•Capítulo Quatro•
6 dias depois...
Segunda-feira, 21 de Novembro de 2020.
Luke
Não posso descrever essa mulher como fofa. Apesar do rosto bonito e jovem, ela tem olhos cansados, olhos que provavelmente já viram demais. Isso me atraiu, não apenas a sua beleza, mas ela. Julia.
Como eu sei o nome dela?
O que eu estava me perguntando desde a primeira vez que a vi, e a segui de longe era, porquê ela estava morando em uma das casas pertencentes a Famiglia de Nova Iorque?
Entro no carro e coloco meu notebook no console frontal, Caio, meu guarda-pessoal e motorista saiu com o carro da beira do passeio em frente ao Sweet Coffee. Seis dias se passaram e não havia sinal algum de Julia, essa mulher intrigante. Ainda procurava mais informações sobre ela, mas até agora, semanas depois da primeira vez que nos encontramos, sei apenas seu nome, idade e naturalidade, coisas básicas. Sei que ela é órfã e sem parentes vivos. Indaguei meus soldados e os capitães de toda cidade de Nova York o motivo dela estar em uma das casas que pertencem a mim, mas nenhum deles soube me responder.
Depois de um momento, olhando as pessoas andando na rua sob a leve chuva, me permiti pensar mais a fundo naquela mulher. Seus olhos verdes terra, tão claros, os lábios naturalmente cheios e bem desenhados, o olhar acanhado em seu rosto. Ela parecia uma corça, amedrontada. Lembro-me bem da primeira vez que a vi, o modo como ela desvencilhava das pessoas, como se com medo da proximidade das mesmas, o dia em que ela fugiu como um bichinho machucado apenas por ficar perto de mim.
Franzi o cenho com a lembrança, pois, as mulheres não fugiam de mim, mesmo aquelas que sabiam quem eu era, o que eram poucas. Mas essa em especial me intrigou além do limite, tanto, que me pego todas as noites em meu carro, do outro lado da rua em que ela mora, perto dos bosques onde as sombras me escondem, e a observo de longe, mesmo que eu não a veja, apenas observo a sua casa, e então, só então, vou embora.
Cocei o queixo, a barba despontando, e tentei afastar pensamentos relacionados aquela mulher. Tinha que focar no estuprador de meninas que rondava Manhattan, esse fodido filho da puta que vinha assombrando as garotas novas.
Tinha pouco mais de uma semana que os ataques vinham acontecendo. De início, o homem encurralava as meninas, as estupravam e deixavá-as em algum lugar afastado, assim, aproveitando o estado de choque delas, ele tinha tempo para correr até alguém achá-las. Eu odiava desordem na minha cidade tanto como no estado de Nova Iorque, e todos em Nova York sabiam disso, por isso, a alguns anos não viam tendo estupros frequentemente como antes, mas ainda assim, achávamos homens como esse, que desafiavam a minha ordem, e eles sempre pagaram com a morte.
Na última sexta-feira, Elisa Grassi, filha de Dario Grassi, um dos nossos capitães mais influentes em nosso meio, foi atacada enquanto esperava pelo carro que a buscaria na frente do colégio. E a menina tinha apenas 12 anos. Quando o carro com os soldados responsáveis pela menina chegou e eles não a encontraram lá, informaram o pai da mesma, Dario me ligou e começamos a procurar pela menina. Achamos ela em um estado deplorável, abandonada na beira de uma estrada de terra, suja de lama e com suas roupas em farrapos.
De tão aterrorizada que ela estava, Elisa não deixou qualquer um que não fosse o pai dela chegar perto, e depois de levá-la para casa e de muitas tentativas para saber quem tinha feito aquilo com ela, Elisa finalmente falou, e descreveu em detalhes como o homem era. Desde então, começamos uma busca assídua, todos os soldados tanto como capitães de Nova York estavam com sangue nos olhos, ansiosos para achar o homem, e eu, como Subchefe e responsável por todos eles me juntei a essa busca, determinado a achar o desgraçado.
— Alguma notícia do estuprador? — perguntei a Caio, mantendo meus olhos focados no tráfego a nossa frente.
— Késsio e Dantas estão na cola dele. — pude ouvir o sorriso em sua voz.
Caio era tão cruel quanto qualquer um de nós, não hesitava em ação, e esse era um dos motivos de tê-lo como meu segurança pessoal.
— Me avise caso eles o achem.
