CAPÍTULO 25 - ALGUÉM NÃO TEVE DESCANSO (parte 1)
-Você não deveria estar tomando vinho no trabalho - Charlie me disse trazendo café e retirando o copo de vinho de minhas mãos - E muito menos em um copo de plástico descartável.
-É biodegradável - respondi irônica.
-Seu corpo também é - ele me colocou.
-CredoThor barato!
-Como? - Charlie dobrou a cabeça de lado, fazendo aparecer uma dobrinha sutil abaixo de seu queixo.
-Você sem barba parece mais... cheinho - disse tomando um gole de café.
-Na verdade eu engordei um pouco, obrigado pela indelicadeza... - Disse ele coçando a cabeça - eu acho.
-Ah, para né! - falei voltando a olhar minhas anotações - Marocci já deu sinal de vida?
-Não que eu saiba, Marina deve saber, andam muito juntos esses tempos - ele me respondeu sentando ao meu lado.
-Quem anda com sapatão é puta ou viado, An diria isso certamente.
-Você é cruel quando quer, Chlöe - Charlie riu
-Estou andando demais com An, apesar dele estar sumindo frequentemente - pontuei.
-Por falar em sumiço, o que aconteceu com aquele colega e seu parceiro? O de cabelo verde - perguntou Charlie.
-Os afastamos da cidade, ainda estamos observando para determinar o nível de informação que eles têm... Aparentemente nenhum, mas é só precaução - respondi.
-Certo, certo.
-Charlie, você quer alguma coisa? - perguntei.
-Eu... quero saber como você tá, e etc... interagir... Não tem muita gente na minha equipe, basicamente são técnicos e estagiários que são relocados o tempo todo, cada dia uma cara nova... e ainda tenho que ir à campo... Marocci não é fácil de lidar e...
-Sim, sim, sim - o interrompi - você quer flertar ou desabafar?
-Chlöe, eu...
-Ok, ok, é que você está fazendo rodeios e atrapalhando meu trabalho.
-Você está fazendo hora extra não remunerada - ele falou categoricamente como se estivesse me repreendendo.
-O jogo virou nessa discursão, né!? - falei indignada por estar sendo repreendida por um novato, basicamente - quer comer?
-Você diz...
-Comida... Vamos - levantei - antes que eu mude de ideia.
-Meu horário...
-Eu sou superior, estamos indo fazer uma reunião a campo, se preferir - resolvi.
-Então tá.
Levantamos e saímos da base em poucos momentos. Charlie foi dirigindo, levando o machado no carro, ele insistiu em dizer que não se separa daquela arma. Não fiquei interessada em saber o que e o porquê, não tenho interesse em contos nórdicos, a não ser que envolvam vampiros.
-Ultimamente eu penso em refazer meus estudos, sabe? Passei minha pouca vida estudando vampiros, hoje estamos aqui, com uma meia crise com lobisomens... crias da lua... alphas, sei lá - desabafei.
-E demônios asiáticos que possuem corpos que não deveriam - completou Charlie
-Exatamente! - exclamei - Está tudo de cabeça para baixo... Ah, estaciona ali - indiquei.
Paramos em uma loja de conveniência... Era a que An trabalhava. Acho que Charlie percebera, mas não citou o assunto. Por essa região, essa loja era a única coisa que tinha de mais perto para comer alguma coisa, como sushi podre.
Ao entrar notamos que An já não estava, talvez o horário dele tenha acabado, afinal de contas era um trabalhador mal remunerado com direito a descanso... Um vampiro viado tem descaso, e eu não... Peguei a doença de Marocci e estou obcecada com meu trabalho... Minha deusa, a que ponto cheguei... Adorava ler livros autopublicados de fanfics yaois na internet, e agora eu estou com uma versão barata de um Thor não loiro claro engordando de meu lado, que não sei dizer se estava tentando ser amigo ou se estava flertando. Talvez seja coisa de minha cabeça, eu sei que eu levaria pra cama, se não fosse colega de trabalho... Na verdade levaria só Marocci... Confesso que tinha um crush nele, mas agora tenho outra função: shipa-lo com An!
