Festa - Parte I
Carol
Agora com a certeza de que eu realmente tinha um prazo a cumprir, as coisas pareciam ainda piores. Cinco dias... Eu precisava de uma solução o quanto antes ou eu morreria sendo, Eva Campos.
Sai de meus pensamentos quando meu celular começou a tocar. Era a Eva. Parece que os pensamentos realmente atraem.
— Você o quê? Calma, Eva — Falei baixo para que o Rodrigo não escutasse.
Ele estava na sala, limpando a bagunça dos cacos de vidro. E eu já deveria ter ido embora.
— Eva! Agora como acha que vou conseguir apagar isso do celular dele? — Me sentei. Como se tudo já estivesse fácil, agora eu tinha a missão de apagar o convite da festa do Alex, do celular do Rodrigo.
Do jeito que ele quer a Eva de volta, seria bem capaz dele ir atrás dela.
— Certo. Não... Nem que eu tenha que acorrentar ele ao pé da cama, não quero nem imaginar o que aconteceria se ele aparecesse aí e dissesse tudo. Está bem. Se cuida. — Desliguei o telefone.
Ótimo. Agora como eu pegaria aquele celular?
Aproveitei que estava com meu celular em mãos e dei uma olhada no convite.
— Baile de máscaras — Inclinei a cabeça — Ótimo tema.
Segui rumo a sala. Eu precisava pegar o celular do Rodrigo e apagar isso o quanto antes, não posso deixar que ele se meta onde não deve. Quando cheguei na sala ele estava pondo o porta retrato de volta no lugar.
De repente eu quis saber sobre a moça da foto. Ela ainda não me era estranha, mas eu realmente não sabia o porquê da sensação.
— Muito bonita — Disse próxima dele.
— Só ela? — Ele sorriu
— Não seja palhaço — Lhe dei um tapa no braço com a mão boa — Quem é? — Ele se sentou pegando o porta retrato de volta e eu o acompanhei.
— Sério? — Me encarou — Sempre me disseram que eu era muito parecido com ela.
— É a sua mãe? — Ele arqueou as sobrancelhas — Bem que achei o sorriso parecido — Passei o dedo pela foto — Posso? — Ele a me entregou — Onde ela está? Eu nunca a vi e você também não fala dela.
— Primeiro — Ele pegou a foto da minha mão e pôs de volta em seu devido lugar — Não tenho muito o que falar sobre ela e muito menos com você — Por algum motivo aquilo me incomodou. Não deveria, mas incomodou.
— Por que está falando assim? — Me levantei ficando próxima a ele — Se falar dela é um assunto delicado pra você, tudo bem. Mas não precisa falar desse jeito — Ele passou a mão no rosto, nervoso — Eu nem deveria estar mais aqui, com licença — Antes que eu pudesse sair, ele me puxou pelo braço. Fazendo com que ficassemos a centímetros de distância.
Por um curto período de tempo me deixei levar pela imensidão que havia se tornando os olhos dele, era estranho, pois em algum momento e eu não sabia qual, estar tão perto dele se tornou diferente.
— É só que... — Ele se afastou um pouco — É difícil pra mim falar sobre ela.
— Tudo bem, eu que não deveria ter insistido — Ficamos em silêncio por tempo demais, apenas encarando um ao outro — Eu vou indo. Tenho que por a cabeça pra funcionar — Dei de ombros — Se ainda quiser continuar com ela — Murmurei ao sair, sem olhar para trás.
*
Quatro dias se passaram e eu não tive como pegar o celular do Rodrigo e eu estava começando a ficar preocupada. Ele não veio até aqui desde o dia em que estive na casa dele e eu... Bem, eu não saí mais de casa. Eu mal conseguia dormir, a sensação de que eu estava ficando sem tempo, estava me sufocando.
A sensação que eu tinha era que eu estava em uma ampulheta e não faltava muito para a areia me cobrir a cabeça. Por outro lado eu não conseguia parar de pensar no que deveria estar se passando pela cabeça do Rodrigo, desde que ele viu aquele maldito convite. O que obviamente já deveria ter acontecido, se contar o tempo que ele recebeu.
Eu precisava impedir que ele fosse até lá, isso estava mais do que claro para mim, se ele estava me evitando era porquê estava tramando alguma coisa. E eu não posso deixar, não posso deixar ele colocar tudo a perder. Não agora.
Quando dei por mim já estava batendo na porta do Rodrigo. Bati várias vezes, cheguei a pensar que derrubaria a porta antes que ele viesse abrir, demorou tanto que eu já estava pensando o pior, porém a maçaneta girou e eu me permiti respirar de novo.
