Sentada naquela cadeira gasta, com a caneta entre os dedos trêmulos, eu deixei as palavras fluírem para o papel como um rio desenfreado. Não sabia ao certo se aquela carta era destinada ao amor que nunca havia conhecido pessoalmente ou se era uma espécie de anseio por encontrar alguém que me amasse genuinamente. Perdida em meio às minhas próprias reflexões, desejava ardentemente ser como aquelas cartas de amor que circulavam, trocadas entre amantes com a promessa de sentimentos profundos, sem ser apenas um objeto a ser transacionado por moedas de prata.

No mundo ao meu redor, tudo parecia estar à venda, inclusive eu mesma, uma ômega em meio a um mercado onde os alfas faziam suas escolhas como quem seleciona uma mercadoria. Sentia-me destinada a ser entregue a um futuro marido, como se fosse apenas uma peça de um jogo predestinado, sem voz ou vontade própria. Ansiava ser como aquelas cartas de amor que lia com fervor, desejando ter um desfecho tão belo quanto as histórias de Luke, mas a realidade implacável insistia em me trazer de volta à dura verdade.

Queria desesperadamente ter nascido um beta, onde minha honra seria medida pelo meu caráter e não pela minha condição biológica. Mas, como uma ômega, meu destino parecia traçado antes mesmo de eu nascer, destinada a ser submissa aos desejos do meu alfa, sem poder questionar ou resistir.

Apaguei a vela com um suspiro resignado, deixando a escuridão do quarto me envolver. Deitei-me na cama gasta, fechando os olhos na esperança de encontrar consolo nos sonhos, ansiando por um futuro onde eu pudesse ser mais do que apenas uma peça trocada neste jogo cruel. Desejava um mundo onde meu valor não fosse determinado pela minha condição, mas sim pelo que eu poderia oferecer como ser humano, onde o amor fosse verdadeiro e não uma transação comercial.