Reencontro
•Eva•
Levantamos bem cedo no dia seguinte e como prometido pela Carol na primeira hora estávamos a caminho do hospital para ver o Rodrigo.
— A viagem vai ser um tanto longa, então você pode me contar o que aconteceu, agora — Carol me encarou do banco do passageiro — Sem desculpas.
Enquanto eu dirigia o carro - que eu consegui emprestado -
Eu sentia falta de dirigir. Vivendo esse tempo como Carolina Monteiro, eu não podia me dar ao privilégio levando em conta seu passado com automóveis.
— Eu não ia inventar nenhuma desculpa — Falei, sem tirar os olhos da estrada.
— Então prossiga — Ela parecia bastante interessada.
— Depois da festa do Alex...xandre, a Suzana veio até mim com uma conversa estranha...
— Ah, ela sempre faz esse tipo de coisa, parece até ensaiado. Desculpe — Disse quando a encarei por ter me interrompido.
— O pior veio depois. Ela literalmente se jogou escada abaixo
— Ela fez o quê? — pós as mãos na boca — Vou deixar as perguntas pro final
— Ela está no hospital agora e o Alex está com ela. Todo preocupado como se fosse marido dela e você nem acredita que foi isso que ela disse, disse que ele era marido dela. E então brigamos. Eu estava furiosa e fui pra casa, precisei sair de lá se não acabaria falando mais do que deveria.
Carol ficou calada por tempo demais, então a encarei rapidamente. A estrada estava pouco movimentada, mas eu não gostava de ficar distraída ao volante.
— O que foi? — Ela riu.
E foi aí que eu percebi que talvez eu tivesse falado demais.
— Eu...
— Se eu estivesse lá talvez eu tivesse jogado ela escada abaixo.
— Foi o que disseram
— Te acusaram? — Ela riu — O que foi? — Perguntou quando fiquei séria
— Nada.
— Agora que posso usar a desculpa de "intuição de irmã" — Ri — Vou fazer isso sempre. Pode não acreditar, mas eu percebo que tem algo que te incomodando, o que é?
Não respondi. Como eu diria pra ela que toda essa situação me incomodou porquê - inconsequentemente - me apaixonei pelo marido dela? Ou pelo menos acho que estou. O que é ainda pior. Dúvida.
— Tudo bem. Pode falar quando estiver pronta. Mas — Voltou a falar alguns minutos depois — Acho que está assim porquê o Alex desconfiou de você ou de mim, no caso.
A encarei confusa.
— Vi como se beijaram no aniversário dele — Expôs.
Ela deve ter me visto corar, por que balançou a cabeça e deixou um riso escapar.
— Pode parecer estranho o que eu vou dizer mas, eu não amo o Alex já faz tempo. Desde o dia em que eu soube daquele maldito contrato que ele fez com o meu p... Com o Otaviano. Foi quando eu percebi que talvez eu nunca tenha amado ele e sim, a idéia que eu criei sobre nós dois juntos. — Ela soltou o ar — Não estou dizendo isso para que me conte o que realmente sente, apesar de eu desconfiar, mas porque eu perdi alguém muito importante por me iludir com o Alex, eu criei uma ilusão e ele a alimentou. Talvez tudo tivesse sido diferente se eu ouvisse mais o meu coração — Abri a boca para dizer algo, mas ela me cortou — As vezes
Chegamos ao hospital e fomos ver como o Rodrigo estava. Quando vi meu amigo em uma cama de hospital me deu um aperto no peito, mas a Carolina me garantiu que ele estava fora de perigo e isso me deixava mais tranquila. E ele não parecia tão mal, sorri e pensei que talvez o aperto no peito fosse saudade.
— Já que ele está dormindo e vai ficar bem sobre seus cuidados — Carol segurou minhas mãos — Eu preciso resolver uma coisa
— O que você vai fazer? — Falei preocupada
— Preciso ir em casa — A encarei confusa.
— Mas acabamos de sair de lá — Protestei
— Até a minha casa. Tenho que conversar com a minha... Com a Vanessa. Acho que ainda vou levar um tempo pra me acostumar — Forçou um sorriso — Depois da nossa conversa de ontem, ela vai ter que me esclarecer algumas coisas — Soltou minhas mãos
— Você tem certeza? — Ela assentiu.
Então eu a abracei.
— Não demoro — Disse quando se afastou do abraço. Então ela olhou para o Rodrigo, com um carinho que eu nunca tinha visto antes nos olhos dela, ou seria paixão?
— Vou cuidar bem dele — Ela me encarou sem graça.
Nos despedimos e ela se foi. E eu fiquei esperando ele acordar.
Ele acordou alguns minutos depois, eu estava lendo uma revista, então só percebi quando escutei a voz dele.
— Pensei que teria que morrer pra te ver de novo — Me levantei da poltrona, me aproximando dele.
— Se você morresse não me veria — Toquei rapidamente a ponta de seu nariz — E eu sei que você foi a festa de aniversário do esposo da Carol — Ele fechou a cara
— Não quero falar sobre isso.
