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Irmãs, afinal

•Carol•


— O quê?

Eu já havia pensado nisso, mas ouvir a Eva dizer aquilo com tanta certeza...

— Eu sei, parece loucura, mas nem tanta se você levar em conta nossa semelhança, e...

— Eva... Você...

— Eu sei, mas você vai entender assim que eu explicar.

— Por favor — Resmunguei quando ela se preparou para falar.

— Quando cheguei eu estava angustiada e entrar aqui me trouxe inevitáveis lembranças da minha mãe, então eu fui até o quarto dela pra finalmente arrumar as coisas dela. Até que eu encontrei uma coisa.

Eva estava com um brilho no olhar enquanto falava e eu não conseguia decidir se isso me assustava ou me confortava, mas continuei a prestar atenção em tudo que ela dizia.

— A minha mãe tinha um diário, um diário secreto que eu nunca soube da existência.

— E o que tem nele? — A curiosidade começava a tomar conta de mim

— Eu não terminei de ler porque você chegou, mas li o suficiente pra dar certeza as minhas suposições. De que somos irmãs — Eva sorriu. Um sorriso genuíno. Mas eu não queria criar esperanças.

Junto com a possibilidade de sermos irmãs vinha uma enxurrada de preocupações.

— No diário ela fala sobre o dia em que me adotou, eu nem sabia que era adotada — Se a Eva era, então era provável que eu também fosse.

Não duvido muito que minha mãe, não seja minha mãe. Ou que ela não abandonaria uma filha no mundo caso tivesse.

— E como isso faz você ter certeza de que somos irmãs?

— Além disso, ela fala sobre uma prima do meu pai, Teresa, o nome — Disse ao confirmar assentindo — Ela sabendo da dificuldade dos meus pais terem um bebê, uma noite de muita chuva, vale ressaltar, a Teresa ligou para o meu pai e contou que gêmeas haviam sido deixadas na porta do convento onde ela vivia. Então os meus pais foram até lá, eles adotariam as duas.

— Mas... Sabemos que não aconteceu. Afinal, você e eu... — Senti um aperto no peito ao dizer — Você e eu não crescemos juntas. O que foi? Eles não me quiseram? — Um sentimento de raiva pela possível rejeição me dominou.

— Não. Não — Eva se apressou em dizer — Por causa da chuva eles só puderam sair no dia seguinte. Quando eles chegaram lá... só havia uma de nós.

— Você... Então, quer dizer que a tal Teresa me vendeu?

— O quê? Por que ela faria isso?

— Sério, Eva? — Ri, mas na verdade eu queria ter essa Teresa cara a cara agora e tirar toda essa história a limpo. — Nem todo mundo tem um bom coração, na verdade a maioria das pessoas só pensam em si mesmas.

Eu era um exemplo disso. Pelo menos até a algum tempo atrás.

— Você acha que...

— O que a sua mãe disse? No diário

— Eu...

— O que ela disse, Eva?

— A Teresa disse pra eles que... a outra bebê não sobreviveu a chuva — Senti meu corpo desabar no sofá.

Eu nem conhecia essa mulher e eu a odiava. Como ela pôde separar duas crianças? Duas irmãs?

— Ela separou a gente — Eu estava a ponto de chorar, de raiva principalmente, mas não faria — Ela separou a gente, Eva. Nós podíamos ter crescido juntas, você e eu. A sua mãe queria isso, era o que a gente merecia — Eva se aproximou para me abraçar, mas eu recusei — Talvez se... Se tivéssemos estado juntas todo esse tempo, talvez eu não fosse uma pessoa tão ruim

— Você não é ruim

— Eu sou sim! Você não me conhece, Eva e a culpa é dela. Essa Teresa. Seja ela quem for e onde estiver, ela vai se arrepender do que fez.

— Carol, estamos aqui agora — Eva segurou minhas mãos, sorrindo — Temos tempo e mesmo tendo sido de um jeito errado e confuso, nós nos encontramos e pudemos nos conhecer. Não vamos deixar o erro dela, estragar isso — Eva me abraçou e eu retribuí.

