Capítulo 2
Quando criança, Jungkook ouvia de seus pais que a maior honra de um homem era a sua família. Com isso em mente, assim que ele se tornou adulto, consultou um vidente para saber se teria filhos, se sua vida seria próspera e se teria uma boa esposa.
A resposta que obteve foi que teria um único herdeiro, mas que lhe daria muito orgulho ao se tornar um grande guerreiro assim como o pai. A fartura em sua vida viria de longas e custosas batalhas, e quanto a uma esposa, o vidente apenas anunciou que ela seria uma mulher de muita beleza.
No auge de seus 19 anos, os pais de Jungkook o apresentaram a uma bela moça, onde logo firmaram casamento alguns meses depois. A mulher se chamava Betty, e concebeu um filho de nome Ajay.
Atualmente, a criança de 6 anos é a maior felicidade de Jungkook, o que não se pode dizer o mesmo de Betty. Do casamento firmado sem nenhum sentimento, o amor não surgiu durante o tempo, tampouco aconteceria.
As únicas vezes que praticaram sexo foi antes de saber que a mulher estava grávida, e teve esse único proposito. Assim que o pequeno Ajay nasceu, Jungkook deixou de procurar a esposa, que por sua vez, buscava outros homens para se satisfazer sexualmente.
— Você disse que voltaria com muita riqueza — Ajay comentou. Estava ajudando o pai a limpar os peixes. — Eu só vi um saquinho de moedas.
— E voltei. Mas o rei confiscou tudo.
— Isso é tão injusto! — Betty resmungou. — Você deveria fazer alguma coisa!
Jungkook olhou para ela, mas nada disse, voltando sua atenção para o filho outra vez:
— Quer ir no centro da cidade comigo, me ajudar a comprar novas redes?
— Sim! — O pequeno pulou, quase derrubando um recipiente cheio de peixes. — Desculpa.
— Tudo bem — espalhou os cabelos do filho quando sorriu para ele. — Vá se arrumar.
Ajay saiu correndo em direção a pequena casa onde residia, na beira de um rio. O local era quase do tamanho do salão onde o rei recebia seus súditos. Não contém mais do que dois quartos, uma sala e uma cozinha. O pequeno banheiro foi construído do lado de fora, perto da entrada da floresta.
— Você dormiu com outras pessoas durante essa viagem, não foi? — Betty questionou, irritada.
— Nada de diferente do que você já faz por aqui — Jungkook respondeu, evidenciando que tinha conhecimento das traições da esposa.
— Mas é diferente… eu pelo menos escondo o que faço. Você não. Dorme com todas as mulheres que encontra sem se preocupar em ferir minha honra.
Jungkook riu. Não era exatamente com mulheres que ele se satisfazia sexualmente, mas não interessava a Betty este fato. Não era vergonha, mas não precisava anunciar para a cidade inteira que se sentia atraído por outros homens, e que apenas se casou com uma mulher para que se cumprisse a profecia e tivesse um herdeiro.
— Estou pronto! — Ajay retornou, trazendo consigo uma pequena bolsa lateral, feita com a pele de uma lebre que caçou com o pai. — Posso comprar outra faca também? A minha está ficando cega.
— Pode. — Jungkook jogou os peixes dentro de uma grande cesta, e levou consigo para negociar com o peixeiro.
Assim que pai e filho chegaram no centro de Westberg, encontraram muitas pessoas transitando pelas ruas, comemorando um recente casamento entre duas pessoas importantes. Os dois entregaram os peixes ao peixeiro, e logo em seguida foram à procura de um ferreiro amigo do mais velho.
— Seu casamento com a mamãe teve uma festa grande assim também, pai?
— Mais ou menos…
— Jungkook, seu pilantra! — Foi recebido por Seokjin, o ferreiro. — Mandou que o enxerido do Crissy fizesse uma espada pra você, não foi? Traidor safado!
— Não foi bem assim, ele me deu aquela arma porque quis. Você sabe que eu prefiro machados.
— Hum…
— Jin, eu quero uma faca bem grande e bastante afiada.
O semblante do ferreiro mudou para um sorriso jovial, assim que ouviu a voz do pequeno Ajay. Ele se abaixou diante da criança, para falar com ele:
— Para esfolar os pequenos animais da floresta, estou certo? — o menino respondeu positivamente, balançando a cabeça. Seokjin suspirou, sorrindo orgulhoso. — Que adorável.
O ferreiro mostrou a ele uma prateleira com algumas facas e punhais, onde o pequeno passou a examinar aquelas que mais o atraíram. Enquanto isso, os dois mais velhos seguiram conversando:
— Ouvi falar que o rei pretende nos enviar ao mesmo lugar onde trouxemos todas aquelas riquezas.
