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Vícios do Caos - Ato 2

Vícios do Caos

Ato 2

Break The Ice

Passado


Sinto o suor frio acumulando-se em minhas mãos enquanto encaro meu reflexo no espelho. Minha imagem me devolve um olhar tenso, uma mistura de medo e adrenalina. Então, a porta do banheiro se abre com um rangido, revelando uma mulher ruiva vestida com roupas provocantes, próprias de uma stripper. Ela entra sem a menor cerimônia, os saltos ecoando no piso de mármore, mas não parece notar minha presença. Talvez estivesse bêbada demais para perceber qualquer coisa além de sua necessidade urgente de alcançar uma das cabines.

Eu, por outro lado, estou sóbria o suficiente para saber que estou encrencada. O dono deste lugar, Matthew me pegou roubando. E, neste momento, a probabilidade de sair daqui sem ser carregada por seguranças parece quase inexistente. Tento respirar fundo, mas o ar parece pesado, denso, cheio do perfume adocicado que preenche o ambiente.

Abro minha bolsa com dedos trêmulos e pego meu celular, verificando rapidamente as mensagens. Meu coração dá um salto de desapontamento quando vejo que meu pai ainda não respondeu. Faz quatro semanas que imploro ajuda financeira, e a única resposta que recebi foi o silêncio. Uma sensação de frustração começa a me corroer por dentro, mas não tenho tempo para me aprofundar nela.

A ruiva sai da cabine do banheiro cambaleando e para ao meu lado, seus passos desajeitados a trazem perigosamente para perto de mim, ela encosta-se ao balcão, olhando diretamente para o espelho, a poucos centímetros de distância.

— Você não está usando roupas demais? - ela pergunta com uma voz lenta e arrastada, típica de quem já bebeu muito mais do que deveria.

Viro minha cabeça ligeiramente na direção dela e, por um momento, nossos olhares se encontram no espelho. É aí que percebo os vestígios de pó branco ao redor de seu nariz. Esboço um leve sorriso, mais por reflexo do que qualquer outra coisa.

— Precisa de ajuda? - pergunto com um tom neutro, enquanto ela ajeita o cabelo comprido, usando uma das mãos para limpar o nariz de maneira pouco discreta.
— Por acaso você tem Xanax? - ela pergunta, finalmente se virando para me olhar diretamente.

Sua expressão é vaga, como se não estivesse completamente presente, e me pergunto quantas noites como essa ela já viveu. Por um momento, esqueço a minha própria situação, observando-a com uma mistura de curiosidade e pena.

Eu nego com a cabeça, mantendo um tom calmo.
— Não, não tenho. Desculpe.

A ruiva suspira profundamente, um som carregado de frustração, e volta a encarar o espelho. Ela ajeita o cabelo mais uma vez, como se isso pudesse mascarar o estado em que está.

— Todo mundo sempre tem alguma coisa aqui. - murmura, quase para si mesma. Depois, seus olhos encontram os meus novamente no reflexo. — Você é nova, né? Nunca te vi por aqui.

Penso em ignorá-la, mas, no fundo, qualquer distração que me tire do pânico que sinto é bem-vinda.
— É, sou nova.

Ela dá um riso baixo e curto, que logo desaparece.
— Boa sorte, então. Esse lugar acaba com a gente. - sua voz é amarga, mas antes que eu possa responder, ela cambaleia em direção à porta e a atravessa, deixando-me sozinha novamente.

Assim que ela sai, respiro fundo, tentando recobrar a calma. Pego a bolsa e verifico novamente meu celular, mas ainda nenhuma resposta. Meu peito aperta. Meu pai sempre foi minha última linha de defesa, e agora... nada.

Saio do banheiro com passos hesitantes, minha mente ainda mergulhada em cenários ruins, passo por um longo corredor iluminado por luzes âmbar, que conferem uma atmosfera quase onírica ao lugar. Tudo parece se mover devagar, como em um sonho ruim.

Quando volto à área do cassino, noto que Matthew não está mais em lugar nenhum. O alívio é breve, porque sei que provavelmente alguém está me observando de longe, minha pele arrepia só de pensar nisso.

Eu me aproximo do bar, pedindo um copo d'água, minhas mãos tremem enquanto seguro o copo. Ele sabia que eu roubei. Sabia exatamente o que eu tinha feito, e ainda assim, havia sussurrado aquilo no meu ouvido com uma calma perturbadora, quase... divertida.

Levo o copo aos lábios, mas mal sinto o gosto da água, preciso pensar em um plano. Preciso sair daqui, mas cada vez que tento organizar meus pensamentos, a memória do olhar dele me prende. Como ele sabia? E por que ainda não fez nada?

Enquanto tento encontrar as respostas, sinto uma mão pousar de leve no meu ombro. Minha respiração falha, e o ar parece escapar dos meus pulmões, não preciso me virar para saber quem é.

— Bebendo água? - a voz familiar soa baixa e grave ao meu ouvido. – Esperava algo mais... ousado de você.

Engulo em seco, mas ainda não consigo responder.

— Vamos conversar, Lana. - ele continua, sua mão deslizando pelo meu ombro e saindo com a mesma suavidade com que apareceu. – Há um lugar mais discreto para isso.

Finalmente, forço meu corpo a reagir. Viro-me para encará-lo. Seu rosto está impecável, com aquele sorriso cínico. Ele não parece com raiva, nem sequer irritado. Mas o brilho em seus olhos me deixa inquieta.