-E então, macarrão mesmo? - Charlie me perguntou, rompendo meus pensamentos de autopiedade.
-Ah, sim, só tem macarrão mesmo... - concordei.
-Na verdade tem sushi podre, tranqueiras gordas, doces...
-Entendi a ideia, vai de macarrão mesmo, Thor2 - o cortei sem paciência.
-Certo, certo... - choramingou Charlie - Não entendo porque vocês me chama de Thor...
Tão inteligente, mas tão tolo... e tão...
-Gostoso?
-Amado? - questionei.
Ele leu minha mente?
-Gostoso, o macarrão daqui... digo, será que é bom? Será que é gostoso?
-Ah - disse voltando à realidade - Deve ser, vamos comer ué. É instantâneo, então... o segredo está na hora que você põe o pó, o tempero, se antes ou depois.
-O que vem no copo é mais prático, será que não tem desses? - perguntou Charlie procurando o produto como se não houvesse o amanhã.
-Não temos o tempo todo.
Apressei pegando as embalagens.
Registramos a comida, recolhemos algumas bebidas, colocamos no microondas do selfservice e fomos comer enfim.
Charlie ficou conversando sobre trabalhar para a Força. Era mais novo que eu e Marocci... Eu estava pensativa, enquanto ele falava apenas fazia caras e bocas. Eu não estava ligada naquele momento... Me sentia estranha, letárgica, e ainda assim, pensativa demais. Esses últimos tempos estavam deveras confuso...
Ainda me perguntava por que a Força da Noite deixou de perseguir pistas dos vampiros Mesopotâmicos, o que eles foram fazer lá naquele fim de mundo da Europa... se eles já não sabiam quem procurar e o que encontrar... digo, An... Se não estávamos apenas sendo manobrados como cordeiros para sermos abatidos no lugar dos figurões.
Ok, eu viajei demais. Aquilo tudo apenas me deixava ansiosa... Essa crise na cidade...
-Você viu aquilo? - Charlie chama minha atenção apontando pro seu lado direito com o nariz. Que fofo ele foi...
-Não, não vi absolutamente nada - eu respondi sem olhar.
-Qual é Chlöe - reclamou ele - Olha discretamente, acho que...
Crash - ouvimos um barulho de vidros quebrarem e de um carro acionar o alarme.
-Me sinto em uma história mal escrita de horror - falei impulsivamente.
-Como?
-Digo... não deve ser nada, apenas violência urbana.
Vimos o dono do local caminhar até a porta da loja de conveniências.
-Esses moleques... uns vândalos! Devem ser latinos! Estão cada vez pior que os negros - disse o imbecil.
-Pelo bem da minha sanidade mental, eu não ouvi isso - falei levantando minha cabeça e olhando para o outro lado.
-Chloë.
-Sim Charlie?
-Vamos pro carro...
-Mas não acabei de comer...
-Vamos para... o carro...
-Mas não vou desperdiçar isso tu...
Sentimos o chão tremendo, e logo, um som de um estrondo.
-Mas que porra foi essa? - o dono da loja bradou.
Nos levantamos rápido e saímos correndo para a porta. Pelo andar da carruagem alguma merda muito feia deve ter acontecido e com lobos envolvidos, eu sentia o cheiro no ar. Digo, não de cachorro, mas... bem... Alguma coisa aconteceu.
Me esbarrei no dono da loja, fazendo ele ser espremido por uma das portas de vidro.
-Puta...
-Desculpa querido - falei sem olhar pra trás.
Assim que passamos pela porta o chão tremeu e outro estrondo foi ouvido, dessa vez de mais perto, pois meus ouvidos doeram, e vidro da loja, as janelas, as portas... tudo quebrou.
Fomos cambaleando para o carro... Eu tive a impressão de que Charlie pensou no mesmo que eu: o pior lugar para estar quando se tem suspeita de explosões é em um posto de gasolina.
-Droga - ele disse olhando para os vidros do carro quebrado.
