Festa - Parte II
•Eva•
Os preparativos para a festa estavam a todo vapor. Eu nunca tinha visto uma organização assim, havia gente por todo o lugar daquela casa, tanto por dentro quanto por fora. A única vez em que eu tinha participado de uma organização de uma festa, foi quando minha professora da 4° série fez aniversário e todos da turma se juntaram pra trazer um bolo e encher balões... Obviamente foi um desastre, mas ela amou.
Todas as minhas festas de aniversário eram festas surpresas - óbvio que eu sabia - desde os meus oito anos eu tinha que fingir surpresa. Minha mãe sempre ficava animada demais e ela nunca conseguia tirar a mancha do glacê do bolo do canto da boca, então era assim que eu sabia.
Sorri involuntariamente ao lembrar dela. Automaticamente estava com a mão no cordão que havia se tornado parte de mim, desde que o coloquei nunca mais tirei.
— Acho que esse seu sorriso não vai durar muito — Amália se aproximou, ficando ao meu lado no topo da escada.
— O que quer dizer? — A encarei
— Sabe que a Suzana vem, não sabe? — Sim, eu sabia, mas eu nem a conhecia, então não tinha importância alguma — Sabe que mesmo estando casada com o bobo do Alex, ele ainda gosta dela.
Eu sabia que a Suzana era uma ex noiva dele, mas se ele gostava tanto dela, então por que ainda estar casado com a Carol? E dizer pra mim que queria consertar o casamento dos dois?
— Amália, deixe de suas intrigas — Amanda apareceu logo atrás da irmã — Você não tem nada melhor pra fazer não?
— Não, por que? — Amália disse, ficando de frente para a mais velha.
— Ao menos uma vez na vida, haja de acordo com a idade que você tem. Não somos mais crianças. Hoje é aniversário do Alex, então não faça nenhuma bobagem. Sei o quanto é difícil pra você, mas tenta — Deu leves tapinhas no ombro da irmã que saiu furiosa.
— Ela é sempre assim? — Amanda me encarou com as sobrancelhas erguidas, parecendo surpresa pela minha pergunta, mas deu de ombros e assentiu — Desde que nasceu, mas só piorou quando nossos pais morreram.
Era óbvio que essa era uma informação que a Carol sabia sem sombra de dúvidas. Estava nítido que a Amanda sabia que eu não era a Carolina, ela só não sabia como expressar sem parecer que não estava falando uma loucura.
— Vamos, tenho que te mostrar uns vestidos — Uniu seu braço ao meu — Tem um vermelho que acho que vai ficar perfeito em você.
*
O dia havia passado mais depressa do que normalmente acontecia. Eu estava nervosa, mas não sabia o porquê.
Me ver naquele vestido tão glamouroso me dava frio na barriga, não parecia feito pra mim. Mas ali estava, no meu corpo.
Eu estava terminando de me maquiar - coisa que eu não sabia fazer a um mês atrás - quando a porta foi aberta atrás de mim, nem me incomodei por ser sempre a Amanda quem faz isso, assim como o Rodrigo fazia. Porém um perfume diferente se instalou no quarto, me fazendo olhar para trás.
— Trouxe algo pra você — Alexandre se aproximou com uma caixa em mãos.
Ele estava tão bonito. Era inegável. Mesmo assim todas as vezes eu repreendia tais pensamentos. Eu não podia.
— O aniversário é seu e eu quem ganho presente? — Girei meu corpo, voltando totalmente pra ele. Ele apenas deu de ombros sorrindo.
— Quando bati os olhos nesse colar, foi impossível não pensar em você — Disse ajoelhado na minha frente.
Parecia até um pedido de casamento de novela.
Apenas esperei que ele abrisse a caixa, na verdade, não tive nenhuma reação que me permitisse fazer algo.
Era um belo colar, o mais chique que eu já tinha visto. Era todo feito de prata, várias pedras que com certeza eram de verdade, rubis e diamantes se entrelaçavam fazendo formar flores em todo colar, exceto no final onde havia apenas espaço para o fecho.
Pensei em não aceitar, mas não era um presente para mim.