— Eu não sei do que você está falando. - digo, tentando soar confiante.

Ele solta uma risada baixa, inclinando-se ligeiramente para mim.

— Não se preocupe, querida. Eu não quero expor você... Só quero entender como uma jogadora tão habilidosa fez algo tão... arriscado.

Seus olhos brilham, como se ele estivesse saboreando o momento, antes que eu pudesse responder, algo no ambiente mudou.

Como uma corrente de ar frio passando pelo salão, senti o peso da presença de outras pessoas antes mesmo de vê-las. Meus olhos se moveram quase instintivamente, captando os quatro homens enormes que surgiram na minha visão periférica, eles estão estrategicamente posicionados, bloqueando todas as possíveis rotas de saída.

Vestidos com ternos pretos impecáveis, pareciam mais estátuas do que homens, com expressões rígidas e olhos atentos que analisavam cada movimento. Cada um deles era uma muralha humana, e o simples fato de estarem ali deixava claro que essa não era uma coincidência.

Matthew percebeu minha reação e sorriu, como se estivesse se divertindo com o medo estampado no meu rosto. Ele inclinou a cabeça levemente, um gesto quase casual, mas carregado de autoridade.

— Não fique nervosa, Lana. - sua voz era baixa e controlada, mas havia algo ameaçador escondido na suavidade de suas palavras. — Eles estão aqui apenas para garantir que nossa... conversa seja tranquila.

Tranquila? Ele só podia estar brincando. Meu coração acelerava, e minhas mãos começaram a suar novamente. Eu sabia que estava encurralada. Não havia para onde correr, não com aqueles homens me observando como predadores à espera de um movimento em falso.

— Eu não quero problemas. - minha voz saiu mais fraca do que eu pretendia, e odiei isso..

Matthew deu um passo à frente, fechando ainda mais o espaço entre nós. Ele era impecável, do terno ajustado ao perfume amadeirado que, de forma desconcertante, combinava com a intensidade que ele exalava. Não havia nada nele que parecesse ser fora de lugar.

— Ah, Lana... - ele disse meu nome devagar, como se saboreasse cada sílaba. Sua voz era macia, quase hipnotizante, mas havia uma nota perigosa por baixo, algo que me fazia querer correr e, ao mesmo tempo, me prendia no lugar. — Eu também não quero problemas. Mas você entende, não é? Quando alguém faz algo... fora das regras, é minha responsabilidade resolver.

Seu tom era calmo, mas a implicação nas palavras era clara. Ele ergueu uma mão, um gesto aparentemente casual, mas os quatro seguranças responderam imediatamente. Eles se moveram como sombras, se aproximando o suficiente para bloquear qualquer pensamento que eu pudesse ter de escapar. São enormes, cada um deles uma muralha de músculos e expressão neutra, mas seus olhos estavam fixos em mim, atentos a qualquer sinal de resistência.

Meu coração disparava, cada batida ecoando nos meus ouvidos. A sensação de estar encurralada apertava meu peito, como se o espaço ao nosso redor estivesse encolhendo.

— Por favor... - minha voz saiu fraca, quase um sussurro. Eu odiava o som de minha própria vulnerabilidade, mas não havia como esconder meu medo. Minha mente girava, desesperada, buscando uma saída.

Matthew inclinou a cabeça ligeiramente, os lábios curvando-se em um sorriso quase imperceptível. Era como se ele estivesse me estudando, analisando cada reação minha, cada pequena hesitação. Ele parecia se divertir com minha tensão, mas não havia traço de crueldade em seu rosto, apenas uma frieza inabalável.

Então, ele se inclinou. Seu rosto estava tão próximo ao meu que pude sentir a textura quente de sua respiração contra minha pele. Ele sussurrou no meu ouvido, em um tom tão baixo que era como se suas palavras fossem destinadas apenas a mim.

— Eu não vou machucar você, Lana. - a promessa parecia reconfortante, mas o tom dele era um aviso velado. — Desde que você faça exatamente o que eu disser.

Meu corpo ficou imóvel. Cada palavra que ele pronunciava era como uma corda invisível, me prendendo. O aroma amadeirado de seu perfume parecia envolver cada pensamento meu, misturado ao calor sufocante de sua proximidade, um lembrete de que naquele momento, tudo o que eu podia fazer era concordar, porque a outra alternativa era inimaginável.

Matthew permaneceu perto, seu olhar perfurando o meu, como se pudesse enxergar além das camadas que eu tentava desesperadamente manter intactas. Ele inclinou a cabeça levemente, um gesto que parecia casual, mas que carregava a ameaça implícita de quem sabia exatamente o poder que tinha sobre o momento.

— Sabe, Lana, esses homens aqui... - ele gesticulou com um movimento quase preguiçoso em direção aos seguranças, que permaneceram imóveis, mas com a tensão visível em seus corpos. — Eles são pagos para lidar com situações bem mais... desafiadoras do que você.

Sua voz era calma, quase gentil, o que tornava suas palavras ainda mais intimidantes. Ele deu um passo para o lado, colocando-se entre mim e os homens, mas seu olhar nunca se afastou do meu.

— E não se engane. - sua expressão endureceu por um instante, como se quisesse enfatizar o ponto. — Ao meu sinal, eles não hesitarão. Não importa se você é mulher, ou se tem um rosto bonito. Para eles, você será apenas mais uma tarefa a cumprir.