Charlie apenas puxou seu machado e eu a minha bolsa. Tirei rapidamente de lá de dentro alguns dispositivos de comunicação e meu pad.
-Tome, use isso - dei a Charlie um dispositivo, ele colocou na orelha com uma expressão surpresa na cara - É bolsa de mulher, ué - quis dar uma resposta sobre porquê que eu levo esses trecos comigo o tempo todo.
-Vamos deixar esse carro aqui? - perguntou Charlie.
-Mas você não...
-Eu tirei o machado, apenas...
-Idiota, entra no carro, vamos sair daqui logo!
Eu entrei e sentei no banco do motorista. Peguei meu pad e disquei uma linha segura com Marina.
-Você tá na base? - perguntei a ela.
-Educada - Marina respondeu.
-Marina, não tenho tempo pra isso... eu estou com Charlie saindo do posto da sanguessuga albina tarada, ele não está aqui, e rolou umas...
Ouvimos dois estrondos, dessa vez foi de muito perto. Acabamos de sair do posto e ele explodiu. Para ser mais precisa, o segundo estrondo foi a explosão.
-Mas o que é que está acontecendo? - Marina gritou do outro lado.
-DEU RUIM PUTA, MANDA REFORÇOS! - gritei histérica
-SÃO ELES, UM EXÉRCITO!
-Mas como é que você sabe?! - perguntei a Thor2
Ele apenas virou seu rosto para mim e piscou o olho direito. Então eu lembrei...
-Você não tem heterocromia ocular - disse nervosa
Era uma lente... de visão aguçada... Um brinquedo da Força. Isso explica o "você viu aquilo".
-Não é só você que anda com brinquedos tecnológicos.
-Acabou a social? - Marina perguntou - A cidade está sendo atacada.
-Oh, não me diga! Uma info totalmente nova, minha deusa! - disse sarcasticamente - Você precisa mandar reforços, a polícia, as forças armadas, ninguém é capacitado para lidar com esse tipo de ameaça!
-Eu quero saber é como eles conseguiram esse tipo de ataque coordenado simultaneamente...
-Marina... Aquela demônia... é ela - disse lembrando da última operação que tivemos - Lembre o que An disse... Ele sabia que era ela.
-Aguarde os reforços, não ajam sozinhos, mantenham uma linha de segurança, quero informações em tempo real... As coisas aqui estão devagar - disse Marina desligando.
-Merda. Para onde a gente vai? - Charlie perguntou.
-Atrás de Marocci e An - respondi gritando - sem eles, a gente vai virar atum.
Apesar de meu exagero e preocupação, eu estava muito empolgada com aquilo tudo, claro, eu poderia morrer, mas não tirava de mim a emoção do momento de estar em ação. Pena que meu corpo precisava descansar... Espero que tenha adrenalina e noradrenalina suficiente nas minhas fendas sinápticas para que todo o meu corpinho possa aguentar a pressão.
Não precisou muito para começarem a nos perseguir e tentarem pular dentro do carro, digo, os cachorrinhos de dois a três metros de altura. Me senti como em uma música de uma cantora finlandesa...
-Charlie! - gritei sem olhar para ele
-Eu sei! - ele respondeu
Charlie foi para o fundo, abriu a porta da direita e a arrancou, com o machado. Eu não entendi direito como ele conseguiu tal façanha. E percebi que ele não entendeu o que eu queria que ele fizesse, mas deu certo. Alguns lobos foram pegos de surpresa.
No meio daquele pandemônio eu estava tentando ligar para Marocci, mas seu telefone estava fora de área. Enquanto isso um cachorrinho entrou pela janela do banco do carona, me assustando, tentando me alcançar com seus dentes, mas Charlie, que estava no banco de trás, cortou seu corpo ao meio por fora do carro.
-Você me deve uma - ele gritou.
-Eu nem me urinei, cala a boca - eu falei empurrando o corpo humano em que o lobo havia se transformado depois de morto.
Olhando para aquilo eu tive um insight, peguei uma arma que estava no porta malas enquanto Thor barato estava girando seu miumiu sem graça...
-Hum... então esse veículo é de fato da Força Noturna... - falei concluindo
Eu me virei para a esquerda sem estímulo externo, digo, eu apenas virei... Já havia um cachorrão pulando para entrar pela janela e me pegar. Esse era o insight.
Tiro.
Me desestabilizou, por causa do ricochete da arma.
Virei o volante para direita, sem querer.
-DIRIGE DIREITO, ME... - gritou Charlie com raiva.
-Sorry... - o respondi - vamos procurar um lugar com menos bichinhos... Algum lugar perto do fogo.
-Você é maluca? O carro...
-Eu tenho uma ideia!
-Não! Eu não vou compactuar dessa ideia... se quiser abandonar o carro, abandonaremos, mas não ponha esse carro próximo a fogo!
-Por quê? - perguntei consumida pela dúvida.
-Apenas não, Chloë - ele falou a mim como se fosse meu pai.
Continuei dirigindo para frente, enquanto isso Marina ligou exigindo relatórios. Eu não tinha quase relatório algum, o que eu ia falar? Matei um lobo, parabéns para mim... Charlie cortou uns aí, parabéns para ele...
-Aonde vocês estão indo!? - perguntou ela de forma autoritária.
-Atrás de Marocci e An - eu respondi com uma entonação de como se ela tivesse a obrigação de saber.
-Não temos nenhuma informação deles... - falou Marina - nenhuma informação do local... Vocês são os únicos em campo, não podem atrair olhares de curiosos... precisamos saber o que...
-O que está acontecendo? O que está acontecendo? - falei alto de forma crescente - O que está acontecendo é que eu sou especializada em vampiros... Vampiros! E estou em um fim de mundo estudando cachorrinhos, Marina... Falta de consideração, agora eu vou morrer pelos dentes de um lobisomem ou carbonizada, porque essa cidade está em chamas por todo lado... Nem civis eu estou conseguindo...
Eu parei por um momento...
-O que foi? - Marina perguntou, enquanto Charlie balançava seu machado, se inclinando para fora do carro e caçando lobos que se aproximavam.
-Eu mal estou vendo civis - falei - Charlie, busque civis...
-Mas eu estou ocupado...
-E eu também!
-Tsk! - Protestou Charlie, que ficou mudo por uns segundos piscando os olhos - eu estou vendo apenas corpos... alguns vivos dentro de suas casas amontoados com outras pessoas... mais corpos...
-Eles não estão capturando demais, hum... - falei - Eles não estão transformando, então pois o alpha não está entre nós... Marina...
-Prossiga - ela respondeu.
-Temos que assumir a possibilidade de um genocídio, ou do uso de pessoas para magia negra e magia vermelha...
-E por que você pensa isso? - perguntou Marina
-Se os lobos estão operando a partir de ordens de um demônio que passou a usar o sangue... então é fácil imaginar que o que se quer é justamente isso... Aliás, não foi o An que disse que ela apenas possui mulheres, mas conseguiu possuir homens, e o pior, alphas? Do que ela precisa mais? Nós estávamos confusos achando que eram vampiros, e eram lobisomens... coordenados por uma demônio... que estava usando sangue e/ou vidas para isso. Marina... A gente precisa de reforços urgentes, e equipes de resgate. Eu estou indo até Marocci e An... por favor, mande pessoal.
-Não posso mandar equipes a um pan demônio em que mal vejo. - disse Marina.
-O que é que você diz como o "mal vejo?" - indaguei.
-Não conseguimos enxergar isso que está acontecendo através de satélites; não conseguimos que nenhum agente estivesse de serviço ou de folga na cidade, coincidentemente... com exceção de An e Marocci... agora de vocês; não consigo contato com An ou Marocci, nem do chip que pus em An, pela milésima vez; nossos sistemas de vigilância foram desativados horas antes sem precedentes... Entrar aí seria um campo minado.
