•Prólogo II•
Ainda naquele dia...
— Julia! Estou tão ansiosa, consegui os nossos ingressos para o show e arranjei um para Charlie também. Eu sei, eu sei que odeio ele, mas pensei que você ficaria feliz se eu levasse aquele encosto com a gente... — Maggie disse assim que atendeu.
— Maggie... — a interrompi, a minha voz embargada pelo choro, e pela dor.
A dor não só física, mas psicológica. Tudo doía, mas o pior era me sentir daquele jeito, suja, imunda. Eu estava nojenta, me sentindo usada. Walter tirara algo de mim sem a minha permissão, ele me forçou... Ou talvez eu tivesse culpa daquilo ter acontecido?
— Julia? Você está bem? — Maggie perguntou, sua voz assumindo um tom preocupado.
Hesitei em falar para ela o que tinha acabado de acontecer. E se ela ficar com nojo de mim?
Respirei fundo, tentando, em vão, ignorar aquela sensação pegajosa na minha pele. Ou o vômito secando no meu rosto e cabelos, ou a dor entre as minhas pernas... Aquela dor infernal.
— Eu p-preciso que você venha me... Ajudar... — parei de falar quando o choro voltou, forte.
— Onde você está? — podia ouvi-la abrir a porta do nosso apartamento, que ficava a cinco andares acima de mim. — Onde você está? Julia, me fale agora!
— No corredor... P-perto das escadas... — parei, ouvindo ela socar o botão do elevador do outro lado da linha.
— Infernos! — ela gritou, irritada. Pude ouví-la descendo as escadas apressada. — Eu estou indo, estou indo!
— Por favor... — implorei, chorando, sentindo o medo se arrastando pela minha coluna só de pensar que Walter e os outros voltariam.
— Estou chegando, não se preocupe, vou estar com você em segundos.
Olhei para os dois lados do corredor, sentindo o bolo subir pela minha garganta novamente. O cheiro estava insuportável, era nojento, a sensação era a mais nojenta.
Pude ouvir passos apressados vindo das escadas, virei para olhar no momento em que Maggie apareceu, o celular pressionado no ouvido. Ela me olhou, assustada, horrorizada, e correu para mim, sem parar por um momento, ela veio até mim, colocando o celular no bolso de trás da calça jeans.
— Julia... — murmurou, se abaixando na minha frente, tocando o meu rosto, não se importando que eu estava toda suja, e imunda.
Olhei para baixo, com vergonha, vergonha dela me ver assim.
— Me tire daqui, por favor. — pedi, sufocando as lágrimas, o choro.
— Quem fez isso com você? — perguntou, visivelmente preocupada. Ela segurou os meus braços, pelas minhas axilas, e me ajudou a levantar, instantaneamente senti algo quente escorrer entre as minhas pernas, uma olhada, e vi que tinha muito sangue e sêmen.
Gemi de dor, segurando a blusa esfarrapada sobre os meus seios.
Maggie desceu a minha saia e se abaixou para pegar a minha bolsa. Assim que o fez, ela começou a me ajudar a andar na direção das escadas.
— Julia, me responda. — insistiu.
Soluçei, todas aquelas imagens, ainda muito frescas, voltando na minha cabeça.
— Walter.
Maggie me levou para o apartamento, assim que entramos eu me separei dela e fui por conta própria para o banheiro. Ouvi seus passos atrás de mim enquanto me apressava para o pequeno cômodo, desesperada por um banho.
— Julia...
— Não, Maggie. Eu preciso ficar sozinha, por favor. — entrei no banheiro e segurei a porta aberta, olhando para ela, que me olhava aflita. — Só não... Só não saia do apartamento, eu não quero ficar sozinha aqui.
Maggie engoliu em seco, seus olhos descendo pelo meu corpo maltratado.
— Eu posso te ajudar... — Começou, mas a interrompi antes mesmo que ela terminasse.
— Eu preciso ficar sozinha por um tempo. — Parei de falar, sentindo a bile subir pela minha garganta novamente quando as imagens voltaram a minha cabeça, os sons... — Eu vou... Eu... — fechei a porta, batendo-a com força, desesperada.
Me recostei nela e coloquei a mão sobre a boca, sentindo as lágrimas descerem pelo meu rosto.
Solucei, vendo as imagens uma e outra vez na minha mente. Elas não paravam de vir, me assaltavam uma e outra vez. Então me lembrei de colocar a mão nele para me afastar... A mesma mão que cobria a minha boca...
Tirei a mão da boca rapidamente e corri para a privada, foi o tempo certo para que o vômito saísse, nada mais que líquido branco e pegajoso.
Vomitei tudo o que não tinha no meu estômago, chorando ao mesmo tempo, querendo que aquela sensação de estar sendo sufocada em mim mesma acabasse.
Depois que terminei, me levantei, cambaleando, e tirei as botas de saltos-altos, o que sobrara da minha meia-arrastão, e a blusa amotoada ao redor da minha cintura. Joguei tudo no lixo do banheiro, as botas e meias foram juntos, e entrei na banheira vazia.