— Eva, está tudo bem? — Tomas se dirigiu gentilmente a mim. Pelas roupas e pela cara dele, ele já estava dormindo, pelo menos antes de eu quase derrubar a porta.
— Isso vai depender do que me responder, onde está o Rodrigo? — Perguntei sem ter certeza de que queria ouvir a resposta.
— Ora! Ele saiu todo bem vestido, achei que tivesse ido a alguma festa com você.
— Bem vestido quanto?
— Até demais. O que aconteceu, ele está bem? — Começou a se preocupar.
— Ele ainda está, mas quando eu encontrar ele... — Murmurei — Claro! Que cabeça a minha — Sorri para disfarçar — A gente tinha combinado de ir juntos, mas eu me atrasei e ele acabou indo na frente. Não se preocupe — Segurei sua mão — Vou cuidar muito bem dele — Nos despedimos e ele voltou para casa. — Maldito idiota! Eu acabo com você Rodrigo, acabo!
Disse enquanto voltava pra casa e decidia o que vestir, pois agora eu teria que ir a essa festa a todo custo.
*
Era estranho voltar a minha casa depois desse tempo longe dela. Nunca pensei que pisaria aqui nessas circunstâncias. Tudo por culpa daquele imbecil.
Graças ao convite entrei sem nenhum problema, fiz questão também de vir com uma máscara que cobrisse o máximo possível do meu rosto, diferente do meu vestido preto de alças finas comprido que vinha com uma enorme fenda na perna direita. Era o charme.
Agora eu estava na propriedade e precisava encontrar a bomba antes que ela explodisse.
A festa era tanto do lado externo, como no lado interno da casa, o que dificultaria ainda mais a minha busca. Ele poderia estar em qualquer lugar e no meio de qualquer um, muita gente já estava lá, com os olhos busquei pela Eva, mas não a vi em lugar algum, espero que não esteja com problemas.
Depois de ficar procurando por ele do lado de fora e não encontrar nada, resolvi entrar, ele só poderia estar lá dentro e isso com certeza não era bom.
Ao pisar ali pensei que sentiria falta de estar naquele lugar, mas foi muito pelo contrário. Assim que entrei meus olhos se fixaram imediatamente no Alex, era difícil não ver ele. A beleza dele chamava atenção por onde quer que ele passasse, fiquei mais tempo do que deveria o observando, como ele pousava para as fotos e sorria para os convidados, até a Suzana se agarrar a ele e meu antigo desconforto se apresentar. De um jeito diferente, mas ainda estava lá.
— Intrometida — Revirei os olhos quando ela se agarrou a ele. Diferente das outras vezes ele parecia incomodado com a presença dela, mas isso não era um problema meu, pelo menos por enquanto, agora eu tinha outro problema com nome e sobrenome.
Me virei as pressas para voltar a procurar pelo Rodrigo que me bati de vez com alguém que vinha na minha direção.
— Mas que mer... — Sacudi as mãos molhadas de champanhe que caiu sobre mim na hora do choque, mas me contive quando vi quem esbarrou em mim.
Ela me olhou fixamente, exatamente olhou em meus olhos. A sala estava tão iluminada que não era muito difícil para quem realmente me conhecia, me reconhecer mesmo sob a máscara.
— Eu com certeza posso explicar, mas não aqui! — Disse a puxando antes que a mesma falasse alguma coisa que não deveria.
— Nem sei o que perguntar primeiro — Amanda disse quando fechei a porta do escritório atrás de mim.
— Então é melhor pensar rápido, porque eu não tenho muito tempo — Falei retirando a máscara e ela fez o mesmo me analisando por um tempo.
Antes que qualquer pergunta pudesse ser feita, ela quebrou a distância que ainda havia entre nós e me abraçou. Um abraço que a muito tempo não era dado. Eu prontamente retribui, pois assim como ela, sentia falta.
— Eu iria dizer que você parece diferente, mas tenho visto muito uma versão de você ultimamente — Disse ao nos separarmos.
Então ela realmente sabia.
— Como está a Eva?
— Então, Eva é o nome dela?
— Sim — Sorri
— Vocês são... Irmãs? — Hesitou em perguntar — São tão idênticas... Fisicamente
— Não sei, possivelmente... Mas ainda não tive tempo para investigar isso — Não com os problemas que eu ando tendo — Mas ela está bem?
— Você se importa mesmo com ela não é? Nunca te vi assim, tão preocupada com alguém.
— Não fale desse jeito — Lhe dei um tapinha de leve — Parece que sou um monstro.
