Quando achei que nunca mais veria você...
•Carol•
Senti o forte impacto quando meus joelhos foram de encontro ao chão de terra, minhas mãos trêmulas indo de encontro a ferida aberta, seus olhos ainda estavam abertos, mas ele não disse uma palavra. Nada. E isso me deixava preocupada. A sirene estava mais alta, mais próxima.
Xavier e seus homens já tinha fugido e eu ainda estava ali, sem saber o que fazer.
— Não vai... Não vai me deixar morrer aqui, não é? — Nunca pensei que aconteceria, mas um sorriso surgiu quando ouvi a voz dele.
— Não, vem! Vamos. Consegue se levantar? — Ele me encarou sério. Teria que ajuda - ló.
Ele com certeza tinha o dobro do meu peso.
— Deixei meu carro um pouco a frente — Um de seus braços estava agarrado ao meu ombro e eu segurava firme sua cintura o máximo que conseguia na tentativa de equilibra - ló — Temos que ir antes que... Cheguem aqui ou... Como vamos explicar? — E foi quando notei que o sol estava prestes a nascer, parecia que havíamos passado muito menos tempo lá dentro.
— Você chamou a polícia! — Começamos a andar, era difícil com ele jogando todo peso em cima de mim, mas eu não podia carregar ele nos braços — Você é um idiota. Eles vão matar a gente — Ele riu. Sabia que estava fazendo isso pra tentar esconder a dor.
— Talvez eu morra antes — Ele falou em um tom de brincadeira, mas senti minhas pernas fraquejarem só de imaginar.
Não era como se eu me importasse... Na verdade eu me importava, até demais.
Conseguimos chegar até o carro, foi quando notei que havia uma trilha de sangue e ele estava pálido, comecei a entrar em desespero, o deitei no banco de trás do carro e arranquei o casaco que estava vestida.
— Toma — Pus o casaco para estancar o sangue e suas mãos por cima para pressionar — É melhor esse sangue ficar aí dentro — Pressionei minhas mãos em cima das dele.
Quando fechei a porta do banco traseiro, percebi que eu teria que dirigir e congelei.
Ótimo!
Não é hora de entrar em pânico.
Comecei a andar de um lado para o outro e ficar sem ar. Tinha 10 anos que eu não encostava em um volante, desde aquele maldito acidente.
Mas o Rodrigo estava ali, sangrando e por minha culpa. Se eu não dirigisse ele morreria. Respirei fundo e entrei no carro. Fechei a porta, pus o cinto...
— Pensei — Tossiu — Que me deixaria morrer... Aqui — Disse com a voz baixa.
Ele estava fraco.
— Não sei me livrar de um corpo — Disse na tentativa de acalma - ló. Ele apenas sorriu sem mostrar os dentes, seus olhos tentando se manter abertos.
Respirei fundo e pus as mãos no volante.
•10 anos atrás•
— Hoje é a sua vez de dirigir — Malcon disse entregando as chaves do automóvel para Carolina.
Era perceptível o quão bêbado ele estava. O quão bêbados todos os três jovens estavam.
— Eu não vou dirigir. Eu nem tenho carteira — Carolina disse se negando a pegar as chaves.
Era a mais nova do trio. Malcon seu namorado era o mais velho, seguido por Sandra sua melhor amiga, que por circunstâncias da amizade com a Carolina, também se tornou amiga de Malcon.
— Você é tão careta — Sandra riu. Não. Ela gargalhou e logo em seguida Malcon a acompanhou.
Carolina se sentiu uma idiota. Não podia deixar rirem assim, não dela. Furiosa e contrariando a si mesma, tomou as chaves das mãos de Malcon que brincava com as chaves.
— Eu não sou careta — Disse antes de assumir o controle do carro.
Malcon se sentou ao seu lado e Sandra foi no banco de trás. A primeira coisa que Carolina fez ao entrar, foi fechar a porta e por o cinto, antes de apertar fortemente o volante.
Ela exitou em ligar o carro e ouviu risinhos no banco de trás.
— Já tivemos aulas meu amor — Malcon apertou sua coxa
— Duas aulas, não acho isso suficiente — Ela sabia que não era a melhor idéia, estava bêbada, mas não o bastante para não saber o que estava fazendo — Ainda acho melhor chamarmos um carro ou pedir a alguém que venha nos buscar — Soltou o volante
— Deixe que eu dirijo — Após Sandra dizer, Carolina percebeu o sorriso que surgiu nos lábios de Malcon. Um dos muitos que ele direcionou a ela desde a noite passada.
— Não — Disse de repente assustando os outros — Eu dirijo — Sem exitar dessa vez, Carolina ligou o carro e arrancou com o mesmo.
Alguns minutos haviam se passado de muita conversa e flerte entre Malcon e Sandra. Coisas que Carolina havia prestado bem atenção, mas preferiu não comentar. Até que engataram em certo assunto.
— Acho que seríamos um ótimo trisal — Sandra se apoiou na cadeira do motorista, assim como ela, Malcon também estava sem cinto de segurança.
— Não diga bobagens, Sandra! — Carolina a repreendeu
— Qual o problema amor — Malcon apertou sua coxa que estava exposta — Imagina nós três juntos, um sexo selvagem do jeito que você gosta — Ambos riram, mas Carolina não estava gostando do rumo daquela conversa
— Deveríamos fazer isso hoje, ainda vale como meu presente de aniversário — Sandra expôs
— Acho uma ótima idéia — Malcon a encarou
— Eu não concordo — Eles riram ao ouvir
Carolina estava evitando olhar para eles e se concentrar apenas na estrada, mas foi impossível quando viu seu namorado beijando sua melhor amiga, na sua frente. Ela disse a si mesma que daria um basta naquilo quando parasse aquele carro, mas ela simplesmente não conseguia desviar o olhar, furiosa como estava e ambos não tinham nenhuma consideração por ela, continuavam a trocar carícias na frente dela.
Era seu namorado e sua melhor amiga e eles estavam a machucando. Ela estava decidida a descer do carro e arrumar outra maneira de ir pra casa, mas não houve tempo. Quando voltou sua atenção para a estrada, tudo já estava girando e se apagando.
Dias atuais
Eu ainda estava parada no mesmo lugar. Lembrar daquele dia com certeza não me faria bem. Engraçado como as coisas ruins levam mais tempo para serem esquecidas, diferente das boas memórias que sempre faltam peças antes de se apagar completamente.
Foi o som do meu casaco caindo que me fez voltar a mim. Droga!
O Rodrigo estava ainda mais pálido e com os olhos fechados, tirei o cinto e me aproximei dele, estava respirando. Pouco, mas estava. Respirei aliviada.
— Não vou deixar você morrer aqui, é uma promessa — Beijei sua testa e voltei para o banco do motorista.
Qualquer que fosse o monstro que me atormentava, ele teria que tirar férias agora, porquê eu iria dirigir aquele carro, nem que tivesse mil pesadelos depois.
Apertei o cinto e arranquei com o carro.
*
Parecia que não havia um hospital naquele fim de mundo. Eu já estava ficando sem esperanças quando por algum milagre avistei um em frente.
Eu com certeza levaria umas cem multas por todas as leis que quebrei no caminho pra cá, mas eu não estava me importando nem um pouco com isso agora. Gritei por ajuda ao abrir o carro e logo eles trouxeram uma maca e levaram o Rodrigo pra dentro. Eu sabia que não poderia ir com ele, então fiquei e esperei.
*
Depois de dar as informações do Rodrigo - algumas verdadeiras e outras falsas, já que eu não sabia muito sobre ele - e de mentir sobre como chegamos aqui e sobre ele não estar com nenhum documento. Eu só esperava que não chamassem a polícia, era tudo que faltava agora.
Eu já estava há 7 horas ou mais naquele hospital, andando de um lado pro outro sem nenhuma notícia. Algo em mim dizia que ficaria tudo bem, mas uma voz na minha cabeça dizia que eu tinha matado ele. Que era minha culpa.
E era minha culpa mesmo. Por isso eu não queria ele por perto, esse maldito intrometido. Coisas ruins acontecem com pessoas que se aproximam de mim, eu já deveria ter decorado isso.
Eu não saberia o que fazer se... Se ele...
— Não. Ele vai ficar bem — Disse baixinho pra mim mesma. Eu precisava me convencer disso.
Corri apreensiva quando o doutor apareceu chamando o nome do Rodrigo, eu realmente não sabia se queria que ele falasse, mas era pra isso que ele estava aqui. Apertei minhas mãos uma na outra e esperei para ouvir.
— Você deve ser a senhorita por quem ele não parou de chamar no nome — Ele soltou um risinho.
Me permiti sorrir aliviada. Então ele estava vivo, estava bem. Sorri. E foi quando percebi o que ele disse.
— Perdão? — Expressei confusa — Como ele está? — Esse era o assunto importante agora
— Bom, ele é um rapaz de muita sorte. A bala acertou o abdômen, passando pela costela e ficando alojada em um dos rins. Mas a cirurgia foi um sucesso e ele ficará bem. Além disso ele perdeu muito sangue e apesar do tipo AB- ser um tipo considerado raro, tínhamos o suficiente para fazermos a transfusão — Suspirei aliviada — Sei que não é um momento oportuno, mas se puder e quando, não se esqueça de doar sangue, acidentes acontecem com mais frequência do que se imagina.
— Claro, farei isso. Mas agora eu posso vê - ló?
— Ele ainda deve estar sedado da cirurgia, mas não há problema algum. Ele provavelmente vai acordar logo, mas eu aconselho que o mantenha calmo, ele está fora de perigo, mas não podemos correr riscos — Assenti.
Assim que entrei no quarto pude observa - ló dormindo tranquilamente. Involuntariamente lágrimas surgiram e sem a menor cerimônia jorraram. Eu estava feliz. Feliz por ele estar bem.
Me aproximei da cama e tentei segurar o choro quando saiu um soluço, eu sabia que ele estava sedado, mas ainda sim não queria acorda - ló.
— Que bom que você é mais forte do que eu pensava — Segurei sua mão. Agora quente e com a cor voltando a ele.
— Você vai precisar de mais pra se livrar de mim — Ele disse abrindo os olhos lentamente — Sorri, mas disfarcei quando ele cravou aqueles olhos em mim.
Olhos que eu apreciava agora.
— Você é insuportável até pra morrer — Falei.
— Estava chorando? — Ele apertou minha mão e foi quando eu percebi que ainda estava unida a sua.
— Claro que não — Tentei puxar minha mão de volta pra mim, mas ele a segurou. Levemente, mas senti sua resistência a soltar.
— Não é assim que eu quero você chorando — Ele já está voltando a falar besteiras, já deve estar ótimo.
— Rodrigo...
— Isso que aconteceu me fez pensar ...
— Você acabou de acordar — Me levantei — Não deveria nem estar tagarelando assim.
— E eu não vou, esses remédios me deixam acordar e eu volto a dormir de novo. Ainda dói bastante.
— Tá vendo? Então, você deveria calar essa boca e descansar
— Então por que você não me ajuda? — Puxou minha mão que ainda estava unida a sua. Foi um puxão leve, mas o suficiente para me fazer ficar bem próxima a ele.
E como ultimamente minhas pernas fraquejavam perto dele, tive que me encostar na cama. Minha mão livre estava ao lado de sua cabeça, meus olhos nos seus olhos. Nossas respirações em sincronia.
— O que você está pensan...
— Eu já pensei muito e toda vez que eu pensava, eu só pensava em você. Eu só conseguia ver você, quando achei que fosse morrer naquele carro — Sua mão apertou a minha — Quando eu vi você desesperada, enfrentando seu medo de direção, quando achei que nunca mais veria você...
— Rodrigo...
— Eu sei, você não precisa dizer nada, mas eu só quero te pedir uma coisa — Meu olhar desviou para seus lábios próximo a mim.
Eu não deveria, mas meu corpo não costumava a agir com sensatez.
— Quero um beijo seu — O encarei, minha voz presa na garganta — Um beijo de verdade e não um para disfarçar, pra fugirmos de uma situação comprometedora.
— Eu...
Eu não deveria, mas por mais que eu soubesse disso meu coração acelerava a cada pensamento em expectativa, meus lábios formigavam e minhas pernas pareciam não sustentar mais meu corpo. Eu sabia que iria me arrepender, muito, por todos os dias depois de ceder, mas o que era mais um arrependimento em meio a tantos outros.
Deixei um beijo em sua testa, em seguida na ponta de seu nariz.
— Não que eu esteja reclamando, mas eu queria um outro tipo de beijo — Ele disse risonho
Revirei os olhos, encostei nossos narizes e fechei os olhos quando meus lábios roçaram os dele. Senti meus lábios formigarem em expectativa e meu coração acelerar, colei nossos lábios suavemente.
Acabei pensando em todas as formas de que isso acabaria mal, mas quando ele pediu permissão com a língua e eu a cedi sem qualquer contestação, eu sabia que eu poderia pensar nisso depois.
O beijo suavemente logo se tornou mais selvagem. Nossas línguas brigavam por domínio, sua mão apertava a minha e em algum momento minha mão livre foi parar eu seus cabelos, eu sabia que precisava ir devagar e que logo o ar faria falta. Mas eu tinha medo de que quando eu parasse, eu quisesse mais.
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