CAPÍTULO 14 - ALGUÉM CONSULTOU O ORÁCULO (parte 2)
_Hum... - ele disse olhando para minha cara.
Era uma... Havia... Eu não consigo descrever... Parecia um quartinho de observação de um hospital, mas muito grande. A luz roxa emanava de toda a sala. E sentado com alguns cabos presos à seu corpo estava um velho alto... Muito alto... Muito... deveria ter 2,5 vezes mais o meu tamanho... Ele tinha cabelos brancos longos até o chão, e uma barba meio... grisalha, até o chão também. Seus olhos quase coberto por suas pálpebras... Olheiras escuras... Verrugas pela pele... Rugas... Era... Um ser estranho... Extremamente velho...
_Voltei! - disse Joaquim.
_Eu nem... notei seu... paradeiro - ele disse pausadamente e bocejou no final.
_Ai meu Deus, eu nunca consigo lidar com isso - Chlöe disse.
_Você já esteve aqui?! - eu engoli à seco.
_Minha segunda vez - respondeu Chlöe.
_A peque...na grande... menina es...tudiosa. - ele disse - Olá de... volta.
_Oi! - disse Chlöe sorrindo e abaixando sua cabeça em reverência - sempre uma honra falar com o senhor.
_Ha... ha... ha... - gargalhou o velho bocejando - sempre... edu... cada... Diferen... te de vo...cê, Habouggika.
_Ha o quê? - perguntou Joaquim
_Você... não... imbecíl enrugado - respondeu o velho.
_Você quer sair do corpo novamente, amigo? - o Cientista respondeu ríspido.
_Você... não... - começou a falar o velho parando e bocejando - Ah... Eu... Cansado para... brigar.
_Vaya, vaya... - Joaquim dizia - Meu nome é Joaquim!
_Eu não... esta... va a fa... lar com Joa... quim! - respondeu enfaticamente o velho.
_Quem você chamou daquele nome estranho então? - perguntou o Joaquim.
_Eu estava a falar sobre ela... ele... voltou mais uma vez? Espero que pare de infernizar a vida do pequeno An e sua criança. - ele disse bocejando e pausando em sílabas desconexas, o autor que estava com preguiça de ficar colocando "..." no meio de cada sílaba em que ele pausava, até porque quem está lendo que continue a fantasia e sua mente.
_Eu?! - perguntei espantado.
_Não... A minha mãe - ele respondeu rispidamente.
Eu olhei para Chlöe e ela estava babando em seu caderno, anotando várias palavras de forma extremamente obsessiva, com os olhos brilhando fixadamente para o velho. De dar medo.
_Ela está aqui para saber do An, senhor... - disse Chlöe sem virar um centímetro para mim.
_Ah, An... Ela sempre volta sem memórias - o Velho disse levantando o deu dedo indicador.
Meu pingente em forma de coração de rubi começou a brilhar. Eu me assustei, pois ele estava quente. Rapidamente o toquei em reflexo à sensação, na tentativa de tirá-lo de meu pescoço, mas algo me paralisou, e me seduziu. Eu estava olhando fixadamente para a pedra e me senti como estivesse entrando nela.
Tudo ao meu redor começou a desaparecer em uma mistura de luzes e fumaças vermelhas, roxas e azuis.
Então eu ouvi a voz do velho em minha cabeça, dessa vez sem pausas.
_Há muito, muito tempo - ele começara a dizer com as imagens formando ao meu redor, eu era uma mulher... estava no corpo de uma mulher, fazendo tudo o que ela estava fazendo... sentindo tudo o que ela estava sentindo... O cheiro das flores, a textura de sua lança, a luz entrando em seus olhos... Eu conseguia me ver como Ângelo, à minha frente, mas ao mesmo tempo com essa mulher. Eu tinha as duas visões...
_Cala a boca porra - ouvi o velho falando.
_Hã? - perguntei sem entender...
_Quebra de quarta parede, nunca fez não? Francamente. Não interrompa.