Liguei o chuveiro, me enfiando completamente debaixo do jato quente de água abundante, deixando-a me lavar das impurezas — mesmo que artificialmente, por que eu sempre seria imunda por dentro, onde ele esteve.
Peguei a bucha grossa e passei o sabonete, esfregando a minha pele até essa ficar irritada. Lavei cada canto meu, cada dobra, cada vale. Esfreguei bem os cabelos com shampoo e escovei os dentes três vezes debaixo do chuveiro. Quando me senti mais ou menos limpa, coloquei o tampão na banheira e me sentei ali, deixando a água quente do chuveiro que caía sobre mim enchê-la.
Então as lágrimas voltaram a fluir de novo, junto com a água que lavava o meu rosto, caindo pelo meu corpo, pelo hematoma que se formava no meu estômago, pelo corte raso na lateral do meu seio, pelo pequeno corte na minha nuca. A água lavava tudo no meu exterior, junto com as lágrimas.
Mas a água não lavava as memórias.
ME SENTEI OFEGANTE, SENTINDO O MEU CORAÇÃO bater acelerado dentro do meu peito. Podia ouvir a risada dele, ela ainda ecoava na minha mente, isso estava me deixando doente.
Podia sentir seu toque asqueroso e nojento na minha pele, em lugares que ele não deveria ter tocado. Podia sentí-lo dentro de mim, estava doendo, ardendo.
As lágrimas desceram pelas minhas bochechas novamente, essa era a segunda vez que eu acordava essa noite tendo pesadelos... Não, me lembrando do que tinha acontecido a apenas algumas horas atrás.
Olhei ao redor, pelo quarto escuro. Podia ver seu sorriso ali, na escuridão, vitorioso.
Liguei o abajur com pressa, olhando novamente, mas ali não tinha nada, apenas o quarto e os móveis.
A maçaneta da porta girou lentamente, o pânico me inundou.
Ele tinha voltado, voltado para fazer aquilo de novo!
Um grito de desespero saiu do fundo da minha garganta, alto, ecoando por todo o quarto. Me encolhi em cima da cama, gritando e gritando. Podia ouvir os seus passos se aproximando, a sua risada nojenta...
— Julia, sou eu. — A voz de Maggie chegou até mim, passando através daquele turbilhão de sensações horrendas. — Julia?
Olhei para ela entre os meus dedos. Maggie tinha sangue na camisa impecavelmente branca e decotada.
— Maggie? — me sentei abruptamente, me preocupando. — Você está bem?
Maggie só então pareceu perceber o sangue na roupa dela.
— Sim, eu estou bem. — ela se sentou na beira da cama e tocou o meu rosto com carinho. — E você, está melhor?
— Sim. — menti, querendo que ela não me tocasse, mas não falei isso. Maggie e eu estávamos juntas desde sempre, ela sempre cuidou de mim.
— A gente precisa sair daqui, querida. — falou de repente.
— Sair? Por que a gente tem que sair? — o meu coração palpitou dentro do meu peito com euforia. Sair daquele lugar era o que eu mais queria.
— Eu matei Ashworth Júnior, o pai dele vai colocar todos os seus capangas aqui no Brooklyn atrás de nós. A essa hora, a pequena groupie de Ashworth Júnior deve estar a caminho do buraco de tráfico deles.
Fiquei calada, digerindo tudo aquilo que Maggie soltou em cima de mim.
— Walter está morto? — perguntei, ainda não acreditando.
— Sim, rasguei a garganta do infeliz na primeira chance que eu tive. — Maggie suspirou, aparentando estar frustrada. — Tinha planejado sequestrá-lo e torturá-lo, mas não consegui, tinha os outros três e eles conseguiram escapar....
Meneei a cabeça negativamente. Ele estava morto, morto!
— Vamos sair daqui, Julia, não podemos ficar fazendo hora. — Maggie se levantou e me estendeu a mão.
Ignorei a sua ajuda e me levantei com um pulo, corri para o meu guarda roupas e peguei uma calça jeans e a primeira camisa que vi na minha frente, essa que era de babados e muito desgastada. Vesti a roupa o mais rápido que o meu corpo dolorido permitia e assim que estava pronta, segui Maggie para fora do quarto.
Fizemos nosso caminho pela sala, tentei não ficar assustada quando Maggie se abaixou e pegou sua Agram 2000¹ de cima da mesa de centro e a empunhou, uma mala de alça em seu ombro.
Corri direto para a porta e a abri, segurando-a aberta para Maggie. Juntas, saímos do prédio e fomos para o carro, prontas para deixar aquele lugar infernal.
¹Agram 2000
A Agram 2000 é uma submetralhadora croata baseada no modelo M12 da Beretta. O grande número de ex-forças especiais Agrams na Croácia após a Guerra da Independência da Croácia, bem como a disponibilidade de um supressor de som, a tornaram uma escolha popular para os criminosos.
Hehehehe! Sei não eim? O que vocês acharam em meninas?
Espero que tenham gostado!
Até o próximo capítulo!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro