
A Raquetada*
Empolgada. Era como me sentia desde que Dean e eu decidimos iniciar a campanha.
Na noite anterior, embora cansados do passeio, ficamos até bem tarde espalhando panfletos e cartazes pela escola. Meu novo amigo se revelou uma pessoa extremamente bem-humorada: suas piadas eram impagáveis. Só uma coisa me entristecia, ter sido ignorada pelo Oli quando o cumprimentei na lanchonete. Eu estava ciente de que não éramos grandes amigos, mas também não éramos completos estranhos. E o jeito como ele me olhou, havia raiva em seus olhos.
À tardinha, eu cogitei procurá-lo, mas correr atrás de garoto comprometido não faz meu estilo.
Naquele Domingo, pulei mais cedo da cama, daríamos início aos trabalhos espalhando cartazes pela escola e recolhendo assinaturas dos alunos que se dispusessem a nos ajudar. Para isso contaríamos com a ajuda de Lilian, Arnie, Donald e, surpreendentemente, de Jason - que nunca dera a mínima para qualquer bichinho, feio ou não. Segundo ele, cada ser vem ao mundo com uma missão, e a missão da maioria dos animais é servir de alimento para os humanos. Portanto, quando ele me procurou oferecendo ajuda, podia jurar que se tratava apenas de mais uma de suas inúmeras brincadeiras de mau gosto, visto que Jason sempre foi um perito na arte de me importunar. Felizmente, não se tratava disso, constatei ao descer a escada que dava para a sala de convivência e o avistar segurando um enorme cartaz na frente do corpo.
- Bom dia, Sardentinha! - declarou com um bocejo.
- Bom dia, Jason! O que faz aqui a essa hora?
- Não é hoje que daremos início à campanha?
- Sim, mas você nunca acorda tão cedo... Pensei que não estivesse falando sério quando me ofereceu ajuda, afinal, você nunca se importou com os animais.
Ele se levantou da poltrona e passou o braço em volta do meu pescoço, todo sorridente.
Aquele não era o Jason que eu conhecia. O Jason que eu conhecia não passaria o braço em volta do meu pescoço, ele puxaria meu cabelo, me diria os piores insultos que se possa imaginar e cairia na gargalhada.
Desde o episódio das fotos ele estava diferente, em um curtíssimo espaço de tempo eu havia passado de Irmã Gêmea do Chuck, O Boneco Assassino, a Sardentinha.
- Mudei de ideia em relação a eles, estive pensando melhor e cheguei à conclusão de que aqueles feiosinhos também são gente.
- James, eles não são gente, são animais.
- O que eu quis dizer é que, eles merecem ser tratados como gente - afirmou, me puxando para sentar ao seu lado na poltrona.
- Posso te fazer uma pergunta? - pedi, desviando o olhar para os meus próprios joelhos. O jeito como ele estava me olhando não me deixava nem um pouco confortável.
- Faça quantas quiser.
- Você está doente?
- Doente? Que pergunta é essa?
- Sejamos francos, você nunca foi muito com a minha cara, essa sua mudança de atitude em relação a mim me assusta um pouco.
- Viola, as pessoas mudam. Mas se quiser posso voltar a puxar o seu cabelo a cada cinco minutos, como costumava fazer.
- Melhor não. Aquilo machucava um bocado, sabia?
- Desculpa por agir como um idiota. - Ele me encarou com aqueles olhos castanhos brilhando e deu um sorriso de canto. - Então, pronta para começar?
- Prontissima.
Dean, Lilian e Arnie certamente já estavam à nossa espera, prontos para dar o pontapé inicial. O restante da escola ainda dormia quando começamos a espalhar os cartazes. Nosso principal objetivo era sensibilizar outros alunos e chamar sua atenção para o problema, o que seria uma tarefa e tanto.