— Será uma perda de tempo.
— E você acha que eu não sei? Aquele alí só é inteligente quando se trata de passar a mão em todos os espólios, e olhe lá.
— Se ao menos ele permitisse uma única exploração ao Sul…
— Ele acha que não há nada além de um grande abismo, e que irá perder todos os barcos se permitir a viagem.
— Acha que ele mudaria de ideia, caso alguém insista?
— Ou isso, ou ele vai torturar o infeliz por dias, até que fique satisfeito — Seokjin afirmou, sem imaginar que era realmente isso que Jungkook pretendia fazer, na próxima reunião com o monarca.
— Eu quero essa aqui — Ajay se colocou entre eles, exibindo um longo punhal, com lâminas em ambos os lados.
— Ótima escolha. — O ferreiro recebeu o pagamento e testemunhou pai e filho deixando o recinto.
Algumas semanas depois, a reunião que acontecia sempre que o rei Magoth resolvia mandar grupos de guerreiros para explorar e saquear terras distantes, finalmente aconteceu.
O concílio reuniu vários homens, mulheres e até crianças, todos ansiosos para saber qual o destino dos bravos guerreiros, que navegavam a bordo de fortes barcos à procura de vilarejos para roubar.
— Muito bem, após alguns dias estudando as rotas mais prováveis, eu decidi que vocês retornarão para o mesmo local onde trouxeram aquele magnífico tesouro. — Magoth deliberou.
Jungkook e seu grupo sabiam que aquilo não passava de uma grande mentira. O rei mal entendia sobre navegação, muito menos conseguia ler os mapas desenhados representando as vilas e reinos. Tudo o que Magoth supunha era que eles trouxeram muita riqueza de um lugar, neste caso, deveriam retornar para pegar mais.
— Nós trouxemos tudo o que havia lá — Namjoon o lembrou. — A não ser que o ouro cresça em árvores, não há nada para roubar, até que eles abasteçam a cidade.
— Está dizendo que a minha escolha foi burra?
Namjoon quase respondeu que sim, mas foi impedido por Jungkook, que agiu mais rápido. Pode-se dizer que o primeiro ainda não foi executado porque sempre era contido pelo amigo.
— O que ele quer dizer é que há outras opções mais viáveis.
— Como o quê, por exemplo? — O rei estava dando corda, apenas para ver Jungkook se enforcar.
— O Sul.
— Lá vem você com essa lenda sem sentido.
— De onde acha que vem toda riqueza dos reinos que roubamos constantemente?
— Leste e Oeste. — Magoth respondeu com desprezo.
— Que por sua vez ficam próximos do Sul… — Jungkook completou. — Não há outra alternativa. Eles comercializam através dos mares. Eu tenho certeza que de onde eles vêm, há muito mais para conquistar.
— Sua certeza vem de suposições, e isso não é o suficiente para mim.
— Quando foi que eu falhei em alguma exploração? — Jungkook esperou Magoth responder, mas o rei não o fez, pois sabia que aquele guerreiro sempre obtém sucesso. — E se permitir apenas um barco?
— Você pretende viajar de Norte a Sul, com apenas um grupo de homens?
— Será o suficiente. São bons guerreiros.
— Isso me parece uma grande perda de recursos.
— Vamos apostar… — Jungkook sorriu astuto. Ele olhou para cada um de seus amigos, depois voltou o olhar para o rei. — Se trouxermos riquezas, meus homens e eu ficaremos com tudo, apenas dessa vez.
— O que eu ganho se você me aparecer aqui sem nada?
— Nossos serviços, de graça, por todo o tempo que estivermos em Midgard.
Midgard era o reino onde os humanos habitavam, ou seja, como o planeta Terra era conhecido pelos nórdicos. Sua localização ficava no centro da Yggdrasil, a árvore da vida. Tal árvore é tão extensa que conecta todos os mundos nórdicos, incluindo Asgard, a morada dos deuses.
— Está dizendo que pretende ficar sem nada, em todas as explorações?
— Sim, apenas se não retornar com espólios do Sul.
— E seus homens concordam com isso?
Jungkook sequer olhou para trás, para confirmar. Ele confiava integralmente nos guerreiros que sempre o acompanhavam nas longas jornadas, reinos a fora. Com efeito, todos eles assentiram para o rei, sem hesitação, depositando toda sua confiança em Jungkook.
Magoth não ficou muito satisfeito, visto que o apoio em Jungkook e não em si, significava que aquele grupo de homens acreditavam mais em um simples pescador do que em seu próprio rei.