Mas o pensamento de ir atrás dessa mulher não saiu da minha cabeça e não sairia até que eu tivesse feito. Eu agora tinha um objetivo.

— Tenho que te contar uma coisa. — Disse quando nos afastamos.

— Não sei se eu aguento mais alguma informação depois de tanta coisa hoje — Riu, mas eu continuei séria — O que aconteceu?

— Lembra quando eu te disse que eu me envolvi em um problema e por isso você não poderia voltar pra sua casa? — Ela assentiu.

Então comecei a contar sobre quando iniciei nos jogos e quando fiquei tão obcecada que comecei a perder não só o dinheiro, mas também parte da razão.

— Hoje, ou melhor, ontem, era o último dia que eu tinha pra fazer o pagamento...

— Carol, mas — Me interrompeu — por que você não foi até sua casa ou... Ou me pediu pra pegar o dinheiro em seu lugar?

— Eu não podia, Eva. E se eu saísse daqui e eles viessem atrás de você pensando ser eu? E era dinheiro demais para eu simplesmente ir e pegar em casa, iam querer saber pra quê tanto, mas não se preocupe. Eu vou cuidar de tudo.

— Não parece que está dando muito certo — A encarei séria pela repreensão.

— Vai deixar eu contar ou não? — Ela fez um sinal para que eu continuasse — Então eu fui até lá pra jogar e tentar recuperar o dinheiro, mas a sorte não é minha amiga já tem um tempo —  Dei de ombros — Porém, infelizmente você tem um amigo intrometido o bastante pra se intrometer não só na sua vida, como na minha também.

— Ele é ótimo com jogos desse tipo, ele contou pra você sobre a mãe dele, não foi? Ela era uma ótima jogadora e ensinou tudo pra ele, mas um dia ela acabou se empolgando demais e ficou numa situação parecida com a sua, mas infelizmente ela não tinha uma amigo intrometido pra ajudar ela — Seu semblante ficou triste — E desde então o Rodrigo odeia jogos e falar sobre a mãe dele. Me surpreende ele ter ido até um lugar assim — Disse pensativa — Na verdade, só uma coisa me faz pensar que ele faria tal coisa — Sorriu para mim. Um sorriso que beirava a malícia.

Mas então era por isso que ele ficou tão bravo quando tentei tocar no assunto da mãe dele. E agora eu sei também porquê aquele idiota resolveu me ajudar

— Esse seu sorrisinho vai sumir assim que eu te contar onde ele está agora — Rapidamente ela ficou seria.

— O que aconteceu?

— Seu amiguinho foi dar uma de herói, salvador da pátria e acabou levando um tiro — Resolvi omitir a parte em que foi no meu lugar.

— O quê? Onde ele está? Ele está bem? — Ela se levantou

— Senta! Acha que eu estaria aqui se ele estivesse morto? — Ela relutou em se sentar, mas acabou cedendo.

— E onde ele está? — Soou preocupada

— No hospital, mas ele já está fora de perigo. — Ela respirou aliviada — Só o cérebro dele que parece que faltam algumas peças, já que ele não tem falado coisa com coisa.

— Eu quero ir ver ele. — Ela se levantou, de novo

— Nós vamos. Mas primeiro eu preciso dormir, sério, o meu dia não foi nada fácil e nesse momento ele vai estar dormindo também depois de tanto remédio

— Mas...

— E não vamos poder ver ele de qualquer forma. Está fora do horário de visitas — Bati o dedo indicador no relógio — Então a gente pode descansar e ver ele na primeira hora amanhã ou ficar que nem zumbi na sala de espera daquele hospital e ele vai levar um susto assim que ver nossa olheiras idênticas — Ela riu

— Certo. Você me convenceu, mas vamos ver ele amanhã na primeira hora.

— Prometo. E eu também quero saber o que aconteceu na casa dos Monteiro — Bati meu ombro levemente contra o dela — Pra você ter vindo se refugiar aqui.

— Melhor deixar pra amanhã — Fomos em direção as escadas. — A gente pode dormir na minha cama.

— Na verdade, aquela cama agora é nossa.

— Ah, é mesmo? — Rimos.

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