CAPÍTULO 26 - ALGUÉM NÃO TEVE DESCANSO (parte 2)
-Onde está a Chlöe? - perguntei ao Santanna
-Vi-a saindo, senhora - respondeu ele de prontidão
-Ah, precisava falar com ela... - falei me virando e voltando para minha sala.
Talvez o horário dela tenha acabado... Com toda a certeza o horário dela acabou e enfim foi descansar. Há dias ela não tira uma folga, assim como eu... Já há algum tempo que não vejo minha filha, tudo por essa organização... pela instalação nova, meu cargo novo, e pela segurança de minha pequena.
-Senhora - me surpreendeu Santanna, que havia me seguido - o que aconteceu?
-Nada - o respondi - Nada muito alarmante, apenas... comportamentos estranhos nas imagens que eu queria que ela me pudesse explicar... bem, os nerds estão ocupados demais, se eu entrar naquela sala novamente eu vou demitir todos - falei a última frase sorrindo.
-A senhora pode ser cruel com esses nerds - ele respondeu sorrindo de volta - há algum tempo eles estão dificultando nosso trabalho mais que os figurões.
-Tem razão... - falei de forma vazia - Santanna, você está de serviço até de manhã, certo?
-Sim - respondeu ele
-Gostaria que você buscasse Joaquim... daquele jeito - disse a ele indicando "à força" por códigos - talvez precisaremos dele.
-Certo Senhora...
-Agora. Urgente. Para ontem.
-Vou indo - disse ele virando as costas e pegando seu celular, possivelmente para reunir alguma equipe.
Eu detestava não estar sabendo das coisas. Doutor Joaquim ao menos teria alguma explicação mágica sobre o que poderia estar acontecendo. Eu estou vendo imagens que parecem estar reprisadas, estou vendo leituras desconexas com o que esses indicadores em gráficos e softwares estão indicando... E eu sinto que ainda teremos problemas com os lobos... e aquele demônio.
Ainda não temos nenhuma posição em relação à plano de ataque ao demônio, apenas An consegue fazer algum dano significativo nesse caso... todo nosso trabalho tem sido através de estudar e lidar com os lobisomens, mesmo sendo uma divisão que lida mais com questões envolvendo vampiros... Na verdade, por conta disso e do envolvimento de An com magia, somos uma divisão mista, focada em operações...
E eu já estava cansada de operar... Precisava sair desse ambiente... Hoje percebo mais questões envolvendo a necessidade de atividades e desgaste mental que físico... Eu acho que estou andando com nerds demais...
O tempo passou rápido, pelo menos foi o que eu senti, pois em meio a tudo que estava acontecendo eu ainda investia minha energia em minha filha... Olhando suas redes, as fotos, seus amigos... Todos ali, e inclusive seu padrasto... Quase nenhuma foto nossa juntas.
-Sigh - esse foi o suspiro que dei na hora em que percebi que passei muito tempo a observando de longe.
Recebi uma alerta em mensagem, alguma coisa estava acontecendo na cidade. Antes que a pudesse ler, Chlöe estava entrando em contato comigo. Levantei para buscar meu pad que estava em outra mesa e atender o chamado.
-Você está na base? - ela me perguntou sem cerimônias
-Educada - a respondi de forma firme
-Marina, não tenho tempo pra isso... eu estou com Charlie saindo do posto da sanguessuga albina tarada, ele não está aqui, e rolou umas...
Ouvi estrondos vindo de longe atrapalhando Chloë a se comunicar.
-Mas o que é que está acontecendo? - perguntei incisivamente enquanto olhava a mensagem que me foi entregue.
"Um exército de lobisomens, mandem reforços"
-DEU RUIM PUTA, MANDA REFORÇOS! - ela gritou desesperada.
-SÃO ELES, UM EXÉRCITO! - ouvi a voz de Charlie gritando do lado de Chloë... ótimo, ela teria alguma segurança afinal
A cidade estava estranha, merda! Alguém deve estar nos sabotando, não conseguimos observar de longe o que estava acontecendo... É isso...
-Mas como é que você sabe?! - escutei a Chloë questionar Charles enquanto andava quase correndo em direção à sala dos nerds da computação e comunicação.
-Você não tem heterocromia ocular - ouvi Chloë falar com Charlie.
Tsk! Numa hora dessas esses dois estão agindo como adolescentes de um livro de ficção e romance...
-Não é só você que anda com brinquedos tecnológicos - disse Charles
-Acabou a social? - eu perguntei grosseiramente entrando na sala desses nerds idiotas enquanto eles se assustavam comigo e com algumas imagens que estavam estampadas nas telas...
Não precisei pensar duas vezes, minha experiência de campo indicava um ataque, e eu deveria estar pronta para o que der e vier... Não era o momento para ficar se lamentando por não ter percebido antes... A cidade está sendo atacada!