Engoli em seco, o peso de suas palavras caindo como uma âncora. A ameaça estava lá, escondida sob o verniz de controle impecável que ele exibia. E, por mais que meus instintos gritassem para correr, para lutar, sabia que isso só tornaria tudo pior.

Matthew se inclinou mais uma vez, seus lábios próximos ao meu ouvido, mas agora sua voz carregava um tom quase divertido, como se ele estivesse gostando do jogo.

— Mas, você não quer isso, quer? - ele recuou apenas o suficiente para me olhar nos olhos, um sorriso pequeno e calculado surgindo em seus lábios. — Então, por que não facilita as coisas para todos nós e faz o que eu mandar?

O silêncio entre nós era sufocante, interrompido apenas pela batida distante da música do cassino. Eu não sabia se a tremedeira nas minhas mãos era de medo ou raiva, mas o resultado era o mesmo: eu estava encurralada, e ele sabia disso.

Matthew descruzou os braços, seus dedos tamborilando casualmente ao lado do corpo, como se tudo isso fosse apenas um jogo para ele. Ele deu um leve sorriso, inclinando a cabeça em minha direção.

— Agora, Lana, você vai me acompanhar. Sem gritos, sem escândalos. - sua voz era baixa, mas carregada de uma autoridade que não admitia contestação. — Não quero que ninguém ao nosso redor suspeite de nada. Apenas vão achar que você é... uma das minhas meninas.

O calor subiu ao meu rosto, tanto pelo insulto velado quanto pela humilhação que a situação carregava. Mas antes que eu pudesse protestar ou até mesmo processar a implicação de suas palavras, ele fez um gesto sutil com a mão.

— Vamos lá, querida. - ele falou com suavidade calculada, dando um passo para o lado, indicando que eu deveria segui-lo. — Não me faça dar o sinal para meus homens mostrarem o que sabem fazer. Confie em mim, eles são pagos para lidar com coisas muito maiores e muito mais resistentes que você.

Meu coração batia forte, e cada passo que eu dava parecia um esforço colossal. Olhei em volta, percebendo que poucas pessoas realmente prestavam atenção em nós. Elas estavam ocupadas com seus próprios jogos, suas próprias bebidas, suas próprias conversas.

Matthew estava certo. Qualquer um que olhasse de relance apenas veria um homem charmoso conduzindo uma mulher ao longo do cassino, sem saber que cada passo meu era tomado com medo.

Cheguei ao lado dele, e ele imediatamente colocou uma mão firme na base das minhas costas, conduzindo-me como se eu fosse uma convidada de honra. Mas a pressão de sua mão era um lembrete claro de que eu estava longe de ter escolha.

— Assim está melhor. - ele murmurou, sua voz próxima o suficiente para que só eu ouvisse. — Sorria, Lana. Não queremos que ninguém perceba o quão desesperada você realmente está, não é?

Um sorriso forçado se formou em meus lábios, e tudo o que eu podia fazer era segui-lo, minha mente correndo em busca de qualquer plano que pudesse me tirar dessa situação.

Matthew me conduz pelo cassino, e sua mão permanece firme em minha lombar, guiando-me. A música ambiente se mistura ao som das fichas caindo nas mesas e das conversas abafadas dos jogadores, criando um ruído que parece mais alto dentro da minha cabeça.

Quando alcançamos o elevador dourado, ele desliza um cartão magnético em um painel lateral, e as portas se abrem silenciosamente, e por um segundo, olho para trás, para o salão cheio de luzes e movimento, e sinto uma pontada de desespero ao perceber que não há para onde fugir.
— Entre. - a voz dele é suave, quase cortês.

Obedeço sem questionar, meus pés se movendo quase por instinto enquanto o sigo para dentro do elevador. Assim que as portas se fecham, o som do cassino se dissipa, substituído por um silêncio quase opressivo. O espaço apertado parece encolher ainda mais sob o peso da tensão.

Meus olhos deslizam para o espelho que cobre a parede, refletindo uma cena que beira o surreal, o espelho captura nossos reflexos lado a lado. Eu vejo uma mulher de estatura média, cabelos castanho-claros presos de forma desleixada, o rosto pálido e marcado pelo cansaço, meus olhos castanhos levemente marejados, enquanto o moletom simples e os jeans reforçam minha aparência deslocada nesse cenário.

E então há ele. Alto, de postura impecável, com ombros largos que preenchem o terno preto feito sob medida como se tivesse nascido para usá-lo, seus cabelos castanhos, emolduram um rosto marcado por linhas fortes e uma mandíbula definida. Os olhos, de um azul intenso, Matthew é a personificação de alguém que sabe exatamente quem é e a onde pertence – ao contrário de mim.

No reflexo, Matthew é magnético, uma presença que consome o espaço. Ao seu lado, pareço insignificante, como se fosse uma peça errada no lugar errado. Tento desviar o olhar, mas é impossível ignorar a discrepância da imagem.

Matthew pressiona o botão para o último andar, e o número acende em vermelho. Ele se posiciona ao meu lado. Não há música ou conversa para preencher o espaço; apenas o som suave do elevador subindo e minha respiração, mais pesada do que gostaria de admitir.
De repente, ele quebra o silêncio.

— Diga-me, Lana... - ele começa, sua voz baixa e casual, como se estivéssemos discutindo o clima. — Você tem medo de altura?