— Você me entendeu
— Mas, sim. Me importo com a Eva mais do que pensei que fosse capaz — Puxei uma das cadeiras e me sentei, Amanda logo repetiu meu gesto.
— O que está acontecendo? Digo, por que ela está aqui? E por que você está aqui agora? — Respirei fundo
— Longa história que eu prometo que vou te contar, mas o que eu posso dizer agora é que... Eu estou envolvida em um problema e não posso deixar a Eva voltar pra vida dela até estar tudo resolvido, então eu tenho que te pedir um favor — Ela me encarou atentamente esperando eu prosseguir — Cuida bem dela pra mim? — Nesse momento senti meus olhos marejarem — Promete pra mim? Que vai cuidar dela... Como eu sei que cuidaria de mim — Seus dedos tocaram meus rosto, secando as lágrimas que eu mal senti cair.
— Eu prometo — Sorri agradecida — Mesmo sem entender o motivo. Você fala como se alguma coisa estivesse prestes a acontecer com você — Eu balancei a cabeça, negando. Não poderia em hipótese alguma preocupa - lá.
— Está tudo bem — Menti — Mas agora eu preciso te pedir outro favor.
Resumi a história contando a ela sobre o Rodrigo e como ele se encaixava nessa história toda. Agora mais ainda eu precisava encontrar e tirar ele daqui.
Resolvemos nos dividir, Amanda o procuraria no andar de baixo já que seria mais fácil de alguém se esbarrar em mim e eu cuidaria do segundo andar.
— Obrigada! — Voltei a colocar a máscara
— Não pense que acabou — Ela me abraçou — Você ainda vai me contar direitinho toda essa história.
— Prometo — Fiz um X com os indicadores e estralei um beijo.
Saí do escritório primeiro e me direcionei para as escadas, se ele estivesse lá encima, eu iria encontrar. Quando cheguei no topo, peguei o corredor da esquerda, era por ali que ficava o meu quarto.
Assim que cheguei perto da porta, a mesma foi aberta e de lá saiu uma Eva que eu pensei que jamais veria. Ela usava um vestido vermelho longo com uma fenda - mais discreta que a minha - e detalhes rendados na longa manga do vestido que cobria até seus punhos.
— Uau! — Ela se assustou ao ouvir minha voz.
— O que faz aqui? — Me puxou para dentro do quarto.
— Vim fazer uma visita? — Sorri nervosa — Certo, sem brincadeiras — Tranquei a porta — O idiota do seu amigo veio até aqui, então tive que vir atrás dele.
— O Rodrigo? — Soou surpresa
— Se você tiver outro por favor me avisa — Revirei os olhos.
— E onde ele está?
— Acha que eu sei? Mas mudando de assunto... Você está tão linda — Peguei sua mão fazendo ela dar uma voltinha.
— Mesmo? — Soou insegura
— Mesmo! E esse colar? Ficou perfeito em você — Ela tocou o mesmo — Vai ter que me emprestar um dia — Sorri — E agora é a hora que você também me elogia, onde estão seus modos? — Ri
— Claro que você está perfeita — Retirou minha máscara — Melhor assim — Sorriu e me abraçou.
Um abraço forte e que eu não esperava, mas que talvez eu precisasse. Demorei alguns segundos para raciocinar e quando ela estava prestes a me soltar, apertei o abraço. Eu não deveria, mas eu estava começando a me importar demais com a Eva. Eu estava me apegando a ela.
— Certo — Disse quebrando o contato — Agora eu tenho que encontrar seu amigo idiota, antes que ela faça alguma besteira.
— Não fala assim dele — Pediu
— Outra coisa — Ela me encarou atenta — A Amanda sabe.
— Eu disse pra você... Mas espera, vocês se viram? — Assenti — Você... Contou tudo pra ela?
— Ainda não, mas não posso deixar ela sem saber, ainda mais agora que ela sabe que o Rodrigo sabe.
— Contou pra ela, sobre ele?
— Mais um par de olhos me ajudando a encontrar ele — Dei de ombros — Agora eu preciso ir, mas antes — Parei antes de abrir a porta — Você está bem?
— Podemos nos encontrar para conversar sobre, o que acha?
Eu queria muito dizer que sim, mas eu não fazia idéia do que seria de mim amanhã. Eu não tinha conseguido o dinheiro e só me restaram 24hs até o meu prazo acabar e a única certeza que eu tinha era de que eu não poderia colocar a Eva em risco por uma coisa que eu fiz. Então me limitei a sorrir.
— Acho perfeito — Concordei.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro