Sete rosas
•Carolina•
Desde que essa maldita dívida apareceu eu não conseguia dormir direito. Qualquer batida na porta, vozes ou qualquer tipo de som me fazia ficar em alerta. E pior ainda era saber que eu não podia simplesmente jogar pra esquecer o que me atormentava.
Estava na cozinha preparando um chá pra ver se me ajudava a dormir. Com a caneca fumaçante em mãos, me sentei a mesa e me peguei pensando sobre o que a Eva disse sobre a Amanda.
De todos os Monteiros ela sempre foi a única que realmente gostava de mim — Passou a ser a única depois que eu descobri o real motivo pelo qual o Alexandre se casou comigo —
Sabia que a Eva estaria bem com ela.
Mesmo sem entender o que aquilo poderia significar, ela a ajudaria, com o preço que eu teria que pagar depois dando algumas explicações, isso eu sabia. Logo consequentemente me lembrei que em breve chegaria o aniversário do Alex, e mesmo brigados essa era uma data que eu não deixava de comemorar com ele, seria a primeira vez em pouco mais de dois anos que eu não estaria lá. E agora nem mesmo que eu quisesse eu poderia voltar, não com essa possível ameaça.
Possível não. Real ameaça já que eu não faço idéia de onde arranjar tanto dinheiro em sabe - lá quanto tempo eu tenho.
Quando me dei conta a xícara já estava vazia e tudo que eu queria era poder fechar os olhos e acordar em um mundo onde desejos se realizam e a chuva é feita de chocolate. É pedir muito?
*
Algumas idéias vieram a minha mente durante a manhã que parecia estar conectada a mim, terrivelmente fria e nebulosa. Mas nenhuma delas parecia um plano sólido.
Rolei os olhos quando a campainha tocou, era só o que faltava, em pleno dia chuvoso algum vizinho vindo até aqui pra pedir um pouco de açúcar.
— Ah — Exclamei surpresa — Você agora tem educação e não sai mais entrando na casa dos outros sem pedir permissão? — Cruzei os braços.
Fiquei sem entender quando o vi com o guarda chuva em uma das mãos e a outra com um minúsculo buquê de rosas terrivelmente encharcado, diferente das sacolas que ele também carregava.
— Para sua informação, eu só não abri a porta porquê estava ocupado. — Disse erguendo as sacolas, logo passando por mim.
— O que significa isso? — Fechei a porta e o segui até a cozinha.
— Nada melhor do que um filme em um dia chuvoso — Começou a retirar coisas da sacola
— Eu não estava falando sobre isso — Me referi as rosas, mas ele pareceu alheio a elas — Eu não tenho tempo pra filmes Rodrigo, tenho um problema real aqui! — Ele foi até o armário pegando uma panela.
— Você prefere pipoca doce ou salgada? — Perguntou sínico
— Eu estou falando sério!
— Eu também — Desdenhou — Me diz se você vai conseguir fazer alguma coisa com o aguaceiro que está caindo lá fora. Por que se for, é só ir. Quando você voltar eu te conto o filme — Cruzou os braços me encarando
Revirei os olhos. Por que ele é sempre assim? Tão.... irritante. Minha vontade era de mandar ele embora, mas ele sempre jogava na minha cara que a casa não era minha e o pior é que era verdade.
Eu só tinha que pegar meu celular e ir embora e acabei ficando aqui por uma semana e agora me meti em um problemão que só eu posso resolver.
— Doce — Respondi dando as costas, mas ainda tive tempo de ouvir quando ele disse:
— Eu também.
*
— É o que você e a Eva fazem quando chove? — Perguntei quando ele me entregou uma tigela grande com pipoca doce.
Antes que eu pudesse apoiar a tigela entre as pernas, ele as cobriu com um edredom quentinho, o observei até ele se sentar ao meu lado, também embaixo do edredom.
— Eu não gostava da idéia, mas então descobri que ela tinha medo de trovões quando a gente era criança — Sorriu — O filme ajudava ela a se distrair. Então virou tradição.
— É mesmo? — Ele me encarou confuso — Sobre... Os trovões — Assentiu — Eu também — Confessei — Quando criança — Consertei, quando ele estava prestes a falar — Eu me escondia embaixo da cama, com meu cachorrinho de pelúcia — Sorri balançando a cabeça — Que bobagem!
— Não é bobagem — Ele tocou minha mão, o que fez meu corpo enrijecer — Todos temos medos ou já tivemos — Puxou sua mão de volta, quando encarei o ato.
— E do que você tinha medo quando criança? — Ele arqueou as sobrancelhas — Vai me dizer que não tinha medo de nada — Ri — Até parece.
— Eu tinha sim, um medo — Se voltou de frente pra mim.
Foi quando eu observei seus olhos... Quando ele passou a ter olhos tão bonitos? Balancei a cabeça para afastar o pensamento.
— Meu maior medo era crescer — O encarei sem entender — Parece que eu não tive muita sorte — Deu de ombros — Eu acho que sabia o quão diferente a vida era na perspectiva e na pele de um adulto e eu não queria isso. Eu queria o simples, o encantador, sabe? A alegria das coisas — Sorriu — Mas nada é como a gente quer, as vezes a gente só tem que aceitar ou... Encontrar uma maneira — Se voltou para a TV inciando o filme.
E foi ali que eu percebi duas coisas, uma era que por mais insuportável que ele pudesse ser, ele sempre estava pelas pessoas que gostava e a outra era que eu tinha que resolver meu problema, mesmo que isso me colocasse em mais problemas. Contanto que fosse sozinha sem pôr mais ninguém em qualquer tipo de risco.
No dia seguinte o sol brilhava como nunca, era um belo dia. Talvez eu devesse sair e tentar clarear a mente, talvez me ajudasse a pensar em alguma solução para meu problema.
Abri a porta para sair, mas me mantive onde estava quando vi no chão, bem próximo a porta um mini buquê de rosas. Iguais as que o Rodrigo estava ontem. O pensamento me veio a mente.
— Porém dessa vez não estão encharcadas — Disse
Balancei a cabeça em negação, mas não podia deixar as rosas ali.
As peguei e coloquei no vaso com água, juntamente com as de ontem.
Seis delas, porém ontem havia sete. Sete rosas... Dei de ombros e depois de arrumar as rosas no vaso, peguei minha bolsa e sai de casa. Eu precisava de uma solução, e eu não encontraria nenhuma observando aquelas, apesar de lindas, flores.
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