Viro a cabeça rapidamente para encará-lo, tentando decifrar a intenção por trás da pergunta.
— Não. - digo de maneira seca.

— Ótimo. - ele diz, inclinando-se levemente para mim, o suficiente para que eu sinta o calor de sua presença. — Porque estamos indo para o topo.

O elevador para, e as portas deslizam suavemente, revelando um corredor, com detalhes em dourado que reluzem sob a iluminação suave de lustres. O chão, de mármore negro com veios dourados, reflete sutilmente nossas silhuetas, enquanto uma discreta melodia de piano parece emanar de algum lugar distante, adicionando uma camada de sofisticação quase intimidadora.

Ele caminha à minha frente, e o som dos nossos sapatos ecoa pelo silêncio, abafado pela opulência do corredor. Cada porta é maciça, feita de madeira trabalhada, com maçanetas de bronze ornamentadas, mas é a última, ao final do corredor, que realmente chama a atenção. Mais alta e mais imponente do que as outras, sua presença é guardada por dois seguranças.

Ambos estão impecavelmente vestidos em ternos pretos, com posturas rígidas e expressões impassíveis, como se fossem parte do mobiliário daquele corredor. Seus olhos acompanham nossa aproximação com precisão militar, mas nenhum deles se move ou fala. Quando Matthew se aproxima, um deles dá um pequeno passo para o lado, apenas o suficiente para permitir seu acesso ao painel de cartão ao lado da porta.

Matthew desliza o cartão por um leitor embutido, e o som de um clique suave quebra o silêncio. Os seguranças permanecem imóveis, mas suas presenças são lembrete da autoridade do homem que caminha à minha frente.

As portas se abrem, a cobertura é um espetáculo de opulência. Janelas de vidro que vão do chão ao teto cercam o ambiente, oferecendo uma vista de 360 graus da cidade, Las Vegas brilha abaixo como um oceano de neon, as luzes das ruas e prédios formando um mosaico hipnotizante.

O chão é de madeira escura e impecável, polido a um brilho que reflete suavemente as luzes ao redor. Em uma das extremidades do cômodo, um bar iluminado se destaca, com prateleiras de vidro que exibem garrafas de cristais brilhantes, cada uma com etiquetas de vinhos e destilados raros, algumas aparentemente intocadas, como troféus de um colecionador meticuloso.

Sofás de couro preto estão dispostos com precisão quase matemática, ladeados por mesas de centro de mármore que seguram cinzeiros de cristal e uma única garrafa de conhaque de aparência cara. No centro do cômodo, uma escada em espiral feita de metal escovado e vidro se ergue com uma graça imponente, conduzindo ao terraço superior. A iluminação suave vem de luminárias modernas, com luzes estrategicamente projetadas para refletir nas superfícies metálicas e realçar o brilho elegante do ambiente.

Nas paredes, quadros que desafiam a simplicidade decoram o espaço. Um deles, particularmente marcante, retrata corpos de mulheres em poses artísticas, mas carregados de erotismo. As pinceladas vibrantes contrastam com a sobriedade do cômodo, conferindo uma sensação de inquietação. Entre as pinturas, pequenas vitrines exibem troféus de vidro e metal, acompanhados de placas com inscrições em idiomas diferentes, provavelmente reconhecimentos de algum tipo de influência ou prestígio.

Perto do bar, uma foto emoldurada chama a atenção, Matthew, com um sorriso afiado e confiante, apertando a mão do que parece ser o presidente dos Estados Unidos. A imagem exala um poder ridículo, um lembrete visual de sua posição, enquanto o olhar firme dos seguranças no corredor reforça que, neste espaço, ele é o centro de todas as atenções.

O ar carrega um leve aroma de madeira polida, misturado a um toque cítrico e um vestígio de algo amadeirado, possivelmente vindo do perfume que Matthew. Mas a vista das janelas prende minha atenção é deslumbrante e intimidadora, com as luzes de Las Vegas se estendendo até onde a vista alcança.

Matthew caminha até o bar, servindo-se de uma dose de algo âmbar em um copo de cristal. Ele se vira para mim, apoiando-se casualmente contra o balcão.
— Você não parece muito impressionada. - ele comenta, erguendo o copo em um brinde informal antes de levar o líquido aos lábios.
— É bonito. - digo com hesitação, sabendo que qualquer resposta errada pode piorar minha situação.

Matthew dá um sorriso torto, um que parece tanto genuíno quanto perigoso.
— Venha. - ele ordena, colocando o copo sobre o balcão e se dirigindo à escada em espiral. Eu hesito, mas ele para no primeiro degrau e me olha por cima do ombro.
— Não se preocupe, Lana. Não vou deixar você cair... ainda.

Engulo seco, minhas pernas parecendo feitas de chumbo, mas acabo seguindo Matthew. Cada passo em direção à escada parece mais difícil que o anterior, como se meu corpo estivesse tentando me avisar para não prosseguir. Ele sobe com uma facilidade desconcertante, suas mãos casualmente tocando o corrimão de metal enquanto me lança olhares por sobre o ombro, como se estivesse se divertindo com meu nervosismo.
— Vamos, não temos a noite toda. - ele diz, impaciente, mas com um sorriso que não alcança os olhos.

Respiro fundo e começo a subir, o som dos meus tênis contra os degraus ecoando no ambiente silencioso. A escada parece interminável, e quando finalmente alcanço o terraço, meu corpo está tenso, como se cada músculo estivesse prestes a ceder.

