É porquê somos irmãs
•Eva•
Eu estava mais afetada do que pensei que realmente ficaria. Eu simplesmente não conseguia entender o tipo de relação que o Alexandre tinha com a Suzana.
Eles eram ex - noivos, ponto. Porém muitas vezes pareciam amantes e mais ainda, ligados um ao outro.
Talvez ele a ame.
Que a Suzana o ama ou gosta muito dele isso é inegável, talvez ela até goste demais. Tanto, ao ponto de fazer loucuras por esse sentimento. Eu que com toda certeza comecei a confundir as coisas.
Eu estava furiosa comigo mesma, por ter me deixado levar tanto. E eu estava com raiva do Alex, então resolvi evitar ele.
O único lugar que eu sabia que poderia ir e que não seria encontrada, seria em casa.
Nunca pensei que sentiria tanta falta de casa. E ainda assim, eu sentia que ainda não estava pronta pra voltar ali. Quando desci do táxi e parei em frente a porta me peguei em um dilema: entrar ou não?
Sem dar muita importância aos contras, peguei um vaso de flor onde sabia que teria uma chave reserva e abri a porta. Foi inevitável não pensar nela. Eu tinha o costume de perder as chaves de casa, então ela sempre deixava alguma onde eu pudesse encontrar.
Sequei a lágrima que rolou em meu rosto antes que outras se sentissem convidadas a participar.
Parecia que eu havia passado muito tempo fora, anos longe de casa. Estava tudo exatamente igual. Fui até a mesinha ao lado do sofá e peguei o porta retrato segurando com as duas mãos. Era uma foto de quando eu me formei na escola, minha mãe estava tão feliz. Dessa vez deixei que as lágrimas rolassem. Eu sentia muita falta dela e ver o sorriso dela novamente, mesmo que por uma fotografia, ainda me fazia querer sorrir também.
— Eu sinto tanto...tanto a sua falta — Falei abraçando o porta retrato, como se pudesse sentir ela perto de mim outra vez. Não tentei impedir as lágrimas, eu precisava mesmo deixa - las sair.
Acordei um tempo depois. Nem sequer me lembro de deitar no sofá ou quando parei de chorar, mas sentia meu rosto inchado. Significando que chorei mais do que devia, mas de alguma forma eu me sentia mais leve. Meu celular começou a tocar, então sem nem ao menos ver de quem se tratava desliguei o aparelho. Não era um bom momento para conversar com ninguém.
Deixei os saltos de lado, devolvi o porta retrato ao seu lugar e fui para o andar de cima. Desde que minha mãe morreu eu nunca mais entrei no quarto dela, na verdade o tranquei, mas estava na hora de fazer alguma coisa com as coisas dela. Comecei abrindo as janelas e segurando a forte vontade de sair correndo e nunca fazer aquilo, no fundo eu queria deixar tudo exatamente igual. Eu ainda não aceitava, mas precisava. Porquê era a minha realidade.
O sol já estava quase se pondo quando terminei de organizar as roupas e objetos para doação. Mas havia uma coisa que eu não conseguia encontrar, mas sabia que estava aqui. Havia uma caixa de madeira, onde ela guardava os álbuns de fotos, eu queria comigo. Eu já havia arrumado praticamente o quarto inteiro e nada da caixa aparecer, mas eu sabia que estava ali, eu só não estava vendo.
Sem querer deixei um frasco de perfume cair próximo a cama. Por sorte não havia quebrado, mas o som oco que ecoou me chamou toda atenção. Afastei a cama e dei leves socos ao redor de onde o frasco havia caído e sem dúvidas era um piso em falso. Comecei a mexer até encontrar qualquer ponta que me permitisse abrir e não demorou muito quando levantei o piso e vi a caixa. Sorri. Nunca pensei que ela precisasse esconder fotos. Precisei usar as duas mãos, pois a caixa era mais pesada do que eu imaginava.
Levantei a tampa da caixa e vi ali os álbuns. Foi assim que eu pude conhecer o meu pai e ele ter um rosto quando minha mãe contava como ele era, já que eu só tinha 3 anos quando ele morreu em um acidente de carro. Então tudo que eu sei sobre ele, foi o que ela me contou. Assim que comecei a tirar os álbuns vi que havia algo mais ali. Um livro? Puxei o mesmo de capa dura abrindo e logo na primeira página vi:
"Pertencente a Ana Campos"
Na página seguinte:
O dia em que tudo mudou drasticamente em nossas vidas...
Era um diário. Um diário da minha mãe.
*
"Aquela com toda certeza foi a noite mais angustiante e triste da minha vida. Lá fora chovia, como se o mundo pudesse afundar em água e dentro de casa o mesmo acontecia comigo. Era a segunda vez que eu perdia um bebê e com isso as esperanças de que um dia eu poderia ser mãe."
Deixei o diário de lado por um momento.
Ela havia perdido bebês? Mas e eu? Alguma coisa não se encaixava. Me levantei e fui até o interruptor, rapidamente a escuridão da noite se fazia presente. Acendi a luz e me sentei na cama para continuar e tentar entender o que estava acontecendo. Ou aconteceu.
"A dor parecia não passar e era ainda pior que a da última vez.
Pedro ainda não havia voltado para casa e eu não conseguia me acalmar, estava preocupada com ele lá fora, com toda essa chuva. Para acalmar a minha aflição ele chegou, completamente encharcado, um sorriso marcava seu rosto quando seu olhar pousou em mim, mas se desmanchou na mesma velocidade que surgiu quando ele leu em meus olhos as palavras que eu não consegui dizer. Então ele veio até mim, me abraçando forte.
Protegida. Era como eu me sentia quando ele me abraçava.