— Por minha causa ou por causa da minha irmã? — Ele voltou a me encarar, confuso. Eu apenas sorri a espera do que ele diria.
— Irmã? Com confirmação e tudo?
Então contei pra ele tudo que eu tinha contato pra Carol na noite passada. Agora mais do que nunca eu tinha mais certeza de que éramos irmãs, e inesperadamente um desejo de saber sobre o meu passado tomou conta de mim. Afinal, tudo que eu acreditava ser a minha vida, não era cem porcento verdade.
— Adotada Eva? Eu nunca desconfiei, não mesmo — Ele estava surpreso
— E eu? Que vivia com ela, ela me criou, Rodrigo e eu nunca suspeitei de nada. Mas o bom é que eu ganhei uma irmã com toda essa história — Sorri
— E onde ela está? — Um sorriso diferente se formou em meus lábios.
— Você gosta dela, não gosta? — Ele uniu as sobrancelhas
— Não quero falar sobre isso com você.
— Acha que eu vou ficar contra vocês? Pelo contrário, se precisar viro até cúpido — Rimos, só de imaginar
— Eu gosto — Foi sincero — Gosto mais do que deveria, mais do que eu gostaria, Eva. E eu não sei explicar como aconteceu. Você sabe, eu odiava ela.
— É como dizem: A linha entre o amor e o ódio é tênue.
— Pode até ser, mas a... Sua irmã — Riu — Ainda vou levar um tempo pra me acostumar — Ela me deixa tão confuso. As vezes parece que gosta de mim, as vezes parece me odiar, não sei mais o que pensar.
— Então pare de pensar e comece a agir. Seja sincero com ela, abra o seu coração.
— E acha que eu não já conversei com ela? Sabe o que ela fez? — Balancei a cabeça — Me deu o melhor beijo da minha vida e foi embora.
— Tenha paciência com ela — Segurei sua mão — E agora principalmente com essa história de sermos irmãs. Sabemos que fomos ambas adotadas e ela não pareceu reagir bem a isso, ainda estou pensando se foi uma boa idéia deixar ela ir sozinha confrontar a mãe.
— Não sei de quem eu tenho mais pena, dela com toda essa situação ou da mãe por ter que enfrentar aquele "bom humor" da Carol — Rimos
— É, meu amigo. Seu coração acertou em cheio quem escolheu pra amar — Ele me encarou sério — Estou falando sério, apesar do ótimo humor — Ironizei — Ela é uma mulher incrível.
— Eu sei. Ela te contou de como dirigiu igual ao Dominc Toretto, pra me trazer ao hospital? — Me sentei ao lado dele na cama
— Não com essa informação. Anda, me conta.
E então ele começou a falar. E eu percebi quanta falta sentia de ouvir ele tagarelar todos os dias. E o quão feliz eu era por ter ele na minha vida e agora na vida da Carol. Enquanto eu não estivesse, eles cuidariam um do outro. E agora seria mais que por cuidado apenas, e sim por amor também.
— O que vamos dizer ao seu pai? A Carol não disse nada pra ele, então ele deve estar uma pilha de preocupação.
— Deixe que eu cuido do velho. Me passa o telefone — Esticou a mão.
Após alguns toques o Sr. Tomas atendeu e o Rodrigo começou a tranquilizar o pai, que como eu imaginei, estava uma pilha de preocupação com o sumiço repentino do filho.
O horário de visitas pela manhã havia terminado e nada da Carol voltar. Então fui até um restaurante próximo para almoçar, afinal ir para casa não seria muito inteligente já que era bastante longe. Então ficaria esperando até o horário de visitas retomar.
Enquanto eu almoçava, resolvi ligar meu celular, queria saber da Carol. Eu só esperava que não estivesse descarregado.
15%! Ótimo!
Havia várias chamadas perdidas e mais ainda de mensagens. Basicamente da Amanda e do Alex. Resolvi ignorar todas, pelo menos por enquanto. Como se por destino o celular vibrou com uma mensagem da Carol:
"— Tive que vir em casa, desculpe não avisar. Depois conto como foi tudo com a Vanessa... Como está o Rodrigo?"
"— Com casa você quer dizer...?"
"— Monteiro"
Ela respondeu logo em seguida.
"— O Rodrigo está bem. Perguntou por você... O que foi fazer aí?"
"— Tive que vir pra falar com a Vanessa, afinal eu estive "desaparecida" por 24h e fizeram uma tempestade por causa disso. Inclusive você vai ter que dar algumas explicações quando voltar... Acabei explodindo por aqui"
"— Você o quê?"
"— Te vejo em casa"
E aquela foi a última mensagem que ela se dispôs a responder.
A tarde passou rapidamente e logo tive que me despedir do Rodrigo. O médico disse que ele estava se recuperando bem, porém teria que ficar mais alguns dias no hospital para não termos nenhuma surpresa indesejada.
Quando cheguei em casa, Carol já estava dormindo. Ou pelo menos parecia estar. Tomei um banho e me aninhei a ela.
Esse agora era meu lugar de refúgio e eu não trocaria por nada.
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