Késsio e Dantas são os executores em Nova York, gêmeos idênticos e letais em seu trabalho, nunca falhando. Antes deles, Maggie, uma mulher que veio pedir asilo para ela e a sua irmã, era a grã-executora, a mais temida entre todos. Mas a pouco mais de dois anos, pouco tempo depois que ela estava aqui, Simona, Subchefe da Sicília na Itália e meu amigo de infância, solicitou que ela fosse trabalhar para ele, e eu não pude recusar, afinal, a mulher parecia mais entusiasmada para ir que para ficar, mesmo que estivesse deixando sua irmã para trás, essa que eu não conhecia até hoje. Cedi asilo e dei permissão para Maggie escolher uma de minhas casas para ela e a menina morarem, mas até hoje não sabia em qual delas ela estava. Ou melhor, a irmã dela estava.
O meu celular vibrou no bolso do meu paletó e eu tirei o aparelho, arqueando as sombrancelhas quando o nome de Késsio apareceu. Atendi imediatamente.
— Booth.
— Achamos ele. — pude ouvir vozes ao fundo, assim como barulhos altos de bater. — Dantas, se controle! — Késsio repreendeu, sua voz baixa. — Desculpe senhor, Dantas está um pouco descontrolado desde que achamos o sujeito.
— Tudo bem. — olhei para Caio, que tinha os ouvidos atentos em tudo o que eu falava. Coloquei o celular no viva voz. — Já sabem algo sobre ele?
— Seu nome é Peter Schwiz, ele tem 43 anos e é aqui mesmo de Nova York. — um grito irrompeu pelo alto falante do celular, pude ouvir a voz de Dantas no fundo, xingando em italiano.
— Fale para Dantas pegar leve com o homem, por enquanto, ele terá muito tempo para torturar ele. Vou avisar Dario.
— Até mais, chefe.
— Até mais.
O carro parou em frente a boate movimentada no centro de Manhattan, a música era ouvida do lado de fora, as luzes de diferentes cores perceptíveis pela pequena fenda que ladeava o teto alto do clube. Se havia algo que eu, como chefe da famiglia de Nova York, não aceitava, era estupro e assaltos. Foda-se, podíamos não ser mais como a antiga Cosa Nostra, aos poucos, estávamos fazendo o nosso próprio código de honra, e eu sentia que estava dando certo.
Saí do carro calmamente, olhando ao redor enquanto ajeitava a lapela do meu paletó. Caio estava ao meu lado em um segundo, sua mão segurando a arma por baixo do paletó enquanto ele olhava ao nosso redor. Não eram apenas os malditos russos e companhias que nos preocupava agora, mas sim a porra do FBI, que estavam mais ligados do que nunca na famiglia. Embora eles não soubessem que eu era o cabeça do crime organizado em Nova York, estavam quase perto, apenas por saber o meu sobrenome. Um fictício. Um nome que não é meu realmente, já que me certifiquei de mudar o meu nome assim que completei a maioridade e tive que me infiltrar no território dos russos.
Dario, pai de Elisa, e a própria Elisa, saíram do carro, escoltados pelos soldados de Dario e vieram até nós. Dario apertou a minha mão e deu-me um beijo na bochecha antes de se afastar, esse era um costume que nós homens da famiglia de Nova York mantemos, já que a maioria era da velha guarda quando assumi o posto de subchefe anos atrás.
— Dio ti benedica, fratello. — "Deus te abençoe, irmão."
— Amen. — "Amém", respondi, apontando a boate. — Vamos?
Dario colocou a mão no ombro da pequena Elisa e deu-lhe um leve empurrãozinho para mim.
A menina abaixou os olhos castanhos para o chão, as mãos juntas na frente do corpo.
— Grazie. — "Obrigado". A menina não olhou para mim quando disse.
— Pequena, não agradeça. — olhei para Dario, que mantinha sua máscara fria. — Vamos lá.
Dario passou, dando um leve aceno de cabeça, junto com Elisa e eu os segui pela frente da boate. A fila de pessoas que se formava na frente da mesma apenas nos observou, eles podiam ter uma idéia de quem éramos, ou o que éramos. Entramos na boate escoltados pelos nossos soldados e demos a volta, onde a multidão inquieta não alcançava, e subimos a pequena escadaria até a área vip, onde vários dos nossos homens e associados ficavam. Eles nos cumprimentaram quando passamos e retribuímos enquanto levavámos a pequena Elisa para o corredor comprido que tinha ali, onde ficavam vários quartos.
Ao chegarmos no final do mesmo, viramos para a direita e descemos os três degraus que nos levava mais fundo no complexo de quartos. Entramos naquele que ficava no fim do corredor, e que nunca era usado. Puxei o tapete no chão ao lado da cama de casal, revelando a tampa do alçapão. Essa não era a única entrada para o subsolo, onde mantínhamos nossas atividades ilegais, era apenas uma das mais de dez entradas escondidas no clube.