Contudo, já que ele acreditava fielmente que não existia nada ao Sul e que aquele grupo retornaria de mão vazias, ele apenas concedeu a viagem, esperando humilhar Jungkook e seus companheiros, caso retornassem com vida.
~🪓~
Um pequeno cercado foi erguido para que as ovelhas não fossem mortas, pelos lobos que espreitavam as colinas do Monastério todas as noites. Antes de um rastro de sangue surgir no local onde elas dormiam, os animais ficavam a céu aberto, presas apenas por cordas amarradas em seus pescoços.
Antes do anoitecer, Jimin se certificou de que todas as ovelhas estavam seguras dentro do abrigo, depois, retornou para o Monastério onde iniciou as preces das 18 horas, juntamente com os demais noviços.
Sua vida basicamente era rezar, cuidar dos animais e outros serviços que lhe competem, rezar outra vez, comer, beber, fazer suas higienes, rezar novamente e dormir. Não conhecia muito além das fronteiras do Monastério, por isso, passava a maior parte do seu tempo lendo perto das ovelhas, onde aprendeu sozinho alguns idiomas.
Naquela noite, antes de dormir, Jimin olhou pela janela do quarto que dividia com os outros noviços e sentiu algo estranho em seu peito. Ficou preocupado com as ovelhas, imaginando que outro lobo poderia destruir o abrigo, então juntou as mãos e rezou para que Jesus Cristo as mantivesse seguras.
Na manhã seguinte, para sua alegria, o abrigo que protege as ovelhas de ataques estava incólume, assim como os animais. Ele olhou para os céus e agradeceu pela prece concedida. Dando continuidade a rotina diária, Jimin se juntou aos outros noviços para iniciar os serviços daquele dia.
O jovem noviço ficou responsável pela manutenção da horta. Ele pegou água no poço que se encontrava no centro do pátio, e levou aos fundos do Monastério para irrigar as plantas. Enquanto cantava alguma canção direcionada a Virgem Maria, escutou gritos desesperados vindos da direção de onde viera anteriormente.
Agitado, o moço deixou o balde no chão e caminhou lentamente até aparecer na entrada para o pátio. O que viu fez seus ossos congelarem. O que o bispo Abraham lhe contou, semanas atrás, estava se materializando bem à sua frente. Os monges corriam para todos os lados, sendo perseguidos por homens enormes e fortes, munidos com escudos e armas dos diversos tipos.
Jimin viu quando um grupo de noviços correu para se esconder dentro do salão de orações e correu logo atrás, para tentar escapar do massacre. Contudo, antes que pudesse chegar no local, os jovens trancaram a porta e se negaram a abrir, mesmo que o coitado tivesse insistido pelo amor de Deus.
Sem outra alternativa, Jimin correu para a galeria subterrânea, onde os artefatos mais sagrados eram mantidos. Havia uma pequena janela por onde o ar circulava pelo local, e era por onde o noviço pretendia fugir. Ele encontrou os manuscritos sagrados e resolveu levar consigo, enrolando-os dentro de um pano e improvisando uma bolsa presa às costas.
Jimin ouviu quando a porta do salão de orações foi arrombada, e também os gritos angustiantes dos outros noviços, alguns blasfemando contra Deus e outros rogando por sua misericórdia, sendo abafados pelo golpe das armas daqueles bárbaros.
Da entrada que dava naquele local, viu um homem segurando uma lança surgindo devagar, estudando o ambiente.
— Meu Deus! — Murmurou, cobrindo a boca logo em seguida assim que o nórdico o percebeu.
— Parado aí! — O guerreiro avançou em sua direção, mas Jimin obviamente não obedeceu a ordem.
O noviço se arrastou pela passagem de ar, por pouco sendo atingido pela lança de Nick. Ele buscou uma alternativa ao seu redor, mas em todos os lados havia um daqueles bárbaros sujos com o sangue dos monges. Não havia onde se esconder. Jimin agarrou seu crucifixo com bastante força e olhou para o céu, com o rosto banhado em suor e seus olhos cheios de lágrimas.
— Que seja feita a tua vontade, Senhor, mas permita que eu viva…
— Alí está ele! — Nick bradou.
A oração do noviço foi interrompida. Jimin viu quando o mesmo homem com a lança correu atrás dele, e fez o mesmo, correndo ao longo da praia, esperando por alguma providência divina que o livrasse de um fim tão terrível.
— Não deixem ele escapar! — Foi a última coisa que ouviu antes de sentir alguma força atingir suas costas, e ser levado ao chão logo em seguida.
Continua…
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