— Vejo que gostou — Ele sorriu, um belo sorriso — Posso? — Assenti ficando de costas pra ele e de frente para o espelho enquanto ele fechava o colar — Sabia que ficaria perfeito em você.
Era um belo reflexo. Acho que qualquer pessoa que visse aquela cena, pensaria que somos um casal, um belo par. Eu mal conseguia olhar para o colar em meu pescoço. Era estranho o quanto seus olhos sempre me fascinavam.
— Não pense que estou tentando comprar você para que façamos uma imagem perfeita na frente de todos hoje — Olhei para ele quando o mesmo se sentou ao meu lado e pegou minhas mãos entre as suas — Eu quero mesmo que você possa voltar a confiar em mim de novo e que possamos acertar as coisas.
E novamente aquelas palavras não eram pra mim. Eu mal sabia o que fazer. Não sabia se a Carol queria o casamento dela de volta ou... Ou não. O que eu sabia, era que alguma coisa estava acontecendo comigo e eu não poderia deixar. Não mesmo, em hipótese alguma.
Não era como se eu estivesse apaixonada ou algo assim, mas era um sentimento que parecia me confortar, mas eu não podia me deixar enganar. Sentimentos são traiçoeiros, um dia você os comanda e no outro vira refém.
Ele estava tão próximo a mim que eu já nem conseguia dizer qual respiração era a minha e qual era a dele. Inclinei a cabeça delicadamente e deixei um beijo em seu rosto, era melhor não dar espaço para confundir as coisas.
— Obrigada — Toquei o colar — Mas acho que não seja de bom tom deixar seus convidados esperando — Ele assentiu, tocando o rosto onde eu o havia beijado e saiu.
Algum tempo se passou e eu ainda não havia saído do quarto. Mas podia ouvir bem o barulho do lado de fora, as pessoas pareciam estar se divertindo e eu ainda me perguntava se deveria.
Quando finalmente tomei coragem para sair, uma pessoa inesperada entrou. Não pensei que fosse ver a Carol ali, quando a vi um sentimento bom se apossou de mim. Eu gostava da companhia dela e o sentimento parecia crescer cada vez mais, e esse era um ao qual eu não queria controlar.
Quando ela me contou que o Rodrigo estava ali, eu olhava a todo momento para todas as partes daquela casa em busca dele, eu não conseguia vê - ló, mas durante um momento eu senti seus olhos sobre mim. Ou talvez fosse só a saudade que eu sentia dele me fazendo criar coisas.
Quando cheguei ao topo da escada principal da casa, observei que colada ao Alexandre estava uma mulher muito bonita, a Suzana.
Era impossível esquecer dela quando se via a primeira vez. Ela era ainda mais bonita pessoalmente, com seus longos cabelos ondulados e castanhos e sua pele lindamente bronzeada. Mas assim que o Alexandre me viu no todo da escada ele veio até mim e todos me encararam.
Eu não era uma pessoa tímida, mas ter dezenas de olhos fixados em você, não é uma coisa muito agradável. Toda essa atenção me deixava desconfortável e parecia até que eu era a anfitriã da festa e não ele. Ele parou um degrau antes do meu e estendeu a mão. Exitante segurei sua mão e ele sorriu, me conduzindo para baixo.
— Como consegue ficar a cada dia mais bela? — Reimond perguntou. Galanteador como era seu perfil.
— Parece que é algo natural para mim — Sorri ao responder. Quando o fiz, senti a mão do Alexandre apertar minha cintura, ao qual eu nem havia notado seu toque até então.
Ele estava com ciúmes?
Mas achei que esses jogos eram naturais para eles. A Suzana flertava com ele e o pai dela com a Carol.
— Certamente — Reimond pegou minha mão, deixando um beijo na costa da mesma.
— Chega disso pai! — E pela primeira vez ouvi a voz da Suzana. Era uma voz de personalidade, combinava com ela.
Na verdade, nada nela parecia errado. Parecia tudo perfeitamente perfeito.
— Não sei pra quê a bajula tanto — Ela parecia irritada. Ou talvez, incomodada.
— O que é belo tem que ser apreciado — Ele sorriu para mim. E Suzana revirou os olhos.
Uma música suave começou a tocar e rapidamente se formaram pares.
