundezas de lugar!
Charles respira fundo e me olha.
— Violeta, você pode subir? Precisamos conversar a sós.
— Hm... Claro. — respondo hesitante.
— Como vai minha paciente preferida? — Mário sorri, perguntando.
— Vou bem. Obrigada.
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