O terraço, tão luxuoso quanto o andar inferior, é uma obra-prima de design, mas para mim, parece mais uma armadilha mortal. O chão de vidro temperado parece flutuar sobre a cidade, oferecendo uma vista vertiginosa e ininterrupta das luzes pulsantes da cidade abaixo, como se estivéssemos suspensos no próprio coração da noite.

Cada passo que dou faz minha respiração engatar, e a ilusão de estar flutuando no ar me causa um aperto no peito, como se a gravidade pudesse falhar a qualquer momento, enquanto o vidro impecável reflete as estrelas acima, criando a ilusão de estarmos caminhando entre elas.

Meus olhos se fixam no corrimão de aço inoxidável que percorre o perímetro. Seu brilho prateado reflete as chamas da lareira central, mas a sua altura, baixa demais para o meu gosto, só intensifica minha sensação de insegurança. Tento evitar olhar para os lados, mas o chão de vidro parece me atrair, me forçando a encarar o vazio abaixo. Minhas mãos suam, e o nó na garganta cresce a cada segundo.

Os sofás de veludo azul escuro, tão cuidadosamente dispostos ao longo das laterais, parecem distantes, como ilhas de segurança inatingíveis. Almofadas bordadas em ouro e prata adicionam um toque de elegância, mas para mim, tudo ali parece uma afronta ao meu medo. Mesmo os luxuosos móveis, com suas mesas de mármore negro, parecem pequenos e frágeis comparados à imensidão do céu noturno e à queda interminável que se abre abaixo de nós.

No centro, a lareira moderna lança suas chamas em pedras vulcânicas, projetando sombras dançantes nas superfícies de vidro e aço ao redor. O calor deveria ser reconfortante, mas só me faz sentir ainda mais exposta. O brilho dourado do fogo ilumina o ambiente, mas não consegue apagar as sombras do meu próprio medo.

Acima de nós, a cobertura parcial de vidro reflete a cidade, as estrelas e as luzes da lareira. O contraste entre o espaço artificialmente perfeito e o abismo lá fora é sufocante. Mesmo as plantas em vasos negros, cuidadosamente dispostas para suavizar o ambiente, parecem incapazes de tornar o lugar menos ameaçador.

O ar fresco, misturado com um leve perfume amadeirado, entra nos meus pulmões como se fosse ácido, cortando-me por dentro. Tento focar no aroma do cedro e das pedras quentes, mas é impossível esquecer que estou a uma altura que nenhuma alma deveria estar. Cada detalhe, por mais luxuoso que seja, não consegue mascarar o fato de que, para mim, este terraço é menos um refúgio e mais um lembrete constante de minha vulnerabilidade.

Matthew se aproxima do corrimão, colocando as mãos nele enquanto observa a vista. A cidade parece minúscula daqui de cima, como se ele tivesse o mundo ao alcance das mãos.

Ele não olha para mim enquanto fala, mas sua voz carrega um tom casual que me deixa ainda mais desconfortável.
— Tem medo de altura, Lana? - ele pergunta novamente, virando a cabeça.
— Não... - minto novamente, a palavra saindo antes que eu consiga pensar.

— Claro que não. Você é corajosa, afinal. Precisa ser, para tentar roubar de mim. - minha boca seca, e fico imóvel no centro do terraço, sem saber se devo me aproximar ou manter distância. Matthew parece notar minha hesitação, porque estende a mão em um gesto que é tanto um convite quanto uma ordem.
— Venha aqui. - ele diz, a suavidade em sua voz mascarando o comando implícito. — Quero que veja algo.

Cada fibra do meu ser me diz para recusar, para correr de volta pela escada e desaparecer no caos lá embaixo. Mas a presença de Matthew é esmagadora, e sei que não tenho escolha. Com passos vacilantes, me aproximo do corrimão, a cidade se espalhando como um oceano de luzes abaixo de nós.
— Bonito, não é? - ele murmura, olhando para a vista. — De cima, tudo parece tão pequeno... tão insignificante.
— Sim. - respondo, minha voz sendo um fio de som.

Ele se vira para me encarar, a luz das chamas refletindo em seus olhos.
— Assim como você, Lana. Pequena e insignificante. - sua voz é fria, mas, antes que eu possa reagir, ele acrescenta, com um sorriso calculado. — Mas até mesmo as coisas pequenas podem ser úteis, se souberem o lugar delas.

Eu não sei o que ele espera de mim, mas cada momento passado aqui me faz perceber que estou completamente fudida.

Matthew não me dá tempo para responder. Ele se afasta do corrimão
— Agora, Lana... - ele começa, enfiando as mãos nos bolsos do terno e inclinando ligeiramente a cabeça para mim. — Vamos falar sobre o que acontece com você.

Minha garganta seca.
— O que você quer de mim?

Ele ri, o som baixo e cortante, como vidro quebrando no silêncio.
— O que eu quero? - ele repete, como se a pergunta fosse uma piada privada. — Por enquanto, apenas sua... cooperação.

Eu o observo com cautela, tentando decifrar o que se esconde por trás de sua expressão aparentemente despreocupada. Mas seus olhos, aqueles malditos olhos, continuam impenetráveis, como se ele estivesse sempre três passos à frente de qualquer pensamento meu.

— Cooperação? - repito, minha voz quase um sussurro. Matthew se aproxima, diminuindo ainda mais a distância entre nós. Quando fala novamente, sua voz é suave, mas o peso dela cai como uma rocha no meu estômago.