— Alex, dança comigo? — Suzana se aproximou sorrateiramente. Parecia nem me ver ali.
— Na verdade, essa eu quero dançar com a minha esposa. — Ele se voltou para mim. Meu coração deu uma rápida batida. Merda.
— Se não for incomodo, eu reivindico a mão da minha filha — Uma voz grossa soou atrás de mim, por cima da música que agora já estava perto do refrão. Acabei dando um passo para trás quando vi de quem se tratava, consequentemente ficando mais próxima do Alexandre do que já havia estado e deveria.
O homem mais velho, vulgo, pai da Carol estendeu a mão para mim. Eu queria me recusar, mas o que diria como justificativa? Porém as palavras da Carol não saiam da minha cabeça.
"Nunca fique perto dele, principalmente sozinha e se por algum acaso ele se aproximar, se afaste"
Mas o lugar estava cheio. O que poderia me acontecer?
Ele então uniu sua mão a minha e me puxou "delicadamente" até ele. Fazendo com que ficassemos mais próximos do que era necessário.
— Você está ainda mais bonita do que quando te vi pela última vez — Sua voz soou rouca. Pela proximidade seu hálito quente passou pelo meu pescoço, me fazendo ter vontade de me afastar.
Não foi o que ele disse, mas o modo.
Seu braço se apertou em volta da minha cintura, afastando qualquer distância que ainda havia entre nós.
A luz estava baixa e sua mão tinha a mesma intenção quando começou a se mover da minha cintura para baixo, porém meu corpo reagiu o empurrando.
Eu não sabia o porquê da Carol querer distância dele, mas alguma coisa me dizia que era nele que estava o problema.
— Assustada, docinho? — Ele sorriu. Não um sorriso amoroso de pai. Um sorriso perverso, de um homem perverso.
Eu estava realmente nervosa, estar perto dele tinha se mostrado ser uma coisa totalmente desagradável. Eu sabia que precisava sair dali.
De repente a sala ficou cheia demais e estava começando a me sufocar. Estava impossível achar a saída daquele lugar e minhas pernas pareciam que iam parar a qualquer segundo.
Em uma das falhas tentativas de chegar até a escada me esbarrei com alguém e se o mesmo não me segurasse eu iria direto para o chão.
— Ei, você está bem? — Foi quando escutei a voz do Alexandre que encarei quem me sustentava de pé, com o braço em volta da minha cintura.
A luz ainda estava baixa, mas eu conseguia ver seus olhos claramente. Ele tinha algo que eu não conseguia explicar no olhar e de algum modo aquilo parecia me acalmar. Neguei lentamente com a cabeça para sua pergunta e então ele colocou sua mão sobre minha nuca e levemente guiou minha cabeça até seu peito.
Soltei um suspiro de alívio quando o fez. Meus braços se cruzaram em volta do seu corpo e os seus ao meu, em forma de proteção. Eu mantia os olhos fechados e notei que a música havia mudado e estávamos balançando no ritmo dela. Meu coração também parecia seguir o mesmo ritmo.
Não apenas o meu, mas o dele também. Eu podia ouvir perfeitamente, já que estava bem próxima.
— Não se preocupe querida eu estou aqui — Sua cabeça encostou na minha — E eu nunca mais vou deixa - lá. É uma promessa.
Eu não deveria, mas me deixei confortar por aquelas palavras. A todo momento eu me fazia lembrar de que aquelas e qualquer outras palavras que viessem dele não eram para mim, mas as vezes parecia não adiantar, como agora.
Algum tempo se passou desde que dançamos juntos, mas depois de tal. A mão do Alexandre estava sempre entrelaçada a minha. O que de certa forma me fazia sentir segura.
Mas eu ainda conseguia sentir o hálito quente dele no meu pescoço e a sensação de incômodo no meu corpo. E só de lembrar me dava arrepios.
Alexandre de repente pediu silêncio. Eu não sabia o que ele faria, mas parecia que eu fazia parte da surpresa já que o mesmo piscou para mim.
— Antes de mais nada, quero agradecer essa festa maravilhosa que foi muito bem proporcionada pela minha incrível irmã — Puxando Amanda para seu lado, afastando a Suzana dele — E a minha apaixonante esposa — Sorriu para mim — Quero agradecer a presença de todos aqui....