Muito mais tarde, naquela noite ele recebeu um telefonema. Um que mudou nossas vidas e trouxe a nossa pequena Eva para nós....
Continuei a ler o diário, ao longo das páginas tive descobertas que jamais pensei que haviam acontecido comigo e com os meus pais e o que terá acontecido com os meus de sangue? Se não fosse pelo som da porta sendo aberta no andar de baixo eu não teria parado até terminar. Então fechei - o e tranquei a porta quando saí. Quando cheguei a escada a Carol estava trancando a porta.
— Eva? — Ela parecia abatida, mais que surpresa.
— Está tudo bem? — Ela riu sem humor e balançou a cabeça e então começou a chorar.
Desde que a conheci nunca tinha visto ela chorar e pra mim ela era uma daquelas pessoas que não choram. E quando fazem, é sempre sozinho. Agora com as descobertas dos últimos minutos - ou últimas horas - eu sabia o motivo de ter sentimentos de carinho por ela.
— Ei! Está tudo bem — Fui até ela e a abracei. Ela ignorou a princípio, mas algum tempo depois me apertou forte.
— Eva, eu sou um monstro — Ela se afastou e se sentou no sofá. Me sentei ao seu lado.
— Por que está dizendo isso? — Ela parou de chorar e me encarou.
Eu podia ver que ela estava lutando entre me contar ou não. Mas era mais que isso. Era sobre se ela podia confiar em mim para se abrir comigo.
— Quando eu tinha 16, eu namorei um cara. Mais velho, ele já estava na faculdade, enquanto eu ainda estava na escola, então imagina como eu me sentia por ter um cara da faculdade afim de mim? — Ela riu sem humor algum — Eu tinha uma amiga, ela era minha melhor amiga. Ela era tão complicada que ela já tinha repetido na escola mais vezes do que eu consigo me lembrar, um dia. No aniversário dela — Sua voz começou a falhar, então segurei sua mão na minha, ela me lançou um sorriso de lado — Fomos a uma balada, eu, a Sandra e o Malcon. Curtimos tanto que eu só me lembro de sairmos de lá quando o sol estava nascendo. Eles queriam que eu dirigisse, mas eu não queria, ainda não tinha carteira e eu só tinha pego no volante duas vezes, mas eles ficaram no meu ouvido e eu percebi como eles estavam se olhando, como sorriam um pro outro. Então eu dirigi. Eu continuei ignorando todas as provocações, os insultos, tudo — Era perceptível a raiva que ela sentia a cada palavra — Mas quando eles se beijaram na minha frente. Minha única vontade era de matar os dois. Por que eles fariam aquilo comigo? A Sandra era minha amiga, minha melhor amiga e o Malcon era meu namorado, aquele maldito. Então eu bati com o carro.
— De propósito? — Soltei sem pensar
— Antes fosse. Eu tinha parado de prestar atenção na estrada. Foi assim que eu tomei pavor a dirigir, nunca mais tinha enfrentado um volante até hoje.
— O que teve hoje?
— Mas sabe qual parte da história ninguém sabe? — Continuou seu raciocínio, com o olhar longe, ignorando minha pergunta — Eu matei minha melhor amiga naquele dia, no início do dia após o aniversário dela — Ela soltou um som parecido com um riso, enquanto lágrimas caiam de seus olhos — E o fulano foi preso. Meus pais me convenceram de que era melhor por a culpa nele e foi o que eu fiz, sem o menor remorso. Por um tempo eu me perguntei se eu era um monstro, mas eu percebi que ele teve o que mereceu.
— Eu sinto muito — Apertei sua mão.
— Tem muitas coisas sobre mim que você vai acabar descobrindo e tudo bem se você me afastar. E é bom que faça ou vai acabar igual ao... Você está bem? O que faz aqui? — Mudou drasticamente de assunto.
— Eu... Tive alguns problemas, mas não é nada grave. — Ela balançou a cabeça — Mas e você, o que aconteceu? Você não parece bem.
— Não estou, mas antes quero que me responda uma coisa — Esperei que ela fizesse a pergunta — O Rodrigo me disse uma vez... Que você não estava bem, que ele queria ter certeza de que você estava como eu dizia. Ele disse que você não havia me contado — Ela ficou de frente pra mim — O que você não me contou?
— Carol...
— O que aconteceu, Eva? O que aconteceu que você me esconde?
Ela acabaria sabendo de alguma forma ou em algum momento. E agora que eu tinha coisas sobre nós duas que conversar com ela, toda a sinceridade agora seria fundamental.
— Quando você me procurou eu estava determinada a não aceitar o seu... Pedido. Mas — Minha garganta se fechou antes que eu pudesse continuar. Eu odiava o quanto era difícil dizer em voz alta uma coisa que já havia acontecido a um certo tempo — Mas dois meses depois — Continuei — Minha mãe foi até a casa de uma irmã dela, porquê ela estava doente e minha mãe se dispôs a cuidar dela e então... Um dia ela — Respirei fundo quando as lágrimas ameaçaram cair — Ela se sentiu mal e... Caiu da escada. A queda foi... Fatal.
— Eva...
— Eu queria ter estado lá, eu... Eu nem pude me despedir — Quando percebi já estava soluçando e a Carol me apertava nos braços
— Eu sinto muito, Eva. De verdade — Me afastei do abraço — Eu estou aqui. Se isso valer de alguma coisa pra você — Deu de ombros e eu assisti — Não devia ter aceitado, Eva. Você estava vulnerável e...
— Por isso não te contei, sabia que você iria se opor — Ela me olhou confusa — Antes eu não entendia o porquê e nem o motivo de eu sentir tanto carinho por você, mas agora eu sei. — Sorri
— Eva... O que você está...
— É porquê somos irmãs — Sorri
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