-Maldito macarrão instantâneo - reclamei entre os dentes - Marina ou você manda alguém para fazer o trabalho, ou você poderá perder quatro agentes e uma cidade inteira que é usada para despistar curiosos à nossa base... Há civis morrendo, civis sendo feitos de refém e...
-Os reféns estão sendo mortos - interrompeu Charlie - Repito... alguns reféns... estão sendo mortos - eles levam para as casas, deixam por lá... Há várias casas com reféns... eles matam... todos... os deixam amontoado dentro das casas... Não é só isso... Quem morre nas ruas, são levados para algum canto ou beco... há um padrão no comportamento, nada disso é a toa... O que deve estar acontecendo dentro das casas eu não sei... quanto tempo eles ficam lá, eu não sei...
-Marina, você queria informações, não? - reforcei enquanto Charlie observava o local ao redor e cortava a cabeça uma vez ou outra de um lobo que tentava pular para o carro - Agora você tem mais que suficiente.
-Quantos? - Marina perguntou em áudio
-Muitos, Marina... - respondi - incontáveis... Uma cidade deles.
-Acabei de receber uma mensagem em áudio de Marocci, te encaminho assim que terminar de decodificá-la e ouvi-la. Mandaremos reforços, desligo.
-Dá pra acreditar nisso Charlie? - perguntei indignada.
Nós paramos na frente de onde deveria estar o prédio em que Marocci mora... Apenas abrimos a boca e vimos prédios implodidos, em chamas, e mais explosões ocorrendo dentro das casas.
-Esse... são de gás natural? - perguntou Charlie.
-Eu não sei... - respondi.
-Acho que estamos fritos... - disse Charlie olhando o quarteirão em chamas e saindo de dentro do carro.
-Não ainda, mas já, já estaremos sim fritos - eu falei saindo do carro.
-Você tem uma mensagem - disse a assistente virtual no dispositivo que estava em meu ouvido - Para usar libere a chave de...
Eu digitei meu código de acesso em meu pad, para liberar a mensagem, acredito que era de Marocci... Conectei Charlie para ouvirmos juntos enquanto olhamos para os prédios tombados no quarteirão.
A mensagem foi:
-Deu merda, basicamente, muitos lobos, muitos, mais que os cidadãos, que estão em uma baderna e barbaridade, comum da raça humana em tempos de crise. Está um pan demônio, não estou com... a sanguessuga... Há outras e um felino... Apenas mandem reforços para conter os Lobos, e rastreiem meu IP, manterei esse aparelho por no máximo trinta minutos.
-Quando a mensagem... - Charlie ia perguntando
-Estou trabalhando nisso! - eu respondi enfiando meus dedos em todos os botões possíveis na tela de meu pad no desespero de descobrir um código, um lugar, um espaço, algo que fizesse o sistema liberar essa informação.
Vinte e sete minutos e quinze segundos...
Eu comecei a tentar rastrear o IP, ia demorar um século se eu pedisse a Marina para cuidar disso e Marocci poderia estar morto nesse tempo... Marocci poderia estar morto agora...
-Erh... Chlöe - Charlie me chamou - eu não quero te apressar mas, temos companhia.
Eu apenas levantei o olhar, comtemplando assim um círculo de lobisomens, aproximadamente uns seis... Eles nos cercaram, eram imensos, rosnavam e avançavam sorrateiramente.
-Dá um jeito - eu disse - preciso me concentrar e eu nem ao menos estou com bala de prata.
-Eu não sou pago para isso - choramingou Charlie dando a primeira investida.
Os lobos ficaram fazendo um alvoroço.
Charlie tentava me proteger, girando seu machado, cortando alguns, e outros... sendo atacado... Se metendo em minha frente enquanto eu de pé continuei uma briga com meu pad, no intuito de achar o IP daquele telefone.
Marocci era treinado, se eu não estivesse com esse celular significaria que ele morrera ou que ele descartara o aparelho, era uma corrida contra o tempo... Vinte e nove minutos e um segundo.
-Chlöe, eu preciso de você aqui! - gritou Charlie sendo atacado por dois lobisomens de vez.
-É pra já! - disse a ele.