— Você me causou um problema, Lana. - ele diz, enquanto caminha ao meu redor. — Um problema pequeno, claro, mas ainda assim... inconveniente.
— Eu já disse que sinto muito. - tento manter minha voz firme, mas o tremor é evidente.

— Ah, sim. - ele para à minha frente, inclinando-se ligeiramente para que nossos olhos fiquem nivelados. — Você pediu desculpas. Mas desculpas não apagam a sua ousadia.

— Então o que você quer? - insisto, agora com uma ponta de frustração que não consigo esconder. Matthew sorri, aquele sorriso perigoso que me fez sentir como se estivesse em uma armadilha.
— Quero ver o quão útil você pode ser, Lana. Afinal, mesmo coisas pequenas e insignificantes têm seu valor... quando usadas corretamente.

Eu quero gritar, protestar, fazer algo, mas estou paralisada. Ele volta ao centro do terraço, gesticulando com uma mão para que eu o siga, como se essa fosse uma conversa casual e não um jogo psicológico que ele claramente está vencendo.

— Vamos fazer assim. - ele diz, virando-se novamente para mim. — Eu vou te dar uma chance. Uma chance de provar que você sabe o seu lugar... e que pode ser útil para mim.
— E se eu não quiser? - as palavras escapam antes que eu possa me conter, meu coração martelando contra o peito.

O sorriso de Matthew desaparece, substituído por algo mais sério. Ele dá um passo na minha direção, sua presença é tão sufocante que sinto como se o ar tivesse sido sugado do terraço.
— Não é uma questão de querer, Lana. - ele murmura, sua voz baixa ficando mais rouca. — Estamos lidando com uma questão de sobrevivência. Ou prefere que eu a arremesse daqui de cima?

Percebo que ele não está apenas brincando comigo. Matthew esta sendo sincero em cada palavra, o que torna isso mais aterrorizante. Ele está me colocando exatamente onde ele quer que eu esteja. E eu não posso contrapor.

Matthew ergue uma sobrancelha, como se a paciência dele estivesse se esgotando rapidamente. Ele aponta para uma das cadeiras ao lado, próxima da borda do terraço, o suficiente para que o vento gelado torne a situação ainda mais desconfortável.

— Sente-se, Lana. - ele diz, o tom firme, quase como uma ordem. — Você está me irritando com essa hesitação.

Eu hesito por um momento, mas o olhar que ele lança é o suficiente para fazer minhas pernas se moverem sozinhas. Me sento devagar, meus dedos agarrando os braços da cadeira enquanto tento manter a calma. A borda está perto demais, e o vazio além dela parece me chamar.

Ele cruza os braços, me observando por um longo momento antes de falar.
— Eu não sou um homem irracional, Lana. - ele começa, inclinando-se um pouco para frente. — Eu dou chances. E você acabou de ganhar a sua.

— O que quer dizer com isso? - minha voz sai mais fraca do que eu pretendia. - Matthew suspira, como se estivesse explicando algo óbvio a uma criança.

— Você vai trabalhar para mim. Nada difícil, nada que você não consiga fazer. ele faz um gesto com a mão, como se minimizasse qualquer objeção que eu pudesse ter. — Mesas de jogo, Lana. Quando um jogador estiver ganhando demais, você vai intervir. Fazer o que for preciso para virar o jogo a meu favor. Você tem olhos rápidos, mãos leves, vi isso na maneira como tentou roubar de mim, e não pense que não notei como você lê as pessoas, como sabe exatamente onde atacar.

Eu engulo em seco, o peso das palavras dele afundando meu estômago.
— E se eu não conseguir? - Matthew dá um sorriso pequeno, mas cruel.
— Ah, você vai conseguir, Lana. Porque a outra opção... bem, acho que você já sabe qual é.

O vento sopra mais forte, e eu me encolho, sentindo o frio na pele. Mas é o olhar de Matthew que realmente me congela. Ele se afasta um pouco, dando-me espaço apenas para respirar, mas não o suficiente para me sentir segura.

— Começamos amanhã. - ele diz, com a voz firme e final. — E, Lana... se você estragar isso, se ousar me fazer parecer tolo, bem... vou garantir que este seja o último erro da sua vida.

Eu não respondo. Não há nada que eu possa dizer, apenas fico ali, sentada, com o medo correndo pelas minhas veias como um veneno.

Matthew passa a mão pelo queixo, os olhos avaliando minha aparência como se eu fosse um item em uma vitrine.
— Ah, e, Lana... - ele começa, o tom quase casual, mas carregado de desprezo. — Da próxima vez, deixe esse moletom e jeans em casa.

Eu sinto meu rosto queimar de vergonha, mas fico em silêncio, apertando os braços da cadeira. Ele dá um passo para trás, olhando-me como se estivesse tentando imaginar outra versão de mim.
— Se você vai trabalhar para mim, precisa se vestir para o papel. Algo que chame atenção sem parecer barato. - ele gesticula vagamente, como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Vestidos justos, salto alto. Entendeu?

— Eu... eu não tenho nada disso. -  admito, minha voz baixa, quase inaudível. Matthew bufa, como se a minha resposta fosse um inconveniente para ele.
— Claro que não tem. - ele murmura, mais para si mesmo do que para mim. Em seguida, vira-se de repente e saca o celular do bolso. Digita algo rapidamente antes de me encarar novamente.