Puxei a tampa, dispensando a ajuda dos soldados e apontei para a escadaria de concreto dentro do mesmo. Dario e Elisa seguiram em silêncio e eu os segui, deixando para os soldados fecharem o alçapão atrás de nós.
Descemos aquele lance de escada interminável e chegamos ao amplo porão. A minha esquerda tinha dois sofás vermelhos encostados a parede, dando de frente para a parede e a janela larga que dava a nossa câmara de tortura. Muitos dos nossos gostam de assistir enquanto nossos inimigos são massacrados. Aponto o sofá para a pequena Elisa e ela vai se sentar lá. A cortina da janela está fechada, mas podemos ouvir as vozes de Késsio e Dantas dentro da câmara.
— Tome conta dela. — ordenei a um soldado meu, que concordou com um aceno de cabeça. — Dario, vamos.
Dario lançou um último olhar para a filha antes de me seguir para a câmara.
Franzi o nariz ao sentir o fedor de mijo, uma olhada para o meio da câmara longa em comprimento e lá estava ele, suspenso pelo teto por correntes, seu rosto inchado e ensanguentado, o torço nu com alguns cortes e hematomas. Ele estava sem roupas, seu corpo tremia.
Ajeitei a lapela do paletó e passei a mão pela frente do mesmo. Késsio e Dantas estavam em pé, cada um de pé em cada parede, flanqueando o homem. Dantas, que mantinha os cabelos castanhos mais compridos tinha os braços cruzados sobre o peito, sua carranca de sempre no lugar. Késsio, o mais acessível dos gêmeos, mantinha o cabelo em um corte mais curto, ele era tão quieto quanto o irmão, mas entre os dois, ele era o que sempre falava por eles.
Assim que nos viu, eles desencostaram das paredes, Késsio foi quem falou.
— Chefe. — cumprimentou. O homem pendurado levantou a cabeça, sobressaltado, e quando viu a mim e a Dario ele estremeceu, os olhos arregalando. Ele era bem grande, e teve a covardia de atacar uma menina, uma criança.
— Então, este é o Peter. — falei, dando um sorriso frio para ele. Não era bom com sorrisos, sempre que o fazia, as pessoas se afastavam, mas Julia não se afastou de imediato, ela pareceu surpresa quando sorri para ela no café.
Espantei os pensamentos daquela menina da minha cabeça, enfiando uma das mãos no bolso.
— Peter... — em passos calmos e despreocupados, fui me aproximando dele, agora com as duas mãos nos bolsos da calça. Podia ver Dario me seguindo de esguelha, todo o seu ódio concentrado no homem. — Você se lembra daquela garota? — Késsio foi até a cortina e a puxou, revelando Elisa. Assim que a menina viu o homem, nu, ela se abaixou e vomitou no chão. O homem pareceu perder toda a cor, até o sangue pareceu sumir de seu corpo quando ele viu Elisa.
— Verme. — vocíferou Dantas com puro ódio ao ver a reação do homem.
Elisa suspirou em busca de ar do outro lado da janela de vidro, um soldado lhe entregando um copo de água enquanto outro limpava o vômito do chão. Ela tremia, histérica, não olhando para cima, para o homem.
— Oh, você se lembra. — ele não disse nada, apenas olhou para mim, amedrontado. — Sabe, Peter... — parei ao lado do homem, como se fôssemos velhos amigos. — ...essa mesma menina, é filha de um capitão da minha famiglia, sabe do que estou falando, hum? — o homem continuou calado, o corpo tremendo. Em um movimento rápido, tirei a mão do bolso e lhe acertei um soco no rosto, o homem gritou, chacoalhando no ar. — Sabe do que estou falando, porra?! — gritei em seu rosto.
— Não! — respondeu em um grito de dor quando tornei a acertá-lo.
Tranquilamente, mas bufando pela adrenalina disparando nas minhas veias, me afastei, pegando o lenço que Késsio me ofereceu e limpei da mão o sangue imundo.
— Somos uma famiglia, somos a famiglia de Nova York. — o homem prendeu o ar, mijando quando percebeu a merda que fez. — E a filha dele é parte dessa famiglia. Somos una famiglia, e somos a porra da justiça aqui. — "Uma família". — Agora, se não se importa, vou deixá-lo aos cuidados do pai de Elisa e dos meus homens. — me virei para sair, mas me voltei para Dario. — Mostre-lhe o pior antes dele morrer.
Dario sorriu para mim e eu acenei, saindo dali, porque porra, por mais que eu quisesse me divertir um pouco, precisava saber o que Julia estava fazendo, precisava vê-la, mesmo que de longe.
Demorei, mas voltei! Acabei ficando sem net. Fiquem atentas aos avisos que coloco no meu perfil meninas!
Beijos e até mais, espero que tenham gostado!
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