Dúvida
•Eva•
Sai de lá o mais rápido que pude. Nem fui para casa, estava tão atordoada que não ia conseguir encarar minha mãe naquele estado. Aquela mulher estava louca? O que ela estava pensando? Que absurdo!
Eu não conseguia para de pensar na proposta que ouvi ela me fazer e tudo que eu queria era esquecer isso. Ela, nossa semelhança, a manhã de hoje, tudo.
Fui até uma sorveteria perto de casa eu precisava me acalmar e nada melhor do que sorvete.
Fiquei ali por horas. Mesmo tentando afastar os pensamentos eu sempre acabava pensando no que aconteceu hoje cedo e eu ainda não conseguia acreditar.
Eu precisava conversar com alguém sobre aquilo, precisava de uma opinião, precisava de ajuda para clarear a mente e esse alguém era o Rodrigo, mas antes eu precisava passar em casa.
— Ei mãe, que malas são essas? — Disse ao entrar em casa e me deparar com mais de uma mala na sala.
— Oi, minha flor — Me deu um beijo no rosto — Você se lembra da sua tia Rosa não é? — Tentei buscar na memória qualquer coisa relacionada.
— Um pouco — Me sentei no sofá — por que? — A tia Rosa era uma das poucas parentes ainda viva da família da minha mãe, ela morava em uma cidade bem distante da nossa, a última vez que me lembro de vê – lá eu devia ser uma criança ainda.
— Você era uma criança quando a viu a última vez — Disse como se lesse meus pensamentos
— Acontece que ela está doente e precisa de mim — Se sentou ao meu lado
— E o que ela tem?
— Eu não sei ao certo, mas saberei quando chegar lá.
— Mas mãe... — Claro, as malas. Ela não ia só fazer uma visita, ela ia ficar... Um tempo. Mas quanto?
— Não se preocupe meu amor, eu prometo não demorar — Me abraçou.
Nós nunca ficavamos separadas, não por muito tempo.
— Eu vou sentir sua falta — Disse apertando mais o abraço.
Alguma coisa em mim não queria deixar ela ir, era como um pressentimento, mas talvez fosse apenas pelo fato de que eu não gostava de ficar sozinha e por nunca ficarmos longe uma da outra.
— Eu também, meu amor. Prometo ligar todos os dias. — Me soltou
— Acho que você está fazendo muitas promessas — Ri e ela acompanhou.
— Falei com o Rodrigo — A encarei — Pedi para ele cuidar de você enquanto eu estiver fora — Disse na maior cara cínica.
— Mãe, porquê fez isso? — Protestei — Eu já sou adulta, posso cuidar de mim
— Eu sei... Mas é bom ter alguém pra nossa segurança e nos fazer companhia. Agora eu preciso ir — Olhou para o celular
— Quando chegar me liga? — Ela sorriu para mim
— Claro, mamãe — Disse rindo
— É sério mãe! — Enfatizei
— Eu sei! Eu vou ligar, só estava brincando. Te amo — Me deu um último abraço
— Eu também te amo — Fomos até a porta e antes de ir lhe lancei um último sorriso.
É... agora sou só eu e você casinha. E eu preciso de um banho.
Subi para o quarto e mandei uma mensagem para o Rodrigo, pedindo que viesse. Com a viagem da minha mãe eu até esqueci toda aquela confusão de mais cedo, mas não por muito tempo. Infelizmente.
Assim que saí do banho dei de cara com o Rodrigo no meu quarto, bisbilhotando minhas coisas, foi impossível não levar um susto.
— Droga, Rodrigo! Você podia ter me matado do coração, Caramba! — Disse secando meus cabelos na toalha.
— Foi mal — Se desculpou — Eu vi sua mensagem e vim correndo — Me encarou.
— Percebi. O que foi? — Perguntei quando ele não parava de me analisar.
— Nada, só que você ainda tem essa mania de se vestir no banheiro — Disse ele rindo.
— E não estou errada, imagina se eu tivesse saído só de toalha do banheiro com o susto que eu levei ela com certeza teria caído — Me sentei na cama.
— Eu não me importaria — Disse em um tom safado se sentando ao meu lado.
— Nossa, Rodrigo. Você não cansa nunca? — Ri.
— Nunca. — Afirmou — Afinal, o que você queria conversar? — Eu havia me esquecido. Pela primeira vez, me esqueci de verdade naquele dia.
— Ah, é mesmo! — Me ajeitei na cama — Você me distrai tanto que eu até esqueço das coisas.
— E isso é bom? — Sorriu
— Não, não mesmo. — Neguei — Enfim se prepara que a história é louca. Então, você se lembra da mulher que eu disse que se parecia comigo e você debochou de mim dizendo que ela poderia ser a minha sósia? Então ela veio falar comigo e...
§
— Que loucura, Eva — Rodrigo disse depois de ouvir tudo o que havia acontecido — A sua mãe iria surtar com um negócio desses.
— Sim, muito. E o pior é que eu não sei o que fazer — Na verdade eu não havia pensado sobre o assunto, claro que era um absurdo, mas... Tinha um mas na minha cabeça que não me deixava em plena certeza de que eu não aceitaria isso, como eu havia dito a Carolina.
— Como assim, Eva? Você já não decidiu que não vai ajudar essa maluca?! — Se levantou da cama. Ele parecia de alguma forma chateado, revoltado.
— Eu já tinha decidido. Eu decidi. É só que...
— Que o quê? Eva! — Disse alto me interrompendo. Ele estava nervoso, eu sabia.
— E se ela for minha irmã? — Me levantei, ficando próxima a ele — Rodrigo, você tinha que ver nossa semelhança, somos idênticas. — Falei com convicção — Além de que eu senti algo nela que eu não sei explicar... Algo... Familiar, não sei.
— Você quer dizer que você vai aceitar fazer parte dessa história louca, só por causa de uma suposição? — Ele não iria me ouvir, não iria me entender.
— Eu não disse que ia fazer isso. Em nenhum momento — Deixei claro — Mas é por ser suposição que eu preciso me aproximar dela, preciso descobrir. Se ela for minha irmã eu nunca vou me perdoar, você não entende? — Me aproximei dele
— Você tem um coração bom demais Eva — Soltei o ar — Eu não concordo com isso, com nada disso — Se afastou de mim — E a sua mãe... Ela nunca vai aceitar isso
— Se eu decidir ir ela não vai precisar saber. Posso contar com você? — Perguntei com esperanças
— Não! — Ele nem ao menos considerou pensar
— Não? — Eu suspeitava que ela falaria algo assim, só não estava pronta para ouvir. Ele nada disse — Tudo bem, então. — Abri a porta do quarto, dando passagem para que ele saísse. — Vai embora! — Disse sem encara – ló. Não era o que eu queria fazer, mas não conseguia mais controlar a situação.
— Como você quiser, Eva — E saiu.
Quando ele saiu por aquela porta eu não tinha outra coisa para fazer que não fosse chorar. Chorar de raiva, de arrependimento... Me joguei na cama e chorei tanto que acabei dormindo e quando eu acordei já era tarde da noite.
Levantei e fiquei pensando no que o Rodrigo me disse, acabei chegando a conclusão de que ele tinha razão. Eu não sabia quem era aquela gente e nem o que poderia acontecer se eu me metesse no meio deles. Então eu resolvi ir atrás dele, precisava pedir desculpas. Fui até a oficina onde ele trabalha com o pai e ele não estava, não havia voltado desde a hora que saiu para falar comigo.
Onde será que ele se meteu?
Pensei e aí lembrei que hoje teria a inauguração de uma boate aqui perto. Eu estaria lá com ele se a gente não tivesse discutido. Eu fui tão estúpida. Espero que ele não esteja mais tão chateado comigo.
Confesso que aquele lugar era show, com luzes coloridas por toda parte e música. Muito, muito alta.
Achar o Rodrigo ali seria como procurar agulha num palheiro — Literalmente — Eu estava ferrada.
Fui até o bar na esperança de acha – ló e nada, então comprei uma bebida. — Já que saí de casa, não seria atoa — Depois de um tempo achei ter visto ele... Ele e uma garota aos beijos. E era ele mesmo. Pensei se deveria ir até lá, mas não queria atrapalhar. Também não queria ficar assistindo aquela cena. Não é como se eu gostasse dele, mas não era divertido ver seu melhor amigo aos beijos, com você tomando álcool e vocês estando brigados.
Me virei de costas para ele e as tantas outras pessoas a volta e foquei em terminar minha bebida. Talvez hoje não fosse a melhor hora para conversar. Virei a bebida toda de uma vez e paguei. Olhei para o Rodrigo e ele ainda estava lá, do mesmo modo. Desci do banco e fui para casa.
Seria melhor mesmo esperar até amanhã para uma conversa, de cabeça fria e com os ânimos controlados.
Abri a porta e acendi a luz da sala, já que estava tudo escuro. Fechei a porta e quase gritei de susto ao vê – lá.
— Você demorou. — Carolina disse como se eu a tivesse convidado para um chá no fim da tarde.
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