Há muito, muito tempo... Antes dessa vadia aparecer, volte mais. Isso... Há muito tempo Um jovem andrógino levantou seus olhos no meio de sua travessia entre o lado dos vivos e o lado dos mortos. Ele viu pés grandes afundarem na neve... Ele não sentia mais nada, apenas sono. Seu corpo estava quase recebendo o abraço da morte... Ele pensou que aqueles pés eram da morte... Que aquele corpo grande, imenso, era da morte o levantando do chão. Mas não era... Era um deles... "Aqueles que não são como nós". E aquele que havia levantado seu corpo nu da neve, aquele que o abraçava sem nenhuma expressão no rosto, estava interessado no boneco loiro de cabelos longos, que não possuía uma barba no rosto, ou mamas desenvolvidas, mas possuía um órgão reprodutor masculino.
Não se sabe o que o ser, "aquele que não é como eu", pensou. Mas o jovem mancebo viu o que ele fez... Arranhou seu pulso com seus próprios dentes e derramou seu sangue no rosto do rapaz. O líquido entrava pela sua boca, pelo seu nariz... Queimava seus olhos... Ele podia sentir agora... Ele sentia aquele líquido... Vermelho? Azul? Roxo? Rosa? Ele não conseguia definir a cor. Mas o líquido parecia ter vida, vontade, pois entrava em seus orifícios do rosto à fundo de sua garganta, de seus pulmões. E ele sentiu dor... A maior dor que ele sentiu no corpo.
Ele levantou dias depois deitado em uma cama que era maior que seu antigo barraco, com humanos o chamando respeitosamente por "AN". Ele era a mesma pessoa. Mas ele era outra pessoa. Ele não era "aquele que não é com eu", mas não era o seu eu antigo, ou outro eu. Ele era diferente. Ele era nascido do ar, crescido na neve, transformado no sangue... Era "aquele que estava perdido e voltou". Quem se perdeu? Quem voltou? "o filho reencontrado". Filho de quem?
Sua vida passara em flashes confusos e intensos... Era uma criança virando adulto, que tivera um impulso de sangue para isso... Ele se sentia adulto após quase morrer na neve. Era um senhor... Dono de pessoas, de terras, de operações... Ia de um lado à outro no mundo. Mas algo estava faltando. Algo que ele viu se deparando com uma bruxa guerreira, que vivia livre como uma vaca, mas era precisa e ágil como uma águia.
Habouggika
A voz parou de falar, então eu senti novamente dentro da alma daquela mulher. Ela, An, as caras e bocas, as brigas... As lutas contra outros vilarejos... A rebeldia... A tomada de poder... Ela era líder agora... mas ela iria acabar... An não. Eles se amavam, mas ela amava outra coisa também.
Eu vi.
Um jovem... era esse velho gigante.
Eu estava vendo os flashes...
"Niflheim" - ela disse, ou "nefilim"... Eu não sei... Eu via mais imagens...
Um gigante, um cajado. Um ritual com sangue de mais de mil pessoas e seres. An preocupado... Ele parecia mais... humano...
Ela... O jovem... E An...
O ritual parecia ter dado errado, mas na verdade o resultado era a morte dela. Ela sabia... O cristal se formou, era do sangue... do sangue da terra, das pessoas, dos animais. A terra cedeu, o corpo dela foi perdido, mas o poder do cristal a trouxe de volta por mais alguns anos, não em carne, mas em espírito. Ela não podia mas assumir suas terras, então foi com An e o jovem aprisionado... o jovem deveria resolver isso... A mulher... Eu não queria deixá-lo ir, queria garantias... An queria liberá-lo... An era... um amigo?
An pediu ajuda a "aqueles que não são como eu", mas eles rejeitaram... Eles estavam para ir embora, não levariam nada de lá, apenas An... Mas sem mim...
An estava discutindo...
An ficou para mim...
An destruiu estruturas deles... An... brigou com outro que ficara... An...
O jovem realizou o outro ritual, à lua. Eu sumi... E An, diminuiu... ficou mais novo... Menor.. Mais carnal... Mas como?
Eu nasci de novo... Era um menino... Depois Morri... Era uma vaca, um alce, um corvo, um feiticeiro, uma rainha, uma criança, um menino novamente, agora com An... Fiquei grande, adulto, depois velho novamente. An chorava sangue...