E enquanto ele falava eu só conseguia observar o quanto a Suzana não desgrudava os olhos dele. Talvez ela nunca tenha superado o fim do relacionamento deles - eu pensava - também não sei como tudo acabou, mas ela parecia não querer esconder o quanto queria o Alex e ele... Bem, quando a Carol me contou sobre ele, parecia que ele mantinha algum tipo de relacionamento com a ex... Mas agora... Talvez eu esteja enganada e ele só tenha se afastado dela publicamente.
— ...Você aceita? — Foi o que eu ouvi quando voltei a mim. Todos me encaravam com expectativa, incluindo o Alex e eu nem sabia sobre o quê ele estava perguntando.
Então eu apenas sorri e afirmei com a cabeça, esperando que pra pergunta dele a resposta fosse: sim ou não.
Então ele se aproximou e uniu nossos lábios. Eu estava sem reagir, várias pessoas começaram a aplaudir e enquanto eu mantinha os olhos abertos um olhar furioso caia sobre mim, na verdade dois. Um par de olhos castanhos que pertenciam a Suzana e o outro par de verdes penetrantes, que pertenciam a Amália, esses olhos com certeza era uma coisa de família.
Preferi encarar o beijo ao encarar os olhares nada amigáveis delas.
A mão do Alex apertou mais minha cintura quando por completo impulso do momento deixei minha língua se aprofundar sobre a dele sem pedir permissão, era para ser um breve beijo, mas quando me dei conta já estava sem ar. Foi quando quebrei o contato, então os aplausos já haviam cessado, a música voltado a tocar e eu estava ali, com os olhos fechados e a testa encostada na dele, enquanto recuperava meu fôlego.
Quando abri meus olhos ele já me observava. Eu não queria admitir, mas eu gostava de admirar seu olhar, o quão perdida eu ficava era sem igual. Ele sorriu e acariciou meu rosto com o polegar, antes de deixar um beijo na ponta do meu nariz.
*
Todos os convidados já haviam ido embora, apenas os mais próximos ainda se despediam do Alex que ainda estava do lado de fora. Eu havia acabado de me despedir da Amanda, que me contou brevemente que já sabia que eu não era a Carol e me deixou advertida que amanhã teríamos uma conversa sobre isso. Eu não estava preocupada, sabia o quanto a Carol confiava nela, além do mais, seria bom ter alguém pra quem eu não precisasse fingir o tempo todo.
Eu ainda estava lentamente subindo as escadas, quando avistei uma sombra atrás de mim.
— Eu sinceramente acreditei que o casamento de vocês não duraria — Suzana disse se aproximando de mim — Acreditei nas palavras dele — Ela riu sem humor — De novo!
Quando ela se aproximou ainda mais, pude notar o quão bêbada ela estava. Mas eu não duvidava do que ela dizia, afinal, bêbados são mais sinceros que os sóbrios.
— Eu acho que você não deveria ficar no meio dessa escada sozinha, vem, eu ajudo você — Tentei me aproximar dela, mas a mesma me afastou
— Não se faça de boazinha comigo, Carolina. Sabemos que se pudesse me jogaria escada abaixo — Neguei com a cabeça.
A Carol faria?
— Não diga bobagens — A repreendi — Ande, vamos eu te levo pra cima — Ela acertou um tapa na minha mão quando me aproximei novamente
— Na verdade, você vai me ajudar a chegar lá embaixo — Ela sorriu. Um sorriso assustador. E então ela caiu... Ela se jogou .
Foi tudo tão rápido. Em um momento ele estava na minha frente e no outro estava caída no final da escadaria. Eu estava imóvel sem saber o que fazer, eu estava em choque.
Então eu ouvi passos. Com certeza o barulho da queda foi mais alto do que eu percebi. Eu ainda estava imóvel, mal conseguia mexer os olhos, mas foi quando eu percebi o Alex na entrada de casa. Seus olhos se fixaram em mim e depois no corpo caído da Suzana, se dividiram entre nós duas por um tempo.
Até que ele foi desesperadamente... Até ela.
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