Convites
•Eva•
Quando acordei no dia seguinte antes de abrir os olhos eu sabia que estava na cama, por causa do macio sob mim. Meu corpo se recusava a levantar e eu não estava disposta a contrária - ló.
Comecei a pensar sobre ontem, as falas desconfiadas da Amanda, a chegada do Alexandre e da proximidade dele... Era errado pensar demais sobre ele, eu sabia. Por isso a primeira coisa que fiz antes de sequer levantar da cama, foi pegar meu celular e ligar para a Carolina.
Infelizmente, para meu azar ela não atendeu. Resolvi tentar novamente, mas fui impedida por uma súbita invasão ao meu quarto.
— O que ainda faz nessa cama? — Amanda cruzou os braços, ela estava com sua inseparável calça jeans rasgada - pelo que eu havia percebido desde que cheguei - e uma regata.
O estilo dela era bem diferente do da Carol, fiquei imaginando se em algum momento ela não tentou fazer a outra mudar de idéia.
— Está rindo do quê? — Ela se jogou na cama.
— Só estava pensando — Me sentei — O que você tomou pra acordar nessa animação toda? — Afastei o cabelo do rosto.
Ela me observou por um instante, parecendo procurar por algo. A encarei desconfiada e estralei os dedos.
— Festas me deixam assim — Disse me encarando — Precisamos cuidar dos convidados — Continuou a me encarar, talvez esperando que eu dissesse algo.
— O quê?
— Quem você vai convidar? — Apoiou o rosto nas mãos
— Eu? — Falei surpresa.
Ótimo! Como que vou convidar pessoas que eu nem sequer conheço? A Carolina me põe em cada uma...
— Por que não me ajuda com isso? — Disse caminhando até o banheiro — Aposto que você tem um ótimo gosto — Disse antes de fechar a porta.
Tranquei a porta e depois de me despir, fui para debaixo do chuveiro. As gotas de água morda caiam sobre minha cabeça e na mesma intensidade vieram as lágrimas.
Eu realmente achei que estava pronta para lidar com a perda, com a falta que minha mãe fazia, mas eu estava errada. Terrivelmente errada. Eu achei que se eu tivesse outra vida, eu conseguiria esquecer a antiga, e com isso seus traumas, mas não estava funcionando.
Por algumas horas eu conseguia esquecer da dor, mas de repente ela me pegava de um jeito que eu não tinha como escapar. Soltei um soluço, abafando o som com a mão na boca para que eu não tivesse que me explicar pra Amanda, caso ela escutasse algo. De repente senti minhas pernas fraquejarem e me sentei no chão frio do banheiro, em meio ao som do chuveiro, me permiti chorar. O bastante, até que a dor fosse embora, ao menos por algum tempo.
Não fazia ideia de quanto tempo passei trancada lá dentro. Me vesti e antes de sair encarei o cordão que eu carregava no pescoço. O cordão que meu pai deu pra minha mãe quando eles se casaram, o cordão que ela nunca deixava de usar, mas que agora era a única coisa que me trazia alívio e me permitia sentir perto dela.
— Pensei que ia ter que derrubar essa porta pra ver se você estava viva — Amanda disse se voltando pra mim — Você está bem? — A encarei sem saber o que dizer.
E então um pensamento me veio a cabeça, ela estava perguntando se eu estava bem.
Mas quem sou eu?
Com toda certeza o eu pra ela, não sou o eu, Eva. O eu Eva, não estava nada bem, ela estava destruída, mas não queria reconhecer e muito menos aceitar.
Mas eu não era a Eva. Não ali, não naquele momento.
— Ótima — Ela me encarou desconfiada, por mais tempo que achei que fosse aguentar e não desmoronar.
Então ela se levantou e veio até mim. Eu não sabia o que esperar e me surpreendendo ela me abraçou. Por um momento eu fiquei imóvel, absorvendo a informação, mas logo quando a ficha caiu eu aceitei o abraço. E mais uma vez eu me senti bem ali. Talvez ela soubesse mesmo quem eu era.
Quem eu realmente era.
Depois de um longo tempo de abraço, ela se afastou e sorriu pra mim.
— Que lindo! — Disse pegando o pingente — Nunca tinha visto antes. A — Passou o polegar sobre a letra. Ela me encarou confusa antes de perguntar — Pro Alex? — Seus olhos intensos me fitaram. Com uma pergunta por trás deles, uma além daquela que a mesma havia feito.
— Como ficou a lista de convidados? — Desconversei puxando o pingente de volta. Ela ponderou um pouco antes de responder
— Bom, eu não sabia bem quem você queria convidar, mas como você sempre gosta da casa cheia — Se sentou na ponta da cama — Então eu enviei um convite pra todos os seus contatos.
— Você fez o quê? — Naquela hora meu coração quase saiu pela boca. Ela disse todos os contatos?
— Qual problema? E por que não me disse que a sua mãe estava viajando? Ela pareceu meio chateada por receber o convite desse jeito.
Comecei a andar de um lado para o outro no quarto. Se ela havia enviado o convite para todos os meus contatos, então o Rodrigo havia recebido um também.
— O que há com você? — Amanda veio até mim.
— Nada, eu só... — Não iria adiantar falar nada agora. O melhor que eu poderia fazer é ligar pra Carol e pedir que ela me ajude a impedir que o Rodrigo veja o convite ou pior, pense em vir até aqui — O que você estava falando?
— Sobre os seus pais? — Assenti, incomodada — Sua mãe disse que fará o possível para que eles cheguem a tempo da festa.
— Certo. Então o que estamos esperando? — Forcei ânimo — Só temos quatro dias e a festa não se fará sozinha.
Amanda sorriu para mim e trouxe o celular para me mostrar algumas coisas que ela havia pensado para a festa e em meio as idéias dela, eu estava alheia em meus próprios pensamentos.
Algo me dizia que essa festa não seria uma simples festa.
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