Foi o que eu disse...
- A cidade está sendo atacada - disse a Chloë
- Oh, não me diga! Uma info totalmente nova, minha deusa! - disse Chloë sarcasticamente enquanto eu observava as várias imagens conturbadoras de lobos correndo com coisas na boca, explodindo dispositivos e etc - Você precisa mandar reforços, a polícia, as forças armadas, ninguém é capacitado para lidar com esse tipo de ameaça! - ela continuou a falar.
-Eu quero saber é como eles conseguiram esse tipo de ataque coordenado simultaneamente... - falei apontando para os monitores e olhando para os nerds.
-Marina... Aquela demônia... é ela - disse Chloë uma ideia razoável, levando em consideração a última operação que tivemos há dois dias atrás aproximadamente - Lembre o que An disse... Ele sabia que era ela.
Eu respirei fundo
-Aguarde os reforços, não ajam sozinhos, mantenham uma linha de segurança, quero informações em tempo real... As coisas aqui estão devagar - Eu falei desligando.
Todos da sala se mantiveram calados e paralisados...
-Mas como a gente não percebeu? - uma nerd se questionou
- Eu não tô nem aí como, o leite já foi derramado, agora precisamos de medidas drásticas e precisas para lidar com mais uma crise - falei - Vamos, movam-se, comecem a fazer o que sabem de melhor, ou talvez o que vocês acham que fazem de melhor: descubram como agiram às cegas, descubram o que há de errado com nosso equipamento, descubram o que querem, como querem e quando querem... Ninguém sai dessa base hoje sem resolvermos isso...
Todos ficaram parados olhando para mim. Eu me enfureci e bati duas, três palmas como se estivesse lidando com animais enquanto falava:
-VÃO TRABALHAR SEUS IDIOTAS, VAI!
Aquele momento todos ficaram em um alvoroço. A sala deles era uma espécie de uma central... Haviam várias máquinas e telas mostrando gráficos de cor, de barras, painéis de relevo geográfico e geopolítico do tráfego de drogas e armas; locais de aparição de vampiros e lobisomens com as datas das aparições, indivíduos, relatos, nível de poder...
Eu estava mais precisamente em um local que mais parecia uma ponte de uma nave estrelar, com direito a parapeito e a mais nerds trabalhando no nível de baixo.
-Senhora, não conseguiremos religar a tela principal tão cedo - disse um nerd qualquer.
-Eu preciso de informações seu idiota, ajuste isso - ordenei.
A tela que estava logo ali, à minha frente, com cinco metros quadrados, ficaria desativada por Deus sabe lá que motivos.
-Eles destruíram a vigilância, estavam tentando cortar todas as comunicações, eles estão isolando a cidade - outra nerd disse.
Marocci estava na cidade... lembrei com dor na cabeça. An também.
An! A sanguessuga albina tarada... seria uma ótima opção para a operação. Precisávamos de reforços, mas o único reforço, e mais significativo, seria An nesse momento. Puxei meu pad e tentei localizar An e Marocci, mas estavam inativos... O pad de Marocci, no caso. Enquanto a An, nada que colocamos em seu corpo para o espionar funcionava... Ele tirava todos.
Eu checar então Chloë e Charles, e vi localização deles dirigindo pela cidade.
Eu liguei para Chloë...
-Aonde vocês estão indo? - perguntei imaginando que ambos pensaram no que eu pensei
-Atrás de Marocci e An - ela me disse
Ótimo!
-Não temos nenhuma informação deles... - falei - quase nenhuma informação do local... Vocês são os únicos em campo, não podem atrair olhares de curiosos... precisamos saber o que...
-O que está acontecendo? O que está acontecendo? - Chloë me interrompeu - O que está acontecendo é que eu sou especializada em vampiros... Vampiros! E estou em um fim de mundo estudando cachorrinhos, Marina... Falta de consideração, agora eu vou morrer pelos dentes de um lobisomem ou carbonizada, porque essa cidade está em chamas por todo lado... Nem civis eu estou conseguindo...
Chloë pausou seu desespero, respirou fundo parou de falar.
-O que foi? - perguntei.
-Eu mal estou vendo civis - disse Chloë - Charlie, busque civis...
-Mas eu estou ocupado...
-E eu também! - respondeu a especialista em vampiros
-Tsk! Eu estou vendo apenas corpos... alguns vivos dentro de suas casas amontoados com outras pessoas... mais corpos... - disse Charles
-Eles não estão capturando demais, hum... - Chloë falou com um tom pensativo - Eles não estão transformando, então pois o alpha não está entre nós... Marina...
-Prossiga - respondi.
-Temos que assumir a possibilidade de um genocídio, ou do uso de pessoas para magia negra e magia vermelha...
Eu não entendi direito o que Chloë queria, mas eu sabia que foi muita sorte ter enviado Santanna para buscar Joaquim... Há um tempo, inclusive, já deveria ser a hora deles voltarem.
-E por que você pensa isso? - perguntei a ela.
-Se os lobos estão operando a partir de ordens de um demônio que passou a usar o sangue... então é fácil imaginar que o que se quer é justamente isso... Aliás, não foi o An que disse que ela apenas possui mulheres, mas conseguiu possuir homens, e o pior, alphas? Do que ela precisa mais? Nós estávamos confusos achando que eram vampiros, e eram lobisomens... coordenados por uma demônio... que estava usando sangue e/ou vidas para isso. Marina... A gente precisa de reforços urgentes, e equipes de resgate. Eu estou indo até Marocci e An... por favor, mande pessoal.
-Não posso mandar equipes a um pan demônio em que mal vejo - eu falei batendo na barra de segurança, fazendo um som metálico soar, apenas para assustar os nerds.
-O que é que você diz como o "mal vejo?" - Chloë me perguntou estarrecida
-Não conseguimos enxergar isso que está acontecendo através de satélites; não conseguimos que nenhum agente estivesse de serviço ou de folga na cidade, coincidentemente... com exceção de An e Marocci... agora de vocês; não consigo contato com An ou Marocci, nem do chip que pus em An, pela milésima vez; nossos sistemas de vigilância foram desativados horas antes sem precedentes... Entrar aí seria um campo minado - eu falei estalando os dedos para os nerds, no intuito de fazê-los perceber o que era preciso ser feito.
- Marina - disse Chloë - ou você manda alguém para fazer o trabalho, ou você poderá perder quatro agentes e uma cidade inteira que é usada para despistar curiosos à nossa base... Há civis morrendo, civis sendo feitos de refém e...
-Os reféns estão sendo mortos - interrompeu Charlie.
Eu coloquei em viva voz e apontei para alguém que nunca havia visto ali na operação, ele entendeu o que eu quis, e replicou o som para todos ouvirem.
- Repito... alguns reféns... estão sendo mortos... - Charles estava falando, sua voz estava preocupada, percebemos pelo tom.
Juntamente com a fala de Charles, uma mensagem foi recebida, o som do alerta saiu nos alto falantes, fazendo com que os nerds tampassem os ouvidos em reflexo do som agudo da mensagem chegando.
- Eles levam para as casas, deixam por lá... Há várias casas com reféns... eles matam... todos... os deixam amontoado dentro das casas... Não é só isso... - Continuou Charles enquanto eu verificava de quem era a mensagem - Quem morre nas ruas, são levados para algum canto ou beco... há um padrão no comportamento, nada disso é a toa... O que deve estar acontecendo dentro das casas eu não sei... quanto tempo eles ficam lá, eu não sei...
-Marina, você queria informações, não? - disse a Chloë - Agora você tem mais que suficiente.
-Quantos? - perguntei identificando o autor da mensagem...
Marocci!
-Muitos, Marina... - respondeu Chloë - incontáveis... Uma cidade deles - ela disse ironicamente.
-Acabei de receber uma mensagem em áudio de Marocci - respondi à Chloë - te encaminho assim que terminar de decodificá-la e ouvi-la. Mandaremos reforços, desligo.
-Ao trabalho! - gritei com toda aquela gente que estava vendo correndo desesperados para tentar resolver a crise.
Passei meu pad para um nerd qualquer que vi passando por mim e o disse para arranjar alguém que pudesse decodificar aquele áudio. Bem, ele sorriu de forma irônica, e ele mesmo começou a trabalhar usando meu pad, virando seu corpo para que eu não conseguisse ver o que ele fazia.
Antes que eu me estressasse e descontasse nele, o nerd se virou e me devolveu o pad. Mal se passaram três minutos. Eu dei o play e então escutei a mensagem de Marocci:
-Deu merda, basicamente, muitos lobos, muitos, mais que os cidadãos, que estão em uma baderna e barbaridade, comum da raça humana em tempos de crise. Está um pan demônio, não estou com... a sanguessuga... Há outras e um felino... Apenas mandem reforços para conter os Lobos, e rastreiem meu IP, manterei esse aparelho por no máximo trinta minutos.
É... Deu muita merda Marocci... Muita merda mesmo.
Enviei o áudio para a Chloë.
Agora é onde entro... Nessa situação de calamidade, eu tenho privilégios de comando que posso aplicar em minhas decisões a partir de agora.
Eu escrevi ao diretor geral da instalação, informando da situação, e de que, nesses momentos, o poder da cadeia de comando está diretamente ligada à mim...
Um bom momento para mostrar do que sou capaz de fazer.
Eu deveria estar descansando.
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