Capítulo 12: Valentões não sabem amar
O calor e o tremor sentido ao corpo revelou tamanha raiva de estar sendo conduzido por uma situação que jamais imaginaria passar. Seu próprio amigo, não um qualquer, o parceiro desde a infância agora o mantendo como um prisioneiro em um cativeiro escuro, coberto de poeira escondida sob um rancho mediando envolto por sucatas em ferrugem.
Já esquecera que suas mãos ardiam doloridas pela forte pressão da contenção das cordas, encontrou-se perplexo, talvez boquiaberto com a raiva ecoando aos olhos esbugalhados do amigo que rangia os dentes e apertava firme cada dedo pontudo ao segurar aquela arma.
Levantou o olhar curiando o teto com alguns buracos ovais onde a luz do luar penetrava clareando os pequenos furos do forro do rancho.
Maicon ofegante puxou uma cadeira com um dos pés, não hesitou em tirar o olhar assustador de seu prisioneiro que se contorcia a todo instante desejando desprender seu corpo da cadeira.
Sentou-se de lado descançando seus cotovelos no apoio da cadeira de palha, empoeirada e velha..Em um rápido e inesperado movimento inclinou o corpo e o moveu junto a cadeira próximo ao do amigo que tentava a todo custo se distanciar mesmo estando preso.
_ Então!_ Qual é tua decisão?_ sussurrou
Mesmo diante do cansaço, das dores, e da monstruosa fome que regorgitava seu estômago tornando o mesmo a dar reviravoltas, o rapaz arfava de raiva, assentiu um calafrio percorrendo a espinha.
O olhar arqueado capturava como uma câmera cada movimento executado pelas mãos finas e calejadas que o amigo exercia com a arma.
_ Qual vai ser?_ Perguntou trocando de posição, dessa vez manteve a silhueta ereta à cadeira._ Tu vai ter que se decidir!.. Coçou a garganta..
Rick sem saber o que fazer ou extrair daquela confusa situação moveu a cabeça em direção ao assoalho, ao prestar atenção na sujidade aderindo uma camada densa de areia, fechou os olhos mergulhando em seu subconsciente.
A imagem do rapaz loiro, alto, robusto, de olhos claros e cabelos entrelaçados ao rosto pálido e rosado preenchia sua mente vazia tempestuosa, carregada por uma imensidão de pensamentos acorrentados que excomungavam liberdade.
A raiva e a dor ao mesmo tempo se apresentaram sem bater em sua cabeça, contorcia-se na cadeira da qual sustentava um corpo tomado por emoções cujo nem o rapaz magro de cabelo raspado, saberia explorar.
Enquanto a raiva expulsava seus mais profundos sentimentos, a dor gritante chorava em sua cabeça alarmando sua busca frenética pelo dono do primeiro beijo que agora teria de se afastar, justo a primeira pessoa em que Rick acabou por descobrir o significado do tal amor.
A palavra que até então antes, esmurrava em sua mente blindada por ódio, habitada pelo mau que transcorria em seus olhos, circundado sua alma sugando toda a esperança de uma criança que jamais soube o que é o amor.
Justo o seu amigo estaria mexendo com seu psicológico, chacoalhando seus sentimentos, brincando de assustar novamente aquela criança presa ao seu passado, estava a beira de explodir, explorou em seu" eu" desorganizado como um lixão provido de um grande entulho a beira ao caos, coberto de sujeiras, almejava encontrar o lugar mais calmo em que pudesse sentar e se esconder do mundo cruel que residia.
Uma lágrima quente e seca extraiu do olhar frio amedrontado. Rick nunca sentiu medo, até dar o mesmo a entender que o único medo crucial é o de não possuir um amor, carregada em sua fria e diabólica pesada como uma rocha sólida e gelada.
Ao denotar que teria que dizer algo para quebrar aquele silêncio ao passo que somente o vento agitava a pequena tapera rangendo as paredes.
_Vai ficar mudo?_ Perguntou abaixando a arma ao nível da cintura.
Rick rangeu os dentes, ergueu a cabeça lentamente, com um olhar intimidador que o amigo desconhecia.
Antes de tomar partida em sua decisão analisou a arma do amigo e verteu em seu rosto uma expressão desaprovando a imperdoável atitude do amigo.
_ Sabe por quê eu sou esse lixo de pessoa?... respirou profundamente e prosseguiu.. Por partilhar minha vida nada interessante, com pessoas de mente vazia como você.._ Maicon evitaria responder algo, esperaria ver até aonde o amigo queria chegar com tal argumento.
_ Eu cresci ouvindo do idiota do meu pai me dizendo o que fazer!_ Cresci aprendendo tudo ao contrário.._ Seus olhos ascenderam um brilho, uma luz retorquida pela umidade das lágrimas aceleradas que saltavam sem paraquedas do rosto chupado de Rick.
_ Desde pequeno convivi com o medo de ser quem eu sou.. Com a dor de saber que nunca ninguém nessa droga de cidade poderia entender o que se passava em minha cabeça..._ As lágrimas recuaram do rosto contornado pelo suor.
_ Quer sabe Maicon?.._ Abaixou o olhar fitando a mão em que o amigo segurava firme aquela pistola calibre 32._ Se você me matasse agora seria a melhor coisa que estaria fazendo por mim desde o dia em que se conhecemos.
_ Ninguém iria sentir minha falta._ Me Mate!_ Ordenou Maicon em um ríspido tom de voz rouca e abafada.