Eu era uma criança novamente. Depois outra. Depois senti falta de ser animal. Depois estava nas águas. Agora novamente uma criança... Uma menina. Uma mulher... An... Idiota, boêmio, se atirando para todos. Ciúmes. Discussão. Agressão. Eu feri o An. Eu cuidei do An. Eu bati no An. Eu discuti com An. Eu casei com An. Eu tive um filho. Eu sangrei... Eu neguei An... An chorou sangue. Eu sumi.
Eu era uma velha, uma criança, um menino. Um adolescente. Um descendente. Um doente. Um rapaz. Uma mulher. An... Estava com outra. Quem é? Brigamos, mas por quê? Eu conhecia An? Agora conheço.
Tudo estava confuso. Fui ferida. An chorando sangue. Eu não quero mais vê-lo assim... Por favor não...
_Pare...
Uma criança, uma senhora, um maluco. Um rei, um semi-deus, um pessoa.
_Pare...
Um adulto, um médico, uma enfermeira feiticeira de sangue. An sangra... An...
_Não...
Todos morreram... Todos pereceram... Eu pereci, mas por que An continuou? Eu rejeitei An? An chorou sangue novamente.
Um menino. Um adolescente. An? Meu sangue... Meu corpo... Minha, virgindade... Fúria de An... Por que me tratas tão mal assim?
_Desculpa?
Não.
Não.
_Pare!
Não quero mais...
Não...
EU NÃO QUERO MAIS!
An chorou enquanto eu ia embora.
Ao menos ele não chorou sangue dessa vez.
Espere... Água... Gelo... Frio... Quem se mexe na água com esse rastro amarelo-esbranquiçado como um véu saindo de sua cabeça? An... Praia. Sol. Frio. An mais uma vez chorando sangue.
_PARE! - eu ouvi minha voz reverberando em todo o meu corpo. Dessa vez estava de volta na sala com todos olhando para mim e Chlöe anotando no caderno...
_Ah... - disse o velho... - Você queria saber sobre An... Não posso mostrar o que ele viu além do que ele já revelou... Não posso mostrar o que sua alma não quer ver...
_Mas o quê? - perguntei sem entender.
_Ah... - o velho continuou a lamentar e bocejar - eu preciso dormir agora.
_Mas já? - falou Joaquim - acabamos de chegar... Esse jovem veio lhe perguntar uma coisa...
_Eu já respondi a ele - disse o velho gigante se levantando lentamente dando as costas para nós e tentando se posicionar em um colchão estranho no canto da sala.
Eu consegui então ver o cajado, o mesmo cajado do jovem Nefelim... Nefilim... Niflheim...
_Nefilim - foi o que consegui dizer...
_Tenho outro nome criança - ele respondeu, ainda pausadamente de forma aleatória, mas que o escritor não se vê obrigado a ficar pondo essa pausa a todo o tempo, querendo que os leitores ainda continuem fantasiando com a forma de falar do velho gigante decrépito - Os Bretões me chamavam de... Qual era o meu último nome mesmo?
_Não importa - eu o interrompi ainda atordoado de joelhos no chão, pensando em apenas uma coisa... - onde está... Ele onde... estão...?
_Marina - ele disse.
Todos nós nos espantamos. Eu tive um insight então... Se eu achasse Marina eu acharia o... An...? Aquele velho... quem era ele de verdade? E...
_E o outro... - eu perguntei - Onde... onde ele está?
_Como se você se importasse... - ele me respondeu já deitado e com olhos fechados - ele virá.
Dormiu.
_Ai, credo, não estamos aqui nem 3 min. - Disse Chlöe... Mas consegui bons dados... Eu acho.
_Eu não importo - disse levantando - Me tire daqui... eu preciso ir em um lugar.
Eu ia saber onde Marina morava... Eu sabia que ela estava de folga, e iria para casa... Ela... Ela sabia onde o An estava esse tempo todo?
Muita coisa estava acontecendo... eu vi muita coisa acontecer... Mas agora eu sei o que eu quero... E... eu não vou dizer... Vocês já podem imaginar... Estava com muita vergonha para falar sobre isso... Aliás, eu já dei indícios do que quero agora...
Espero que eu não encontre aquela mulher que me feriu...
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