— Amanhã cedo, vá até essa loja. - e.le empurra o telefone na minha direção, mostrando o nome e o endereço de uma boutique que parece absurdamente cara. — Diga que você está lá em meu nome. Eles vão saber o que fazer.

Eu fico boquiaberta, tentando processar a informação.
— E se eu não quiser?

Ele ri, mas é um som seco, sem humor.
— Não se trata do que você quer, Lana. Você trabalha para mim agora. Então, ou você vai até lá e se veste como uma profissional... - ele faz uma pausa, inclinando-se um pouco mais para mim. — ...ou pode voltar para o moletom e esperar que o vento daqui de cima leve você direto para o chão.

Não há espaço para argumentar. Apenas aceno com a cabeça, engolindo o nó na minha garganta. Ele se vira e começa a descer as escadas com passos firmes e calculados, me deixando sozinha no terraço.

— Lana!

A voz de Matthew corta o silêncio do terraço, ecoando com autoridade. Eu me sobressalto, meu coração disparando novamente. Ele está na base da escada em espiral, a mão apoiada no corrimão enquanto me encara com um misto de impaciência e sarcasmo.

— Você não precisa ficar aí congelando para sempre. - ele exclama, o tom carregado de irritação. — A não ser que queira provar o quão insignificante você realmente é.

Eu respiro fundo, tentando ignorar a humilhação crescente, e me levanto da cadeira, meus movimentos hesitantes. O vento frio do terraço ainda chicoteia meu rosto, mas a tensão nos olhos de Matthew me força a avançar.

Quando finalmente desço os degraus, cada passo parece um esforço monumental. Ele me observa o tempo todo, seus olhos sombrios nunca deixando meu rosto.

— Era só isso que você precisava fazer. - ele comenta, com um sorriso torto ao me ver alcançá-lo. — Eu não mordo, Lana. Pelo menos, não sem motivo. Agora vai para casa.

Não consigo evitar uma risada nervosa. Quando me viro para encará-lo, suas sobrancelhas se arqueiam, como se ele soubesse que sua presença já é mais do que suficiente para me manter alerta.
— Eu... - começo, hesitante, antes de soltar as palavras de uma vez. — Não moro na cidade.

Matthew dá um passo em minha direção, os sapatos ecoando suavemente contra o chão do escritório. Ele inclina a cabeça, analisando cada detalhe da minha expressão, como se estivesse se divertindo com meu desconforto.
— Imperial Hotel, quarto 1408. - ele diz, casualmente, como se fosse um comentário qualquer. — Recém-formada em Artes. - ele cruza os braços, o tom agora mais afiado. — E acabou de ser demitida porque se recusou a vender um quadro.

Minha garganta seca, e eu dou um passo para trás, instintivamente, até sentir a borda da mesa contra minhas costas. Meus músculos travam, e minha respiração fica presa na garganta. Eu não contei nada disso a ele.
— Como você sabe disso? - minha voz sai baixa, quase um sussurro, mas firme o suficiente para demonstrar minha indignação.

— Eu nunca ameaço alguém sem antes saber o que motiva sua queda. — Ele começa — Tomemos como exemplo uma garotinha. Ela caiu do segundo andar de um prédio. Uma queda que deveria tê-la destruído.

Matthew faz uma pausa, observando meu rosto, como se esperasse encontrar alguma reação minha. Meu coração acelera, e eu já sei o que ele vai dizer antes que ele continue.

— Mas, surpreendentemente, tudo o que ela quebrou foi um braço. - ele faz uma pausa, seus olhos presos nos meus. — Você acha que doeu, Lana?

Engulo em seco, tentando processar o que ele acabou de dizer. Ele não está falando de qualquer garotinha. Ele está falando de mim.

Tento responder, mas ele me interrompe, inclinando-se um pouco mais perto.
— Eu sei de tudo, Lana. Sei que você teve sorte de sair viva daquela queda. E também sei sobre o seu coração.

Minha respiração acelera.

— Meu coração? - pergunto, minha voz quase sumindo.

Matthew sorri, mas não é um sorriso reconfortante.

— Cardiopatia congênita. Você sempre foi cuidadosa para não se sobrecarregar, para não se machucar. - ele diz, inclinando-se para a frente, suas palavras pesando sobre mim como um fardo. — Você não apenas sobreviveu à queda, mas vive todos os dias com a ideia de que seu coração pode te trair.

Eu tento controlar minha expressão, mas o pânico já deve estar claro nos meus olhos.
— Então, me diga, Lana... - Matthew pergunta, sua voz suavemente cruel. — Você acha que pode sobreviver se continuar caindo, ou já está cansada de tentar?

Minha boca se move antes que minha mente possa acompanhar, cada palavra saindo carregada de raiva e medo.
— Você é um psicopata. Não pode me forçar a trabalhar para você.

Matthew sorri novamente, mas desta vez há um brilho de diversão nos olhos dele, como se minha tentativa de enfrentá-lo fosse exatamente o que ele queria. Ele cruza os braços, apoiando-se casualmente contra a mesa, como se tivesse todo o tempo do mundo.
— Psicopata? Isso é um pouco duro, não acha? - ele diz com um tom quase brincalhão. — Mas vamos esclarecer uma coisa, Lana. Eu não preciso forçá-la a nada.

Matthew mantém o sorriso frio enquanto observa minha tentativa de resistência. Ele inclina a cabeça, os olhos brilhando com uma diversão sombria.