Lilian era boa em conseguir assinaturas - principalmente dos garotos. Jason não ficava atrás, tinha conquistado recentemente uma vaga no time e isso lhe conferia certa autoridade; os meninos queriam agradá-lo e as meninas, bem, estas queriam ficar o mais perto possível dele. Para Dean e eu, no entanto, a coisa não era nada fácil, não éramos tão carismáticos, eu acho, tampouco, populares. E, para piorar, Arnie e Donald não cooperavam muito.
Passava do meio dia quando avistei o Oli estudando um dos cartazes, a Bridget não estava por perto, então decidi me aproximar. Ele era mais ou menos popular, se resolvesse aderir à campanha arrastaria um monte de gente junto e, como eu o ajudara com várias matérias, achei que seria uma bela oportunidade para ele retribuir o favor.
- Bom dia, Oli! - exclamei ao parar ao seu lado.
Seus olhos se voltaram para mim, entrecerrados. Se um olhar pudesse matar, eu teria caído dura ali mesmo.
Por que ele estava me olhando daquele jeito? Como se eu fosse um inseto que precisava ser esmagado.
- Só se for para você.
- Está bravo comigo? Eu te fiz alguma coisa? Se fiz...
- Bravo com você? Não se dê tanta importância, Beene.
Apertei os lábios e olhei para a parede ocre à minha frente.
- Isso foi grosseiro. E, se não está bravo, por que está agindo dessa maneira?
- Porque eu quero, porque já estou cheio de você. Agora vê se dá no pé e me deixa em paz. Vai importunar o idiota do Yattes.
- Ele não é idiota; já você, está agindo como o maior de todos. - disse firmemente.
Oli cruzou os braços e fechou a cara.
Era tudo o que faltava, a Cara de Coruja começar a defender o namoradinho.
- Beene que parte da frase "Me deixa em paz!" você não conseguiu assimilar?
- Sabia que está me magoando? - murmurou com aquela vozinha irritante.
- Sabia que eu não me importo?
- Não eu não sabia. Pensei que fossemos amigos. E amigos não machucam uns aos outros, pelo menos não intencionalmente, como está fazendo.
- Pensou errado, nós não somos amigos, nunca fomos e nunca seremos - retorqui, e vi seus enormes olhos marejarem. Sempre que a via assim meu peito ficava apertado, contudo, não daria o braço a torcer e lhe pediria desculpas. Se ela queria chorar que o fizesse, mas longe de mim. - O que está esperando para se mandar?
Seu queixo começou a tremer - coisa que acontece sempre que ela fica nervosa ou triste.
- Estou esperando que me diga o que eu fiz para que esteja agindo assim comigo - disse, tirando os óculos para enxugar as lágrimas.
Ela realmente tem olhos lindos - é impossível negar -, mas não tão lindos a ponto de compensar todo o resto: seu cabelo é uma bagunça, a cara pintada e os dentes tortos, isso sem falar no corpo de ameba, ela é tão curvilínea quanto uma vassoura.
- Faça-me o favor, como se não soubesse.
- Eu não faço ideia. - Dissimulada. - Então, para com essa grosseria e me diz de uma vez.
- Você existe, isso é mais do que suficiente. - despejei.
Desde que a Cara de Coruja cruzara o meu caminho eu não tive um mísero segundo que fosse de paz, ela estava me deixando maluco.
- Não acredito que disse isso. É tão... tão cruel.
- Quer que eu repita?
- O que eu quero é que pare de agir como um idiota, porque você não é um.
- VIOLA - uma voz ressoou pelo corredor e, ao levantar os olhos, avistei o Yattes acenando para ela.
- Seu amiguinho está te chamando, é melhor ir.
Ela se virou e retribuiu o aceno, enquanto ele caminhava na nossa direção a passos largos, até estacar ao seu lado.
Pa.na.ca.
- Você está bem, Viola? - relinchou. Ela assentiu. - Stantford.
Ouvir meu nome foi o bastante para que os meus ouvidos zumbissem de raiva. O melhor que eu poderia fazer era sair dali o quanto antes.
Quando entrei no dormitório Arran ainda estava estrelado na cama, mas arregalou os olhos diante do barulho.
- Que cara é essa? Por acaso, serviram limonada sem açúcar no café da manhã? - indagou em meio a um bocejo.
- Por que não faz um favor a si mesmo e volta a dormir? Não estou com muita paciência e, caso fale o que não deve, terminará o dia numa maca.
- Uhu. Valentão. Tô morrendo de medo - assobiou. - O que a Rainha da Barangolândia fez desta vez?
Dei voltas pelo quarto numa tentativa de exorcizar a Cara de Coruja da mente, meus dedos deslizaram pela testa suada e, antes que piorasse, cai na poltrona.
- O que ela sempre faz.
- Ah, quer dizer que ela voltou a te perseguir?
- Não, ela não voltou a me perseguir.
- Então qual é o problema? - Ele pulou da cama e andou até o banheiro. - Relaxa, cara, ela não voltará a te perseguir. Brigitt é um repelente e tanto. No mais, ela agora tem o Yattes.
Eu continuava magoada com o Oli, mas saber que ele fora vítima de uma pancada na cabeça e que por conta disso acabara na enfermaria, me fez deixar toda a mágoa de lado e correr até lá no mesmo instante. Ele não se importava comigo, mas, ainda assim, me importava com ele.
- Ele ficará bem? - sussurrei para a enfermeira Talbot, uma senhora corpulenta de cabelos grisalhos e olhos escuros. Meu dedo apontou para o Oli, ele dormia a sono solto, estendido em um dos leitos da extensa enfermaria.
- Certamente. Ele só precisará repousar um pouco e torcer para que a menina Marshall não o encontre tão cedo. Ela devia estar deveras irritada quando bateu com aquela raquete na cabeça dele.
- Bridget Marshall? Ela que fez isso? - perguntei com certo espanto. - Por que ela agrediria o próprio namorado?
- Ex-namorado. Ao que tudo indica, ela não aceitou muito bem o termino do namoro e resolveu se vingar quebrando uma raquete na cabeça dele, querida.
Ele terminara com Brigitt? Espantoso.
- Eu posso vê-lo?
- Ele está dormindo, srta. Beene.
- Por favor - pedi com as mãos juntas sob o queixo. - Não vou acordá-lo, eu prometo.
Ela me estudou por um instante, desistindo de enrolar pedacinhos de gaze, e apertou os olhos antes de falar:
- Certo. Mas não faça barulho.
Parei diante do leito e meu queixo caiu ao perceber o tamanho do estrago, seu olho esquerdo estava um pouco roxo, a testa coberta por um curativo e o nariz vermelho arroxeado.
Eu sempre soube que o namoro do Oli não iria muito longe, só não contava com um fim tão repentino. No Sábado os dois estavam passeando juntinhos pela cidade e, agora, apenas dois dias depois, ele estava quase desfigurado por culpa dela.
Puxei uma cadeira, fazendo o mínimo de barulho possível, e sentei ao seu lado.
Foi quando eu descobri que observá-lo dormir me deixa em paz. Eu poderia ficar ali por horas, apenas olhando para ele.
Eu devia estar triste pelo Oli, mas não estava. Passado o susto, me peguei olhando seu rosto e tentando a todo custo suprimir uma risada. Pus minha mão sobre a sua mão e, quando o sono chegou, recostei a cabeça no colchão, bem próximo ao seu peito, e acabei adormecendo.
Oi, amoras
Então, eu demorei, mas estou de volta e pretendo ficar. Se Deus permitir vou postar a partir de agora um ou dois capítulos por semana, isso vai depender de vocês leitoras lindas da minha vida.
Ainda não tive tempo de responder os comentários de vocês, mas vou tentar fazer isso em breve. Amei cada um deles e estou grata por aparecerem para me dizer o que estão achando, vocês me fazem rir loucamente. Obrigada por isso.
Publiquei mais uma história e, se você gosta de Viola e Rigel provavelmente também gostará dela.
Se puderem dá uma olhada eu agradeço. No começo da história os personagens são crianças, mas eles crescem rapidinho, é só ter paciência.
Obrigada!
Kiss enorme!
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