_ Tu tá misturando as coisas!_ Interveio Maicon apontando a arma com as mãos trêmulas ao rosto esquelético de Rick._ Só estou te pedindo pra se afastar daquele muleque imbecil, e esquecer dessa asneira que eu não quero nem imaginar como foi quando eu vi.
_ Tá vendo_ Interrompe Rick._ Você devia ser filho do meu pai._ Dois idiotas que sempre vão falar mais alto com um pensamento de um homem das cavernas._ Eu não sei porque esses anos todos consegui conviver com você, só aprendi a ser uma sombra das suas péssimas atitudes, me arrependo até hoje por não ter te entregado para o Ivan quando você usou cocaína na sala dele, assim tu estaria preso e nunca mais eu ia ter que ser obrigado a realizar suas vontades.
Ao perceber o amigo se enfurecer Rick continua tinha enorme desejo de gritar para o mundo o que estava sentindo.
_ Você só vive do ódio, não entendo porque estar feliz com a desgraça dos outros, e eu me tornei um marginal com o passar dos anos,espelhei tudo que aprendi contigo, jamais tive uma imagem própria de como eu poderia ser.
_ Cala essa tua boca!_ Retruca Maicon ao bater a arma ao rosto do amigo fazendo o mesmo tornar a virar o rosto que agora transcorria de sangue inchando.
O amigo não se arrepende em nenhum momento da pancada, tentou conter sua respiração ruidosa, seus olhos se encontram em transe, fungou o nariz, e se manteve de pé afastando o corpo da cadeira aguardando o silêncio que findava novamente ser quebrado por Rick.
_Seu imbecil!_ Responde Rick mantendo o rosto virado, o sangue saltou inundado sua camisa cor cinza, estampada com um desenho de um palhaço risonho.
_ Você sempre foi sujo!_ Pausou para cospir um pouco de sangue contido em seus lábios._ Sempre traiçoeiro, apunhalando quem mais te ajudou.
_ Eu vou te meter bala se continuar a falar isso!_ Resmungou agaixando o corpo próximo ao rosto inchado de Rick.
_ Hoje tu tá cuspindo no prato que comeu._ O inflexo da voz sussurrada verteu a uma voz alta, aos ouvidos de Rick.
_ Tá aí pagando uma de certo, dono da verdade, mas tu não pode esquecer que eu... O estalo das mãos largas de Maicon esmurrando seu peito ecoou pelo rancho..._ Eu te ajudei, a ser uma pessoa digna de respeito...Fui como um irmão pra ti!_ Deu uma leve pausa caminhou para ambos os lados escuros do rancho.
_ Quantas vezes tirei você daquela sua maldita casa, pra te livrar das pancadas que teu velho queria te dar, da bêbada da tua mãe, das merdas que ela aprontava...Na escola te salvei de várias surras, fiz de ti um cara que eu pudesse confiar, um parceiro uma cara que todo mundo devia respeito!.._ Avistou um pedaço de lata ao chão e a lançou sob a cabeça de Rick que não se conteve com tanta dor.
_ Você não era nada! Antes de eu te conhecer!_ Era um merda.._E hoje eu percebo que perco meu tempo contigo, me afastei de parceiros deixei de roubar, de crescer na vida do crime para ficar te protegendo.
_ Parcerias?_ Rick virou o rosto ainda coberto por sangue em direção ao amigo, solta uma gargalhada sarcástica._ Não me faça rir Maicon!_Eu te salvei isso sim, você também me deve muito por eu não te deixar acabar num caminho que terminaria no caixão ou com a boca infestada por formigas, seus amigos da vida do crime estão tudo preso. Nao restou sequer alguém para contar história...Só andava com gente que não presta, marginais iguais a você.
_ Vê bem como tu fala meu irmão!_ Adverte Maicon puxando Rick pela camiseta suja de sangue.
_ O que? vai me bater? Duvido!_ Desafiou Rick cerrando seus lábios franzindo seu cenho._ Tu acha que eu tenho medo de ti?_ Me solta daqui que eu tô louco pra acabar com a tua raça!
Ambos permaneceram sem dizer uma palavra, somente a respiração e os batimentos cardíacos aceleravam com cada inspiração profunda, expeliam seus olhares flamejantes queimando seus corpos por dentro.
_ O que vai fazer?_ Perguntou Rick analisando o amigo se abaixando por detrás da cadeira, sem dizer nada soltando os punhos de Rick.
_ Vou te soltar!_ Responde procedendo aos pés._Vamo resolver na porrada.._Cê vai apanhar tanto que vai aprender a virar macho!
Rick mesmo estando isento de qualquer corda que antes continha seu corpo, permaneceu sentado ainda manteve o fervor da raiva em seu corpo.
Maicon guarda a arma em um nicho mais baixo do lado esquerdo da parte mais clara findada pela luz do luar, já eram quase meia noite, as horas excediam cada vez que uma decisão era tomada.
_ Agora eu quero ver o teu lado macho !_ Posicionou o corpo em guarda._ Vem! Tô esperando!_ Ordenou a Rick.
Este por vez levantou anestesiado resultante da dor latejante da pancada que levou ao rosto.
_ Tu vai se arrepender de ter feito isso meu rosto seu desgraçado!_ Murmurou correndo ao encontro do amigo.
_ Rick?_ Uma pessoa do lado de fora soou leves batidas a porta do rancho.
Os rapazes viraram estátuas olharam entre sí questionando um ao outro quem poderia ser?
Continua....
Os próximos capítulos podem ser o ápice para a segunda fase da história...
Votem e comentem, ficarei grato pessoal...
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