— Você acha mesmo que tem uma escolha, Lana? - ele murmura, se aproximando mais um passo. — Porque, veja bem, eu sou um homem muito bem conectado. Tenho amigos em lugares... estratégicos. Inclusive, um juiz. Ele não teria nenhum problema em assinar um mandado de prisão para você.

— Prender? - minha voz sai mais alta do que eu pretendia, mas não consigo me conter.

Matthew dá um sorriso preguiçoso, como se minha indignação fosse um jogo que ele já tivesse vencido.

— Ah, Lana, você acha que é preciso realmente ter feito algo? Um documento aqui, uma assinatura ali, e de repente você está sendo acusada de fraude ou roubo. Quem sabe? Minha imaginação pode ser criativa quando necessário.

Eu dou um passo para trás, quase tropeçando.

— Você é um psicopata! - eu cuspo as palavras, tentando manter minha voz firme, mas sinto a ameaça em cada palavra dele me cercando como um laço apertado.

Ele dá de ombros, sem se abalar.

— Talvez. - ele admite, com um tom quase casual. — Mas não estou pedindo muito de você, Lana. Tudo o que quero é que você seja uma boa garota e apareça aqui pontualmente às oito, todos os dias, com um vestido decente e salto alto. Você senta às mesas de jogo, faz o que eu mandar, e talvez eu me canse de você antes do que imagina.

Eu cerro os punhos com tanta força que sinto as unhas se cravarem na carne das palmas, um gesto inútil para conter o caos dentro de mim. O sangue lateja nas têmporas, pulsando em um ritmo frenético que parece ecoar no silêncio ao meu redor. Estou imóvel, cada músculo do meu corpo rígido, como se estivesse presa em uma armadilha invisível, meus pés parecem de chumbo, enterrados no chão, incapazes de obedecer à minha vontade de correr.

A bile sobe à minha garganta, queimando como ácido e trazendo um gosto amargo que me lembra o quão perto estou de perder o controle, é uma sensação sufocante, como se o medo estivesse agarrado à minha garganta, apertando cada vez mais. Tento engolir, mas o nó que se formou ali não cede, tornando cada respiração uma luta.

Minhas mãos tremem, o tremor pequeno mas incontrolável, traindo minha tentativa de parecer forte, eu as mantenho rígidas ao lado do corpo, os dedos se enrolando no tecido da minha calça em uma tentativa desesperada de me ancorar. A pressão que exerço nelas deveria ajudar a esconder minha vulnerabilidade, mas o calor úmido do suor em minhas palmas me denuncia.

Meus olhos ardem, mas eu me recuso a piscar, fixando o olhar em um ponto qualquer à minha frente, como se ignorar a presença esmagadora dele pudesse de alguma forma diminuir meu pânico. Meu coração, batendo rápido e pesado, parece tentar fugir do meu peito, cada batida ressoando como um tambor de guerra, é um esforço sobre-humano parecer imóvel, enquanto por dentro estou em completa ebulição.

— Por que você está fazendo isso comigo?

Matthew não responde de imediato. Ele observa meu rosto, seus olhos percorrendo cada detalhe.
— Porque você sentou na minha mesa, Lana. - sua voz é baixa, mas cada palavra é carregada de intenção, ecoando no silêncio do ambiente. Ele dá um passo em minha direção, a luz do escritório lançando sombras angulosas sobre seu rosto. — Esse foi o único erro que você e seu pobre coraçãozinho fraco cometeram.

Levanto o rosto, minha respiração ainda trêmula, mas determinada a encará-lo. Meus olhos encontram os dele, queimando de raiva e humilhação, cada fibra do meu ser grita para que eu não me submeta, para que eu reaja, para que eu prove que ele não pode me controlar.

Minha mão começa a se mover antes mesmo que eu registre completamente a ação. É como se meu corpo estivesse agindo sozinho, guiado pela indignação que pulsa dentro de mim como um tambor. Minha palma sobe rapidamente em direção ao rosto dele, o desejo de desfazer aquele sorriso arrogante quase visceral.

Mas ele é rápido. Mais rápido do que eu poderia imaginar.

Antes que minha mão alcance seu rosto, ele a intercepta no ar com precisão implacável. Seus dedos envolvem meu pulso em um aperto firme, tão rápido que quase não percebo o movimento, a pressão não é suficiente para causar dor, mas há uma força ali que me faz parar instantaneamente, como se ele tivesse calculado exatamente o limite entre controle e agressividade.

O calor da mão dele contra minha pele é inconfundível, contrastando com o frio que sobe pela minha espinha, seus olhos encontram os meus, um brilho predatório dançando em seu olhar, como se ele estivesse saboreando minha reação. Não há necessidade de palavras; seu domínio sobre a situação está claro em cada linha de seu rosto e na tensão controlada de seu aperto.

— Tsc, tsc, tsc. - Matthew balança a cabeça levemente, seus olhos cravados nos meus, irradiando algo entre divertimento e desapontamento. — Que desperdício de energia, Lana.

Ele abaixa minha mão lentamente, sem soltar meu pulso. Ele faz uma pausa, seus lábios curvando-se em um sorriso que não alcança os olhos, e o tom de sua voz endurece.
— Eu achei que você fosse mais esperta do que isso. - sua voz é baixa, quase um sussurro, mas o tom carregado de ironia me faz querer gritar. — Não percebe que gestos como esse só tornam tudo mais... interessante para mim?

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