Vinte e nove minutos e trinta segundos.
-Droga! - exclamei.
Eu não sabia muito bem o que estava acontecendo ali, com Charlie, ou se algum lobo conseguiu me alcançar algumas vez... Eu estava focada... Obsessivamente focada... Eu precisava estar focada...
-Consegui!
Vinte e nove minutos e quarenta e sete segundos.
-Merda, merda, merda - desesperei - uma mensagem, um sms, uma... alguma coisa... Ele está perto, ele está muito perto, preciso chamar sua atenção, preciso! Mas não posso chamar a atenção do inimigo... Angelo irá descartar o aparelho...
Enquanto eu falava isso tudo, apenas consegui digitar "estamos na sua casa, C.", mas estava com muita dificuldade para enviar como sms, e já estava pensando na possibilidade de buscar algum sinalizador no carro e utilizar.
-Enviar - cliquei no último comando.
Sem resposta, eu comecei a me desesperar e clicar em enviar mais de uma vez...
Enviar...................................................................................................................
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Enviado
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Levantei minha cabeça respirando aliviada, mas na minha frente estava Charlie tendo sua perna mastigada, e seu braço direito. Ele rodava seu machado e cortava os corpos dos lobos. Então percebi que ele estava com uma espécie de roupa protetora, mas isso não fazia ser menos doloroso, pois seu rosto era de muita dor. E percebi também que fomos empurrados contra a parede próxima à esquina do quarteirão de Ângelo, e ao nosso redor haviam vários lobos mortos, e vários lobos vivos... prontos para nos destruir.
Posicionei minha arma contra algum lobo.
Trim.
Dei um tiro, era de luz ultravioleta... não mataria nenhum deles, pois é uma arma para vampiros... Mas machucaria, como assim o fez.
-Chlöe - eu ouvia a voz de Charlie rompendo o zumbido de meus pensamentos.
Trim.
-Droga! - apenas conseguia exclamar isso. Se ao menos An estivesse aqui...
Trim.
Continuei atirando para três lobos que estavam em minha direção, aproximando com cautela e esquivando de alguns tiros.
Trim.
Mas eu conseguia acertar seus pés, seus ombros, o rosto de um deles... Os deixei nervosos.
Trim.
Comecei a me arrastar, como se estivesse dando marcha ré, indo em direção a um prédio em chamas. Me encostei na parede tremendo de medo e raiva.
Trim.
Com o braço esquerdo pressionando o pad contra meu corpo...
Trim.
E o braço direito levantado dando tiros, até eu ficar sem munição.
Trim.
E fiquei sem munição.
Trim
Os lobos olharam em direção à esquina por um momento, e começaram a rosnar mais. Contudo ainda estavam vindo em minha direção. "Mas que som é esse?" eu pensei. Estava vindo algo também, com esses "trim" de forma crescente... cada vez mais alto.
Trim
Os lobos pararam de vir em minha direção, e desviaram completamente os seus corpos em direção à esquina, à minha direita. Primeiro eu vi duas facas vindo rapidamente e acertando o ombro de um e o olho de outro lobo.
Ambos berraram, chamando atenção dos lobos que estavam querendo fazer picadinho de Charlie.
Trim
Eu me levantei e puxei a faca do olho do lobo, e cravei em seu crânio. A retirei com o auxílio do meu pé. Os lobos não estavam interessados em mim ou em Charlie... Começaram a uivar, rosnar e latir em direção à esquina.
Eu ri. "trim, trim, trim" minha bunda! Eu sabia quem era!
Trim
Ele surgiu investindo contra outros três lobos de vez! Jogou um smartphone na cara de um, cortou a cabeça de outro, e cravou um chute no pescoço do terceiro.
Eu achava que era An, mas Marocci também serve.
Ah... eu queria estar morta, no meu sofá, cochilando sobre meu laptop depois de maratonar livros autopublicados na internet.
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Olá
Estarei postando dois capítulos por semana ok? Esse arco promete
:3
Por favor, comentem e compartilhem
:3
Bjs
Tkey-kun
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